domingo, 29 de julho de 2012

POBRE CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Estava me acostumando
A viver na solidão
Em meio à multidão de rostos.

Mas tudo muda, de repente
É um rebuliço, uma avalanche
Independe da vontade da gente.

Pobre coração!
Quer sofrer, quer chorar...
Por amor.

Pobre de mim
Que só sei viver assim
Com um amor só meu.

Samba de roda, a arte pura, o jeito de cada um.

domingo, 15 de julho de 2012

COMO PASSA O VENTO (RÔ Campos)



Você deixou passar, amor
Você deixou passar.

Estava tão ocupado
Que nem me viu chegar
E não percebeu
Que era a hora do amor
Ao mar se lançar, e amar.

Você deixou passar, amor
Você deixou passar

Te esperei tanto tempo
Quase desisti, mas...
Você chegou, de repente
Numa noite de domingo
Reavivou meus sonhos
Me fez acreditar
Numa nova forma de amar
Um amor tão bonito, infinito
Mas você sumiu, amor
Só me deixando o silêncio.

Você deixou passar, amor
Você deixou passar

Sabe aquele ditado:
A fila anda?
A minha fila andou, amor
A minha fila andou.

Um novo amor chegou
A jato, de boeing, sei lá
Foi tudo tão de repente
E você passou, amor
Como passa o vento.

A HORA E A VEZ. É como a Roda de Samsara.

SOBRE O SHOW "CORDA TOCA PIAZZOLLA)

(texto redigido em 12/07/2012 e publicado no meu mural no Facebook, ora publicado nesse Blog com alguns retoques) · Depois de dar uma passeada pelo Face, conferir minhas notificações, publicações etc., decido que está na hora de escrever sobre o show de ontem, do Grupo Corda, no Teatro Amazonas. A emoção foi tão grande que ainda não havia encontrado inspiração, palavras para falar sobre o que vi ontem no Teatro Amazonas. O show do Grupo lança o CD "CORDA TOCA PIAZZOLLA", que contém 9 músicas, todas de autoria desse incrível músico argentino, Astor Piazzolla, que voltou para sua Constelação há vinte anos. A abertura do evento contou com a execução da música As Quatro Estações, e eu só consegui assistir às duas primeiras, se não me falha a memória VERÃO e OUTONO. Fiquei atrás das cortinas, do lado direito do palco, pois a partir de 10 minutos do início do evento eu teria que ir à bilheteria, para fechamento do borderô e prestação de contas. Puxei um pouco a cortina para poder ver os músicos no palco, e fiquei praticamente de frente para Nicolay, no violino. Eu já andei mundo, vi muitas coisas lindas, mas, confesso...ontem foi demais. Como diria Daniel Taubkin, meu amigo no Facebook, foi de marejar os olhos, os quais, realmente, marejaram de tanta emoção. Resumi nisso, se é que seja possível resumir algo tão grandioso: O violino vibrava docemente, emocionadamente, alegremente...e também chorava; o violoncelo gemia; o baixo acústico orava; a bateria seguia o compasso, sutil, entre o lamento e o riso; o piano saltitava; a plateia, meio vazia de corpos, mas tão cheia de energia e emoção, parecia murmurar silenciosamente, tomada de paixão. E eu sentia que as almas dançavam...talvez Piazzolla, ou minhas outras almas, e tantas almas que já passaram por aquele teatro majestoso, singular, plural. E eu chorei. Chorei não pelos que podem ir a um templo desses, e não vão. Chorei pelos que gostariam de ir e não têm oportunidade, porque a arte, desde que o mundo é mundo, muitas vezes expressada por artistas despossuídos, não é feita para eles. A arte é para deleite das elites.

PACIÊNCIA

Meu amigo Álvaro José publicou, em seu mural no FACEBOOK, a seguinte frase: PACIÊNCIA É O INTERVALO ENTRE A SEMENTE E A FLOR". Simplesmente amei. Adoro trazer pra mim as coisas e ou pessoas que gosto, por isso a estou publicando aqui no meu Blog e tecendo comentários a respeito, o mesmo que já postei no meu mural no Face. Costumo dizer que paciência é um exercício diário. É difícil. Nós, seres humanos, temos uma natureza impaciente, ao contrário de outros elementos que também formam a natureza, e quase nada fazemos para conter essa impaciência. A maturidade funciona como uma luz para isso. Mas nem todo mundo consegue. Eu, com a maturidade, aprendi até a não ter paciência com o que não preciso mesmo ter, que é esperar, por exemplo, que de um certo mato saia coelho, ou que o príncipe encantado monte no seu bendito cavalo e venha me buscar. Enquanto isso, também não vou engolindo sapos. Viver a vida é o meu ofício. E, pra isso, tenho pressa, muita pressa, não dá para ficar esperando pelo que não vem.

