sábado, 30 de abril de 2011

FUNDAMENTAL

Por tudo o que já passei

Por tudo o que já vivi

Aqui do lado de fora, onde há luz

Ou do outro lado do muro,

onde tudo é escuro

Neste mundo dos homens, sem lei

Posso dizer a vocês:

Estou no saldo, no lucro.

Já aprendi a buscar a luz na escuridão

Já aprendi a procurar os atalhos, no desespero,

Quando impedida a via principal

Já aprendi que viver é simplesmente viver

Fundamental é amar.

(30.04.2011)

QUANDO FALA O CORAÇÃO

Se é isso o que tu queres

Se é isso o que te move, que te faz feliz

Se é isso que te dá coragem, faz pulsar teu coração

Se é isso que te faz ver estrelas no céu, mesmo quando há nuvens

Se é isso que te faz sorrir, sentir-se mais forte

Se é isso que te faz seguir em frente, sonhar, fazer planos

Se é isso a tua razão maior para viver, agora

Então, é o amor morando no teu peito

Vá adiante. Não ligue para o que dizem

Ouça a voz do seu coração. E nada mais...

Depois, é o tempo que te fala. É o tempo

É o tempo que não se cala

É o tempo a janela da tua alma

É o tempo que tudo leva

É o tempo que tudo sara.

(29/04/2011)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

OMB/AM MENTE EM SEU SITE (www.ombam.com.br)

Vá lá. Acesse o site da OMB/AM e você vai se deparar com uma mentira deslavada, numa demonstração nítida de pretender provocar uma desunião e enfraquecimento da classe artística, que se movimenta democraticamente para acabar com os desmandos dessa admin...istração. O presidente do conselho regional devia se envergonhar de passar " informações" deturpadas, na tentativa de se promover. Lá, ele sugere que a sentença proferida nos autos do Mandado de Segurança impetrado por 10 músicos amazonenses contra a OMB (sob a minha assistência jurídica), que tramita na 1a. Vara da Seção Judiciária da Justiça Federal em Manaus, onde os impetrantes (autores da ação) requerem autorização para exercerem seu ofício sem o pagamento de anuidade, dando um fim no poder regulamentador (fiscalização) dessa entidade nefasta, obsoleta, ultrapassada, arcaica, teria sido favorável a OMB, o que não é verdade. O Sr. Sérgio Salazar está subestimando a inteligência de toda a classe artística, o que é lamentável. Ora, qualquer pessoa que se der ao trabalho de ler a sentença que ele estampa no site, mesmo sendo leiga, vai perceber que, em nenhum momento, houve manifestação da Justiça sobre a questão propriamente dita. O que ocorreu, na realidade, é que a juíza entendeu que o Mandado de Segurança não seria o meio apropriado para os fins pretendidos pelos impetrantes, afirmando, inclusive, que eles não teriam interesse de agir, extinguindo o processo sem julgamento do mérito. Em nenhum momento, portanto, a sentença, a decisão nega o pedido formulado pelos Impetrantes. Não importa - e nem é recomendável -, tercer-se aqui qualquer comentário a respeito da decisão, com a qual, obviamente, não concordaram os impetrantes, havendo, por isso mesmo, ingressado com o recurso de Apelação para o Tribunal Regional Federal da 1a. Região, com sede em Brasília/DF, protocolado ontem, dia 27 de abril. É bom que se diga, aliás, que enquanto subjudice a questão (já que não se deu o trânsito em julgado, na medida em que os impetrantes ingressaram com recurso), o Sr. Sérgio Salazar está impedido de promover qualquer atitude contra os impetrantes, no sentido de exigir-lhes o pagamento da malsinada anuidade vencida em 31 de março passado, e muito menos imperdir-lhes de exercer o seu ofício de músico, até decisão definitiva, valendo ressaltar, inclusive, que por ocasião do recurso de Apelação foi renovado o pedido de concessão de liminar, dada a urgência da medida. Se qualquer pessoa interessada desejar algum esclarecimento sobre a matéria, manifeste-se aqui, através de comentários, que procurarei esclarecer os fatos com a lealdade que se impõe.Ver mais

quinta-feira, 14 de abril de 2011

VOU

por RÔ Campos

Vou sair andando
Ver o mundo
Voar pelo tempo
Vou não sei pra onde
Viver alguns segundos
Viajar nos pensamentos
Vou à procura não sei de quê
Vagando pelo infinito
Vomitar a crua solidão que me devora
Vou pisando a terra
Voltar os olhos para o céu
Vou à procura da vida
Vida, vida, vida minha!
Vou em busca da minha vida que se perdeu.



