sábado, 27 de dezembro de 2014

PORTO SEGURO



(RÔ Campos)

És o meu porto seguro·
É nele que atraco quando volto·
É nele que me dispo, inclusive do cansaço·
Há muitos portos por aí,
Onde vez em quando paro,
Mais por necessidade que por gosto·
Mas és tu apenas o meu porto de verdade,
Aquele em que ancoro e vou logo abrindo os braços,
Porque o teu abraço é o único cais que me acolhe·
És o meu porto seguro·
Aquele cuja lembrança me socorre nas noites tenebrosas,
Quando atravesso oceanos agitados,
Com seus terríveis braços que me querem arrastar e afogar até a morte·
Lembro de ti e me faço forte·
Não me entrego e luto e grito alto·
Quero que ouças que é por ti, que sei que me espera,
Que tento vencer essa guerra·
Sei que a tempestade nunca chega desacompanhada·
E dias sombrios seguem-se uns aos outros·
Mas eis que a tempestade perde força,
E vem a calmaria trazendo de volta a boa sorte·
Alço as velas, tomo o caminho de volta·
De longe te avisto e sussurro:
"Meu porto seguro, não demoro·
Deixa a porta aberta·
Logo chego e amarro as âncoras·
Vou navegar no silêncio do teu conforto"

terça-feira, 25 de novembro de 2014

CONTEMPLAR O MEU JARDIM


(RÔ Campos)


Cansei de política.
Logo eu!
Mas, hoje, quero dizer:
Cansei!
Outro dia, talvez.
Quem sabe?

Hoje, quero riscar as nuvens escuras com os raios do sol.
Apanhar os pingos da chuva com as mãos abertas, em louvação.
E colher estrelas no céu para cobrir o meu chão.

Hoje, quero cuidar do meu jardim. Senão, quem cuidará?
Ontem, à tardinha, passeando pelo quintal, me entristeci:
Minha rosa-menina se foi e eu nem percebi.
Chegou a sangrar ver os galhos secos, ali, tombados, sem vida.

Hoje, quero cuidar do meu jardim.
Arrancar as folhas mortas. Adubar as minhas rosas.
Aguar as minhas flores. Contemplar o meu jardim.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ASAS PARTIDAS


(RÔ Campos)

Por que te foste, assim, do meu ninho, passarinho?
Eu o construí no verão para te agasalhar quando o inverno viesse. Sempre foste o meu menino,e nem percebi que, silenciosamente, criavas asas.

Querias partir, sem nem mesmo saber para onde. Não querias mais ficar aqui e cumpriste o teu desejo.

Que não lancem sujidades sobre ti. Porque é grande a minha chaga e a saudade dói demais, mas tenho que aceitar que não há lei nenhuma no universo que possua o condão de regular o pensamento, e exerça algum poder de coação sobre este.

Muito antes de alçares esse voo medonho, andavas comigo por aí, pé na estrada, cantando o amor e a vida... a viola debaixo do braço, o sorriso franco, meio contido, eu sei, mas franco.E eu nem sabia que algo me escondias, mesmo estando ali, tão perto do meu coração e dos meus olhos.

E eis que tu, meu menino, resolveste abreviar o teu voo pela vida. E que faço eu, agora, que tenho asas e não posso mais voar?

Como vou cantar, doravante, meu menino, se meu ninho está vazio, sem meu menino-passarinho que se foi sem me avisar?

Será que eu andei errado? Onde foi que eu errei, então, fico a me perguntar?

Estavas sempre aconchegado no meu ninho, sob as minhas asas e, de repente, te vês alado e te vais pra nunca mais...

E nós, aqui, meu menino, olhando para o céu e perguntando às estrelas o que foi que aconteceu.

Eu já andava devagar porque a pressa já não fazia mais sentido. E agora, meu menino, que não estás mais aqui, já nem sei o que fazer com o sorriso largo que eu, contigo a meu lado, carregava mundo afora.

Já não procuro uma nota. Não há nota alguma. Nenhum acorde. Todo o meu cantar emudeceu.

Mas eu canto, mesmo mudo. É meu peito arrebentando. São minhas lágrimas que caem.

E, assim, vou tocando em frente. Porque o meu cantar é por ti, por todos nós. E, se eu canto, é o meu cantar a única coisa que aprendi neste mundo de que nada sei.

E, quando canto, é como te sinto. É onde te encontro.


SOBREO ESQUECIMENTO, CHEIROS, SABORES E AMORES.

É a segunda vez que não sei onde foi que eu meti o controle remoto do portão da garagem da minha casa· Na primeira vez, depois de virar o mundo de ponta-cabeça, fui achá-lo adivinhem onde? Não, não gastem seus neurônios, porque eu encontrei o controle remoto onde menos se pode imaginar: na lixeirinha da pia da cozinha.·

Bom, agora aconteceu de novo, e eu não achei o dito controle· Depois de fazer buscas nos mesmos lugares umas três vezes, pensei em dar uma geral, fazer uma faxina e arrumação em toda a casa. E assim o fiz.·Virei meu quarto de cabeça pra baixo· Abri várias gavetas dos armários, aproveitando o ensejo para tentar colocar ordem na bagunça· Encontrei coisas que sequer lembrava que um dia havia guardado· Cartões de natal, de aniversário, cartas··· Juras de amor eterno!!! Hoje, só restou a eternidade·

Encontrei roupas guardadas em sacolas plásticas· Quando as abri para ver o que continham, senti um cheiro que me era muito familiar· Coisas de um passado não muito remoto, ao contrário do sumiço do meu controle, tão recente·

Mesmo estando tudo misturado no meu olfato, que quase me confundia - apesar da predominância do cheiro de poeira e de traça, coisas essas próprias do tempo - aquele cheiro do passado me pareceu muito atual· Há cheiros e sabores e amores que jamais esqueceremos - pensei.

ADEUS, TRISTEZA!



(RÔ Campos)

Quando a tristeza vier, assim,
Sem saber de onde nem por que,
E bater à tua porta, feito louca,
Deixa a tristeza entrar.

Só não deixa ela ficar.
Porque tristeza que se abanca
São estrelas que se apagam,
Escuridão que não tem fim.

Espera que ela sente
E escuta ela falar.
E, depois, quando chegar a hora,
Manda a tristeza ir embora.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

TEU INIMIGO ESTÁ DENTRO DE TI. SE FICARES AÍ, PARADA, ELE VAI TE DEVORAR. DEPENDE DE TI. PARAR OU SEGUIR. VIVER OU NÃO VIVER.



(Rô Campos)

Olha, amiga, vai fundo. Sempre digo que só temos duas opções na vida: ficarmos parados ou seguirmos em frente. Parar, pra quê, se a gente nunca sabe o que pode vir? Não é bom duvidar da força e dos mistérios da natureza, porque vez ou outra ela nos surpreende. Disseste-me que estás nas mãos de Deus. Quando reconhecemos esse estado de coisas, é porque temos a certeza de que tudo fugiu do nosso controle, não depende mais de nós...nem da Ciência. Sabemos que não temos como fugir da realidade. E que precisamos encará-la, o que não quer dizer o mesmo que confrontá-la. O confronto não nos leva a lugar algum. Não nesse caso. Então, amiga, encara a realidade. É ela, no momento, quem dá as cartas. Mas nenhuma realidade é duradoura, é para sempre. Mantém-te de pé, parte para a briga, luta, vive a vida, cada minutinho. Aproveita para contemplar a natureza. Apreciar o sol quando se deita e a lua quando se achega. Ouvir o canto dos pássaros. Apreciar a farra que eles fazem quando a tarde ameaça partir ou quando a chuva vem vindo ao longe, ou, ainda, quando surgem os primeiros raios da manhã. Planta algumas flores. Regue-as regularmente. Sente o seu perfume. Toma banho de chuva. Anda com os pés descalços. Embrenha-te no mato. Desce o rio. Vá à praça dar milho aos pombos. Observa as peraltices de uma criança, o seu sorriso, a sua pureza. Olha pro céu. Mira as estrelas. Ouve Chopin, Bach...ou simplesmente o som de uma flauta andina. É indescritível. Joga-te no sofá, na cama, seja lá onde for. Pega um livro. Desses que falam sobre as coisas boas da vida, que não vomitam amarguras, porque o mundo está cheio disso. Poesia, amiga. Deixa a poesia entrar. A poesia é o êxtase da alma. Ah, minha amiga, não faças pouco caso do que estou a desfiar-te agora!!! É assim mesmo. Qualquer dia chega a nossa hora. Uns vão antes; outros, depois. Mas todos iremos um dia. As coisas são assim há milênios. E, quem sabe? - tu possas adiar, e muito, esse dia. "Tu podes adiar, mas o tempo, não", afirmou Benjamin Franklin. Mas levar a vida com certa leveza nos desvia e nos salva das tiranias do tempo. E pra quê levar a vida tão a sério, se ela quase nada exige da gente? Dizem que, na verdade, o que a vida pede da gente é coragem. Então, vamos lá. À luta, amiga! Ou melhor, vamos cair na vida. E, afinal de contas, A Ciência, às vezes, também fica a ver estrelas. Mistérios! Mistérios! E, se assim não for, minha amiga, tu terás feito a tua parte. Terás tido a coragem de seguir e viver e amar...Porque a vida é um sopro e como um sopro se extinguirá.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

AMORES IMPOSSÍVEIS


(RÔ Campos)

É madrugada·
A chuva chega devagar,
Molhando o chão que ainda arde·
Da janela do meu quarto
Vejo os relâmpagos riscando a escuridão;
Ouço os trovões cortando o silêncio.·
Meu coração se agita♡
Lembranças de amores impossíveis,
Que andavam adormecidos
E hoje vieram me acordar·

TRANSIÇÃO


(RÔ Campos)

O que dizer de uma segunda-feira assim, chuvosa, como se fosse o outuno se despedindo tristemente, abrindo os caminhos para receber o inverno que vem, devagarinho, varando os campos e o espaço···e se derrama sobre nós, em forma de choro, um chorar assim, lento e morno?

