terça-feira, 25 de novembro de 2014

CONTEMPLAR O MEU JARDIM


(RÔ Campos)


Cansei de política.
Logo eu!
Mas, hoje, quero dizer:
Cansei!
Outro dia, talvez.
Quem sabe?

Hoje, quero riscar as nuvens escuras com os raios do sol.
Apanhar os pingos da chuva com as mãos abertas, em louvação.
E colher estrelas no céu para cobrir o meu chão.

Hoje, quero cuidar do meu jardim. Senão, quem cuidará?
Ontem, à tardinha, passeando pelo quintal, me entristeci:
Minha rosa-menina se foi e eu nem percebi.
Chegou a sangrar ver os galhos secos, ali, tombados, sem vida.

Hoje, quero cuidar do meu jardim.
Arrancar as folhas mortas. Adubar as minhas rosas.
Aguar as minhas flores. Contemplar o meu jardim.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ASAS PARTIDAS


(RÔ Campos)

Por que te foste, assim, do meu ninho, passarinho?
Eu o construí no verão para te agasalhar quando o inverno viesse. Sempre foste o meu menino,e nem percebi que, silenciosamente, criavas asas.

Querias partir, sem nem mesmo saber para onde. Não querias mais ficar aqui e cumpriste o teu desejo.

Que não lancem sujidades sobre ti. Porque é grande a minha chaga e a saudade dói demais, mas tenho que aceitar que não há lei nenhuma no universo que possua o condão de regular o pensamento, e exerça algum poder de coação sobre este.

Muito antes de alçares esse voo medonho, andavas comigo por aí, pé na estrada, cantando o amor e a vida... a viola debaixo do braço, o sorriso franco, meio contido, eu sei, mas franco.E eu nem sabia que algo me escondias, mesmo estando ali, tão perto do meu coração e dos meus olhos.

E eis que tu, meu menino, resolveste abreviar o teu voo pela vida. E que faço eu, agora, que tenho asas e não posso mais voar?

Como vou cantar, doravante, meu menino, se meu ninho está vazio, sem meu menino-passarinho que se foi sem me avisar?

Será que eu andei errado? Onde foi que eu errei, então, fico a me perguntar?

Estavas sempre aconchegado no meu ninho, sob as minhas asas e, de repente, te vês alado e te vais pra nunca mais...

E nós, aqui, meu menino, olhando para o céu e perguntando às estrelas o que foi que aconteceu.

Eu já andava devagar porque a pressa já não fazia mais sentido. E agora, meu menino, que não estás mais aqui, já nem sei o que fazer com o sorriso largo que eu, contigo a meu lado, carregava mundo afora.

Já não procuro uma nota. Não há nota alguma. Nenhum acorde. Todo o meu cantar emudeceu.

Mas eu canto, mesmo mudo. É meu peito arrebentando. São minhas lágrimas que caem.

E, assim, vou tocando em frente. Porque o meu cantar é por ti, por todos nós. E, se eu canto, é o meu cantar a única coisa que aprendi neste mundo de que nada sei.

E, quando canto, é como te sinto. É onde te encontro.


SOBREO ESQUECIMENTO, CHEIROS, SABORES E AMORES.

É a segunda vez que não sei onde foi que eu meti o controle remoto do portão da garagem da minha casa· Na primeira vez, depois de virar o mundo de ponta-cabeça, fui achá-lo adivinhem onde? Não, não gastem seus neurônios, porque eu encontrei o controle remoto onde menos se pode imaginar: na lixeirinha da pia da cozinha.·

Bom, agora aconteceu de novo, e eu não achei o dito controle· Depois de fazer buscas nos mesmos lugares umas três vezes, pensei em dar uma geral, fazer uma faxina e arrumação em toda a casa. E assim o fiz.·Virei meu quarto de cabeça pra baixo· Abri várias gavetas dos armários, aproveitando o ensejo para tentar colocar ordem na bagunça· Encontrei coisas que sequer lembrava que um dia havia guardado· Cartões de natal, de aniversário, cartas··· Juras de amor eterno!!! Hoje, só restou a eternidade·

Encontrei roupas guardadas em sacolas plásticas· Quando as abri para ver o que continham, senti um cheiro que me era muito familiar· Coisas de um passado não muito remoto, ao contrário do sumiço do meu controle, tão recente·

Mesmo estando tudo misturado no meu olfato, que quase me confundia - apesar da predominância do cheiro de poeira e de traça, coisas essas próprias do tempo - aquele cheiro do passado me pareceu muito atual· Há cheiros e sabores e amores que jamais esqueceremos - pensei.

ADEUS, TRISTEZA!



(RÔ Campos)

Quando a tristeza vier, assim,
Sem saber de onde nem por que,
E bater à tua porta, feito louca,
Deixa a tristeza entrar.

Só não deixa ela ficar.
Porque tristeza que se abanca
São estrelas que se apagam,
Escuridão que não tem fim.

Espera que ela sente
E escuta ela falar.
E, depois, quando chegar a hora,
Manda a tristeza ir embora.