sábado, 23 de setembro de 2023

PENSAMENTOS

 (RÔ Campos)

Aqui estou a divagar,  bem devagarinho, porque não tenho mais tempo algum para a pressa. Eis que a pressa  nos turva a visão,  embaça a mente, cansa as pernas,  acelera o coração.

Os pensamentos  viajam.  Andam pela madrugada,  sentam-se à mesa de bares, conversam  entre si,  riem, choram,  arrependem-se, voltam ao passado distante,  e ao recente,  também.  Querem até adivinhar o futuro. 

Aí, eles batem à  minha porta, entram  como  chegam as tempestades,   trazendo notícias do tempo. É  como se um filme em câmera lenta passasse  diante  de meus olhos. 

Fico a lembrar de uma frase que cunhei há muitos anos,   quando as horas invadiam a madrugada, e eu, aqui,  sozinha,  trancada  no meu quarto,  tentava encontrar uma saída para o silêncio ensurdecedor  que teimava ao meu ouvido:

"O tempo e a distância são deletérios  do amor; o silêncio,  a porta do cemitério e o coveiro".

(*) 24.09.2021

ESSES SERES PERNÓSTICOS

(RÔ Campos)

Algumas coisas parecem normais· Mas nada é verdadeiramente normal num mundo de faz-de-conta·  Tu fazes de conta que me amas· E eu faço de conta que acredito·  Mas na hora "h", é cada qual por si· É o instinto de sobrevivência que grita na caverna do terror· O mundo pegando fogo e a maioria procurando escapar· Poucos são os que ficam para apagar o fogo· O homem ainda vive de teimoso que é· A carne não vale nada diante de um ambiente inóspito, repleto de bactérias, fungos e vírus· Mas vamos teimando e brigando contra tudo e contra todos· Porém, apesar de toda essa cruel realidade, há quem creia que o mundo esteja sob os seus pés, como se fosse um deus, esse ser sobrenatural que veio do nada e do nada teria criado o mundo· 

(*) 23.09.2014

CITAÇÕES/PEQUENOS TEXTOS

Quando a luz entra pela janela, a escuridão vai embora. Mas, ao sair, a escuridão não leva com ela as lições que nos deixou. 

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Até ontem ele estava nos sonhos que eu ainda sonhava...Depois da morte dos sonhos, minha mente tornou-se um cemitério. 

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Às vezes, nem nós mesmos conhecemos o louco que há dentro de nós e atrás do outro. Portanto, nunca confie, nem sob juramento. É que às vezes a loucura abre a porta e vai dar uma volta. 

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Os humanos temos tendências suicidas. É impressionante a  burrice  e a estupidez com as quais, dia a dia, lentamente nos matamos um pouco.

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Às vezes um segundo, um minuto, uma hora, um dia, é como se fosse uma eternidade. Outras vezes, tanto tempo se passa e não acrescenta absolutamente nada. 

Moral da história: o que pesa, o que vale é a intensidade.

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Dizem que o pobre do dinheiro é o próprio capeta, sempre o culpado de todas as mazelas da humanidade. Mas o dinheiro - lá vou eu com minhas elucubrações!!! - não tem cérebro nem pernas nem pés nem braços nem mãos nem boca nem olhos nem ouvido nem tato. O dinheiro não tem sentidos, mas faz sentido. O dinheiro não passa de um mero papel ou de um valor x. O que lasca é a cobiça, o mau uso do dinheiro, o egoísmo. O egoísmo, sim, é a maior praga da humanidade. 

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Há uma  porta no túnel do tempo, que separa o meu passado do presente, mas nunca fecha. Vez em quando bate uma rajada de vento e a porta escancara. O passado quer invadir o presente, que, às vezes, se defende, outras vezes, se entrega. 