Logo na chegada, busca o sol com seu olhar às vezes frio, mas um frio que não congela os amores da gente· Antes, nos enreda em abraços e longas conversas sob as cobertas quentes·
E suscita também sobre não ficar, quer seguir as pegadas do sol que já vai longe, muito longe·

E nessa ânsia louca sequer se dá conta de que não demora e as flores estarão se abrindo, os pássaros cantando e a vida fluindo e pulsando, pulsando, como um relógio que marca as horas, os dias, o tempo que nunca para nem mesmo para descansar as pernas no meio do caminho, às vezes àrduo, como se fosse um fado, uma sina, outras tantas vezes o paraíso· Um paraíso, para muitos, perdido antes de haver sido encontrado·

sábado, 27 de setembro de 2014

NÃO ME NEGUES



(RÔ CAMPOS)

Tudo bem que você não queira mais me ver
Tudo bem que você não queira mais de mim saber
Tudo bem, se pra você não sou seu bem
Ainda que não te faça nenhum mal
Ainda que meu coração te deseje tanto bem.

Tudo bem que você tenha outros planos
Tudo bem que você tenha outros sonhos
Tudo bem, se pra você já fui alguém um dia e hoje não sou ninguém.

Tudo bem. Tudo bem.
Podes te calar, mesmo eu te vendo
Podes me desprezar, mesmo eu te querendo:
A escolha é tua e o coração também.
Mas, por favor, meu bem, não me negues assim
Como se existisse um abismo entre nós dois
Fazendo de conta que eu sou uma mentira
Me chamando de ninguém.

sábado, 13 de setembro de 2014

ÚNICA


(RÔ Campos)

Eu não quero ser teu céu·
Basta-me ser uma estrela· A menor de todas· Mas que eu seja a tua única estrela·
Eu não quero ser teu sol·
Basta-me ser um facho de luz a guiar os teus caminhos·
Eu não quero ser a floresta amazônica·
Basta-me ser uma árvore frondosa, para descansares sob a minha sombra·
Eu não quero ser o rio Amazonas·
Basta-me ser um riacho para que te banhes em minhas águas serenas·
Eu não quero ser o teu jardim·
Basta-me ser a tua flor preferida· Tua única Rosa· Teu único amor·

domingo, 24 de agosto de 2014

DANÇA DA VIDA


(RÔ Campos)

Humano, desumano,
Sobre homens e bichos,
Sobre deuses e loucos,
Crentes, descrentes, políticos,
Pobres, remediados e ricos·

Planeta Terra!

Sobre vencidos e "vencedores",
Quem ganhou e não levou,
Quem perdeu mesmo ganhando,
Quem venceu mas não gozou·

Planeta Terra!

Sobre acusadores e juízes·
Todos pecadores sob juízo cristão·
Acusados, acuados, bandidos·

Sobre o amor e o ódio,
A verdade e a mentira,
O real e o fictício.·

Planeta Terra!

Sobre onde e quando começa a vida,
Sobre o que é a morte
E toda a sorte que há no mundo.
Sobre os azares de muitos.

Sobre os mistérios que nos rondam,
A Ciência e a Religião,
O Bem e o mal·
Como surgiu a noite,
De onde vem a luz que a tudo nos conduz,
Por que existem as trevas·

Planeta Terra!

Sobre o que fomos antes da semente,
Para onde vamos,
Se viemos do pó,
Se ao pó voltaremos·

Planeta Terra!

Sobre o que somos e o que queremos ser,
Os sonhos e a capacidade de voar,
Vitórias e fracassos· Vencer e vencer·

Planeta Terra!

Sobre artistas e comuns,
A Poesia e a Música,
O silêncio e o som. O intervalo·
O Dom·
A Palavra e as Notas Musicais,
A Dança, o Teatro, o Circo,
A dança da vida···

sábado, 23 de agosto de 2014

ROMANCE DA LUA COM O MAR

(RÔ Campos)





Noite de lua linda, lua grande, lua cheia,
La Luna surge, estonteante, clara, gigante,
Nos céus da Baía de Guanabara e das areias de Copacabana,
Cobertos pelo vasto véu da noite, que não demora se retira.

Como se fosse um poema de Garcia Lorca,
O relato de um romance da lua,
Numa noite da lua em pleno e puro cio,
Clicam-na, despudorada, as lentes da fotógrafa,
Entregando-se, sedenta, ao mar bravio,
Que a toma nos braços e a acomoda no seu leito,
E a devora e a sacia,
E depois também se acalma...


(construído a partir da foto de Ana de Hollanda, publicada em 11 de agosto na sua linha do tempo, a quem dedico)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

SOBRE O DESAPEGO

(RÔ Campos)

Não adianta religião, ciência, seita, terapia, psicologia, tecnologia, progresso, nada, nada, nada se o homem não praticar o desapego. O egoísmo mantém o homem como se um verdadeiro réptil fosse. E nunca vai soltar as garras do chão ao qual vive preso e criar asas para poder voar. Só o desapego livra o homem da insignificância.

ACERCA DA PAZ


(RÔ Campos)

A paz não constrói muros nem cercas· A paz se expande·
Viver num mundo conturbado, procurando sempre semear a paz, é estar lado a lado com o fogo· Porque o mundo inteiro se debate e arde nas fogueiras da vaidade, construídas pelo homem com gravetos·
A paz, muito antes de alcançar as montanhas, atravessando vales e pântanos, a paz é uma condição interior, plantada no território livre do coração de cada um· Um coração livre jamais se deixa prender·
Tanto que, assim, a paz não se alcança vindo de fora para dentro· Do mundo exterior para o interior · A paz vive por si mesma no universo particular de cada um, e a apreende quem é livre, porque de tudo se despe·
O apego constrói muros e cercas, faz a guerra e destrói· Um coração em desapego vive em paz, e,assim, a semeia, difunde-a e propaga-a· Por isso, quem sabe, o mundo viva sempre em guerra·
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ACERCA DO ÚLTIMO ADEUS


(RÔ Campos)

Não me falem sobre selfie em velórios e em cemitérios. De sorrisos amarelos, falsos, ensaiados, ou não.
Não me falem sobre a falta de pudor de quem quer que seja.
Eu não sei da dor do outro, nem se rima com sorriso.

Não me perguntem o que acho disso ou daquilo. Eu nunca tenho respostas para a dor que não é minha. Eu nunca sei da dor alheia, da velocidade e do calor do sangue que corre em outras veias.

Não me suscitem dúvidas sobre a probidade e o amor dos que ficaram. Se choram de verdade por quem a morte arrebatou tão bruscamente, ou se choram esfregando cebolas nos olhos, como os artistas nas telas do cinema ou nas telenovelas.

Não me falem mais sobre coisas medíocres, nem sobre o tabuleiro da política. Eu desisto. Porque tenho cá comigo que a política é a "arte" dos absurdos.
Eu já não mais me espanto com o legado do colonizador.
Esse é o nosso retrato pintado em preto e branco. É como se fosse um trato imoral e indecente nesse interminável teatro: vai de mão em mão, de pai para filho, para neto, bisneto, tataraneto..., sob várias direções. E tudo recomeça com as gerações seguintes, desde mil quinhentos e pouco, quando Portugal decidiu invadir e ocupar as terras de nossos ancestrais, arvorando-se descobridor destas terras que desde sempre existiram. E o único véu que Portugal retirou, descobrindo estas terras, decerto foi o véu que cobria a vergonha de nossas mulheres.

Verdadeiras capitanias hereditárias é o que somos. E manipulados. Escancaradamente manipulados. E nos deixamos manipular amiudadamente, calados, engasgados. E nos entregamos, assim, como se desistíssemos da vida, porque já não vemos sentido algum nessa ópera bufa. E vamos nós, um por um, silenciosamente, nos retirando dos teatros da vida, muito antes do último ato.

Pois bem.

