sexta-feira, 22 de junho de 2012

NADA

(RÔ Campos)

Agora
Penso eu
Na vida
Na morte
Nas asas partidas
Numa viagem precoce.

Procuro um sentido
Onde não há sentido
Algum
No vazio
De um coração
Tão cheio.

Agora
Eu choro
Pelo que não vivi
Nem soube.

Hoje
Atravessou-me o peito
Um tiro
Traiçoeiro.
Deparei-me com ela: Uma cilada
Na estrada
Da vida
Correndo
Sangrando
Descalça.
Calcei as sandálias
Da humildade
Do pescador.
Descobri: Valho menos
Quê um nada

terça-feira, 19 de junho de 2012

QUANTO ABUSO E FALTA DE RESPEITO!

Estou simplesmente pasma com as cenas que acabei de ver no estacionamento da Caixa Econômica Federal, no Belvedere (e até fotografei, mas, analfabeta digital, não sei passar as fotos para cá. Mais tarde vou pedir ajuda a meus filhos para mostrar a vocês o porquê de minha indignação). Enquanto minha secretária estava dentro da CEF para resolver alguns assuntos particulares, fiquei dentro do meu carro, na rua, esperando uma vaga no estacionamento, o que o fiz em seguida. Percebi que havia duas vagas reservadas para cadeirantes, e uma para idoso, conforme determina o Estatuto do Idoso. Na primeira, destinada aos cadeirantes, antes de chegarmos já havia um carrão estacionado, do qual tirei a foto, com placa e tudo, e também da pessoa que o dirigia, quando retornava do banco e entrava no veículo, de pés no chão (eu diria, lindo e maravilhoso, se não fosse a sua falta de educação e respeito ao próximo, e o acinte de sua atitude). Na segunda vaga, saiu um carro e entrou outro, de onde desembarcaram várias pessoas, andando com as próprias pernas, às gargalhadas, como se fossem todos cegos e não vissem a enorme placa estampando uma cadeira de rodas, inclusive no chão. Infelizmente não consegui tirar as fotos desses parasitas, quando deixavam o veículo, muito menos quando retornaram, pois, nesse caso, eu já havia me retirado do local. Na vaga destinada ao idoso, estacionou um veículo, cujo motorista de idoso nada tinha, mas sim uma cara de perreché. Atrás dele, estacionou um outro carrão, de onde saiu um homem vistoso, com cara de bonitão, com cerca de 40 anos. Nesse interregno, chegou um idoso, que, felizmente, encontrou uma vaga ao lado daquela destinada aos velhinhos, e, quando saiu do carro, o imbecil que havia estacionado em sua vaga retorna ao veículo e começa a fazer malabarismos para sair, em razão do outro imbecil que estacionou atrás dele impedir-lhe de fazê-lo normalmente. Por fim, na entrada da primeira vaga destinada aos cadeirantes (já liberada pelo bonitão do carro verde), para um motociclista e deixa a moto ali estacionada, quando havia um local, ao lado, onde poderia muito bem estacioná-la. Enfim, num espaço de tempo em torno de 30 minutos deparei-me com tudo isso e fiquei a conversar com os meus botões, dizendo-lhes que esse povo está muito longe da civilização. Sim, porque ser civilizado é, acima de tudo, respeitar o outro.

domingo, 10 de junho de 2012

Acabei de compor. Dedicado a Luzinete, a Babá de meu ex-marido Eugênio, e de seus irmãos, e mãe de Cícero. Iá, Iá era minha ex-sogra, que faleceu há alguns dias, em Garanhuns. Babá vivia com Iá, Iá há mais de 50 anos. Eram unha e carne. Dona Iá, Iá tinha mais de 80 anos, e Babá está perto disso, uma negra tipicamente africana, sem estudos, mas de uma sabedoria encantadora. Fiquei aqui a imaginar como Babá está passando esses dias tão tristes. Uma sempre prometia a outra que, quem partisse primeiro, voltaria para levar a outra. Essas coisas do coração do Nordeste. Ambas nasceram em terras de Garanhuns. Babá, no Molungu, uma comunidade de maioria negra, ou distrito, ou coisa parecida, em Garanhuns, que eu e meus filhos tivemos o prazer de conhecer e viver alguns belíssimos dias. Inesquecível!!!!!