15.01.06

quarta-feira, 13 de abril de 2011

APENAS HOJE

por RÔ Campos

Ah, se tu soubesses
Que eu não sou alegre
Quando não estás aqui.
Virias correndo
Pra me fazer feliz,
Não mais ser triste.

Ah, se tu soubesses,
Que sem ti as horas crescem,
A tristeza me diz: padece!
Virias correndo.
Trarias contigo a Lua e o Sol.
Adeus escuridão.
Adeus frio, solidão.

Ah, se tu soubesses,
Que o tempo se vai ligeiro
Que aquele horizonte de ontem, agora, é fresta,
Largarias tudo e virias correndo
Para vivermos esse grande amor, tão nosso
Sem ontem, nem amanhã, apenas hoje.



09/10/2010

ASSASSINO SILENCIOSO

Acabei de escrever este texto para o Facebook. Resolvi transpô-lo para cá, para compartilhar com aqueles que gostam de ler o que posto aqui, seja de minha lavra ou de terceiros. Se acharem interessante compartilhar, por favor, faça-o. Boa leitura.


" Muito se tem comentado e postado comentários, nas redes sociais, a respeito da tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro, onde um rapaz de 23 anos (se não me engano), invadiu um escola e matou e feriu várias crianças, provavelmente suicidando-se em seguida.... Houve até quem suscitasse a possibilidade do rapaz haver sido muito mimado pelos pais, e que talvez, em razão disso, tivesse se transformado nesse monstro. Ontem (segunda-feira), quando li esse comentário em página de algum amigo virtual do FB, cheguei a postar comentários no sentido de que mimo, ou excesso de amor, jamais transformariam uma pessoa em um monstro, e que essa questão é absolutamente complexa. Naquele mesmo momento senti vontade de escrever este texto, mas a hora já estava avançada e eu precisava dormir, havendo apenas escrito e postado, em minha página, um breve comentário a respeito do enorme abismo que é a alma humana. Agora, aqui neste vício - e mesmo com a hora já avançada, não me contive, ao deparar-me novamente com vários comentários a respeito dos fatos em questão. Não vou fazer defesa de ninguém, ou do que quer que seja, mas não posso me esquivar de repassar o que tenho pensado em torno disso e de outro crime muito presente no mundo, mas que, no Brasil, é absolutamente letal, estúpida e silenciosamente mortal. E, ainda assim, nunca nos postamos com tal veemência contra isso, apesar de, praticamente todos os dias, os noticiários invadirem nossas casas, ou nossos computadores, I isso, I aquilo. Refiro-me à indecorosa CORRUPÇÃO. É isso mesmo, em caixa alta, do tamanho do estrago que ela provoca nas sociedades e em seus cidadãos, principalmente nas camadas mais pobres, mais desprotegidas, mais desassistidas da população. Eu não preciso me debruçar muito sobre comentários a respeito dessa praga, não aqui no FB, onde, certamente, todos somos pessoas esclarecidas. Mas, o que eu quero dizer é que, comparando-se o crime cometido por aquele infeliz rapaz, aos estragos resultantes do crime de CORRUPÇÃO, aí vai uma distância quilométrica, inclusive no que diz respeito à totalidade de sua abrangência, do quê nunca nos demos conta, não a ponto de tomarmos as atitudes que devíamos. Esclareço: Quantos escândalos já tivemos conhecimento a respeito de desvio da merenda escolar, destinada, justamente, às nossas crianças, ou de alimentos estragados e ou fora do prazo de validade? Quantos escândalos, quanto a essa mesma merenda, nos processos licitatórios? Quantos escândalos sobre falta de remédios fornecidos pelo SUS, com graves comprometimentos dos pacientes que imprescindem de sua medicação? Quantos escândalos sobre medicamentos em quantidades exorbitantes jogados no lixo por terem expirado o prazo de validade, e tanta gente sofrendo e ou morrendo por não ter dinheiro para comprar remédios? Quantas pessoas morrendo nas filas de transplante ou nos corredores de hospitais públicos, sem leito suficiente para se internarem? Quantos escândalos sobre sanguessugas, mensaleiros, mensalinhos, ambulâncias, correios, piriquitos e papagaios? E tantos outros mais que não daria para aqui enumerar? Pois bem, essa enorme soma de dinheiro, que escorre silenciosa e inescrupulosamente pelos ralos da