quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

INFELIZ DA NAÇÃO CUJO "DEUS" É O SENHOR


(RÔ Campos)

Fecha a boca, fica calado
Se não te pegam numa cilada
Melhor calar, não dizer nada.
Não diz mais nada, engole tudo
Depois vomita o teu silêncio.

Que tristes tempos!
Escuridão cobriu o céu
Do meu Brasil.
De norte a sul, de leste a oeste
Infeliz mente de nossa gente!

Já não vejo mais o meu amigo,
Outrora como eu um sonhador.
Fazia música, lindas canções
Acreditava na liberdade
E a cantava como um refrão.

Infeliz mente, mente deliberadamente
Crê na polícia, crê na milícia,
Crê no exercício da força bruta,
Só não crê mais na leveza da batuta.

Fecha a boca, fica calado,
Hoje fala a hipocrisia,
Tudo falácia da burguesia.
Falam a chibata, os energúmenos,
Os idiotas e os ignaros.

Poeta, meu poeta!
Agora sei por que indagavas:
Que país é este?
Infeliz mente do povo brasileiro
Abduzida, hipnotizada, exorcizada,
Seduzida aos montes, pastoreada,
Como se arrebanha feito manada.

Infeliz da nação cujo "Deus" é o Senhor!
Infeliz da nação cuja arte é jogada na fogueira do inferno!
Infeliz da nação quando fala a ignorância e o povo escuta!
Infeliz da nação quando a verdade é camuflada, ocultada, os olhos são vendados, a mentira grassa...E o povo crê!
Infeliz da nação que idolatra quem separa, quem destila o ódio, quem massacra o homem, quem humilha e pisoteia, quem distorce a verdade, quem digladia, quem mata, quem crê no infeliz que mente.
Infeliz da nação onde o pobre e oprimido se alia ao opressor!
Infeliz da nação onde a arte se rende, se cala, e fala o obscurantismo!

CUMPRE O TEU DESTINO


(RÔ Campos)

Sei que está chegando a hora
Em que vais atravessar a porta
Deixando para trás tudo o que jamais quiseste.

Nada levarás de mim
Nem meu coração, que deste às traças
Nem o meu amor, do qual zombaste tantas vezes
Nem a minha dor, que dor não mais existe.

Ficarão comigo o cheiro do quarto
Um misto de perfume, cerveja e cigarro...
O teu abandono, o teu descaso
O teu olhar oblíquo, e o teu sorriso falso.

Mas as lembranças ficarão também
Dos belos dias do começo
Quando tudo era ilusão
Eu cria que era feliz
Mas a tristeza batia à minha porta
E eu fingia que não a via querendo entrar.

E houve uma noite em que eu, desprevenida
Soube de tua boca o que seria um açoite
Que me cortou o peito e me deixou perdida
Num beco escuro, sem chance alguma de saída.

E muitas noites vieram depois daquela
E nunca mais eu fui a mesma.

Andei dias e noites a esmo
Caí, levantei, sorri sem ter porquê
chorei sem lágrima cair
Entrei em labirintos assustadores
Me vi diante de uma solidão crusciante
Que parecia não ter fim.

E eis que quando volto a me sentir mais segura
Tu vens e de novo eu penso que é para ficar
Mas retiro as vendas dos meus olhos, ainda a tempo
De ver que não és tu o meu lugar.

Agora tu me falas que está chegando a hora
Em que vais atravessar a porta
Talvez quem sabe provavelmente para nunca mais
Eu te digo, então, segue em frente
cumpre o teu destino, vai na paz
Vai procurar no futuro o que o passado não te deu
E o presente que deixas para trás.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

AURORA


(RÔ Campos)

Não era pra terminar assim.
Havia muita estrada no que ainda tinha porvir.
A gente rindo feito criança tonta sonhando se equilibrando na corda bamba sem medo nenhum de cair.

Fizeste tão pouco de mim porque não me querias assim:
Arco e flecha zarabatana na mão tendo por alvo o teu coração.

Fugiste no meio da noite como se o sono que me cobriu não fosse ter fim.
Me deixaste abandonada jogada no leito com cheiro de mofo em um quarto qualquer.
E eu feito louca vesti minha roupa joguei meus anéis.
Com os olhos de fogo cuspi tua boca e dedos em riste te disse te amo e te odeio sai com esse corpo do meu caminho que eu quero sair dessa prisão em que me joguei.
Abre essa porta lá fora há sol e estrelas há vida que eu quero viver.
Toma essa chave agora que já é chegada a hora o escuro ficou claro sorriu a aurora eu me libertei.
Faça com ela o que bem quiser eu não tenho mais nada com isso o teu castigo é só teu.
Adeus!

sábado, 9 de novembro de 2019

FRAGMENTOS DO TEXTO "CONFISSÕES"


(RÔ Campos)