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Não, meu amigo, não é menos um dia. Porque a vida não é como a água usada, que escorre  pelo ralo da pia·

Ainda que a saudade seja doída,e os dias pareçam punhais, ontem é a véspera do porvir. E cada dia é um dia a mais·

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Está provado: nem sempre quem perde é o mais fraco· E nem sempre quem ganha é (aparentemente) o mais forte·

Nem sempre se ganha o jogo no tempo regular, mas, sim, depois que este se esvai·E muitas vezes contamos com a ajuda da sorte, do relógio, de terceiros, de milagres·

Nada é estático, definitivo· A vida é mesmo uma caixinha de surpresa·

Quem quer vencer tem de focar no que pretende alcançar, canalizar as energias para essa tarefa· O resto o tempo é que vai dizer·

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Antes das flores surgirem, assim, exuberantes, na Primavera, a terra onde hoje elas vicejam sofreu com um Inverno medonho· Mas foi esse mesmo duro Inverno que permitiu a chegada dessa linda Primavera· 

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A VIDA É COMO UMA PINACOTECA


(RÔ Campos)

Cada um pinta o seu quadro à sua maneira. E são muitos os quadros. E são muitas as linguagens que eles exprimem. E são muitas as telas e as tintas e as texturas. E diferentes são as molduras. E muitos a mim não me dizem nada, mas o dizem a outros. E muitos são valorosos, enquanto outros valem quase nada, ou nada. E alguns outros são superestimados. Alguns só recebem o valor devido postumamente. E assim por diante...


23.09.2013

PRECISAMOS DE ESPERANCA

(RÔ Campos)

Estava muito calor e eu me debatia na cama. Levantei-me para ir ao banheiro e, da janela, vi o dia lindo lá fora. Sol radiante, as folhas dançando, tudo como se fosse um dia de verão ou, como costumo dizer, um dia de Nordeste. 

É o primeiro dia de um novo ano que se inicia. De 2013, tudo agora já é passado e ficou pra trás. Apenas as lições devem permanecer sempre fresquinhas em nossas memórias. 

Ligo o computador e começo a ler as postagens de  meus amigos feitas no Facebook. Leio no Face de uma amiga lá das terras de Cabral transcrição da fala do Papa da Paz, Papa do Amor, Papa dos Descalços e Descamisados sobre a necessidade de globalizarmos a fraternidade, em vez da globalização da indiferença. Eu acrescento que também devemos  globalizar a Paz, em substituição à globalização da violência. A partir daí, faço uma imersão ao meu mundo interior e uma palavrinha me vem à mente


ESPERANÇA! 


É tudo de que precisamos para seguir adiante. ESPERANÇA é a força que nos move para além. ESPERANÇA é o que nos liga ao futuro. É a ponte entre o agora e o amanhã.


ESPERANÇA!


Para todos nós, ESPERANÇA de um mundo melhor, mais justo, menos indiferente, menos alienado, menos alienígena, menos embrutecido, mais apaixonado.

ACERCA DA DUALIDADE


(RÔ Campos)


Todos nós sabemos que tudo no mundo é dualidade· Então, não é verdade que o mal não existe, que é apenas a ausência do Bem· Assim, também, não é verdade que a escuridão é a ausência de luz· Decerto, portanto, que há o céu e o inferno· Este, está transbordando até o tucupi nas cuias do mundo· Vivo me debatendo no fogo do inferno tentando encontrar um caminho que me leve ao céu, mas, confesso, está muito difícil · Para todos os lados que olho, sob todos os ângulos, o inferno me parece latente, e vive a queimar a vaidade nas fogueiras· Mas, partindo do prisma da dualidade, eu sei que o céu existe, e que um dia eu hei de o encontrar· Vez em quando eu me deparo com ele· Que vasto céu é esse que existe no coração dos pequeninos, no sorriso do menino, nas mãos que abençoam, na boca do homem que apregoa a paz?! Aparentemente, nunca vemos um vencedor nesse duelo· O mal jamais se entrega· Para o mal, o Bem é um fraco· Mas o Bem é como o Amor,  forte por si mesmo· E os fortes tudo vencem· Porque a verdadeira fortaleza não se ergue em castelos, não constrói grades nem muros· A verdadeira fortaleza prescinde de sentinelas outras· É a fé inabalável· É saber-se tão pequeno, e jamais abrir trincheiras·


03.09.2014

A NATUREZA DAS COISAS


(RÔ Campos)