Eu só sei da dor que eu sinto. E sei também que a morte é o momento mais sublime de nossas vidas. Porque... não é quando somos dados à luz, o momento mais sublime, pois estamos vindo ao mundo, começando os primeiros passos dessa intrigante trajetória. O instante mais sublime é quando nos vamos. Porque nunca mais nos veremos em carne e osso. Porque nunca mais ouviremos a voz, os gritos, os cochichos uns dos outros. Porque nunca mais nos abraçaremos, sorriremos ou choraremos juntos. Nunca mais dormiremos e acordaremos juntos. Nunca mais sonharemos juntos. Esse é o momento mais especial de nossas vidas. E não necessitamos de foguetes, de barulhos, de flashes, de promessas vãs. De silêncio é que precisamos. E de entrega total nesse instante final. O resto não tem pressa alguma. O resto fica para amanhã...
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COMO A ALMA DA GENTE



(RÔ Campos)

Porque, naquele tempo, era muito cedo pra ti· E agora, pra mim, a tarde vai findando e escancara a porta pra que a noite entre· A equação já não bate·
Essa matemática tão exata, que não deixa margem pra erros! Se muito, restos·
Mas ninguém vive de restos· Ou são desprezados, esquecidos, ou vão parar na lata do lixo·
Deveria haver um pouco de humanidade nessa exatidão· Uma espécie de conciliação entre a alma e o corpo, a aparar as arestas do tempo· Afinal, que culpa tem a alma, imanente, se o corpo envelhece?
O que me resta, agora, senão a ilusão de que há vida lá fora, onde eu possa te rever um dia, num tempo sem equação, nem matemática, nem sobras· Um tempo sem corpo, sem dia nem noite· Apenas a energia a fluir e o céu como condutor· Um tempo permanente como a alma da gente

sábado, 26 de julho de 2014

SENTIMENTOS


(RÔ Campos)

De costas pras montanhas,
De frente pro sol.
Não procuro altitudes.
Almejo sempre a luz
Que dissipe a escuridão.

À direita, uma mesa surrada,
Um coco usado, vazio;
À esquerda, o mar sereno;
Acima, o céu azul piscina.
Em mim, as lembranças:

Os quadros, os retratos, os discos,
Os cheiros na cozinha, no quarto, no jardim,
Os vinhos, o churrasco, as doces tardes de domingo,
Os parentes, os amigos, a viola,
As crianças correndo, a bagunça na casa,
O cachorro latindo, a noite chegando,
O amor partindo...

LÁ VOU EU, DE NOVO


(RÔ Campos)

Lá vou eu, de novo,
Mão na massa,
Mão nos sonhos.
Cada vez que uma flor se abre,
Corro pra sentir o seu perfume.
Cada vez que nasce o dia,
Corro pra abrir as janelas,
Pra que entre a Luz
E inunda minha casa de energia.
Lá vou eu, de novo,
De volta ao passado,
Correndo pro futuro.
Lá vou eu, de novo,
Descobrir outros mundos,
Derrubar muros.

domingo, 20 de julho de 2014

SE EU SOUBESSE


(RÔ Campos)

Saudade é como traça: aos poucos vai nos transformando em pó·
Saudade é que nem fogo, que nos faz arder e a gente pensa que é só calor· Quando nos damos conta, já nos consumiu por inteiro·
Saudade é um troço danado·
Pra onde a gente se vira, vê a face do amado, ouve a voz de quem calou, e sente o fogo da fogueira que o destino apagou·
Mas não há pior saudade do que aquela que um dia nunca se pensou·
Se eu soubesse, naquele dia, não teria sido Madre Tereza de Calcutá·
Se eu soubesse···não estaria aqui hoje a chorar,
Com essa saudade morando no peito,
Como se fosse cupim a me devorar·

quinta-feira, 17 de julho de 2014

LUA DE SEGUNDA



(RÔ Campos)

Lua linda no céu de segunda·
Deusa vestida de branco,
Deitada em lençol de cetim crivado de brilhante:
Todo mundo queria vê-la, ali, estonteante,
No céu de julho, lua linda,
Lua cheia de luz.

Lua que me fez querer saber
Por que o amor é assim,
Às vezes dormente,
Outras vezes, de repente·

Lua linda no céu de segunda,
Crivado de brilhante·
E eu a me lembrar de quando o amor adormeceu
Um sono que ainda me parece eterno,
Ou quiçá desperte numa outra estação.

Lua linda, de uma noite de segunda,
Num dia qualquer de verão·
Que vem e me diz que o amor não tem tempo nem pátria,
Como a lua linda de segunda
No céu crivado de brilhante:
Lua linda, lua cheia de luz,
Que é de todos e não é de ninguém·

COLAPSO

(RÔ Campos)

Um coração cheio de vielas, artérias, veias, feito teias,
Pulsa e pulsa lentamente,
E hora outra acelera de repente·

Quer sair, fugir, sem saber pra onde,
Dessa prisão em que às vezes se esconde,
Sob pressão que sobe e cai e volta e vai:

Colapso mitral!

O sangue veloz, louco feroz,
Estrangulando a minha veia volta e meia·
Eis-me aqui, agora, coração,
Cansado, pálido,
Partido, necrosado,
Latifúndio improdutivo,
Terra de ninguém,
Loteado ao léu
Sob o imenso céu que nos cobre,
Prometido aos incautos,
Crentes, inocentes úteis·
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VIRANDO DO AVESSO

RÔ Campos)

Você me fez um convite·
Estava, assim, tão decidido,
Como se a minha vida fosse triste,
Alguém à procura de um Cristo,
Em busca do paraíso perdido·

Você me chamou e me disse
Como seria bom se eu me convertesse;
Eu, então, lhe respondi:
Eis uma grande ideia,
Eu me converto·
Vou me deixar,
Vou me esquecer,
Vou me entregar,
Vou me virar do avesso·

ABSTRAÇÕES


(RÔ Campos)

Era noite;
Fui ao quintal;
Estava claro.
Olhei para o céu;
Vi a grande lua no alto,
Que também riscava o chão.

Me perguntei sobre tanta beleza.
E essa feiura que teima, obstinada,
Em muitos corações que queimam
Nas fogueiras da vaidade.

E também sobre o amor
E a dor...
Os sonhos e a realidade.
A razão e o coração.
E a intrusa saudade
Que, às vezes, sem querer,
É como o sal que dá sabor.
E outras tantas vezes abusa,
De um quase direito de nos fazer sofrer.

Ainda contida em minhas abstrações,
Com os olhos voltados para o céu,
Me pus a perguntar à Gaia e Urano
(Não sem lembrar de Palas Atena e Ares)
Sobre este imenso mundo de deuses inventados,
E de homens perdidos nos labirintos traçados
Entre a guerra e a paz
Que Tolstói muito já nos disse...

E perguntei também a Urano:
- Onde é que a lua se esconde
Quando paira a escuridão?

E perguntei também a Gaia:
- O que seria de nós se não fosse a luz?

quinta-feira, 10 de julho de 2014

DE QUE É FEITA A VIDA


(RÔ Campos)

Depois que a cheia vazar
A poeira sentar
A dor diminuir
A tristeza passar
Eu volto pra vida
E deixo a vida me levar
(Pela porta que nunca fecho)
Até chegar a próxima agonia.

É nessa onda perigosa que eu surfo
E nesse rio turbulento que navego
E assim eu vou...vivendo
Como o samba, que ri e que chora
E a noite que derrama em silêncio
No orvalho da madrugada
As lágrimas das almas aflitas
Que queimam nas fagulhas dos incêndios.

Porque a vida é feita disso:
De alegrias e tristezas
Cair e levantar
Sonhos e incertezas
Calmarias e vertigens.
De "quem sabe ?"
Ou talvez.
E da solidão de quem se vê sozinho

segunda-feira, 7 de julho de 2014

DEPOIS QUE O TEMPO PASSOU


(RÔ Campos)
Já faz muito tempo, houve um tempo em que a gente achava que o tempo nunca passaria. E pedíamos a ele que corresse. Queríamos crescer, virar gente grande, fumar um cigarro, tomar um drinque.
Aí, então, o tempo foi passando. E, como tínhamos pressa, não percebíamos que o tempo se ia, levando com ele, a cada por-do-sol, a cada lua que dormia, um pedacinho de nós.
E, agora, depois que o tempo passou, eu vivo a pensar no sol e na lua, que muitas vezes deixei de olhar, com tanta pressa que eu tinha, de ver o tempo passar...
Bate um desejo de botar as mochilas nas costas, seguir por aí, sem qualquer direção, ganhar o mundo. Mas, de repente, eu me lembro que os sonhos também batem as pernas. E que os sonhos de menina são como fios de cabelo, agora brancos, que, com o tempo, caem e perdem a cor...

sábado, 28 de junho de 2014

CADA DIA


(RÔ Campos)

Tá tão difícil···
A estrada é longa,
Mas a vida é curta·
A barra tá pesada·
Ouvi alguém falar:
Salde logo as suas pendências,
Porque, de repente, tudo muda·
Até as pedras trocam de lugar·
Tem doido mudando o curso do rio·
Tem maluco querendo se matar·

E eu tenho me rebolado,
Virado-me do avesso·
E daqui a pouco estou de frente·
Encaro a noite triste,
O dia nada claro·
E daqui a pouco a nuvem escura passa·
São dias que são assim:
Às vezes eu já nem sei mais de mim·
Mas quando nasce um novo dia,
Eu me lembro que ainda ontem eu também morri·
E se agora eu abro os olhos e vejo o sol,
É porque hoje também eu renasci·
E assim, eu vou-me embora estrada afora·
Vou-me hoje para voltar amanhã,
Como a lua e o sol de cada dia·
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domingo, 25 de maio de 2014

BRIGA DE CASAL NA ERA DIGITAL


(RÔ Campos)

Ela diz que não está legal.
O cara também fala que a coisa vai mal.
Que não aguenta mais isso e aquilo.
Enche a página do Facebook só naquela de reclamação.
Bota a boca no trombone.
Diz no status que está cansado da vida de casado.
Que é fiel e nunca trai.
Mas a mulher só desconfia de tudo que ele não faz.

