quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

INFELIZ DA NAÇÃO CUJO "DEUS" É O SENHOR


(RÔ Campos)

Fecha a boca, fica calado
Se não te pegam numa cilada
Melhor calar, não dizer nada.
Não diz mais nada, engole tudo
Depois vomita o teu silêncio.

Que tristes tempos!
Escuridão cobriu o céu
Do meu Brasil.
De norte a sul, de leste a oeste
Infeliz mente de nossa gente!

Já não vejo mais o meu amigo,
Outrora como eu um sonhador.
Fazia música, lindas canções
Acreditava na liberdade
E a cantava como um refrão.

Infeliz mente, mente deliberadamente
Crê na polícia, crê na milícia,
Crê no exercício da força bruta,
Só não crê mais na leveza da batuta.

Fecha a boca, fica calado,
Hoje fala a hipocrisia,
Tudo falácia da burguesia.
Falam a chibata, os energúmenos,
Os idiotas e os ignaros.

Poeta, meu poeta!
Agora sei por que indagavas:
Que país é este?
Infeliz mente do povo brasileiro
Abduzida, hipnotizada, exorcizada,
Seduzida aos montes, pastoreada,
Como se arrebanha feito manada.

Infeliz da nação cujo "Deus" é o Senhor!
Infeliz da nação cuja arte é jogada na fogueira do inferno!
Infeliz da nação quando fala a ignorância e o povo escuta!
Infeliz da nação quando a verdade é camuflada, ocultada, os olhos são vendados, a mentira grassa...E o povo crê!
Infeliz da nação que idolatra quem separa, quem destila o ódio, quem massacra o homem, quem humilha e pisoteia, quem distorce a verdade, quem digladia, quem mata, quem crê no infeliz que mente.
Infeliz da nação onde o pobre e oprimido se alia ao opressor!
Infeliz da nação onde a arte se rende, se cala, e fala o obscurantismo!

CUMPRE O TEU DESTINO


(RÔ Campos)

Sei que está chegando a hora
Em que vais atravessar a porta
Deixando para trás tudo o que jamais quiseste.

Nada levarás de mim
Nem meu coração, que deste às traças
Nem o meu amor, do qual zombaste tantas vezes
Nem a minha dor, que dor não mais existe.

Ficarão comigo o cheiro do quarto
Um misto de perfume, cerveja e cigarro...
O teu abandono, o teu descaso
O teu olhar oblíquo, e o teu sorriso falso.

Mas as lembranças ficarão também
Dos belos dias do começo
Quando tudo era ilusão
Eu cria que era feliz
Mas a tristeza batia à minha porta
E eu fingia que não a via querendo entrar.

E houve uma noite em que eu, desprevenida
Soube de tua boca o que seria um açoite
Que me cortou o peito e me deixou perdida
Num beco escuro, sem chance alguma de saída.

E muitas noites vieram depois daquela
E nunca mais eu fui a mesma.

Andei dias e noites a esmo
Caí, levantei, sorri sem ter porquê
chorei sem lágrima cair
Entrei em labirintos assustadores
Me vi diante de uma solidão crusciante
Que parecia não ter fim.

E eis que quando volto a me sentir mais segura
Tu vens e de novo eu penso que é para ficar
Mas retiro as vendas dos meus olhos, ainda a tempo
De ver que não és tu o meu lugar.

Agora tu me falas que está chegando a hora
Em que vais atravessar a porta
Talvez quem sabe provavelmente para nunca mais
Eu te digo, então, segue em frente
cumpre o teu destino, vai na paz
Vai procurar no futuro o que o passado não te deu
E o presente que deixas para trás.