O HOMEM (RÔ Campos)

Homens são tantos...poucos os machos. Às vezes me acho em alguns deles. Outras vezes, me perco. Homens são homens. Machos são homens. Mas nem todo homem é macho. Homem, pra ser homem, tem de ser macho. Macho não tem medo de amar, nunca foge do amor, não se arma para ir à guerra. Macho entra na guerra para à guerra por fim. Macho é educado, fino, abre a porta pra mulher entrar, puxa a cadeira pra mulher sentar, manda-lhe flores, recados pelo celular. Macho que é macho segura a mão da mulher, protege-a, por mais forte que seja a mulher. Mulher é mulher. Forte como o cinzel, frágil como uma flor. Mulher alguma jamais foi feliz vivendo sem laços, abraços, sorrisos, beijos, do homem de verdade, amado, um macho. Homens são tantos...poucos os machos. Um macho que também sabe a tristeza da mulher quando triste está, mas inda assim tem sempre um sorriso pra lhe dar. Um macho que se emociona, que chora, e não tem vergonha de chorar. Porque, disse o poeta, o homem também chora, também deseja colo, palavras amenas. Um macho que sabe a fraqueza dos fortes, porque não há fortaleza sem quedas. Porque não se ergue um muro sem a argamassa e o tijolo. Um completa o outro e erige-se o edifício, a morada.

QUANTO TEMPO! (RÔ Campos)

Cadê você? Eu nunca mais o vi. Temos corrido demais, e não há mais tempo para as coisas do coração. Andamos de mãos dadas com a velocidade. Corremos em busca de tudo, e nos deparamos sempre com o vazio, com o nada. Deixamos tudo para trás. Já nem sabemos fazer um afago. Ah, quanto tempo, quanto tempo! O cheiro da omelete. O café quentinho depois do almoço. As cadeiras na calçada. Os risos, as piadas. Os inesquecíveis brigadeiros. O churrasco, o papo com os amigos, uma loira gelada. Os passeios pela estrada. As sessões de Cinema em Casa. Quanto tempo! Quanto tempo! Cerro os olhos ... e já é dia. Toco as cortinas ... e já é hoje. Mas já passou. Amanhã ... o amanhã chegou. Ainda não li aquele romance de Guimarães Rosa, que ganhei de presente no último verão e esqueci no criado-mudo. Já saiu de cartaz o filme que estourou bilheterias : “O Último Romântico”. O Teatro Casa das Artes ruiu. Minha banda preferida veio ao Brasil. Não soube, não vi. Ainda não conheci minha sobrinha-neta. Tantas pessoas lindas encantaram-se. (Guimarães Rosa disse que as pessoas não morrem; elas se encantam). Fernando Pessoa? “Morrer é não ser mais visto”. Quanta coisa vivi. E quanta coisa deixei passar. Conheci Don Juans, homens bem intencionados e mandriões. Mentirosos, cafajestes, finórios, ingênuos. Soube de padres, bispos, políticos e outras espécies tais. Colei grau e me pós-graduei em zoologia. Aprendi um pouco sobre e com os animais. Quando criança, cri. Cresci crendo, Descri. Hoje creio muito mais. (Deus está além dessa divindade perversa, diabólica, punidora, arquitetada pelo homem). Minha crença em Deus caminha com o Darwinismo. Acredito que a natureza é uma Deusa. Grandes são os seus segredos. Profundos os seus mistérios. Nunca mais abracei meus filhos, beijei seus rostos. Nunca mais eles me elogiaram. As portas trancadas nos separam. Receio o futuro.. Tenho medo da frieza , do desprezo, do deboche. Ontem fui tudo, e hoje não sou mais nada. A velhice é inevitável para quem não morreu . E, então, perdemos a força. O olhar é cansado. As tempestades pesam como chumbo. Ventania! Quanto tempo! Quanto tempo! Minha mãe cosendo nossos vestidos pro Natal. As deliciosas rabanadas. O bolo simples. O brinquedo escondido debaixo da cama. A bênção na hora de deitar. Mama me desejando “boa sorte”. Saudades! Saudades! De correr no imenso quintal. De jogar bola de gude. E de tantas outras brincadeiras de criança... De pisar a terra. Dançar no bumbá Luz de Guerra. Quanto tempo! Quanto tempo! Nunca mais sentei num banco de praça. Nem levei as crianças ao Circo. Não sei quem é meu vizinho. Onde inauguraram o novo parque. Se é que há um novo parque. Quanto tempo! Quanto tempo! O ontem está tão perto e tão longe. Ando aceleradamente em busca do amanhã. Não existe mais tempo pra vida. Curtir · · há 3 minutos ·

terça-feira, 3 de julho de 2012

LUNA

(RÔ Campos)

Quisera ser como tu
Sair nua, na noite
Sem vergonha, sem pudor.