O dia amanheceu nublado, algumas gotículas aqui, outras acolá. Olho para o pé de carambola em frente à minha janela, cheio de flores, algumas se abrindo, incontáveis frutos de cerca de um centímetro. Paro, fixo os olhos numa frutinha, e penso: que coisa mais linda! É assim mesmo a natureza de todas as coisas: primeiro a semente, depois o plantio, a germinação, o nascimento, e a coisa vai crescendo, crescendo, tudo a seu tempo.  E há beleza em tudo. E há muitos que não a veem. E há muitos que não a sabem. E há muitos que têm tanto e é como se nada tivessem. E há muitos que nada têm e tanto têm para dar. A natureza é isso mesmo:  linda e inacabada; uma busca constante por sua conformação. Por isso as intempéries, os cataclismos, os vulcões, os terremotos, os acidentes, os desatinos: somos todos inacabados em busca da conformação. Daí  a Teoria da Evolução. Daí que só os que se adaptam concorrem pela vida. Daí que os que se entregam...


*23.09.2020

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

PEGADAS


(RÔ Campos)


Aonde me levará essa estrada,  eu não sei.

Eu só sei que em todo o seu trajeto, até aqui,

Vi flores e também espinhos.

Senti o vento quente,  queimando  a minha face,

Nas horas em que o sol resplandecia.

Mas quando a tarde caía, 

A brisa suave, tocando o meu rosto,

Lembrava-me que a vida é mesmo assim, 

Como dizia o poeta:  ",ora esquenta, ora esfria,

E o que a vida quer da gente  mesmo é coragem."


E sigo em frente, apreciando as duas margens, 

E deixando as minhas pegadas por onde piso, 

Para que,  se eu quiser voltar um dia, 

Não me esqueça do caminho,

Ainda que seja noite,

Madrasta, mãe de todo açoite.


@rocampospoesia

#alcama

PLANTOU SAUDADE


(RÔ Campos)


Vi tantas perguntas no teu olhar.

Mas era um olhar abundante, forte. 

Não havia angústia

Nem tristeza.

Dúvidas,  talvez.

Mas a certeza da saudade era flagrante.

Daquela coisa doída.

Doida.

Avassaladora.

Da ausência da presença do afago, do beijo,  do abraço. 


Quantas lembranças desfilaram por tua mente!


Foram dias tão ligeiros, 

Que as  noites frias se tornaram corriqueiras.

E o que fatalmente poderia ser semente  a semear a dor e o medo,  

Posto que tão cedo te acossou, 

Plantou saudade.


@rocampospoesia

#rocampossobretodasascoisas.blogspot.com

#alcama

sábado, 9 de setembro de 2023

E TUDO SE FOI DE REPENTE


(RÔ Campos)


A vida transcorria  calmamente, 

No decorrer de cada dia,

No pedacinho de chão, 

Pras bandas do norte do Rio Grande do Sul.


Mas, certo dia - 

Era final de inverno -,

Em meio a uma frente fria, 

Toda aquela calmaria se transformou em inferno. 

O vento soprou mais forte,

A água do rio transbordou,

Trazendo a lama, o frio e o terror.

Tudo foi-se embora de repente:

Casas, móveis,   vidas, 

E os sonhos daquelas gentes...

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

FRAGMENTOS DO TEXTO CONFISSÕES - NEM FREUD. NEM PLATÃO

 

(RÔ Campos)


Nessa madrugada sonhei com você .  

Tudo  me pareceu muito real. Como se já tivéssemos convivido em um outro tempo, em outras eras. Éramos muito íntimos, cúmplices,  brincalhões. 


Foram horinhas  tão lindas!!!


Sorrisos,  troca de carinho,  aconchego, e também coisas que gostamos muito de fazer...Essas coisinhas que dizem muito de nós,  escorpianos,  sedentos,  carnais, amantes,   viscerais.


Até agora sinto como se tudo tivesse deveras acontecido no mundo real. 


Procurei explicação nas obras sobre os  SONHOS, de Freud.  Mas não sei onde  Freud se escondeu. Escafedeu-se nas prateleiras da biblioteca. Parti para Platão.  Só Platão na causa - pensei. Mas Platão não me permitiria desplatonizar essa intrigante história concebida  nas ideias. Corri no tempo.  A internet! Salvadora da pátria.  Criadora de laços.  Desfazedora de nós. A internet,  esta, que nos aproximou assim,  do nada. 


Acredite! 