Confesso-te, a ti que tem sido uma das amigas mais presentes em minha vida nos últimos tempos: no jogo em que nos pusemos a jogar, eu percebia, de longe, as rasteiras que ele pretendia me dar, mas eu me permitia cair. Eu queria ver até onde ele seria capaz de ir. E o tempo foi passando...E eu sempre deixando que ele achasse que estava ganhando as partidas, ou até mesmo que sentisse a certeza da vitória.
Agora, minha doce amiga, aquela que me diz para que eu deixe meu coração me levar aonde ele quiser ir, cheguei à clara conclusão de que eu, na verdade, sempre quis perder.
Acostumei-me às grandes empreitadas na vida, às lutas árduas, ergui trincheiras, montei barricadas, tantas vezes fui à guerra, e nunca fui vencida, mesmo algumas vezes cansada. Talvez eu quisesse conhecer a sensação do que é o perder e, assim, me perdi nesse labirinto de coisas, planos, projetos, sonhos. Quem há de saber?
Por isso, te confesso, não guardo mágoa nem rancor, sequer arrependimento. Não tributo a ele nenhuma culpa pelos nossos desatinos. No amor não há culpados, apenas corpos suados, um querendo possuir, outro buscando se entregar.

No entanto, não me perdoo.

Eu quis me entregar, mas ele não quis me possuir. Eu me desnudava todo dia, escancarava a minha nudez, mas ele nunca desejou sugar o néctar de minha alma, sentir o perfume da minha paixão. Nem mesmo da minha carne ele quis usufruir. Nele, só havia uma intenção: ter-me como um objeto qualquer, pegar, usar, jogar...Ou um alimento que, de repente, matasse a sua fome, uma água cristalina que saciasse a sua sede, o calor que espantasse o frio terrível que o assombrava. E eu sabia de tudo isso. Eu sentia a sua frieza. Eu assistia a todos os seus atos, a princípio, calada, depois me pus a me rebelar. Estava tudo ali, ao meu lado, na minha frente, dormindo comigo.

Por isso, te reafirmo: eu não me perdoo.

E, como não me perdoo, não posso mais seguir com ele...Porque não há caminho algum a percorrer. Nem algum lugar aonde chegar...

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O DIA NOSSO DE CADA VEZ

(RÔ Campos)


Amor...
É assim mesmo,tudo acontece,coisas da vida...
Coisas quebram,algumas têm conserto; outras, não, inclusive o coração da gente.
Se dá pra colar os cacos,a gente cola.
Se não dá,vamos simbora assim mesmo.
Um dia, quando a gente menos espera, tudo se resolve:
Um coração novo...Um novo amor...Novos desafios.
Porque a vida é mesmo assim:
Num dia faz calor, noutro dia faz frio.
E, então,vamos seguindo,vivendo um dia de cada vez:
Cada dor a seu tempo.
Cada amor em seu momento.

DEIXA

(RÔ Campos)


Deixa...
Deixa o amor falar baixinho ao teu ouvido.
Deixa o amor dizer tudo o que tem. Deixa o amor contar histórias. Deixa o amor dizer.
Deixa o amor fazer de conta que está mentindo.
Deixa o amor sorrir.
Deixa.
Deixa.
Deixa o amor entrar. Onde o amor está, o ódio não tem guarida.
Deixa o amor ficar. O ódio está de partida.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

DEPOIS DA CHUVA


(RÔ Campos)

Há dias bons e outros...Nem tanto.
Mas toda vez que chove é assim:
A gente escarafuncha tudo,
Cutuca feridas, mexe, remexe,
Sobe, desce, puxa daqui, puxa dali,
Abre gavetas, escancara portas,
Sente cheiros de naftalina,
O vento tocando a face.

Passa um filme inteiro na mente.
A gente sente saudade,
Vontade de voltar pra casa,
Começar tudo de novo.
Viver aqueles dias que ficaram
Presos no vão da porta.
Beijar o beijo negado.
Acordar o amor dormido.
Amar, como se jamais  tivesse deixado
De amar o amor que ainda vive.
De querer o amor que ainda arde.

domingo, 29 de setembro de 2019

ADEUS


(RÔ Campos)

Desculpa se não te pude perdoar.
Foram tantas as vezes que atendi aos teus clamores,
Mas mesmo assim tu nunca te deste conta,
Que a cada dia que me ferias ,
Morrias um pouco mais dentro de mim.

E agora, no esvair das horas, não deu mais, chegou o fim.
Botei tudo na balança,
Pesei os pós e os contras,
A verdade emergiu, escancarou,
O cansaço me venceu.

Sei, agora eu sei, tu também sabes,
Sou uma estrela gigante, e, por isso,
Me quiseste sempre à sombra,
Apenas um reflexo no chão.
Não cabemos nós na mesma constelação.

Teu orgulho e vaidade, de tão grandes,
Te trancaram em teu pequeno mundo,
Onde somente tu possas reinar absoluto.

E agora é chegada a hora derradeira:
Arrumei as minhas malas,
Já comprei o meu bilhete de partida.
Vou tomar o primeiro trem da manhã,
Quando a aurora romper a escuridão medonha.