ME LEVA, IÁ, IÁ

Iá, Iá
Doce Iá, Iá
Chegou o dia
E, agora,
Como seguir
Os passos da vida
Ser malabarista
Sem você aqui,
Junto de mim?

Iá, Iá
Doce Iá, Iá
Você jurou pra mim
Tantas vezes
Que não iria
Partir
E me deixar aqui
Assim
Sem saber o que fazer
De mim.

Iá, Iá
Doce Iá, Iá
Tá tudo escuro
E é tão triste
Pois a nuvem em que partiste
Não voltou pra me buscar.
Me leva, Iá, Iá, me leva
Ouça-me, sou eu, Babá
Nada aqui faz mais sentido
Me leva pro teu lado
Pra junto de Deus
Pra modo a gente pedir
Pelos filhos que aqui ficaram
Os filhos que são teus
Também filhos meus
Teus e meus
Iá, Iá.

DÓI DEMAIS


(RÔ Campos)

Eu queria ao menos
Que viesses um dia, um dia apenas
Que fizesse valer todas as penas
Que foi viver sem ti.

Queria ouvir falares
Sobre todas as tuas penas
Para que as minhas penas
Me parecessem pequenas.

Queria te ouvir, coração partido
A me pedir perdão
Por teres jogado na rua, na lama
Tanto amor, tanta paixão.

Queria ouvir teu coração, batendo
Junto ao meu coração, quase louco
Me dizendo como dói demais essa dor
De só se compreender o amor
Quando ele já partiu, morreu.
Hoje, João Gilberto completa 81 anos. Uma vida de polêmicas, de amores e de queixumes. Mas, acima de tudo, uma história de amor com a música. Isso, ninguém lhe pode roubar: a memória de João Gilberto espalhou-se pelos quatro cantos do mundo, e, junto a ela, a refinada música brasileira, que, ao contrário da telomania, não mata, e, sim, torna a vida mais colorida, mais rica, mais charmosa, uma flor que desabrocha. ">

NÃO SEI

(RÔ Campos)

Você se foi
Você se foi
E eu nem sei pra onde
Não me disse nada, nada, nada
E me deixou assim, tão vazia, calada
Náufraga, perdida, abandonada
Longa travessia, sozinha
Noites sem lua, sem estrelas
Procelas! Procelas!

Você se foi
Você se foi
E até hoje eu não sei
Onde é que você se recolheu
Nem o que fez dos sonhos que apanhou
Nos tempos de colheita
(Quando o nosso amor floresceu)
E guardou com tal zelo
Nas cestas de vime, forradas de seda.

Você se foi
Você se foi
E agora, meus olhos, insones
Tão tristes Tão tontos
Escancaram as janelas desbotadas
De minha alma sofrida
Que há muito não sabe, desconhece
O que acalma, o que é guarida.

sábado, 9 de junho de 2012

AUSÊNCIA

(RÔ Campos)

Saudade não tem idade
Quando chega, não é mentira
É a doce lembrança que vem à tona.
Saudade... É como a alma se agitando
De repente.

Saudade, ambígua
Para uns, ferina
Para outros, bálsamo.

Saudade, é o que sinto agora
Do que vivi, outrora
E hoje mora em minhas memórias.

Saudade de alguém
Que partiu num dezembro
E nunca mais se viu janeiro.

A COR DA VIDA

(RÔ Campos)

A cor da vida é o que me acorda
O cheiro da flor e o perfume das rosas
A luz da lua ao luar e o brilho das estrelas
Os raios do Sol... fotossíntese
A cor da vida
A síntese da matéria...orgânica
Clorofila, o verde.

Os prantos da Lua cravejam minha face
Não, não há só uma Lua
Muitas são as Luas em cada ser
(Quanto pecado!)
Pois a Lua que derrama seu pranto em mim
Não é a mesma Lua de Pequim.
A minha Lua é sempre nua
Livre, liberta, libertina
Não segue nenhuma regra
Não reza.
É a própria oração.
A lua de Pequim é tristeza
Sofreguidão.