CORRUPÇÃO e vai parar nos bolsos de bichos roedores, é o que exatamente deixa de ser aplicado em saúde e segurança públicas, educação e saneamento básico, por exemplo, medidas absolutamente plurais para o desenvolvimento e progresso do país, visto que garantia indiscutível de educação adequada e qualidade de vida do cidadão, base do progresso de qualquer nação. A CORRUPÇÃO, então, é a grande responsável pela maioria das mazelas de nosso país, onde os políticos e gestores públicos (com suas exceções, é claro, já que nada é absoluto) pintam de bonzinhos, de salvadores da pátria, desavergonhadamente, roubando com a mão direita e com a mão esquerda fazendo-de-conta que estão " ajudando o povo" (nas palavras desses inomináveis " honrados corruptos" ). Nada disso, lamentavelmente, tem o mesmo impacto que o ato infeliz do jovem que roubou as vidas daquelas alegres crianças que se encontravam na escola, esse mesmo jovem que, provavelmente, pode ter sido uma das vítimas da CORRUPÇÃO que grassa neste país. Vítima de tudo o que já foi dito, vítima do descaso, da negligência, da demagogia e da omissão do poder público, vítima da ausência do Estado, vítima de outras vítimas desse círculo vicioso, vítima da injustiça e da desigualdade social, vítima da indiferença, do desamor, da desestrutura familiar, ou, quem sabe, vítima de alguma patologia. Tenho cá para mim que a modalidade desse crime cometido, por todas as suas características, encontra-se no rol daqueles em que o seu autor jamais teria capacidade de responder pelo mesmo. Disse um psicólogo, em uma matéria que li, que provavelmente ele seria um psicopata. Para quem não sabe, nessa condição, o autor do crime não teria compreensão do ato que cometera, não possuindo, portanto, capacidade jurídica de responder pelo mesmo.Resumindo, um psicopata é um ser mentalmente doente, que não tem ideia do que seja, ou não, um crime (lembram do maníaco do Parque, em São Paulo?). É absolutamente diferente do caso do abominável jornalista Pimenta da Veiga que, a sangue frio e covardemente, matou sua ex-namorada, cujo nome agora não recordo. Ele sabia muito bem o que estava fazendo, e está soltinho da silva. Mas, percebam, os nossos " honrados corruptos", que matam sem empunhar nenhuma arma de fogo, arma branca ou coisa que o valha, nenhum, até hoje, foi dado como doente mental. Ou seja: todos eles sabem - e muito bem - o que estão fazendo, e nenhunzinho até hoje foi pra cadeia, ou execrado publicamente, na medida de seu ato repugnante. Talvez vivamos fingindo que a CORRUPÇÃO não nos atinge (já que, de certo modo, ela vive pairando no ar, não nos atingindo diretamente, não na mesma medida em que atinge as camadas sociais desfavorecidas), aí, acreditamos não nos dizer respeito o que venha a ocorrer em face DELA, que silenciosamente segue seu curso, voraz, e calamo-nos, enquanto nos debatemos em problemas financeiros, vivendo como malabaristas, para garantirmos à nossa família boas escolas, planos de saúde, boa moradia e alimentação, lazer, tudo que um cidadão tem direito para viver uma vida digna. Esquecemos o outro, só olhamos para nosso próprio umbigo, deixando-os à sua própria sorte, à mercê dos politiqueiros de plantão, dando origem a esses dois Brasis."

sexta-feira, 8 de abril de 2011

ERREI

Sobre minha última postagem: ALENCAR SERÁ CANONIZADO? disse que li o artigo na Revista Brasil, mas o correto é Revista Vida Brasil. Eis o endereço eletrônico:
www.revistavidabrasil.com.br.

ALENCAR SERÁ CANONIZADO?

(Li este artigo na Revista Brasil e não contive o desejo de compartilhar com meus amigos. Vale a pena conferir. De uma lucidez ímpar. Absolutamente plural.)

De frequentador da zona a crítico dos juros altos, José Alencar está a caminho da canonização.No Brasil, a exemplo do que ocorre em boa parte do planeta, exigir coerência no mundo político é a mais hercúlea das tarefas. Quiçá não seja uma empreitada completamente impossível. Quando um político passa para o outro lado da vida, se é que isso de fato existe, suas mazelas chegam à sepultura muito antes do cadáver.