Irado, pensa que o Facebook é lavanderia:
Impesta a página jogando fezes no ventilador.
E ela, esperta, recua e se finge de morta.
Não demora e estampam no Face as fotos da reconciliação.
Mil juras de amor eterno, abraços, afagos
(Um tipo secreto de massagem no ego).
Sorrisos no rosto, beijos loucos.
Até a próxima briga e o Face virando lavanderia de novo.
Um esfregando a roupa suja na cara do outro.
Ninguém sabe com quem está a verdade.
Mais louco ainda é quem, como diz o velho ditado,
Mete a colher em briga de marido e mulher.

E, agora, vejo o cara postando de novo no Face,
Falando com a maior cara de pau,
Que não disse nada daquilo no status;
Que foi alguém que invadiu sua página.
E tudo não passou de um negócio viral.

ALGUMAS NOTAS

(RÔ Campos)

Acabei de dizer à uma amiga: "Há quantos anos não nos vemos?! Que saudade daqueles tempos, quando ainda sonhávamos muito!!! Continuamos sonhando, é claro. Mas, agora, sonhos compatíveis com o nosso tempo, um novo tempo".
Minha sobrinha Vanessa Campos, disse-me, certo dia: "até os sonhos têm sua época".
Os sonhos sonhados na juventude já não encontram eco na maturidade. Naquela época, as mulheres sonhávamos com o príncipe encantado. Para alguns homens bastava uma gata borralheira. Mas nada disso nos impede de sentir saudade. Principalmente dos sonhos que sonhamos e não pudemos ou não fizemos nada para concretizá-los.
E vez em quando é bom sentirmos o aroma das flores se abrindo na primavera... E é bem melhor do que sentirmos o cheiro forte de urina, da fumaça preta que sai do escapamento dos automóveis, dos esgotos a céu aberto, do amargo na boca

terça-feira, 20 de maio de 2014

DEIXA


(RÔ Campos)

Deixa o desejo falar
Abre a boca
Escancara um sorriso
Fecha os olhos
Deixa entrar o sentimento.

Deixa que eu te roube um beijo
Quero descobrir os teus segredos
Navegar nos rios do teu coração
Ser teu leme, tua quilha
Teu mastro, teu convés.

Deixa que hoje a noite é feita de estrelas
Parece ser festa no céu
E mesmo que a chuva te açoite
Não te queixes, não é nenhum castigo
Amanhã vão-se abrir os girassóis.

domingo, 18 de maio de 2014

RESPOSTA A UM "RELIGIOSO" FUNDAMENTALISTA


(RÔ Campos)

Já andei por muitos cartórios procurando, mas nunca achei. Talvez em algum tabelionato em outras galáxias, quem sabe, um dia eu possa encontrar. (É, deve haver outros mundos, em outras dimensões do Cosmo!). Vez em quando eu esqueço dessa minha procura. Mas, quando algum grileiro surge, assim, de repente, meio que defendendo o seu quinhão, vem-me logo à memória, e penso: vou em busca dessa escritura. Quero saber quem foi o primeiro dono destas vastas terras cá do nosso planeta, e de que forma (a que título) e de quem ele as adquiriu. E tenho outras curiosidades, também: 1) Como se deu o loteamento de tanta terra?; 2)De onde surgiu tanta gente, ocorrendo essa irrefreável expansão? Em que momento apareceram os grileiros? Além das terras do lado de cá, abaixo do azul infinito, é verdade que o primeiro dono também era proprietário do espaço sideral,e, nessa condição, também doou, loteou, vendeu o céu? Quantos o adquiriram? - pergunto eu aos meus botões - já que o que existe por aqui de gente que se intitula dono nem que seja de um pedacinho do céu. E o inferno, existe mesmo? Se positivo, o primeiro dono destas terras de cá e do espaço celeste, também o doou, loteou, vendeu? Quem o comprou? Algumas pessoas falam em Escrituras Sagradas, mas eu insisto em saber quem, naquele tempo, teria fé pública para lavrá-las. E, ainda, se já existisse o notário, quem o dotava dessa fé? E os grileiros, desde quando surgiram? Muitas perguntas eu vivo a me fazer. Quem sabe, igual a Tomé, eu precise ver para crer. Por isso, acredito tanto na Ciência. Na Razão. Na certeza de que cada um de nós é apenas um grão de areia, formando os grandes desertos, onde marcham multidões de desertos corações, para onde eu não sei...Por isso, tenho tanta fé na minha fé. Eu creio na Fé raciocinada. Eu creio na Razão que nos induz a pensar e acreditar que só o amor e a compaixão salvam-nos da mediocridade.

terça-feira, 29 de abril de 2014

DEUS SALVE O BRASIL!

(RÔ Campos)

Engraçado isso. Ontem (domingo) eu compartilhei uma postagem com foto, de não sei quem, a qual divulgava e elogiava o "legado" da copa do mundo diz-que-verde-na-Amazônia. Só que eu teci um comentário discorrendo sobre as nove horas de terror que passei no 28 de agosto, perambulando com minha irmã Nina, que está com pneumonia, para interná-la. Eu, então, disse que esse povo que vive tecendo loas ao "legado" da copa, defendendo tudo isso que está aí, se passasse essas tais loucas horas que passei nesse verdadeiro inferno e continuasse com o mesmo posicionamento, só podia ser um deles. Pois é humanamente impossível a qualquer pessoa em gozo de um perfeito juízo não sair do 28 de agosto chocada, deprimida, preocupada aos extremos. Pois vocês sabem o que aconteceu? Eu estranhei porque não recebi qualquer notificação sobre algum comentário porventura feito. E eu me lembrava que havia visto muito rapidamente alguma coisa do meu amigo Lio Viana. Pois, como eu recebo notificações tanto no Face quanto no meu gmail, deparei-me com o comentário do Lio na minha caixa de entrada do gmail, que me remete diretamente ao Face, dizendo assim: Não é fácil, Rô, força!. Só que, quando eu cliquei no comentário no meu gmail, para ir ao face, apareceu, na tela: "Desculpe, esta página não está disponível. O link que você seguiu pode estar quebrado ou a página pode ter sido removida". Sacaram a coisa???? O que se vê no 28 de agosto é indizível, desumano, imoral. Eu até tentei tirar algumas fotos, mas não consegui, temerosa que armassem o barraco. Discussões entre enfermeiros, maqueiros, motoristas, em meio ao povo, doente, apavorado. Os acompanhantes dos enfermos que vão em busca de socorro discutindo calorosamente com os funcionários na exígua sala de medicação, muitas reclamações por sinal sem fundamento, porque a culpa não é deles, absolutamente. A culpa é do desgoverno e da roubalheira que grassa em nosso país. Minha irmã Nina ficou internada na clínica médica de observação, em uma maca, sem lençol, sem lenço e sem documento (tive que levar lençol, edredom e travesseiro de casa). Ontem (segunda), foi transferida para o Adriano Jorge, onde, felizmente, está alojada em um leito digno. Eu mesma voluntariamente ajudei uma senhora que puxava uma maca, com seu marido (que já havias ido atendido e estava se retirando) sentado. Eu vi o sorriso de gratidão na boca daquele homem quando comecei a empurrar a maca. Ali, é cada qual por si e Deus por cada qual. Não se tem pra quem apelar...Até hoje estou me sentindo muito pesada e pesarosa ao mesmo tempo, pensando na pressão sob a qual trabalham aquelas pessoas e o nível extremo de estresse. É, sem dúvida alguma, um verdadeiro campo de guerra. Esse tal de "Mais Médicos" é uma vergonha nacional, uma excrescência. É de doer, ao ver-se a imponência da tal arena da Amazônia e tanto dinheiro gasto naquele monstrengo, e a saúde pública jogada às traças. É, a saúde pública não está mais nem na UTI, porque não existe UTI, mas, sim, um monte de gente entulhada, como se fosse um depósito de escórias.
Eu convido os senhores defensores del Chaco para passarem algumas horinhas lá no 28 de agosto. Duvido que saiam de lá a mesma pessoa. A não ser que vocês sejam um deles.

MEU CÉU


(RÔ Campos)

Eu queria ao menos um cadinho
No cantinho do teu coração,
Para brincar de pular fogueira,
Nas noites de lua cheia,
De Santo Antônio, São Pedro e São João·

Ah, uma fresta também seria bem-vinda!
Eu faria dela uma porta,
E ao pisar teu coração,
Eu iria fazer de conta
Que estava andando nas nuvens,
E que meus pés eram na verdade estrelas,
E teu coração o meu céu·

segunda-feira, 28 de abril de 2014

UM NOVO DIA


(RÔ Campos)

Vem, ingratidão, pede perdão,
Que eu abro as portas do meu coração.
Eu sei que amar dói,
Mas não amar dói muito mais.
Eu sei também que amar é sofrer
Mas não amar é ruim demais.

