quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A PELEJA ENTRE A VAIDADE E A HUMILDADE



(RÔ Campos)

Paira sob os céus o silêncio dos inocentes contra o alvoroço dos cúmplices dos culpados. E há um olhar sobre o que se afasta das coisas do espírito, das artes, e se apega com todas as garras às coisas da matéria, da glória a qualquer custo.

Escancaram-se sonhos tão frágeis, tão frouxos, tão comezinhos, opacos. São sonhos sem magia - essa magia que embala verdadeiramente a vida -, que debulham-se diante da realidade fria, e, ainda assim, teima-se em sonhar um sonho sem vestir a fantasia que adorna e afaga o espírito. É a fogueira das vaidades. O ego brada retumbante, e a alma queda e cala. Só os espíritos sutis não se debatem nesse fogo nada brando.

Parafraseando o poeta, apenas as almas que não são pequenas sabem verdadeiramente o que vale a pena e não se distraem nessa peleja entre a vaidade e a humildade.

O CANTO DA VIDA



O CANTO DA VIDA
(RÔ Campos)

Meu canto vem na alvorada,
Com os pássaros flanando
E pousando e cantando
No pé de mamão, no pé de caju,
No pé de acerola, no pé da porta,
Na rosa, na rosa, na rosa,
Menina, tão linda, se abrindo,
Sorrindo, sorrindo, tão prosa.

Meu canto vem na alvorada
Com a borboleta tão livre,
Tão solta, tão bela,
Como uma virgem donzela
Debutando seu baile primeiro
Nos vãos das folhas das plantas
Na rosa, na rosa, na rosa,
Menina, tão linda, se abrindo,
Sorrindo, sorrindo, tão prosa.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O PÃO E O CIRCO, A PRAGA INOCULADA DA ROMA DECADENTE

(RÔ Campos)

Meio de saco cheio com tanto glamour, e a cidade...mendicante.
Querer passar para o Brasil que isso aqui é um verdadeiro Éden é até vexatório e constrangedor, diante do nosso deplorável IDH, que todos conhecem, porque um dado público. Uma noite, apenas uma noite na ribalta da vida, e o ano inteiro vivendo a vida real, sem palcos e sem luzes.

Ao mesmo tempo em que estou de saco cheio com o que já falei na postagem anterior, fico feliz por constatar, no Facebook, que há pelo menos um segmento importantíssimo na nossa cidade que também se colocou contra tudo isso que está aí, apostando no silêncio.

Parece até que combinaram, uma espécie de - digamos - boicote. Nenhuma foto compartilhada, nenhum comentário, nenhuma palavra, nenhum endeusamento em seus murais, demonstração de sensatez e pensamento crítico, além de repúdio veemente.

Há uma corrente de um segmento em nossa cidade que também apostou no silêncio. Está cansada de gritar para ouvidos moucos. Está cansada de nadar contra a furiosa correnteza do Amazonas.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O PÃO E O CIRCO


(RÔ Campos)

Tudo do mesmo.
Nada de novo:
O pão, o circo
Da Roma decadente.

Tudo do mesmo.
Nada muda no mundo:
A política imunda do pão e do circo
E o povo no circo contente.

Tudo do mesmo:
A praça, o povo, a ribalta,
A lona, o pão, o circo, o artista,
A família, a criança, sorridentes.

Tudo do mesmo.
Nada de novo:
O político, a praça, o povo, a praga inoculada
Da Roma antiga, decadente.

LOUCURA


(RÔ Campos)

Loucura é amar loucamente alguém
Que nunca chega, que nunca vem.
Loucura é amar loucamente alguém
Que se sabe, amor também não tem.
Loucura é amar loucamente alguém
Que não sabe ao menos querer bem.
Loucura é amar loucamente alguém
Cujo coração é oco, é de ninguém.
Loucura é dar-se tanto pra alguém
E esquecer-se de se amar, também.
Loucura é amar incondicionalmente
Enquanto o outro pisa o coração da gente.
Loucura, afinal, é amar, amar e amar
E em troca receber migalhas, ingratidão.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

ESQUECERAM DE MIM


(RÔ Campos)

Eu sei que hoje é noite de Natal, mas tenho que falar sobre isso, porque amanhã eu vou esquecer. Ontem, antes de ir ao ET BAR, passei numa franquia do Habib´s que acabou de inaugurar próximo de casa, no sinal da Av. Desembargador João Machado (antiga Estrada dos Franceses) com a entrada do Conjunto Campos Elíseos. Fui comprar uns bolinhos de bacalhau, quibes e pasteis de Belém, para levar a minha amiga Íria, a Loura, dona do ET, que adora tudo isso.

Num cantinho, na parte da frente, do Habib´s, observei uns brinquedos para as crianças, com os espaços simplesmente lotados. Gente chegando e gente saindo. Pensei: realmente, nossas crianças não dispõem (ao menos em toda essa área de Alvorada, Planalto, Redenção, Hileia, Nova Esperança, Belvedere, Lírio do Vale, Bairro da Paz) de praças, nem parques, nem coisa alguma para lazer. Nossas crianças não têm onde brincar. Nossas crianças não têm como descalçar os pés para pisar o chão, correr na grama, rolar no chão, brincar de balanço, de bola, ter um contato mais estreito com a natureza, se socializar.

