terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

PARA ONDE?


(RÔ Campos)

Era noite...e, ainda assim, eu sonhava.
O vento frio desgrenhava os meus cabelos,
E as águas contidas nas calçadas molhavam meus pés.
O movimento dos cabelos me impedia a visão,
E as águas empoçadas me provocavam arrepios.
Eu seguia em frente, sem nem saber para onde.
E me lembrava de Drummond e seu José:
E, então, me perguntava: Para onde?

Não havia estrelas no céu.
E também não havia lua nem luz alguma.
Era noite...e, ainda assim, eu sonhava.

Era noite, ainda, quando eu acordei.
E me vi, atordoada, me perguntando: para onde?
E até agora continuo sem saber...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ESSA ESTRADA


(RÔ Campos)

Eu conheço bem essa estrada.
Tantas vezes já passei por ela.
Muitos foram os dias de felicidade,
E a tristeza eu deixava no meio do caminho.

Ainda me recordo de uma certa noite,
Quando voltávamos de um passeio em família,
E paramos o velho carro no breu da estrada:
Corpos atirados ao chão, olhos pro céu, um planetário,
Ficamos a procurar as constelações...

Mas, algum tempo depois, quem diria,
O destino tomou de assalto o amor que nos unia,
E todo e qualquer laço se desfez .
Nunca mais pusemos os pés nessa estrada.
E hoje, cada um de nós segue sozinho...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

LIBERDADE E CONSCIÊNCIA


(RÔ Campos)

Sinto muito...
Eu não queria que tudo terminasse assim.
Com você até - quem sabe? -
Remoendo ódio contra mim.

Posso até estar errada,
Mas o que me importa não é o que você e os outros vão pensar de mim.
E sim o que me diz a voz da minha consciência,
Que sempre foi o meu juiz.

Se, neste caso, fizeste um pacto com o silêncio,
Minha consciência, ao contrário,
Que nunca se fez omissa,
Também não se calou.

Somos todos homens livres.
E minha liberdade, se é minha,
Como, aliás, assim decretou Mandela,
Não cabe a ninguém mais declará-la,
E a mim, apenas a mim,
O exclusivo e pleno exercício dela.-

domingo, 15 de fevereiro de 2015

RELUZIR


(RÔ Campos)

Hoje eu acordei com uma vontade danada de saber
Aonde anda você, meu amor···
Deve ter sido porque a lua ontem estava tão linda;
Parecia um risco no céu,
Minguante, crescente, eu não sei bem ao certo·
Só sei que me deu uma saudade tão grande···
E essa vontade de te abraçar e te beijar,
Como na primeira vez em que nos vimos···

O tempo tem varrido muitas coisas,
Mas ele nunca se tornou meu algoz ou se fez bandido·
E jamais tentou roubar as jóias preciosas que delicadamente guardo na caixinha do meu coração·
E você é uma delas, meu amor:
Um diamante lapidado pela força bruta,
Mas que, no céu da minha vida e no meu infinito particular,
Reluz muito mais que mil estrelas···
O amor é uma sementinha preciosa, que faz brotar muitas rosas· Todas elas têm espinhos, eu sei· Mas o amor faz o perfume e a singularidade das rosas vencerem a dor provocada pelos espinhos, cicatrizando as feridas· (RÔ Campos)

HIPERTENSÃO


(RÔ Campos)

Perdoa, coração,
Se, às vezes, eu ando à toa,
Te machuco, te magoo,
Cuido tão mal de ti·

Sabe, coração,
É que, às vezes, de repente,
Me bate uma grande aflição;
Quero ganhar o mundo,
Despistar a solidão·

Aí, coração,
Numa ânsia incontida,
Saio à procura de dopamina,
Me enveneno e, por tabela,
Te faço tanto mal·

Perdoa, coração,
Por te estreitar as artérias,
Por te deixar tão bravo e cansado,
Com as batidas desesperadas,
E eu, aqui, com medo de te perder···

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

DESEJO DE AMAR


(RÔ Campos/Lívia Mendes)

Muito tarde pra dormir.
Muito cedo pra acordar.
Muitos sonhos pra sonhar.
E esse desejo enorme de amar
Que nunca passa,
Que nunca morre.

A madrugada ainda dorme.
Ouço o sibilo do vento,
O motor da fábrica em movimento,
O cão latindo lá longe. 
E penso:
É muito tarde pra dormir
E muito cedo pra acordar.
E esse desejo enorme de amar,
Que nunca passa,
Que nunca morre

MERGULHO


(RÔ Campos)

Me leva pra dentro de mim.
Me faz voltar pra mim.
Saber quem eu fui, quem eu sou,
O que posso ainda ser.

Me fala voz do coração.
Me ensina a lição secular:
A fúria não salva os covardes;
A coragem é a luz do viver.