Vem, ingratidão, pede perdão,
Que se eu não souber te perdoar,
Vou te guardar no cantinho do esquecimento,
Onde mágoa alguma tem assento
E há muito jaz qualquer recordação.

Vem, ingratidão, pede perdão,
Que eu abro as portas do meu coração
E escancaro as janelas de minha alma.
E, assim, poderei viver cada novo dia
Com a luz da manhã vindo me ver.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

POBRE MENINA


(RÔ Campos)

Pobre menina!
Ainda que possa ser rica de algo,
Sempre será uma pobre menina,
Com um coração tão vazio de paixão
E uma cabeça tão cheia
Do nada que a nada conduz.

Pobre menina!
Tão cheia de vida,
Coberta de morte.
Tão carente da sorte
De uma vida feliz·.

Pobre menina!
Que não tem um norte,
Uma bússola a lhe guiar.
Tão cedo perdida.
Tão jovem e tão velha.
Quem sabe nem tempo terá para envelhecer.

Pobre menina!
Dá pena da sina que é desdenhar
Da vida de quem vê estrelas no céu
E o sol a brilhar.·
Pobre menina!
Que não aprendeu a sonhar...

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A CRIAÇÃO DO MUNDO - COMO SE FOSSE UMA FÁBULA


(RÔ Campos)

De repente, um ser surgiu do nada. Ele se considerava perfeito. Mas logo cedo começou a sentir uma solidão que o devorava... Não havia sentido algum ter um mundo inteirinho só para si. Considerando-se perfeito, pensou em um invento: "vou construir um outro homem, à minha semelhança, e isso será perfeito". E eis que idealizou, projetou e construiu um homem à sua imagem e semelhança. O tempo foi passando, e então eram apenas dois seres - o criador e a sua primeira criatura - e este mundão, o céu com a lua e as estrelas, o sol, os mares, os rios e as florestas, os animais, a montanha e os ventos, os dias e as noites...e uma solidão cruciante. Nada os confortava. Então, o ser que surgiu do nada, aproveitando o seu primeiro invento, pensou em construir um segundo, provendo-o de alguns outros órgãos que o primeiro não possuía, como vagina, endométrio, trompas, ovário e útero, acrescentando-lhe seios onde, no seu primeiro invento, só havia os mamilos, e passando a faca naquilo que mais adiante denominou-se saco escrotal e pênis.
Quando o seu segundo invento estava pronto, o criador também o considerou perfeito. E não demorou para que seus dois inventos, embora construídos à sua imagem e semelhança, começassem a se descobrir, a sentir o tato e o olfato, as delícias das carícias, do toque, o calor do sol, a beleza do céu, da lua e das estrelas...E daí nasceu o sexo. E daí que o ser que surgiu do nada, sentindo-se perfeito, e construindo seus inventos à sua imagem e semelhança, dotou-os do poder de também idealizarem, projetarem e construírem seus próprios inventos. E os inventos do ser que surgiu do nada multiplicaram-se e foram ganhando o mundo. E daí que surgiram as palavras. E daí que ao primeiro invento deu-se o nome de homem, ao segundo, mulher, e ao terceiro, criança. Todos humanos.
E eis que, quando o ser que surgiu do nada imaginava tudo perfeito, sem atentar que seus inventos eram apenas humanos, demasiadamente humanos, começaram as discórdias entre eles. E o mundo já não era só um paraíso, mas, também, inferno.
E os anos se foram levados pelo tempo, e a memória - esta o tempo também levou...E, assim, como nada ficou registrado, porque naquele tempo ainda não havia sido inventada a escrita, todos esqueceram quem teria sido o primeiro ser, aquele que surgiu do nada, o Criador.
Mas os humanos, julgando-se também tão perfeitos, começaram a suscitar a hipótese de um ser sobrenatural - a quem deram o nome de Deus - lhes haver criado, assim como o céu e a terra, todos os demais planetas e astros, os mares e rios e florestas e animais.
- "Não pode um ser tão perfeito ter surgido do nada" - diziam.
E, a partir de então, o mundo começou a tornar-se um lugar de expiação. Não demorou para virem as doenças e as guerras. E aquele ser que surgiu do nada, o Criador, que já não se sabia por onde andava, dizem, dizem, infeliz e arrependido de seus inventos, tentando corrigi-los, resolveu construir um quarto, a quem os terráqueos deram o nome de Jesus. E Deus teria resolvido conceber Jesus nascido de Maria, uma jovem virgem lá das bandas da Galileia, a qual estava noiva de José, um simples carpinteiro, e com quem ainda não havia se deitado. E, para isso, Deus teria enviado um espírito santo, o qual, para tanto, deduziu-se, ejaculava.
Com seu quarto invento (sobre o qual até hoje pairam muitas dúvidas entre os terráqueos em torno de sua verdadeira origem, se divina ou humana), dizem, dizem, Deus pretendia salvar o homem do pecado, muito embora Ele jamais tenha dito uma única palavra a respeito desse tal "pecado", uma invenção, isto sim, dos homens e da Igreja (este, um lugar idealizado, projetado e construído pelo homem, dito como a casa de Deus, mas nunca ninguém, em todo o mundo, viu Deus em carne e osso em tais edificações).
E, então, nasceu Jesus Cristo, o filho de Deus concebido pelo espírito santo e Maria, a virgem. E dizem, dizem que José, a princípio, não ficou nada contente com isso, e chegou a pensar em abandonar Maria. Mas, um dia, em sonho, teria ouvido de um anjo que não se desesperasse, porque o filho de Maria teria sido concebido por um espírito santo. E José acreditou.
E Jesus cresceu sem que se ouvisse falar sobre ele por muitos e muitos anos. E, já maduro - contam as escrituras -, Jesus começou a obrar. Por sua intercessão, cegos recuperaram a vista, paralíticos andaram, leprosos foram curados, surdos ouviram, mortos ressuscitaram e aos pobres se anunciou a Boa Nova. Jesus mostrou-se um médico de almas e de corpos, sem usar um único bisturi e sem jamais haver frequentado uma escola (não que se saiba).
Jesus pregou em todos os cantos, mas nunca se soube quem havia sido seu instrutor, ou seja, quem o havia preparado para tão importante missão, aquela que iria mudar o mundo. Dizia-se que ele se comunicava com o seu criador, mas naquele tempo não havia satélites, nem rádio, nem televisão. Depois, Jesus subiu montanhas, andou sobre as águas, multiplicou o pão apenas com as mãos, sem o uso do fermento, livrou uma prostituta do apedrejamento, transformou água em vinho e chamou a si as criancinhas, anunciando o Reino de Deus, seu criador. Mas o mundo, tão perdido, tão distante do seu inventor, O crucificou. Blasfêmia - teria sido esse o crime de que o acusavam. Até aqueles homens que caminhavam ao lado de Jesus, então descrentes e com temor das penas que lhes poderiam ser impostas pelos poderosos terráqueos, reis e imperadores...muitos deles debandaram...
Já se passaram mais de dois mil anos...e a história de Jesus, o quarto invento do ser que surgiu do nada, continua vívida entre os homens. Mas, para muitos, isso não passa realmente de ficção. Os que a consideram fábula não vão à igreja (muitos chamam-na a casa de Deus, o Criador, que teria sido erigida por Pedro, um daqueles que acompanhavam Jesus antes do seu sacrifício, o qual, dizem, dizem, para fugir de punição, O negou três vezes perante os que perseguiam e mataram Cristo Jesus), não creem no Criador, não usam o seu nome em vão, não são cristãos, mas acabam agindo como se o fossem. Ou seja, não julgam, não condenam, têm sede de compaixão e fome de justiça, praticam o Bem pelo Bem, sem medo de castigo algum, porque creem, isto sim, que “o inferno somos nós”, e não vivem, como os incautos e desavisados, à espera de lotes no céu para habitar, por todo o sempre, após o voo derradeiro, um dito paraíso. São, ainda, éticos e socialistas, os dois maiores legados de Jesus, o Cristo.
Porém, aqueles que a consideram uma história real, um acontecimento histórico-religioso...muitos deles vivem metidos na política e sistematicamente invocam o nome do ser que surgiu do nada - ou do seu quarto invento - para arrebanhar desesperados e fazer fortuna, abandonando o seu empobrecido rebanho à própria sorte, assim como pastores que vivem à caça de pobres ovelhas perdidas, desencantadas com a vida na terra do nunca antes. Outros tantos vão com frequência às igrejas e templos de outras denominações (mas, sempre e sempre tida como a Casa de Deus, onde, todavia, nunca se vê o seu suposto dono, mas, sim, muitos que falam por Ele), assistir às missas, aos cultos e novenas, a palestras e encontros, participam de quermesse, procissões, romarias etc., rezam, oram, fazem prece noite e dia, mas são incapazes de perdoar, de amar ao próximo, de seguir o que Jesus teria pregado em suas muitas andanças por este vale de expiações, de agasalhar a quem sente frio, de dar de comer a quem tem fome, de construir um verdadeiro Reino, numa comunhão universal entre todos os homens, independentemente de origem, sexo, cor da pele, estatus social, opinião, sonhos, frustrações...
E, por haver Jesus Cristo revolucionado o mundo inteiro, desde então nunca mais o mundo foi o mesmo.