O mau vira bom, o desonesto vira honesto, o implacável vira um coitado. Sem querer duvidar da sua honestidade, esse cenário já recobre a morte de José Alencar Gomes da Silva, vice-presidente da República nos dois mandatos de Lula da Silva (2003-2010), que morreu em São Paulo após mais de uma década de luta contra um câncer abdominal.

Tão logo subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez, José Alencar não demorou a tecer suas críticas contra as altas taxas de juros. Mal sabia Alencar que os banqueiros derramaram verdadeiras fortunas na campanha de Lula e ao incauto povo brasileiro cabia pagar a conta. Como cabe até hoje.

E o esperneio discursivo do empresário José Alencar pouco adiantou. Fosse um homem coerente, Alencar teria alcançado o boné e renunciado. Só não o fez por conta de interesses maiores.

Ano e meio depois de tomar posse ao lado de Lula, o simpático José Alencar adotou obsequioso silêncio diante do escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT ”, esquema criminoso de cooptação de parlamentares que trocaram a consciência por um punhado de dinheiro imundo.

É verdade que todos são inocentes até prova em contrário, mas no PT de outrora rezava a regra de que para condenar alguém bastavam apenas evidências. A profecia é de autoria de José Dirceu de Oliveira e Silva, o Pedro Caroço, figura com a qual José Alencar conviveu sem qualquer reserva.

O agora santificado José Alencar apostou nas palavras do companheiro Lula, que certa vez disse com todas as letras que a China é uma economia de mercado. Certo de que o parceiro palaciano sabia das coisas, Alencar deflagrou um processo para abrir uma unidade de seu conglomerado têxtil no país da lendária muralha.

Mesmo com o Brasil sofrendo há anos a concorrência desleal dos fabricantes chineses de tecidos e afins, Alencar exigiu que o projeto fosse cumprido à risca.

E o mercado brasileiro de tecidos, que deveria ser defendido pelas autoridades verde-louras e também pelo então vice-presidente, foi mandado às favas inclusive por José Alencar.

Por ocasião da CPI dos Correios, que acabou investigando a fonte de financiamento do Mensalão petista, o nome da Coteminas veio à baila, pois a empresa de José Alencar recebeu em uma de suas contas bancárias um depósito de R$ 1 milhão feito pelo PT.

Alencar, que logo tratou de isentar de qualquer culpa o seu conglomerado empresarial, alegou que as explicações deveriam ser cobradas do próprio PT.

A operação, segundo José Alencar, decorreu do fornecimento de 2,75 milhões de camisetas aos candidatos petistas nas eleições municipais de 2004.

O então presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, informou a José Alencar, horas depois da eclosão do escândalo, que o repasse à Coteminas não foi contabilizado pelo partido. A dívida, de R$ 12 milhões, correspondia à época a 50 carretas abarrotadas de camisetas. Para contemplar as necessidades de Lula e Alencar, o caso foi devidamente abafado.

Guindado ao Ministério da Defesa por decisão de Lula, o empresário José Alencar viu a sua Coteminas vender cada vez mais uniformes para o Exército brasileiro. Coincidência? Talvez, mas na política essa palavra não existe no dicionário.

Em 2006, ao aceitar o convite para novamente fazer dupla com Lula da Silva, José Alencar acabou por endossar o “Mensalão” e outros tantos escândalos de corrupção patrocinados pelo Partido dos Trabalhadores e por muitos palacianos.

Na ocasião eclodiu o escândalo do Dossiê Cuiabá, conjunto de documentos apócrifos para prejudicar os então candidatos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra. Mais uma vez, diante de um novo escárnio com a digital da esquerda brasileira, Alencar preferiu submergir.

No quase infindável imbróglio da Varig, coube a José Alencar aproximar o empresário Constantino Oliveira, o nada diplomático Nenê, do presidente Lula, que implorou para que o dono da Gol comprasse a outrora mais importante companhia de aviação do País.

Muito estranhamente, Nenê Constantino, tão mineiro quanto José Alencar, atendeu aos apelos de Lula e arrematou a Varig por US$ 300 milhões, uma empresa que estava resumida à própria marca.