Sim, meu amor, eu vou embora.
Decerto que muita coisa tua levarei comigo na bagagem.
Algumas lançarei pela janela;
Outras, ficarão guardadas na memória.
Um dia, que não vai longe, serás apenas meras lembranças.
Ou - quem sabe? - nada.

sábado, 28 de setembro de 2019

TÃO BOM

(RÔ Campos)

Foi tão bom te ver de novo
Descobrir alguns de teus segredos
Dividir o mesmo edredom
Respirar o mesmo ar
Jogar fora os meus medos.

Foi tão bom sentir teu cheiro
Ganhar o teu abraço
Teu carinho, teu afeto
Um novo abrigo, um teto.

Eu andava muito triste
Sozinha, mesmo rodeada de gente
E de repente você apareceu
Numa noite sem luar e sem estrelas.

E ontem à noite chovia muito
E a forte chuva que caía
Levava toda a minha tristeza embora.

Foi tão bom te ouvir dizer
Das coisas simples da vida
Saber que o menos muitas vezes é mais
E que só abrindo a embalagem se conhece o conteúdo.

Foi tão bom te ver de novo
E me fazer crer mais uma vez
Que melhor do que receber
É querer dar e ter a quem
Mas quando essas duas coisas se juntam
O sucesso é certo, a felicidade também.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

UM DIA DE DOMINGO

(RÔ Campos)


Havia sido um dia extraordinário: encontro com amigos queridos,
amenidades, conversa jogada fora, sabores vindos da cozinha, tilintar de taças de vinho: merlot, tempranilla, malbec. Uma viagem à França, Espanha e Argentina.

Depois, à noite, a deusa música:
uma volta pelo nosso Brasil de encantos mil.

Quando a madrugada chegou, quedei-me sobre a cama, o corpo cansado e suado, mas em êxtase.
O frio do quarto me cobriu.

O sono já me havia arrebatado quando fui despertada pelo deslizar macio dos dedos dele,que desciam e subiam meu corpo como se veludos fossem.

Quis resistir, mas não pude: quando ele me tocava, com indescritível delicadeza, as estrelas se achegavam, o céu inteiro estava em festa.

Então, me entreguei por completo,
embarcando nessa viagem mágica, como se um sonho inenarrável fosse, sem lembrar que amanhã a realidade muito cedo bateria à minha porta.

sábado, 21 de setembro de 2019

DOIS MUNDOS


(RÔ Campos)

Entre mim e ti
Há muitos rios que passaram
Caudalosa e mansamente
E também em meio a tempestades.

Entre mim e ti
Há dias de calor e dias de frio,
Há noites de luar e noites escuras,
Há sofreguidão e alegria.

Entre mim e ti
Há um mundo de sonhos,
Onde construí muitos palácios
E vi ruir outros tantos castelos de areia.

Entre mim e ti
Há dias de luta,
Há dias de glória,
E há dias de vencer ou morrer.

Entre mim e ti
Há interregnos,
Há interrogações
E há também silêncios e respostas.

Entre mim e ti
Há dias que se foram para nunca mais,
Há dias que ficaram para sempre
E há dias também que olho para trás
E te vejo chegando, meu anjo, anunciando a Boa Nova, trazendo em teu sorriso a Pomba da Paz!

terça-feira, 17 de setembro de 2019

VENTANIA

(RÔ Campos)

De repente, o vento soprou,
Quebrando o silêncio.
De repente, não mais que de repente,
O vento tomou exagerada força,
Escancarando as janelas do passado.
De repente, o que era ontem agora é visivelmente presente.

Ouvir tua voz embargada, delicadamente compassada,
Falando acerca dos nossos encontros e desencontros,
Dos nossos medos e desejos abandonados no meio do caminho,
Fez -me o coração acelerar.
Num átimo, lembrei-me do último poema que escrevi para ti - BRINCAR DE VIVER!
Da última estrofe...
"Por que entraste de novo na minha vida?
Por que saíste em seguida?
Por que desististe de voltar, se era o teu desejo?
Por que não voltas, mesmo mentindo?
Pra gente brincar de amar
Pra gente brincar de viver".

Agora, vens e me dizes que queres me ver ontem,
Que não podemos mais deixar que o tempo faça isso com a gente,
Quando, em verdade, fomos nós dois que viramos as costas para o tempo,
E deixamos que ele passasse,
Como passa o vento, levando os dias e as noites...

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

PEQUENA ORAÇÃO


(RÔ Campos)

Obrigada, Senhor, pois viver é uma graça.
Obrigada, Senhor, pois minhas dores para mim não são desgraças.
Obrigada, Senhor, por me fazer compreender que eu não sei de nada. Obrigada, Senhor, por saber que tudo o que sei é que tudo passa.

ACERCA DO ÚLTIMO ADEUS


(RÔ Campos)

Não me falem sobre selfie em velórios e em cemitérios. De sorrisos amarelos, falsos, ensaiados, ou não.
Não me falem sobre a falta de pudor de quem quer que seja.
Eu não sei da dor do outro, nem se rima com sorriso.