domingo, 13 de abril de 2014

HÁ FLORES NO BREJO


(RÔ Campos)

Faz tempo que não ouço mais
Falar nada a teu respeito·
Faz tempo que não vejo mais estrelas,
No céu que tantas vezes te cobriu·
Faz tempo ···e nem mesmo sei do teu sorriso;
Se és alegre ou triste
E se ainda crês naquele Deus
Que era tão apropriadamente teu,
E que inventaste para espantar o mal
Que teimava em florescer
No quintal do teu coração ···
Mas há flores no brejo,
Eu sei·
Mas há flores no brejo,
Eu sei·
E sempre que me vejo pensando em ti,
Vem uma voz quase inaudível e me diz
Que a vida segue,
E desse modo parece que és feliz...








domingo, 30 de março de 2014

DESNUDAR


(RÔ Campos)

Silêncio! Silêncio profundo!
Mas alguma coisa teima em falar bem lá no fundo.
Ora pareço escutar. Ora são apenas sussurros.
De repente, do escuro fez-se claro:
Saudade de quem eu não sei.
Vontade de abraçar o talvez.
De tirar o manto que esconde a verdade,
E descobrir, de uma vez por todas,
O que teria a me dizer uma tal nudez.

quarta-feira, 19 de março de 2014

LENICE - A DAMA DO SAMBA - Uma singela homenagem à minha amiga, Lenice Ramos


(RÔ Campos)

Ela tem um sorriso faceiro
E um olhar tão forte, tão cheio
Ela tem um jeito criança
Que guarda no peito a eterna esperança
De um grande amor encontrar.

É uma mulher determinada
Que sempre sabe o que quer
Filha amada, mãe diligente, presente divino
Ela se chama Lenice
E seu destino é brilhar.

Do samba, ela é a formosa dama
Que sempre derrama alegria
Por onde quer que ela passe
No passo a passo do samba
Mesmo se triste estiver.
Ela é a dama do samba
E vive com o samba no pé.
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ABENÇOA, SENHOR, O MEU SAMBA;


(RÔ Campos)

Abençoa, Senhor
Todas as famílias
Abençoa, Senhor
O meu samba também.
Pois família que não samba junto
É como um samba qualquer
Que não é de ninguém.

Abençoa, Senhor
O meu samba
Pra que ele invada os corações
De quantos padecem tristes na vida
Chorando, sofrendo
Com saudade de alguém.

Abençoa, Senhor
O meu samba
Pra que eu possa levar alegria
Em qualquer lugar onde estejam
A tristeza e a melancolia.

domingo, 9 de março de 2014

E NADA MAIS


- Construído a partir de citação de Antonio Pereira -
(RÔ Campos)

Só quero a solidão da minha noite,
Com o canto das rãs,grilos e sapos.
E o silêncio do meu quarto,
Cortado pelas cordas do meu violão.

Só quero a solidão do meu corpo
Sobre o sofá, inerme,
Ou da janela da minha alma,
Olhando o nada que passa lá fora.

Só quero a solidão das estrelas,
Lá, no céu distante, em meio às nuvens,
Dançando a dança da solidão
Dos poetas que nunca morrem.

Só quero a solidão da minha noite,
Sozinho, e tão cheio de lembranças,
Nesta casa que não é mais minha,
Pois quem a tinha não mais me espera.

Só quero a solidão da minha noite.
Nesta noite, em que há uma multidão nas ruas,
E muitos são os que estão sozinhos, vagando,
E eu, aqui, no silêncio do meu quarto, tão cheio dela.

Só quero a solidão da minha noite,
Com o canto das rãs, grilos e sapos.
E o silêncio do meu quarto,
Cortado pelas cordas do meu violão.

E nada mais!
2

À ESPERA DO PRÍNCIPE ENCANTADO


(RÔ Campos)

E então, eu nasci.Fui crescendo, crescendo...Mas quando ainda era cedo, sonhei que um dia iria te encontrar. Todos os dias de minha vida sempre foram assim: A noite chegava, depois o dia acordava...E eu a esperar por ti. Quando saía de minha casa rumo à escola, em cada pedaço da rua, em cada esquina, sempre pensava que ia te encontrar. Ainda na Boa Sorte, ao cair da tarde, elevava os meus olhos e punha-os na direção do Morro do Bode,e, abaixo dele, avistava a ponte sobre o igarapé de São Raimundo, ponte essa que o meu velho pai também ajudou a construir. Os pensamentos me visitavam. Lembrava-me daquelas águas límpidas, onde eu e minhas irmãs íamos nos banhar quando não havia água nas torneiras de nossas casas, as canoas passando...e eu a olhar nos olhos de cada um, a procurar por ti. Nos domingos, costumava ir à matinê no Cine Palace, que ficava no Boulevard Amazonas, bem próximo à minha casa. Seguia fazendo o percurso vagarosamente, eu, sozinha, e meus pensamentos. No caminho, muitos rostos de meninos surgiam à minha frente. E, em cada um, eu te procurava.
E o tempo foi passando, passando, e eu sempre te esperando.
Encontrei alguns amores; outros, a maioria,...nada era verdadeiro, como um falso brilhante, que a gente acredita genuíno, até o dia em que aprendemos que nem tudo o que reluz é ouro.
E o tempo continuou passando, até então, vagarosamente, porque o tempo nunca passa quando somos crianças e jovens. Depois, ele se torna tão veloz, que já não temos tempo de sentir as coisas, perdemos os freios e descemos a ladeira, o tempo cria asas e voa assustadoramente. E eu continuei te esperando. Algumas vezes eu até cheguei a supor que tu havias chegado. Triste fiquei quando constatei que havia me enganado.
Esperei, por toda a minha vida, te encontrar um dia, que cansei de esperar. Compus canções, escrevi versos só para esquecer o meu cansaço. E até hoje os escrevo...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

OS ENREDOS E DESENREDOS DO MEU CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Só eu sei
Só eu sei
Dos enredos e desenredos
Em que se enredou
O meu coração.

De tudo o que é cheio
E de tudo o que é vão.
De tudo o que se nutre
O meu velho coração.

Só eu sei
Só eu sei

Quando o amor nasce
Quando o amor entra
E quando o amor que parte
Também fica
E quando o amor se vai
Pra nunca mais.

Quando é chegada a vazante
Nos rios do meu coração.
E quando é o fim do voo
Nas asas da minha imaginação.

Só eu sei
Só eu sei
E ninguém mais.
Porque o meu coração é minha alcova
Porque o meu coração é o meu altar.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

DANÇA DA VIDA


(RÔ Campos)

Eu vivo procurando
Os "achados" e "perdidos" desta vida.
Na verdade, eu gosto de me perder.
E gosto também de me perder e me achar.
E, quando eu me acho, já não sou mais eu.
E até hoje me procuro.

Há uns loucos que me seguem.
Não sei o quê eles perseguem.
Nem eles também o sabem.
Ninguém neste mundo sabe de nada.
Ninguém é de ninguém.
Mas há muitos que fingem o contrário.

E a dança da vida continua.
O presente dança um tango com o passado.
O futuro... não se sabe o que será.

DESPROFUNDIDADE


(RÔ Campos)

Quando me dei a ti
Mergulhei tão fundo,
E tudo o que era profundo
Tornou-se superfície.

Era o sol refletindo na água,
Como um espelho cristalino.
Tua aura refletiu na minh'alma,
E vi a beleza da pérola
Que no fundo do teu mar se escondia.

Mas vi também cores sem vida.
De repente, nem vermelho, nem violeta.
Tardes com muito sol,
Inclemente, queimando teu rosto.
Vi a cor da solidão que amargou a tua vida.

E tudo o que habitava as profundezas,
Ao mergulhar minh'alma, tão fundo,
Quase se afogando,
Tornou-se superfície.
E um tesouro emergiu da escuridão
Do fundo do mar da tua solidão
Onde quase naufragou meu coração navegante.

NOS ESCOMBROS DO MEU CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Tranquei meu coração. Guardei a chave. Outro dia, de repente, alguém bateu à porta. Procurei vagarosamente a chave nos escaninhos, em todas as bolsas e gavetas, mas não a encontrei. Ele insistiu, com batidas fortes na porta e na janela. Tive curiosidade, e decidi procurar a chave nos escombros do meu coração. Mas vi que ela estava cheia de ferrugem e não consegui colocá-la na fechadura. Ele, talvez cansado, foi embora. E eu resolvi colocar a chave de volta nos escombros do meu coração.

ENTRE A PROFUNDIDADE E A SUPERFÍCIE

(RÔ Campos)

Milton José Calvoso Calvoso disse: "Na entrega se desfaz a profundidade". Daí, começamos um (quase) debate. Transcrevo abaixo, transformando em um texto, os meus comentários:

Há uma distância entre a profundidade e a superfície, a borda. Ao se mergulhar nessas águas, entregando-se, essa profundidade se desfaz.

O "ser" está na profundidade. O "ter", na superfície. É preciso então mergulhar para se chegar a esse entendimento. Só quando nos entregamos, quando alcançamos esse grau de entendimento, chega-se a um nível de consciência do mundo e da vida.

Xeque-mate!