Quisera ser como tu
Me cobrir, me recolher
E não ter vergonha de voltar.

Quisera ser como tu
E, em mim, cada noite Ser como um amanhecer.
Quisera ser como tu
Alumiar, ter luz própria
E não temer a escuridão.

Quisera ser como tu
Sedutora, instigante, pura, nua
Sem me prostituir.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

CODIGO DA VIDA

(RÔ Campos)

É preciso ser feliz
Jogar fora, na lixeira
Essa droga de infelicidade
Quase um lixo nuclear
Uma bomba atômica
Capaz de nos explodir
Minar o coração.
Matar.

Não adianta viver, assim
Sem qualquer sentido
Sem saber pra onde ir
Mas, vamos convir
Que não tem valor algum
Uma vida assim, qual um robô
Ou um programa de computador.

É preciso amar a vida
Pois só quem ama, vive
E aquele que só é desamor
Nada sabe a respeito da vida
Nem acerca do amor
Porque só tem valor a vida
Uma vida feita de amor.

ALUMIAÇÃO

(RÔ Campos)

Lá se vai mais uma tarde
E o Rei Sol junto com ela
É o dia que se extingue, deita
E a noite que se avizinha.

O sol com ele leva a luz do dia
Mas a noite faz surguir a lua
Que vem lá detrás dos montes
Alumiando nossos corações.

E lá no céu tão grande, infindo
Surgem as Constelações
Com suas estrelas vibrantes, candentes
Fazendo arder o coração da gente.

Noite baixa, noite alta
No meu céu tudo é clarão
Não há a escuridão dos outros...céus
Cheio de estrelas em sua imensidão.

Ouço o sussurro da noite
Miro as estrelas dançando
Penso em tantas vidas que nunca viram
O Sol se pondo, a lua surgindo.

IGARAPÉS, CANOAS, BILHAS, PÚCAROS...RECORDAÇÕES

Sexta-feira passada deixei um casal amigo no bairro da Glória, e fiz o percurso de volta passando pela velha ponte de São Raimundo, e muitas recordações me invadiram a mente. Primeiro, porque meu saudoso pai trabalhou, como operário, em sua construção. Segundo, porque o igarapé de São Raimundo, que corre sob dita ponte, compõe com beleza indizível toda a minha infância, até meus quinze anos, quando nos mudamos da rua Boa Sorte, a qual finaliza exatamente no igarapé. Não me lembro de, na minha infância, tê-lo visto tão cheio como agora, quase pegando a ponte. Nossa casa ficava entre 200 a 300 metros de distância do igarapé, onde íamos nos banhar e passear de canoa, quando a água faltava em nossas torneiras (o que era corriqueiro), além de encher as latas dágua e carregá-las sobre nossas cabecinhas. Era a água para cozinhar e beber, que ia para a bilha, substituída mais adiante pelo púcaro ou pote, depois pelo filtro à vela. Hoje, lamentavelmente, se aquela água servir para aguar as plantas, é muito. Nosso igarapé, outrora de águas cristalinas, está totalmente poluído. O tão cantado e decantado PROSAMIM, serviu pra tudo, menos para saneamento dos nossos igarapés, que, ao contrário, foram aprisionados em canos. O fim da picada acontecerá se eles fizerem sob a velha ponte o mesmo crime que cometeram no igarapé de Manaus e sob a outra ponte da Sete de Setembro: lançar aterro, matando o igarapé de São Raimundo para construírem aqueles blocos de apartamentos, que já foram, inclusive, veementemente condenados por quem entende do assunto, vez que não guardam qualquer relação com as peculiaridades de nossa região. Se fizerem isso com o igarapé de São Raimundo, será mais uma relíquia de minha infância que se irá pelo esgoto, como o zoológico da Matriz, os balneários do Parque Dez, da Ponte da Bolívia e do Tarumã pequeno, a praça que ficava na confluência da Constantino Nery com o Boulevard Amazonas, onde costumávamos ir à tardinha, o balneário do Grupo Daou, lá pelas bandas do Japiim (acredito que seja por ali onde está construído o Studio 5, que, a propósito, pertence ao grupo Daou), onde fazíamos piqueniques memoráveis (meu tio Djalma Campos, irmão de meu pai, trabalhou durante muitos anos no grupo, gerenciando, inclusive, a Lisbonense. Alguém aí lembra dela???), o Cine Guarany, a Divina Providência (na Ramos Ferreira com Tapajós, hoje uma das unidades da Uninorte, que loteou e descaracterizou criminosamente o centro de Manaus), o cine Popular (o famoso Cine Puga), na rua Silva Ramos, atualmente mais uma unidade da Casa do Eletricista etc.etc.etc.