Não me perguntem o que acho disso ou daquilo. Eu nunca tenho respostas para a dor que não é minha. Eu nunca sei da dor alheia, da velocidade e do calor do sangue que corre em outras veias.

Não me suscitem dúvidas sobre a probidade e o amor dos que ficaram. Se choram de verdade por quem a morte arrebatou tão bruscamente, ou se choram esfregando cebolas nos olhos, como os artistas nas telas do cinema ou nas telenovelas.

Não me falem mais sobre coisas medíocres, nem sobre o tabuleiro da política. Eu desisto. Porque tenho cá comigo que a política é a "arte" dos absurdos.
Eu já não mais me espanto com o legado do colonizador.
Esse é o nosso retrato pintado em preto e branco. É como se fosse um trato imoral e indecente nesse interminável teatro: vai de mão em mão, de pai para filho, para neto, bisneto, tataraneto..., sob várias direções. E tudo recomeça com as gerações seguintes, desde mil quinhentos e pouco, quando Portugal decidiu invadir e ocupar as terras de nossos ancestrais, arvorando-se descobridor destas terras que desde sempre existiram. E o único véu que Portugal retirou, descobrindo estas terras, decerto foi o véu que cobria a vergonha de nossas mulheres.

Verdadeiras capitanias hereditárias é o que somos. E manipulados. Escancaradamente manipulados. E nos deixamos manipular amiudadamente, calados, engasgados. E nos entregamos, assim, como se desistíssemos da vida, porque já não vemos sentido algum nessa ópera bufa. E vamos nós, um por um, silenciosamente, nos retirando dos teatros da vida, muito antes do último ato.

Pois bem.

Eu só sei da dor que eu sinto. E sei também que a morte é o momento mais sublime de nossas vidas. Porque... não é quando somos dados à luz, o momento mais sublime, pois estamos vindo ao mundo, começando os primeiros passos dessa intrigante trajetória. O instante mais sublime é quando nos vamos. Porque nunca mais nos veremos em carne e osso. Porque nunca mais ouviremos a voz, os gritos, os cochichos uns dos outros. Porque nunca mais nos abraçaremos, sorriremos ou choraremos juntos. Nunca mais dormiremos e acordaremos juntos. Nunca mais sonharemos juntos. Esse é o momento mais especial de nossas vidas. E não necessitamos de foguetes, de barulhos, de flashes, de promessas vãs. De silêncio é que precisamos. E de entrega total nesse instante final. O resto não tem pressa alguma. O resto fica para amanhã...

COMO A ALMA DA GENTE


(RÔ Campos)

Porque, naquele tempo, era muito cedo pra ti· E agora, pra mim, a tarde vai findando e escancara a porta pra que a noite entre· A equação já não bate·
Essa matemática tão exata, que não deixa margem pra erros! Se muito, restos·
Mas ninguém vive de restos· Ou são desprezados, esquecidos, ou vão parar na lata do lixo·
Deveria haver um pouco de humanidade nessa exatidão· Uma espécie de conciliação entre a alma e o corpo, a aparar as arestas do tempo· Afinal, que culpa tem a alma, imanente, se o corpo envelhece?
O que me resta, agora, senão a ilusão de que há vida lá fora, onde eu possa te rever um dia, num tempo sem equação, nem matemática, nem sobras· Um tempo sem corpo, sem dia nem noite· Apenas a energia a fluir e o céu como condutor· Um tempo permanente como a alma da gente·

domingo, 11 de agosto de 2019

AMOR SOBERANO

(RÔ Campos)

O amor é soberano,
Sem súditos nem vassalos·
Seu poder é absoluto,
Sem jamais ser tirano·
Recai sobre ricos e pobres,
Homens e mulheres, crianças e velhos,
Pretos, brancos, índios e amarelos·
O amor é soberano
E também servo do homem·
Universal, divino,
Dá à vida o sal·
Bem-vindo sal da vida·

quarta-feira, 3 de julho de 2019

POEMA SEM NOME


(RÔ Campos)

Não gosto de multidões,
Prefiro os desertos.
Não gosto de ruídos,
Prefiro os silêncios.
Não gosto de promessas,
Prefiro os fazeres.
Não gosto de mentiras,
Prefiro as verdades, as mais mentirosas.
Não gosto de cores frias,
Prefiro as cores vibrantes:
Vinho, vermelho, verde.
Flores!
No mais, eu gosto de tudo:
De tomar banho de chuva e de me entregar ao sol.
Dos dias amenos e das noites vibrantes
Das estrelas candentes.
De chocolate...Quente!
Do vento que toca, das árvores que dançam:
Eu lembro dele me sussurrando ao ouvido,
A boca atrevida beijando, mordendo, molhando minha pele.
E de suas mãos passeando sobre meu corpo, me virando pelo avesso,
E me levando ligeiro pra lua.
Eu lembro, então, que sou dele.
Mas ele é do mundo, que é de todos, e não é de ninguém.

