domingo, 24 de agosto de 2014

DANÇA DA VIDA


(RÔ Campos)

Humano, desumano,
Sobre homens e bichos,
Sobre deuses e loucos,
Crentes, descrentes, políticos,
Pobres, remediados e ricos·

Planeta Terra!

Sobre vencidos e "vencedores",
Quem ganhou e não levou,
Quem perdeu mesmo ganhando,
Quem venceu mas não gozou·

Planeta Terra!

Sobre acusadores e juízes·
Todos pecadores sob juízo cristão·
Acusados, acuados, bandidos·

Sobre o amor e o ódio,
A verdade e a mentira,
O real e o fictício.·

Planeta Terra!

Sobre onde e quando começa a vida,
Sobre o que é a morte
E toda a sorte que há no mundo.
Sobre os azares de muitos.

Sobre os mistérios que nos rondam,
A Ciência e a Religião,
O Bem e o mal·
Como surgiu a noite,
De onde vem a luz que a tudo nos conduz,
Por que existem as trevas·

Planeta Terra!

Sobre o que fomos antes da semente,
Para onde vamos,
Se viemos do pó,
Se ao pó voltaremos·

Planeta Terra!

Sobre o que somos e o que queremos ser,
Os sonhos e a capacidade de voar,
Vitórias e fracassos· Vencer e vencer·

Planeta Terra!

Sobre artistas e comuns,
A Poesia e a Música,
O silêncio e o som. O intervalo·
O Dom·
A Palavra e as Notas Musicais,
A Dança, o Teatro, o Circo,
A dança da vida···

sábado, 23 de agosto de 2014

ROMANCE DA LUA COM O MAR

(RÔ Campos)





Noite de lua linda, lua grande, lua cheia,
La Luna surge, estonteante, clara, gigante,
Nos céus da Baía de Guanabara e das areias de Copacabana,
Cobertos pelo vasto véu da noite, que não demora se retira.

Como se fosse um poema de Garcia Lorca,
O relato de um romance da lua,
Numa noite da lua em pleno e puro cio,
Clicam-na, despudorada, as lentes da fotógrafa,
Entregando-se, sedenta, ao mar bravio,
Que a toma nos braços e a acomoda no seu leito,
E a devora e a sacia,
E depois também se acalma...


(construído a partir da foto de Ana de Hollanda, publicada em 11 de agosto na sua linha do tempo, a quem dedico)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

SOBRE O DESAPEGO

(RÔ Campos)

Não adianta religião, ciência, seita, terapia, psicologia, tecnologia, progresso, nada, nada, nada se o homem não praticar o desapego. O egoísmo mantém o homem como se um verdadeiro réptil fosse. E nunca vai soltar as garras do chão ao qual vive preso e criar asas para poder voar. Só o desapego livra o homem da insignificância.

ACERCA DA PAZ


(RÔ Campos)

A paz não constrói muros nem cercas· A paz se expande·
Viver num mundo conturbado, procurando sempre semear a paz, é estar lado a lado com o fogo· Porque o mundo inteiro se debate e arde nas fogueiras da vaidade, construídas pelo homem com gravetos·
A paz, muito antes de alcançar as montanhas, atravessando vales e pântanos, a paz é uma condição interior, plantada no território livre do coração de cada um· Um coração livre jamais se deixa prender·
Tanto que, assim, a paz não se alcança vindo de fora para dentro· Do mundo exterior para o interior · A paz vive por si mesma no universo particular de cada um, e a apreende quem é livre, porque de tudo se despe·
O apego constrói muros e cercas, faz a guerra e destrói· Um coração em desapego vive em paz, e,assim, a semeia, difunde-a e propaga-a· Por isso, quem sabe, o mundo viva sempre em guerra·
Curtir

ACERCA DO ÚLTIMO ADEUS


(RÔ Campos)

Não me falem sobre selfie em velórios e em cemitérios. De sorrisos amarelos, falsos, ensaiados, ou não.
Não me falem sobre a falta de pudor de quem quer que seja.
Eu não sei da dor do outro, nem se rima com sorriso.

Não me perguntem o que acho disso ou daquilo. Eu nunca tenho respostas para a dor que não é minha. Eu nunca sei da dor alheia, da velocidade e do calor do sangue que corre em outras veias.

Não me suscitem dúvidas sobre a probidade e o amor dos que ficaram. Se choram de verdade por quem a morte arrebatou tão bruscamente, ou se choram esfregando cebolas nos olhos, como os artistas nas telas do cinema ou nas telenovelas.

Não me falem mais sobre coisas medíocres, nem sobre o tabuleiro da política. Eu desisto. Porque tenho cá comigo que a política é a "arte" dos absurdos.
Eu já não mais me espanto com o legado do colonizador.
Esse é o nosso retrato pintado em preto e branco. É como se fosse um trato imoral e indecente nesse interminável teatro: vai de mão em mão, de pai para filho, para neto, bisneto, tataraneto..., sob várias direções. E tudo recomeça com as gerações seguintes, desde mil quinhentos e pouco, quando Portugal decidiu invadir e ocupar as terras de nossos ancestrais, arvorando-se descobridor destas terras que desde sempre existiram. E o único véu que Portugal retirou, descobrindo estas terras, decerto foi o véu que cobria a vergonha de nossas mulheres.

Verdadeiras capitanias hereditárias é o que somos. E manipulados. Escancaradamente manipulados. E nos deixamos manipular amiudadamente, calados, engasgados. E nos entregamos, assim, como se desistíssemos da vida, porque já não vemos sentido algum nessa ópera bufa. E vamos nós, um por um, silenciosamente, nos retirando dos teatros da vida, muito antes do último ato.

Pois bem.

Eu só sei da dor que eu sinto. E sei também que a morte é o momento mais sublime de nossas vidas. Porque... não é quando somos dados à luz, o momento mais sublime, pois estamos vindo ao mundo, começando os primeiros passos dessa intrigante trajetória. O instante mais sublime é quando nos vamos. Porque nunca mais nos veremos em carne e osso. Porque nunca mais ouviremos a voz, os gritos, os cochichos uns dos outros. Porque nunca mais nos abraçaremos, sorriremos ou choraremos juntos. Nunca mais dormiremos e acordaremos juntos. Nunca mais sonharemos juntos. Esse é o momento mais especial de nossas vidas. E não necessitamos de foguetes, de barulhos, de flashes, de promessas vãs. De silêncio é que precisamos. E de entrega total nesse instante final. O resto não tem pressa alguma. O resto fica para amanhã...
Curtir

COMO A ALMA DA GENTE



(RÔ Campos)

Porque, naquele tempo, era muito cedo pra ti· E agora, pra mim, a tarde vai findando e escancara a porta pra que a noite entre· A equação já não bate·
Essa matemática tão exata, que não deixa margem pra erros! Se muito, restos·
Mas ninguém vive de restos· Ou são desprezados, esquecidos, ou vão parar na lata do lixo·
Deveria haver um pouco de humanidade nessa exatidão· Uma espécie de conciliação entre a alma e o corpo, a aparar as arestas do tempo· Afinal, que culpa tem a alma, imanente, se o corpo envelhece?
O que me resta, agora, senão a ilusão de que há vida lá fora, onde eu possa te rever um dia, num tempo sem equação, nem matemática, nem sobras· Um tempo sem corpo, sem dia nem noite· Apenas a energia a fluir e o céu como condutor· Um tempo permanente como a alma da gente