domingo, 29 de janeiro de 2012

A NOVELA DOS HAITIANOS

E, enquanto isso, o que posso dizer...A minha fuga não é a mesma fuga deles. Depois, eu volto pra casa, tenho o meu quarto, a minha cama, meus filhos, meu refúgio...E qual é o refúgio deles? As lembranças tenebrosas, a saudade, uma dor que corta, um abraço sem braços, um outro lado na cama que não existe, um cheiro no cabelo tão distante, um sol que teima em não entrar na casa, o café da manhã que não está na mesa, o almoço que não chega, o beijo que ficou, a noite que é tão longa, o dia que demora a chegar. O que será? O que será?

E, não duvidem. Amanhã dirão os jornais. A honra do haitiano será sacrificada. Ele não está mais no meio de nós para se defender. A melhor desculpa será a culpa dele. Seja lá qual tenha sido o motivo de seu frio assassinato.Pelas costas. Torpe. Não será interessante o esclarecimento dessa crueldade. Não interessa ao estado brasileiro. Pago pra ver. A voz deles não será voz alguma. O silêncio é tudo o que resta. E essa dor que não passa. Mesmo que a sua alma já estivesse comprometida. Não há interesse algum em recuperar almas, nem daqui, nem dalhures. Queimem-se no fogo do inferno. Mas não queimem as nossas palhas. Sujem o quintal alheio. Deixem o nosso quintal em paz. Muito obrigado. Sigam em frente. Aqui não há vagas. Há apartamentos em Brasília. Ocupem-nos. Aqui, estamos ocupados demais. Copa da Amazônia.2014. Vocês são demais para nosotros.

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