SOBRE O ARREPENDIMENTI


(RÔ Campos)
O arrependimento, quando bate, vem destruindo tudo; às vezes não dá mais pra consertar nada, pois já é tarde.
Muito cuidado com as palavras jogadas ao vento. O mal vive acordado querendo apanhá - las.
Tem muita gente ruim neste mundo, invocando Deus a toda hora. Mas só Deus sabe o que elas fazem às escondidas.
Quanto àquelas pessoas que costumam julgar e condenar os outros, que exibam o certificado de aprovação expedido por Deus... E atirem a primeira pedra. No mais, que se recolham às suas insignificâncias.

terça-feira, 18 de junho de 2019

CORAÇÃO CERRADO


(RÔ Campos)

Não abriste a porta para o meu coração entrar.
Não quiseste, ou não achaste a chave.
Presumo que, perdido, sequer a tenhas procurado.
Estavas tentando te encontrar a ti,
Como se tua alma te houvesse abandonado.
Mas, mesmo que a abrisses,
Meu coração não conseguiria ultrapassar aquela porta estreita.
Porque meu coração é grande demais para se agasalhar no teu.

Ao reverso, com os olhos brilhando,
Abri a porta do meu coração, em festa, para o teu entrar.
E teu coração coube dentro do meu.
Mas me dei conta de que tudo isso não passou de um sonho,
Em muitas noites em que no céu pontilhavam as estrelas.

AMOR MEU!

Porque teu coração, nenhum dia, nenhuma noite,
Quis morar juntinho ao meu.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

A MORTE LENTA DO DESEJO


(RÔ CAMPOS)

Saudade do que eu quis viver e me foi negado.
Agora, sinto esse desejo se esvaindo,
Fugindo de mim sem que eu possa tomá-lo em meus braços.
Como se fosse o sólido se liquidificando aos poucos,
Daí a escorrer sobre as bordas da taça,
Indo abaixo, molhando o chão,
Tal como a esperança evaporando, sendo levada pelos ventos, que também levam o cheiro das flores para muito longe,
Um lugar que eu não sei onde.

Às vezes, então, me assoma um odor de enxofre.
Mas eu ainda guardo em minhas memórias o aroma das flores,
Quando era primavera em minha vida,
E que o vento levou sem que eu nem percebesse.

E me bate forte a saudade do que eu quis viver e me foi negado.
Mas eu me dou conta de que o desejo,
Como as flores que não são cuidadas,
A cada dia vai-se um pouco,
Em meio ao abandono da gente,
Murchando como murcham as rosas deixadas sob o sol inclemente,
Sem proteção, sem água, nem rega,
Tombando, morrendo, sem sede de amar...

sexta-feira, 10 de maio de 2019

QUEM AMA TAMBÉM DESISTE

(RÔ Campos)

Amanhã é tarde,
Muito tarde,
Tarde demais
Pra se dizer o que não se disse,
O que ficou preso na garganta:
Sobre o frio que ainda toca o estômago,
E o coração que dispara enquanto conto as horas para olhar teus olhos, tocar tua pele, ver teu sorriso, ouvir sobre teus planos e sonhos, rir contigo das peripécias da gata de rua...
Hoje
Ainda era cedo,
Não muito cedo.
Mas havia tempo.
Não quisemos dizer nada,
Nem eu do amor que ainda existe,
Mas que não mais insiste.
Do amor que agora é triste.
Do amor que ora desiste, pois sabe que é chegada a hora,
E quem ama também deixa ir embora...
Quem ama também desiste.
Porque desistir não é nenhuma vergonha, nenhum fracasso.
Desistir é uma espécie de valentia, coragem.
Desistir é sair da linha de combate, depois de no peito ferido, coração estilhaçado, ainda que o amor pulse,
E juntar-se às fileiras dos que, vencidos, se rendem, ajoelhando-se, erguendo os dois braços.
Desistir é deixar seguir em frente quem não mais te segue, quem decidiu partir porque no peito o amor não mais existe.
Desistir é procurar caminhos outros que nos levem adiante, ainda que seja a andar no deserto,
Pois mesmo um amor que no deserto ande
Pode quiçá um dia encontrar um oásis.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

SABIA

(RÔCampos)

E quando de súbito meus olhos bateram nos teus,
Sabia que eu ia me jogar
Nesse mar desconhecido.
E sabia também que a viagem poderia ser curta ou duradoura.
Que alguns dias seriam de bonança
E outros dias tenebrosos com noites sem estrelas.
Sabia que poderia vir a naufragar,
E que a força das águas e a força do tempo me aniquilariam.
Mas, enfim, como já disse em outras linhas,
Meu coração é um porto solidão,
Onde muitas embarcações já naufragaram.
Apesar disso, ainda sigo a procurar uma estrela,
Para esse porto solidão iluminar.
Assim, continuo navegando, sem nenhum assombro, em busca desse tesouro perdido,
Mesmo que venha a naufragar em alto mar...E morrer de amor.
Pois, como também já disse em outras linhas,
Prefiro a sorte da morte por tanto amar, ao azar da vida de solidão de quem não ama.
A vida é muito abundante e plural para alguém seguir sozinho...