Até hoje ninguém conseguiu entender a transação que nem mesmo o mais incauto investidor seria capaz de apostar suas economias, mas o universo do poder tem essas situações inexplicáveis.

Em agosto de 2010, ao ser entrevistado pelo apresentador Jô Soares, o nada elegante José Alencar aceitou falar sobre o processo de investigação de paternidade que lhe movia Rosemary de Morais, sua suposta filha, e a recusa em se submeter a um teste de DNA.

Ao apresentador global o agora bonzinho José Alencar repetiu o que disse à Justiça. Que a mãe de sua suposta filha era prostituta e que ele [José Alencar] foi um frequentador contumaz das zonas de meretrício das cidades onde morou desde jovem.

Ao expor a mãe da sua suposta filha de forma tão covarde e aviltante, José Alencar não apenas escancarou o seu caráter, mas mostrou ao mundo ser ele alguém bem diferente daquele que hoje, após a morte, a consternada população brasileira tenta canonizar.

Ter pena de José Alencar por conta da sua luta contra o câncer não causa espanto. Mas há milhares de brasileiros na mesma situação de Alencar e que lamentavelmente dependem do sistema público da saúde para lutar contra a morte. Esses sim são bravos lutadores, dignos de pena e do respeito incondicional de todos.

Em momento algum quero festejar a morte de alguém, até porque esse é o tipo de atitude que não se toma nem mesmo com os mais figadais inimigos, mas não se pode alçar aos céus com tanta rapidez quem ainda tem contas a acertar com o Criador.

De igual maneira, a minha manifestação não se trata de moralismo oportunista, mas serve como apelo aos brasileiros para que releiam a recente história política nacional e que mantenham a coerência no momento em que mais um político se despede da vida terrena.

Errar é humano, é verdade, mas o erro pontual pode ser transformado em plataforma de acertos futuros se o errante tiver um mínimo de massa cinzenta. Como sempre escrevo, digo e não canso de repetir, sou o melhor produto dos meus próprios erros. Ainda bem! E é por isso que espero que no momento da minha morte os meus inimigos preservem a coerência e mantenham as críticas que me fizeram ao longo da vida. Só assim descansarem em paz, ciente de que mesmo longe dessa barafunda continuarei coerente e incomodando.

O meu finado pai, que tantos bons exemplos me deixou, por certo não encontrou minha mãe na zona mais próxima, mas os que me odeiam podem continuar me chamando de filho da puta – o genial Jânio Quadros dizia que o melhor é se referir ao desafeto como “filho de puta” – com a anuência da minha respeitadíssima genitora.

Fora isso, é preciso considerar que, assim como acontece com os árbitros de futebol, jornalistas políticos polêmicos sempre têm uma mãe sobressalente para os costumeiros e inevitáveis xingamentos.

E que o Criador escute as minhas preces e dispense ao ser humano José Alencar o tratamento devido, pois a sua luta pela vida foi inglória. Amém!


(Ucho Haddad, 50, é jornalista investigativo, colunista político, poeta e escritor. Editor do www.ucho.info, é articulista do Inforel (www.inforel.org) e da Gazeta do Oeste (http://gazetaoeste.com.br)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ricardo Noblat

“Mensalão é tese da oposição que a mídia e a Polícia Federal compraram.” (André Vargas, secretário de Comunicação do PT)

Imaginem a seguinte cena: em campanha eleitoral, o deputado Jair Bolsonaro está no estúdio de uma emissora... de televisão na cidade de Pelotas. Enquanto espera a vez de entrar no ar, ajeita a gravata de um amigo. Eles não sabem que estão sendo filmados. Bolsonaro diz: “Pelotas é um polo exportador, não é? Polo exportador de veados...” E ri.

A cena existiu, mas com outros personagens. O autor da piada boçal foi Lula, e o amigo da gravata torta, Fernando Marroni, ex-prefeito de Pelotas. Agora, imaginem a gritaria dos linchadores “do bem”, da patrulha dos “progressistas”, da turma dos que recortam a liberdade em nome de outro mundo possível... Mas era Lula!

Então muita gente o defendeu para negar munição à direita. Assim estamos: não importa o que se pensa, o que se diz e o que se faz, mas quem pensa, quem diz e quem faz. Décadas de ditaduras e governos autoritários atrasaram o enraizamento de uma genuína cultura de liberdade e democracia entre nós.