Sua citação, por exemplo, é de uma profundidade muitas vezes inalcançável. Só quem já mergulhou encontrou os mistérios que se escondem no mar da vida...cheio de tesouros...

E há coisas no fundo desse mar que, para muitos, quando as encontram, não têm nenhum valor, mas, para outros, possuem significados maravilhosos.

Somos todos navegantes. Uns, mais ousados, jogam-se nessas águas, sem medo do desconhecido; desejam, mesmo, é desbravar. Outros, não passam da superfície, com temor do que possam vir a encontrar...

OS DONOS DAS TERRAS DE NINGUÉM


(RÔ Campos)

Ó, vida tão ingrata
Cheia de valas rasas
Casas sem salas
Gente sem asas!

Mundo de muro baixo
De salto alto
Julgadores
Justiceiros.

Ó, vida tão ingrata
Do pecado capital
E do homem que peca
Pelo capital que seduz!

Da rede que embala
O corpo exausto
E da rede que mata
O homem.

Da rede que pesca
E mata o peixe
E depois mata a fome
Do homem.

Ó, vida tão ingrata
Da criança às vezes bem-vinda
Outras vezes maldita
Na boca infame do julgador!

Dos oprimidos aliando-se aos opressores
De teólogos, sábios, tolos e doutores
Senhores e vassalos
Terra de todos e de ninguém.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

VIDA MESTRA


(RÔ Campos)

De tudo o que houve
De todas as coisas
Das horas consumidas
Dos amores vividos
E dos jogos perdidos
Das vitórias e dos fracassos
Dos risos e dos lamentos
De tudo o que houve
E do que ainda poderá vir
Tudo é o que sempre foi
O que nos resta
É réstia
Fogo, luz
Vida mestra.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

AGONIA E ECSTASY


(RÔ Campos)

É tão estranho
Ver pessoas queridas,
Perdidas na noite,
Sem rumo, sem prumo,
Sem chão, sem sonhos.

Às vezes, tão tristes,
Mentindo um sorriso
Na noite infame.
Às vezes agonia,
Outras vezes ecstasy.

É tão estranho...
O rosto medonho,
Os olhos vermelhos,
O que entra pela boca
E o que da boca sai.

A fuga da vida real,
O sobrenatural.
De repente,
Não sei quem é ela,
Ela não sabe de nós.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

TRANCA A PORTA, CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Coração aberto, descuidado,
Pronto pra ser invadido, ocupado.
Portas escancaradas, ao léu,
Numa noite de céu estrelado.

Não te descuides, coração,
Dessas coisas da ilusão,
Que sempre foi terreno fértil
Pra se plantar desilusão.

Fecha, coração, a tua porta.
Diz o juízo: reforça a tranca,
Porque há um exército ávido, lá fora,
Esperando a hora de te invadir.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

NINHO DA PAIXÃO


(RÔ Campos)

Sou um louco apaixonado,
Que caminha pela vida embriagado.
Dizem por aí, que sou nobre.
Na vasta natureza muito farto.
Mas não há ninguém que saiba
O que é o meu viver, o meu fado,

Se do céu cai uma estrela
E o amor se extingue,
Um pedaço de mim se vai.
Pois quando uma estrela morre
E o amor se desfaz,
Eu também morro um pouquinho mais.


PRIMAVERA DO AMOR


(RÔ Campos)

O amor quando arrebenta
Abre o botão. Nasce a flor.
Não se sabe dos espinhos.
Não se sabe o que é dor.

Tem argila, tem adubo,
Nos jardins tão bem cuidados.
O sol se embrenhando nas folhas,
Muitos cravos amando as rosas.

Já chegou a primavera,
Pra florir os corações.
Bateu pernas o inverno
Foi morar noutra estação.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

SOFIA

(RÔ Campos)

O que é o meu saber
Senão saber que nada sei.
E quando eu chego a pensar
Que de alguma coisa eu sei,
Descubro saber menos
Do que tudo aquilo
Que eu penso que sei.

Assim é o meu saber,
Ou aquilo que consiste em pensar que sei:
Todo dia desaprendo
E de novo procuro aprender,
Que nesta vida nada se sabe,
A não ser que todo dia
Morre para depois nascer.

E quando o dia acaba de morrer,
Vem o meu saber e me diz
Que nada é para sempre.
E que tudo muda depois que eu me desnudo.
Que nada é absoluto. Mas tudo é relativo.
Que nada, nada, nada, absolutamente
É definitivo.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

PORQUE TE ESPERO.


(RÔ Campos)

Eu vou te esperar.
Mesmo que eu siga em frente,
Sem parar no meio da estrada.
Ainda que minhas mãos fossem aladas.

A cada sol que nascer
E a cada lua que surgir,
Eu vou esperar por ti.
Porque assim quer meu coração
Que não se cansa de esperar.

E ainda que meus pés machuquem
E que o desânimo tente me abater,
Eu sempre vou ter coragem pra viver,
Meu único amor sincero e verdadeiro.
E se hoje vivo no tabuleiro das recordações
É porque desde sempre te espero.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

TEU DESGOSTO


(RÔ Campos)

Fazia muito tempo não te sabia,
Mas hoje vi tua foto em algum lugar.
Havia um sorriso que eu não sabia o que dizia:
Se era de verdadeira alegria
Ou se vestia a tua nua realidade.

Vi muitas rugas em tua face,
Marcas de um tempo que há muito
Já levou tua mocidade.
Vi o teu passado no teu rosto,
Pintado com as tintas do desgosto.

Mas me disseram que agora cuidas
De lavar a sujeira das tuas dores,
E fechar as feridas que se abriram
Nas tantas batalhas do amor, que foram perdidas
Nas trincheiras que nunca cavaste.

NÃO VOU DESISTIR


(RÔ Campos)

Não adianta insistir:
Você não vai me tirar do sério
Não vai me fazer chorar de novo
Nem roubar o meu sorriso.

Eu não vou deixar
Cair a minha casinha de criança
Morrerem os meus sonhos de infância
Apagarem os planos que tracei pra mim.

Eu não vou parar
Não vou desistir
Vou seguir o meu caminho
Quem quiser que fique aqui.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

CHOVE EM MIM


(RÔ Campos)

Quando a nuvem chora e a chuva cai,
Chove também dentro de mim.
E se a chuva vem com os vendavais
Minha alma afoga e faz refém.

Quando a nuvem chora e a chuva cai,
Chove também dentro de mim.
Choram calados os meus ais.
E a saudade acorda e grita como os temporais.

Vem a chuva trazida pelo vento.
Vento volta e a chuva leva.
Vai com o tempo o meu tormento,
Vem a calmaria na brisa do vento.

ONTEM EU SONHEI QUE NOSSA ESTRELA ESTAVA LÁ


(RÔ Campos)

Ontem, antes de dormir,
Abri a janela do meu quarto,
Pus os braços no peitoril
E olhei pro céu,
Buscando a nossa estrela.

O céu parecia em festa,
Bordado de pisca-pisca.
Era o que meus olhos viam,
Até mesmo quando cerrei a janela
E olhei por uma fresta.

Muitas eram as estrelas
Vestidas de branco e vermelho,
Azul e um fino amarelo,
Que o céu mais parecia
Um imenso planetário.

Mas a nossa estrela, querido,
Não estava lá. Eu não a vi.
Alguém - quem sabe - por vingança,
Tratou de escondê-la de mim.
E, por isso, fui dormir tão triste assim...

Com os olhos cheios d´água,
E só depois de alta madrugada,
Cansada de fazer de conta que te esperava,
O sono me cobriu com o seu manto,
E eu sonhei que nossa estrela estava lá...

domingo, 26 de janeiro de 2014

TUA FALTA


(RÔ Campos)

É sempre assim
Nas tardes de domingo.
É sempre assim
Quando a chuva cai:
Saudade vem a galope,
E eu já nem sei o que é paz.

Só sei que sinto a tua falta.
Sinto muito a tua falta.
Falta tudo mas não falta
A saudade que me invade e me diz
Que tu me fazes muita falta.

Estás em tudo que ficou:
Nas paredes do meu quarto,
No ar que eu respiro,
Nos sonhos que dormiram
Na saudade que restou.

Como se o mundo fosse acabar,
Todo dia falta água e falta luz,
E não tarda a escuridão entrar
E uma sede louca de amar.
E tudo o que sinto é a tua falta.
Tu que és a minha vida, meu absinto
Tua falta é o que sinto.

ATÉ MAIS TARDE


(RÔ Campos)

Tudo é silêncio na casa grande.
Não ouço passos na escada
Nem vozes na cozinha.
Vez ou outra o ruído do vento,
Que confunde meus ouvidos:
Parecem batidas na porta da sala.

A noite se aproxima silenciosa,
Como toda noite de domingo
Em Manaus, no Brasil, no mundo inteiro.
E antes que a tristeza se achegue,
Ouço um samba de Chico
Para espantar essa tal tristeza,
Tão cortante, tão precisa.

Até mais tarde, casa grande.
Até mais tarde, tristeza.
Vou sair pro mundo
Onde eu sou da realeza.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

OMAR


(RÔ Campos)

Hoje eu acordei
Pensando em você.
Hoje eu me lembrei
Do nosso tempo de criança.
Ai, tudo era alegria!
O arraial, a quermesse
Na igrejinha de Santa Luzia.