domingo, 28 de abril de 2019

BILHETE

Continuo te esperando. Foi essa a promessa que não te fiz. Tu também não me juraste. Nunca nos despedimos. Nem houve um adeus. Agora, silenciosamente vou cosendo os retalhos dos dias de amor que vivemos, para que esteja pronta a colcha em que nos deitaremos na próxima estação. Se acaso não vieres, cuidarei de guardá-la para aquecer-me no frio, pensando que são teus braços a me proteger.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O CREPÚSCULO...E A SEDE E A FOME DE AMAR

O CREPÚSCULO...E A SEDE E A FOME DE AMAR
(RÔ Campos)

O que se passou
Que tudo mudou tão de repente?
Como se uma espada
Tivesse cortado o coração da gente.

Veio o vento forte a galope,
Levando tudo até os sonhos.
Veio a besta e a fera, a peste e a fome.
"Quem com ferro fere com ferro será ferido".

Faz muito escuro agora,
Mas tudo é muito claro.
O que não dá pra ver
A alma sente e chora.

Já não vejo a aurora que vai longe.
Pressinto o crepúsculo se achegando.
Ele vem montado em um cavalo doido
Que relincha e assusta riscando o céu de cinza.

Tudo tem o seu tempo e acertada a hora.
E o tempo vai passando como um jato
Rasgando o ar, subindo, sumindo entre as nuvens pesadas,
Como somem os sonhos da gente quando acordam.

Há quem tenha muita sede de viver.
E há também quem tenha muita sede de amar.
Mas amar demais, doar-se demais, entregar-se desmedidamente
Matam logo a fome e a sede e saciam o desejo de amar daqueles que não sabem o que é fome e não sabem o que é sede...De amar.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

REFLEXÕES À BEIRA-MAR

(RÔ Campos)

Estou à beira-mar. Mar revolto, coração agitado.
Quem dera um cais onde ele pudesse sentir-se seguro, atracar-se, não temer jamais!
De repente, chegam os pombos, gaivotas em bando, passarinhos; estes, contei-os: eram treze ao todo.
Corri, peguei a câmera e fotografei-os. Faziam coreografias no ar; bicavam a areia da praia atrás de alimento para matar a fome, partiam, e depois voltavam.
Ei-los. A liberdade, eles me lembraram. A paz, eles me lembraram, também.
A liberdade. A paz.

CITAÇÃO

(RÔ Campos)

Tenho dito sempre que nada é perfeito, e é verdade.
Tenho dito, também, que nada é para sempre. Mas, nisso, eu me enganei.
Aí, eu me lembro de uma frase que li por aí, atribuída a Charles Chaplin, que diz mais ou menos assim:
"Posso me afastar das pessoas que amo, sem que tenha que tirá-las do meu coração".
A partir de então, e dadas as outras circunstâncias vivenciadas, cheguei à conclusão de que, sim, algumas coisas são para sempre, para além do tempo, para além do céu e do inferno, para além da vida e da morte.

CITAÇÃO

(RÔ Campos)

Enquanto umas pessoas entram para a vida, querendo, outras saem dela, sem querer...

CITAÇÃO

(RÔ Campos)

Raízes···Tudo vem a partir delas e são o que nos sustentam·

CITAÇÃO

(RÔ Campos)

No barco da vida há dias tranquilos e dias turbulentos. Quando atravessamos por tempestades, precisamos ter força e coragem para driblar a correnteza do rio, em busca da calmaria, até encontrarmos um porto seguro.

ONTEM E AGORA

(RÔ Campos)

No começo foi tudo paixão,
Num estalar de dedos.
Depois, o amor foi tecendo seus fios.
Construímos alicerces, destruímos muros.

O que era medo se tornou coisa do passado,
Tristeza cedeu lugar à alegria.
O que era um pé atrás agora é sempre um pé à frente.
Somos mesmo assim malucos, doidos varridos pela vida.
Fazemos planos sem nem sabermos para onde e quando.
Sonhamos.

Se bato o pé e choro, ele me diz pra não complicar a vida.
Mas se rio, ele chora de tanto rir.

CITAÇÃO

(RÔ Campos)

Quanto mais o relógio marca as horas e o calendário marca os dias, meses e anos, mais eu tenho pressa de viver.
E quando vejo parentes e amigos queridos indo embora, assim, aos poucos, ou de repente, mais vou me conscientizando sobre a finitude, e que tudo isso aqui não passa de uma viagem, às vezes curta, outras vezes longa; Às vezes prazerosa, outras vezes angustiante.

PREMONIÇÃO

(RÔ Campos)

Saudade... Eu já te pressinto muito próxima a mim,
Já escuto os teus ruídos ao longe.
Não faz muito tempo te abancaste em minha casa, e nem convidada foste.
Pegaste-me assim, desprevenida...Havia esquecido a porta aberta.
Os meus dias pareciam uma eternidade a me devorar e consumir.
Mas, então, o tempo - que, como disse o poeta, andou mexendo com a gente - passou, ainda que lentamente,
E a saudade se foi com o tempo...