NOVE DE JUNHO

(RÔ Campos)

Onde foi que você se escondeu? Te procurei todos esses anos. Vasculhei todas as redes. Tornei-me detetive. Pensei em todas as chances, hipóteses. Pensei em ti, em mim. Lembrei dos momentos que deixamos de viver, quando ainda éramos tão jovens. Mas já ali eu bem sabia que não haveria o amanhã para nós dois. Então, muitos anos se passaram, quando naquele nove de junho surgiste do nada...E assim também sumiste na estrada da vida, em que parecia andavas em linha reta. Quedar-te em minhas curvas, pensaste uma atitude insana, perigosa. Não valeria a pena, uma noite, apenas uma noite, e, quem sabe, toda uma vida de culpa e arrependimentos. Mas, inda assim, me fizeste tantas juras!: Que teus olhos não se esconderiam mais dos olhos meus. Que tua boca não se fecharia mais aos meus ouvidos. Que o silêncio - esses ruídos do Cosmos - seria banido de tuas intenções e atos. Foram todas juras mentirosas. Ou, se eram verdadeiras, a mantira as corrompeu. É, às vezes a verdade se esconde e a mentira bate pernas, ganha o mundo, ganha asas, alça vôo. Desapareceste desde aquela noite. Não me deixaste uma pista, uma oportunidade de nada. Um telefone. Uma palavra qualquer. Hoje, não sei mais da tua vida, nem dos teus amores e louvores, nem de tuas guerras, das batalhas que perdeste nem das quais saiste vitorioso. Hoje, só sei do teu sorriso na hora da partida. Desde aquele momento, não sei nem quem foi aquele que ficou atrás da porta que se fechou atrás da mim. E, afinal, também não sei dizer se aquele com quem eu estivera instantes antes, era o mesmo homem que conheci e amei na tenra juventude. Talvez não. Tudo muda. Ninguém é sempre a mesma coisa. Apenas a essência...essa permanece. Onde foi que você se escondeu? Preciso saber. Antes que seja tarde. Antes que eu também esqueça de ti lembrar. Por enquanto, ainda recordo aquela última vez. Era nove de junho. Estavas triste, e eu, amargurada. Tuas tristezas...o tempo as deve ter levado. Minhas amarguras...delas eu me libertei.

NATUREZA

(RÔ Campos)

Quão vasta és tu, minha mãe, quão farta, quão pura!
Quão pequeno é o homem, quão carente, quão impuro!
És tu quem me sacia a sede, a fome.
Sou eu que te esbulho.
Toda vida provem de ti.
Eu te sugo até a morte; tua fartura não me basta.
E, tenho dito: és rica, abundante, generosa, casta.
Ferida, jamais perdoas, torna-te madrasta.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

ASCENSÃO E QUEDA DO IMPÉRIO DOS LINS

Acabei de ler matéria em A Crítica de ontem (5), sobre a cassação do (deputado federal) Átila Lins. O que mais me chamou a atenção foi saber que o dito-cujo, no sexto mandato, foi eleito com 131.429 votos, sendo que 113.681 foiram no interior do Estado e apenas 17.748 em Manaus. A mesma matéria cita que seu irmão Belão (que, na minha opinião, de belo não tem nada - como um certo cantor de pagode que andou envolvido até o pescoço com o tráfico de drogas), deputado estadual, também responde a um processo com pedido de cassação com o mesmo teor do que cassou seu irmão Átila (homônimo do célebre rei Huno, também conhecido como Praga de Deus ou o Flagelo de Deus, figura lendária da história da Europa, considerado principalmente na Europa Ocidental como paradigma da crueldade e da rapina), e que o relator do processo do Belão é o juiz Marco Antonio Pinto, que votou pela cassação de Átila. Leio, ainda, que Belão foi eleito com 46.374 votos no interior, e apenas 5.718 votos em Manaus. O que concluo: o feudo dos Lins, alvo de altíssima rejeição na capital dos trópicos, e que se mantém à custa do nosso caboco, que sobrevive a duras penas em meio ao desespero das enchentes e vazantes e sob a omissão e descaso do poder público, começa a ruir. Sinais dos tempos. Quando já então que num passado não muito distante poderíamos sequer sonhar com a queda do império dos Lins???? São os ventos da democracia, essa jovem menina libertária...