O mundo lá fora,  e a gente lá dentro do quarto do hotel,  como se fossem cenas de O ÚLTIMO TANGO EM PARIS.  


Você sorria  tanto!


Não havia medo de nada. 

A entrega foi total,  como,  aliás, eu sonhei várias vezes acordada em meio  à  angústia da quarentena, com aquilo que seria o nosso primeiro encontro pós-pandemia.


Hoje queria te falar sobre tudo isso.

Você não me deu nenhuma chance.

Parece estar zangado comigo...Mas nada me diz.  Calou-se. Fechou-se em copas.

Terá  sido pelo GRITOS DO SILÊNCIO?

Ah! Tome tento! Interprete!

São palavras de mulher que não podem ser jogadas ao vento...

Versos que falam de embriaguez, mas não da cachaça

Versos que falam de ressaca, mas não de bebida: são confissões  nas entrelinhas.


Peraí! Ou você quis dar um basta no jogo?


Assim não vale: desistir antes de entrar em campo? 


Responda-me, se interessar possa, e se porventura sobrar-te tempo para essas coisas bobas  da vida. 


Ainda assim,  meu caro amante,  que vive  no mundo das minhas ideias,  eu te confesso:  nos  meus sonhos és real. E, nesses sonhos, não me importo que,  para você e seu mundo, eu seja ninguém...

sábado, 2 de setembro de 2023

A VIDA DO TEMPO É REFÉM


(RÔ Campos)


O tempo passou

E quem diz que não viu

Não sabe o que diz

A vida  é  um triz. 


A vida do tempo é  refém!

A vida do tempo é refém!


O tempo passou

E  a vida se foi

Não volta  jamais

A vida do tempo é  refém!


A vida do tempo é  refém!


Agora eu nem sei

O que vou fazer

A dor  da saudade

Dói mais que o frio. 


A vida do tempo é refém!

A vida do tempo é refém!


O tempo passou

Só não viu quem não quis

A vida é feita de escolhas

A vida do tempo é refém!


A vida do tempo é refém!


O tempo que nunca para 

O tempo

Q tudo leva

O tempo

Que tudo aclara

O tempo

Que tudo sara.


A vida do tempo é  refém!

A vida do tempo é refém!


(*) Escrevi isso ano passado, eu acho. Acabei de ver,  lembrança que o Face me trouxe,  mas já esqueci a data 🤣 Hoje,  troquei tudo. Essa mania de quem escreve. Quando a gente vê,  tempos depois, sempre quer mudar alguma coisa.

Quis deixar uma letrinha  pronta para ser musicada. Um sambinha. Com esse refrão tão verdadeiro,  tão drasticamente real: SOMOS TODOS REFÉNS DO TEMPO, COMO TAMBÉM DE NOSSAS ESCOLHAS.

ESSA É  A LEI DA VIDA.


@rocampospoesia

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

OS ABISMOS QUE EU CAVEI

(RÔ Campos)


Eu sei o que é  o amor e a dor.

Por isso não me venham por favor contar histórias que eu conheço bem.


Eu sei bem  esses caminhos das rosas e da sua beleza.

Mas sei  também que  o mundo não  é  um jardim da delicadeza.


Já  acreditei em tanta coisa,  que hoje  não  ouso mais crer.

Mas  trago comigo, como um mantra, a certeza de que  "o mundo é  um moinho"

 e que "o tempo vence toda a ilusão".


Se  nesta vida alguém me fez algum mal, esse alguém decerto fui eu.

E hoje sei que de cada amor que vivi só  herdei o cinismo.

E só  muito tempo depois  me dei conta de que os abismos em que eu caí,

Eu os cavei  todos com  os meus próprios pés. 


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SALVE CARTOLA!


O mundo é  um moinho é  uma das mais belas músicas  do cancioneiro brasileiro.

A letra retrata   uma realidade   profunda, incontestável  e avassaladora. 

Ninguém  cava os nossos abismos. Nós  os cavamos com os nossos próprios  pés. E mãos. Claro. Indubitável. E, depois da queda nesses abismos que nós  mesmos cavamos, damo-nos conta de que todas as nossas ilusões  sempre são  reduzidas  a pó. A ilusão se desfaz diante do primeiro embate com a realidade.


(*) 31.08.22