Agora, novamente, ouço teus sinais, teu riso debochado,
Avisando que em breve vais apartar a gente.
E eu sei muito bem da dor que tu me impinges...
Dessa vez vou tentar lembrar de não deixar a porta aberta, e colocar uma tranca pesada.
Mas, abusada como és, vais gritar teu grito esganiçado, lá, do lado de fora, invadindo meus ouvidos, afligindo meu coração,
Até atingires o meu âmago, tão cheio dele, tão cheio de nós.

CHEGASTE

(RÔ Campos)

Instiga-me a dúvida,
Essa total incerteza.
E eu aqui, presa,
Nas tramas que urdi.

Não tenho medo de nada,
Nem de navegar nos mistérios.
Já andei por tantos rios,
Tantos mares turbulentos, procelas.

Chegaste.
És meu presente
Sem a face do passado,
Nem promessas de futuro.

Entrementes, não somos. Estamos.
Eu preencho tuas horas mortas,
Dando-te minhas horas vivas.
Tu me tiras o cheiro de naftalina
De mofo.

sábado, 30 de março de 2019

TE AMO E ME ODEIO


(RÔ Campos)

Amo-te, porque és invenção minha,
Nascida dessa mania que nunca morre,
De ora viver amores platônicos, ora impossíveis, ora complicados.

Amo-te, porque fui eu que te rabisquei nos papéis em branco, que guardava aos montes nas gavetas do armário.

Amo-te, porque fui eu que te desenhei, com desmedida intensidade,nas paredes da minha imaginação, que nunca encontra calma nem abrigo.

Amo-te, finalmente, porque fui eu que te pintei, com as cores mais vibrantes que achei,
(Como as cores intrigantes do arco-íris sugando o sal do mar),
Fazendo dessa tela a minha obra-prima. Definitiva.

Mas também me odeio.

Odeio-me, porque és apenas fruto da minha imaginação, da minha criatividade fértil.
Dessa busca incessante de saciar uma fome avassaladora de amar e ser amada,
Desse vazio nas entranhas que teima em ser preenchido a qualquer custo.

Odeio-me, porque és a realidade crua e fria que bate à minha porta,
A desmoronar, sem ruídos, os castelos de areia que construí nos desertos por onde andei,
Com o gelo feito neve derretendo, borrando os papéis que rabisquei, os desenhos que fiz, e as telas que pintei...

Odeio-me, porque fui eu que te convidei a entrar, fui eu que te inventei, fui eu que te pintei.
Mas agora, borrada a tela, te peço:
Me ensinas o concreto, me fazendo olvidar o abstrato.
Me ensinas a sonhar com os pés no chão,
A criar sem confundir realidade e ficção,
A pintar sem misturar amor e fantasia.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

FECHA A PORTA, CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Coração aberto, descuidado,
Pronto pra ser invadido, ocupado, 
Portas escancaradas, ao léu,
Numa noite de céu estrelado.

Não te descuides, coração,
Dessas coisas da ilusão,
Que sempre foi terreno fértil
Pra se plantar desilusão.

Fecha a tua porta coração
Diz o juízo: reforça a tranca,
Porquanto há um exército ávido, lá fora,
Espionando a hora de te ocupar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

MINHA E DELE

(RÔ Campos)
Ele vivia em uma casa que não tinha portas nem janelas· Todas as suas posses era uma grande e pesada mochila que carregava nas costas franzinas · E como companheira uma estrela solitária que se punha a mirar, dizendo, feito criança: "olha, essa é a minha estrela!" · E carregava tambem uma inquebrantável fé em Deus no coração·
Na mochila, levava o armário do quarto, uma bolsa contendo as ferramentas e a matéria prima de seu trabalho com a arte· Além de uma pequena caixa onde guardava todos os seus sonhos·
Faz mais de quatro anos que não vejo nem ouço falar nesse pequeno grande homem, que parecia ter a face esculpida e as mãos lapidadas por outro grande artista· Mas sempre me lembro dele nas noites em que Léia - era assim que ele chamava a Lua - surge absoluta e exuberante· E quando, perambulando pelas noites vadias, vejo na imensidão do céu a estrela solitária, que sempre foi dele···e minha·

sábado, 26 de janeiro de 2019

TUA FALTA


(RÔ Campos)

É sempre assim
Nas tardes de domingo.
É sempre assim
Quando a chuva cai:
Saudade vem a galope,
E eu já nem sei o que é paz.

Só sei que sinto a tua falta.
Sinto muito a tua falta.
Falta tudo mas não falta
A saudade que me invade e me diz
Que tu me fazes muita falta.

Estás em tudo que ficou:
Nas paredes do meu quarto,
No ar que eu respiro,
Nos sonhos que dormiram
Na saudade que restou.