Nosso apego à liberdade e à democracia e nosso entendimento sobre o que significam liberdade e democracia são duramente postos à prova quando nos deparamos com a intolerância. Nossa capacidade de tolerar os intolerantes é que dá a medida do nosso comprometimento para valer com a liberdade e a democracia.

Linchar Bolsonaro é fácil. Ele é um símbolo, uma síntese do mal e do feio. É um Judas para ser malhado. Difícil é, discordando radicalmente de cada palavra dele, defender seu direito de pensar e de dizer as maiores barbaridades.

A patrulha estridente do politicamente correto é opressiva, autoritária, antidemocrática. Em nome da liberdade, da igualdade e da tolerância, recorta a liberdade, afirma a desigualdade e incita a intolerância. Bolsonaro é contra cotas raciais, o projeto de lei da homofobia, a união civil de homossexuais e a adoção de crianças por casais gays.

Ora, sou a favor de tudo isso - e para defender meu direito de ser a favor é que defendo o direito dele de ser contra. Porque se o direito de ser contra for negado a Bolsonaro hoje, o direito de ser a favor pode ser negado a mim amanhã de acordo com a ideologia dos que estiverem no poder.

Se minha reação a Bolsonaro for igual e contrária à dele me torno igual a ele - eu, um intolerante “do bem”, ele, um intolerante “do mal”. Dois intolerantes, no fim das contas. Quanto mais intolerante for Bolsonaro, mais tolerante devo ser, porque penso o contrário dele, mas também quero ser o contrário dele.

O mais curioso é que muitos dos líderes do “cassa e cala Bolsonaro” se insurgiram contra a censura, a falta de liberdade e de democracia durante o regime militar. Nós que sentimos na pele a mão pesada da opressão não deveríamos ser os mais convictamente libertários? Ou processar, cassar, calar em nome do “bem” pode?

Quando Lula apontou os “louros de olhos azuis” como responsáveis pela crise econômica mundial não estava manifestando um preconceito? Sempre que se associam malfeitorias a um grupo a partir de suas características físicas, de cor ou de origem, é claro que se está disseminando preconceito, racismo, xenofobia.

Bolsonaro deve ser criticado tanto quanto qualquer um que pense e diga o contrário dele. Se alguém ou algum grupo sentir-se ofendido, que o processe por injúria, calúnia, difamação. E que peça na justiça indenização por danos morais. Foi o que fizeram contra mim o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas daí a querer cassar o mandato de Bolsonaro vai uma grande distância.

Se a questão for de falta de decoro, sugiro revermos nossa capacidade seletiva de tolerância. Falta de decoro maior é roubar, corromper ou dilapidar o patrimônio público. No entanto, somos um dos povos mais tolerantes com ladrões e corruptos. Preferimos exercitar nossa intolerância contra quem pensa e diz coisas execráveis.

E tudo em nome da liberdade e da democracia...

FONTE: O GLOBO em 04/04/2011

QUIMERA

(RÔ Campos)


Canta e dança a desilusão
Dança o véu na escuridão
Dos sonhos presos no vão da porta
Das horas que são quase mortas.

Quero me dar. Serei perdida, alguém me disse.
Se me nego, não é minha vontade que fala.
Vou sair, te procurar, sorrateira,
Nas noites, nos bares, onde possa te encontrar
Quem sabe eu te conheça e tu me saibas.
Os meus segredos a ti me façam pequena;
Os teus a mim me mostrem: não és assim tão grande.
É como se dá com o tempo, que tudo fala
E depois adormece e cala nossos sonhos.

Mas ainda sonho: insisto, procuro
Teus olhos, teu olhar, no escuro,
Na noite de lua minguante, no Largo.
Logo te avisto, te acho, num lampejo,
Mas finjo que não te vejo.


Já não sonho, agora.
E ainda assim teimo em sonhar.
Lembrei-me nesta manhã, ao despertar:
Uma noite, a lua minguante, que nada mais alumia,
Vai nos levar
À cama, outrora tão vazia e fria.
Eu te saciarei e tu me farás novamente fausta
E farta.

Mas eu sei, penso que sei
Vens de dores que não se ausentam. Eu também.
Conheço esse buscar:
A pena com a qual hoje escreves teus versos
Derrama todo o teu penar.

Tudo é quimera!
E o que agora buscamos,
Muito já tivemos – talvez nem vimos.
O que sempre pensamos seja céu
Às vezes é o inferno que nos espera.

(madrugada de 23/09/2010)