Me mostra o que não pude ver.
Me faz sentir o invisível.
Esquecer o tempo perdido.
Traçar um novo começo.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

DOIS DE JANEIRO DE 2015


(RÔ Campos)

Hoje resolvi revirar os meus guardados,
Revolver o meu passado,
Reabrir as caixas que lacrei·

Reli as cartas que escrevi, e nunca enviei·
Todas falavam de sonhos e amores desfeitos,
De saudades que fizeram doer o peito·

Chorei ao reler as cartas que recebi,
Os cartões desejando Boas Festas, Feliz Aniversário·
E havia também outros que acompanhavam as flores que me eram enviadas·
Muitas foram as confissões de amor eterno,
E também as promessas jamais cumpridas·

Encontrei até velhas roupas rasgadas,
Fotografias às dezenas, como registro dos momentos de alegria e felicidade·

Vi em algumas cartas marcas das lágrimas furtadas dos meus olhos,
Que tantas vezes se fecharam para não sucumbir·

E nessa viagem ao túnel do tempo,
Encontrei corações delicadamente tecidos com fios de cobre,
O meu nome ao lado do nome dele·

Quando dei por mim, já era noite·
Devolvi tudo para as caixas onde estavam guardadas essas lembranças,
E lacrei-as novamente com as fitas que eram os laços,
Que envolviam os buquês das rosas vermelhas,
Que o homem que jurava que me amava, me mandava·

NEM OURO, NEM PRATA


(RÔ Campos)

Quanto vale um homem,
Quando cala?
Quando calam um homem,
Quanto vale?
Quanto vale um homem que não fala?
Quanto vale um homem que faliu?
Quanto vale um homem quando falha?
Quanto vale um homem sem o falo?
Quanto vale a vida de um homem?
Às vezes, um punhado de ouro,
Outras vezes, algumas patacas ;
Às vezes, nem ouro, nem prata·

SOBRE A SOLIDÃO E O DESESPERO

(RÔ Campos)

Estava aqui a conversar com os meus botões· Acredito que todos nós, em algum momento da vida, já nos sentimos extremamente sós· E quando falo em solidão, não me refiro à ausência de pessoas, mas, sim, àquele momento em que, mesmo rodeados de gente, a sensação que temos é que estamos abandonados à nossa própria sorte, sem ver uma luz sequer, sem sabermos o que vai ser feito de nossa vida· E ninguém, absolutamente ninguém poderá nos ajudar· Nesse momento - eu acredito - não adianta se desesperar, porque o desespero nunca foi aliado de ninguém· O melhor a fazer é esperar e deixar que as coisas aconteçam, porque elas acontecerão, seja de que forma for·

VIDA

(RÔ Campos)

Ele vivia em uma casa que não tinha portas nem janelas· Todas as suas posses era uma grande e pesada mochila que carregava nas costas franzinas · E como companheira uma estrela solitária, que se punha a mirar, dizendo, feito criança: "olha, essa é a minha estrela!" · E carregava, também, uma inquebrantável fé em Deus no coração·
Na mochila, levava o armário do quarto, uma bolsa contendo as ferramentas e a matéria prima de seu trabalho com a arte· Além de uma pequena caixa, onde guardava todos os seus sonhos· Quando as pessoas lhe perguntavam o que ele carregava naquela mochila, ele sempre respondia: "a minha vida".
Faz mais de quatro anos que não vejo nem ouço falar nesse pequeno grande homem, que parecia ter a face esculpida e as mãos lapidadas por outro grande artista· Mas sempre me lembro dele nas noites em que Léia - era assim que ele chamava a Lua - surge absoluta e exuberante· E quando, perambulando pelas noites vadias, vejo na imensidão do céu a estrela solitária, que sempre foi dele···e minha·

DIOGO: SOBRE O DIA E A NOITE, O SOL, A LUA E AS ESTRELAS

(RÔ Campos)

Acorda! Olha pela janela!Vem ver! É de manhã! O sol já chegou! É hora de levantar!
Olha só, o céu tá ficando escuuuuro! Por quê? Cadê o sol? Pra onde ele foi?
Já é noite! Olha a lua! Ela tá tão bonita! Onde a lua mora? Eu quero ir lá na lua! Mas por que a lua vive tão alto? Posso colocar uma escada para eu tocar a lua?
Olha aquela estrela bem perto da lua! Por que ela fica ali? Como é grande essa estrela! Por que tem estrelas grandes e pequenas?
Vem! Vem pro quintal, pra ver como o céu tá tão bonito!

(Todas essas frases são ditas pelo meu neto Diogo, muitas vezes pela manhã, quando vai me acordar, à noite, quando se avizinha, ou quando vamos ao quintal, nas noites de lua cheia ou lua nova (ele compara a lua a uma bola, ou círculo), ou mesmo nas noites de lua crescente ou minguante (quando ele a compara a uma banana),

SOBRE A GRATIDÃO

(RÔ Campos)

Nunca espere nada de ninguém· Nem gratidão· Acostuma-te à falibilidade humana· Se alguém te for grato, registra nos haveres da tua contabilidade· Ao contrário, lançar a débito nunca vale a pena·

AMO-TE


(RÔ Campos)

Amo-te·
Amo-te tanto que esqueci até de mim,
E vivo a contar os dias e as noites, esperando que tu regresses·
Amo-te, e é esse amor que me alimenta e me faz sonhar e crer que o sol vai voltar·
Amo-te·
Amo-te tanto, e o meu amor tem a estatura de um gigante e a certeza da eternidade·
Amo-te, e foi o teu amor que me ensinou
Que o amor tem razões que a Razão sempre me negou·

A PARTE QUE ME COMPETE


(RÔ Campos)

Vai dar tudo certo
Ainda que tudo pareça tão escuro
Que o céu se afigure tão longe
E o inferno pareça tão perto·

Vai dar tudo certo
Ainda que pareça tão tarde
Que os ventos soprem ao contrário
Tentando driblar minha sorte·

Vai dar tudo certo
Quando o trem do destino passar
Terei feito a minha parte
E tomarei o assento rumo à felicidade·

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