Como se o mundo fosse acabar,
Todo dia falta água e falta luz,
E não tarda a escuridão entrar
E uma sede louca de amar.
E tudo o que sinto é a tua falta.
Tu que és a minha vida, meu absinto
Tua falta é o que eu sinto.

domingo, 6 de janeiro de 2019

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES "


(RÔ Campos)

O que é feito de ti: pedaços, trapos, solidão, náufrago? O que é feito de mim, sem estar inteira, sem ti, sem roupa de gala, um amor, sem água para matar a sede, sem bóias, salva-vidas, perdida, querendo me encontrar?
Estive sobre águas rasas, profundas. Vi sumir qualquer resquício de vegetação. Perdi-me em alto mar. Fiquei dias incontáveis à deriva. Enfrentei procelas. E ela, essa dama traiçoeira - como infiel foste -, a me fustigar.
Sonhava com os teus olhos quando via estrelas no céu...E isso era tão raro. Julgava - quanta ilusão!- que ainda vivias a me seguir, a me proteger, no silêncio do breu que caiu sobre mim, no vácuo do abismo que nos separou.
Pensei voltar, mas quando dei por mim a distância era muito grande entre nós dois. Éramos dois mares. Dois continentes.
E agora o passado bate à minha porta. Eis que és tu de volta.
E, de repente, é como se o tempo não tivesse passado. Por um momento não tenho medo, porque o perigo nas minhas lembranças já vai longe. Mas nada se apaga na memória do tempo, do universo.
Ouço o sino repicar...São as mesmas badaladas de outrora. Escuto o vento batendo à porta com fúria, querendo entrar, e me lembro das tempestades que desabaram sobre mim, sem piedade. Eu venci!
Agora, confesso-te, a coragem me parece se perdeu na longa estrada, no mar das minhas ilusões. Cada luta é uma luta, um embate. Pode-se vencer. Pode-se ser vencido. Não há empate. É a derrota ou a glória.
Não me convoques a ingressar nas fileiras do teu quartel para uma nova guerra. Vivo uma nova era. As procelas ainda agora muito me dizem.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

DESDE AQUELA NOITE


(RÔ Campos)

Conto as horas,
Conto os dias,
Desde aquela noite em que você partiu
Dizendo pra mim que iria voltar.

Trago na minha memória
A lembrança das horas derradeiras:
A bagunça no quarto do hotel,
Nós atrasados, o trânsito caótico,
A fome batendo, a gente correndo,
Lutando contra o tempo.

Depois, na Estação, você todo atordoado,
Entrando no ônibus, calado,
Sem nem me dizer adeus.
E eu, ali, triste, sem entender nada.
De repente, você volta, me dá um beijo
E some atrás da porta...

Conto as horas,
Conto os dias,
Desde aquela noite em que você partiu
Dizendo pra mim que iria voltar.

Já tentei de tudo pra não me lembrar,
Mas quando eu acordo, o primeiro pensamento
que me vem à mente,
São todos aqueles dias loucos que vivemos
Como se não houvesse amanhã...

Tento esquecer você no decorrer do dia,
E não há nada que me faça apagar
Das minhas memórias tudo o que vivi contigo,
No embalo das horas, sob a luz do sol e sob a luz da lua,
As delícias de um encontro inesperado, sem nada programado, coisas essas do acaso,
Como se pelo destino fora traçado.

E quando eu me deito, não tem jeito.
Sinto um vazio no coração,
O peito apertado, comprimido,
Uma saudade muito grande me invade.
Quero te sentir ao meu lado...
Louca, ouço os áudios que me enviaste pelo Whatsapp...

Conto as horas,
Conto os dias,
Desde aquela noite em que você partiu
Dizendo pra mim que iria voltar.

DOIS DE JANEIRO DE 2015


(RÔ Campos)

Hoje resolvi revirar os meus guardados,
Revolver o meu passado,
Reabrir as caixas que lacrei·

Reli as cartas que escrevi, e nunca enviei·
Todas falavam de sonhos e amores desfeitos,
De saudades que fizeram doer o peito·

Chorei ao reler as cartas que recebi,
Os cartões desejando Boas Festas, Feliz Aniversário·
E havia também outros que acompanhavam as flores que me eram enviadas·
Muitas foram as confissões de amor eterno,
E também as promessas jamais cumpridas·

Encontrei até velhas roupas rasgadas,
Fotografias às dezenas, como registro dos momentos de alegria e felicidade·

Vi em algumas cartas marcas das lágrimas furtadas dos meus olhos,
Que tantas vezes se fecharam para não sucumbir·

E nessa viagem ao túnel do tempo,
Encontrei corações delicadamente tecidos com fios de cobre,
O meu nome ao lado do nome dele·

Quando dei por mim, já era noite·
Devolvi tudo para as caixas onde estavam guardadas essas lembranças,
E lacrei-as novamente com as fitas que eram os laços,
Que envolviam os buquês das rosas vermelhas,
Que o homem que jurava que me amava, me mandava·