Lembro com muita saudade
Das festas de Santo Antonio,
São Pedro e São João.
Das tribos, das quadrilhas,
Do Boi-Bumbá Teimosinho
E do Luz de Guerra,
Do Seu Manoel e do Seu Maranhão.
Das intermináveis adivinhações com vela
Em volta das fogueiras:
E eu sempre me casava com você.

Lembro dos nossos eternos carnavais:
A gente olhando, com os olhos de espanto,
Os blocos dos sujos descendo a avenida.
E nos bailes onde brincávamos
Eu sempre me vesti de Colombina,
E você era o meu Pierrot.

E hoje eu acordei
Pensando em você.
Lembrando do nosso tempo de criança.
Você dizendo que queria casar comigo
E eu com você querendo me casar.

Mas tudo era apenas lembrança.
Porque o tempo passou,
Você casou com outra
E eu com outro me casei.

E hoje eu acordei
Pensando em você.
Hoje eu me lembrei
Do nosso tempo de criança.
E dedico esse poema a você,
Meu grande amor inocente
Do meu tempo de infância.

sábado, 11 de janeiro de 2014

COR DE SANGUE


(RÔ Campos)

Não venhas, víbora.
Vai-te embora!
O teu veneno não me apavora.
Nem o tempo que passa,
Nem o vento que sopra
Lá fora.

Já conheço a tua face
E a cor de sangue do lenço que me ofereces.
Já sei das nuvens que te trazem.
Lembro das vezes em que tentaste
Deitar-me no teu leito frio,
Quando o vento se fez tempestade.

LADO A LADO, FRENTE A FRENTE


(RÔ Campos)

Não, não tenhas medo,
Pois quando tudo parecer perdido
Eu apareço e te dedico um verso.
Se fizer frio, eu te aqueço.
Se for preciso, eu esqueço até de mim,
Só pra te roubar um sorriso.

Não te quero nenhum dia triste,
Porque a tristeza só existe
No coração de quem não sente
O sangue correr nas veias,
E um outro coração batendo
Lado a lado,
Frente a frente.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A CHAMA QUE NÃO SE APAGA


(RÔ Campos)

Eu sempre estarei aqui
E vou esperar por ti.
Eu sei, eu sei,
Um dia ainda vais voltar
Pra mim.

Eu sempre estarei aqui.
E mesmo nas noites sem lua,
Quando eu olhar pro céu,
Eu sei, eu sei,
Verei teu sorriso lindo
Esculpido na boca da lua.

Eu sempre estarei aqui.
E quando a noite cair
E o céu se vestir de cinza,
Eu sei, eu sei,
Verei o brilho dos teus olhos
Em cada estrela cintilante.

Eu sempre estarei aqui.
Até que um dia, de repente,
As noites sejam de lua cheia
E o céu pontilhado de estrelas.
E que o brilho flamejante dos teus olhos,
Refletindo no meu peito,
E o teu sorriso lindo delatando tua boca,
Derramem-se em gotas pequenas
Sobre o meu leito em chamas.

E O TEMPO LEVOU...


(RÔ Campos)

O tempo vai passando
Voa como as gaivotas
Some e jamais volta.

O tempo vai passando
E rasga minha vida
Deixando feridas no coração.

Os anos se foram
Todos os amores partiram
E eu fui ficando.

O tempo foi passando
Como um trem-bala
E eu, aqui, divagando:

Quantos já terão morrido?
Quantos outros ainda vivem?
Quantos terão se ferido?

Quantos amaram de novo?
Quantos ainda me lembram?
Quantos perderam a memória?

domingo, 5 de janeiro de 2014

UM NOVO MUNDO

(RÔ Campos)

Estava muito calor e eu me debatia na cama. Levantei-me para ir ao banheiro e, da janela, vi o dia lindo lá fora. Sol radiante, as folhas dançando, tudo como se fosse um dia de verão ou, como costumo dizer, um dia de Nordeste. É o primeiro dia de um novo ano que se inicia. De 2013, tudo agora já é passado e ficou para trás. Apenas as lições devem permanecer sempre fresquinhas em nossas memórias.
Ligo o computador e começo a ler as postagens de meus amigos feitas no Facebook. Leio no Face de uma amiga lá das terras de Cabral, transcrição da fala do Papa da Paz, Papa do Amor, Papa dos Descalços e Descamisados sobre a necessidade de globalizarmos a fraternidade, em vez da globalização da indiferença. Eu acrescento que também devemos globalizar a Paz, em substituição à globalização da violência. A partir daí, faço uma imersão ao meu mundo interior e uma palavrinha me vem à mente:

ESPERANÇA

É tudo de que precisamos para seguir adiante.

ESPERANÇA

É a força que nos move para além.

ESPERANÇA

É o que nos liga ao futuro. É a ponte entre o agora e o amanhã.

ESPERANÇA

Para todos nós.

ESPERANÇA

De um mundo melhor
Mais justo
Menos indiferente
Menos alienado
Menos alienígena
Menos embrutecido
Mais apaixonado.

NINA


-Éric Vinícius Campos Freire-

Nina, Nina, Nina
Pequenina, Tia Nina!
Por que queres ir tão longe
Se não mais de 14 atingirias?
Qual a força que te move
Se até a medicina descria?

Nina, Nina, Nina
Valente, Tia Nina!
Que segredos tu escondes
Debaixo de tão pequena carcaça?
De onde tiras tanta força?
Onde encontras tanta graça?

Toda cheia de manias,
Uns chamam até de frescura
Mas ninguém a ti pergunta
O quanto isso te incomoda
Ou qual o tamanho da tua luta.

Nina, Nina, Nina
Boêmia, Tia Nina!
Brindemos à tua alegria!
Brindemos à tua vasta idade!
Hoje tens mais de cinquenta.
Mostraste à medicina a verdade:
Ninguém sabe mais do que Deus.
Nada pode mais que a vontade.

SE


(RÔ Campos)

Eu queria ser um ladrilheiro
Para muitos caminhos ladrilhar.
Eu queria ser um pintor
Para muitas tristezas colorir.
Eu queria ser um ferreiro
Para o preconceito fundir.
Eu queria ser músico
Para a muitos corações falar.
Eu queria ser poeta
Para em muitas almas entrar.

REDEMOINHO


(RÔ Campos)

E meus sonhos medonhos
Misturam-se às lembranças
Envolvem-se rapidamente
Revolvendo as entranhas
E permanecem...
E também partem...
Andam não sei por onde
Quem sabe, alguns desertos
E depois voltam com os ventos.

E nesse vai e vem
De partidas e regressos,
Vivo a pensar no amor
Que nunca confessei
E deveria ter confessado.
Vivo a me indagar:
Por que aquele abraço
Ficou contido nos meus braços?
Por que aquele beijo
Ficou preso em minha boca?

O CAMINHO


(RÔ Campos)

Que tudo seja luz
Dispersando as trevas
Do passado!
Que tudo seja luz
Clareando os passos
Do futuro!
Que tudo seja ouro
Refletindo a Vida,
Buscando o Tao,
A Subida.

GOZO PROFUNDO


(RÔ Campos)

E quando minha alma caminha pelos campos e vales...É como se minha alma se ajoelhasse e rezasse uma prece, num encontro glorioso com Deus, provocando um gozo profundo e indizível.
E quando minha alma caminha pelos vales e montanhas da música...É como se minha alma ficasse muda. Porque a música tem algo mais que só beleza. A música nos comunica uma certeza: "Sem música a vida seria um erro".

CONSCIÊNCIA CÓSMICA


(RÔ Campos)

Oh quanta vergonha senti
Pelos carvalhos que cobicei!
Tantos eu também plantei,
Mas desejei os do vizinho ao lado.

E fui então confundida
Pelos jardins que escolhi.

E tornei-me como os carvalhos cobiçados.
E minhas folhas foram ao chão,
Caídas, sem força, sem vida.

E nos jardins que escolhi
Também não havia água.
E veio o sol e queimou a relva,
E as labaredas consumiram meus jardins.
E eu então ardi no fogo de minha cobiça.
E nunca houve quem o apagasse.

Mas, veio um tempo, e a solidão doía.
Eu, em meio aos meus jardins já mortos,
Quando senti uma névoa flamejante me envolvia.
Era uma Luz Viva, sem manchas, sem nódoa,
O despertar verdadeiro, cheio de alegria,
De uma CONSCIÊNCIA CÓSMICA.

Obs: Construído a partir de Isaías, 1:29,30,31, e, a última estrofe a partir de "Consciência Cósmica - Um estudo sobre a evolução da mente humana" ( Richard Maurice Bucke)

DEMORASTE TANTO


(RÔ Campos)

Demoraste tanto
Que cansei de esperar.
Demoraste tanto
Que tirei a roupa,
E, quase louca,
Me joguei da cama
Sobre o chão do quarto.

Demoraste tanto
E eu te necessitava.
Procurei desesperadamente
Alguma coisa que acabasse
Com aquela louca espera.
Que pusesse um fim
Na saudade que dilacera.

Demoraste tanto
Que o jantar esfriou.
A janela da sala estava aberta
E o vento bateu,
A vela apagou,
E o amor morreu
De tanto frio.