sábado, 30 de março de 2019
TE AMO E ME ODEIO
(RÔ Campos)
Amo-te, porque és invenção minha,
Nascida dessa mania que nunca morre,
De ora viver amores platônicos, ora impossíveis, ora complicados.
Amo-te, porque fui eu que te rabisquei nos papéis em branco, que guardava aos montes nas gavetas do armário.
Amo-te, porque fui eu que te desenhei, com desmedida intensidade,nas paredes da minha imaginação, que nunca encontra calma nem abrigo.
Amo-te, finalmente, porque fui eu que te pintei, com as cores mais vibrantes que achei,
(Como as cores intrigantes do arco-íris sugando o sal do mar),
Fazendo dessa tela a minha obra-prima. Definitiva.
Mas também me odeio.
Odeio-me, porque és apenas fruto da minha imaginação, da minha criatividade fértil.
Dessa busca incessante de saciar uma fome avassaladora de amar e ser amada,
Desse vazio nas entranhas que teima em ser preenchido a qualquer custo.
Odeio-me, porque és a realidade crua e fria que bate à minha porta,
A desmoronar, sem ruídos, os castelos de areia que construí nos desertos por onde andei,
Com o gelo feito neve derretendo, borrando os papéis que rabisquei, os desenhos que fiz, e as telas que pintei...
Odeio-me, porque fui eu que te convidei a entrar, fui eu que te inventei, fui eu que te pintei.
Mas agora, borrada a tela, te peço:
Me ensinas o concreto, me fazendo olvidar o abstrato.
Me ensinas a sonhar com os pés no chão,
A criar sem confundir realidade e ficção,
A pintar sem misturar amor e fantasia.
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