Bem que o prefeito eleito (o meu prefeito, por sinal), poderia parar no Esqueceram de Mim II e voltar-se para essa questão tão importante (eu diria, crucial) para o desenvolvimento social, intelectual e psicológico de nossas crianças.

É ISSO MESMO! A VIDA É ASSIM MESMO!


(RÔ Campos)

Sozinha nesta noite de Natal, mas eu não estou solitária. Tantos os pensamentos, as lembranças doces que passeiam em minha mente! Reflexões, muitas! Dona Matilde Brilhante, após dias hospitalizada, resolveu partir neste 24 de dezembro. Fico imaginando seus filhos e netos, nesta noite tão linda em simbologia, na funerária, velando o corpo da matriarca querida.

Penso em tanta gente linda que veio e já se foi (a maioria, cedo demais).

De repente, lembro-me das palavras de um hippie que conheci em São Luis do Maranhão, em agosto passado. Estávamos sentados à mesa, na praia, eu escolhendo os badulaques para comprar. Comecei a indagar-lhe sobre várias coisas (quem gosta de escrever, como eu, adora conversar, descobrir, desbravar mundos). Ele me falando da tristeza de, há cerca de dois meses antes, a polícia municipal (uma espécie de "rapa" das antigas) haver levado, injustamente, sua mochila, todo seu material de trabalho e uma Bíblia, que havia ganho de presente da mãe, já falecida. De material mesmo, era a única coisa que restava, a velha Bíblia, presente da mãe. Quando eu dava ênfase a isso, demonstrando tristeza e minha solidariedade por essa perda tão significativa, querendo ajudá-lo a recuperar suas coisas, mas sem tempo para irmos à Delegacia (era uma sexta-feira e eu voltaria para Manaus na segunda próxima) ele dizia: É isso mesmo. A vida é assim mesmo, numa aceitação indescritível, própria de almas elevadas. Isso tornou-se um verdadeiro mantra para mim.

Quando as coisas acontecem, porque coisas realmente acontecem todo dia, toda hora; quando eu não posso evitá-las; quando elas fogem do meu controle, a única coisa que posso fazer é aceitá-las, resignando-me, porque nós não podemos tudo, inclusive ir contra a natureza das coisas.

sábado, 22 de dezembro de 2012

UM BRINDE Á LIBERDADE

Há alguns dias vinha pensando: Vou sentir muito a falta de Dom Luiz Soares Vieira (arcebispo de Manaus), uma das pessoas que são referências em minha vida. Sou simplesmente fascinada pelos artigos de Dom Luiz, publicados no jornal A Crítica, principalmente pela lucidez e equilíbrio do arcebispo na articulação dos assuntos. Sua maneira de olhar e compreender o mundo é simplesmente singular. Mas eis que, lendo a entrevista, em A Crítica de hoje(domingo), do futuro arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani, deu para perceber que ele também provavelmente é um iluminado, posto que um ser que coloca a liberdade acima de tudo.

Transcrevo, a seguir, apenas um pequeno trecho da entrevista, que me emocionou sobremaneira. Tem muita gente por aí precisando saber disso. Até a Igreja Católica não vive mais na idade das trevas e não leva mais ninguém à fogueira. Portanto, acabe-se definitivamente com essa ideia ultrapassada de que quem não acredita em Deus é um insano, demônio, um ser do mal, isso e aquilo. Simplesmente é a liberdade de cada um de crer naquilo em que realmente acredita, de acordo com suas convicções. Isso não o fará menos homem, tanto que acredite, como diz Dom Sérgio, na dignidade humana, na verdade e na Justiça. Ninguém precisa passar recibo, nem reconhecer em cartório o que se passa no recôndito de sua alma, o que lhe diz unicamente respeito.

"É preciso respeito mútuo, que seja respeitada a opinião religiosa do outro. A liberdade religiosa é a convicção de que o outro tem direito de pensar diferente. Isso é fundamental. Quando uma religião não reconhece na outra o direito de pensar diferente, aí estamos no fundamentalismo religioso, no perigo da violência religiosa que temos assistido em várias partes do mundo. E a gente não deve pensar que a Síria, o Afeganistão são mais atrasados que nós. Nós podemos cair em um processo desse também. É muito importante que a sociedade brasileira reconheça a liberdade religiosa e que cada um reconheça o direito que o outro tem de pensar diferente. Esse respeito é defendido pelo Papa Bento XVI. Nós temos que estar unidos naquilo que nos une: primeiramente, todos acreditamos em Deus, ou mesmo aqueles que não creem em Deus, acreditam na dignidade humana, na honestidade, na verdade e na Justiça. Depois vem a colaboração e o diálogo entre essas religiões. E a partir daí o ecumenismo mesmo"

ELUCUBRAÇÕES


(RÔ Campos)

Era uma vontade de ir,
E uma vontade de também ficar.
Acabei não indo.
Acabei ficando.

O amor dizia, vai!
O coração dizia, vai!
O medo dizia, fica!
A razão fincou bandeira.

Hoje vivo a me perquirir:
E se eu tivesse ido?
E se o amor tivesse razão?
Teria o amor vencido?

DIAS SEM SOL



(RÔ Campos)

Sol, que nos dá a vida,
Devolva-me, onde estiver,
Vida, que partiu
Quando tu nascias a leste.

Sol, que nos dá a vida,
Depois que Vida partiu,
Te puseste a oeste,
E Vida nunca mais voltou...

Sol, que nos dá a vida,
O que faço, agora, desta vida,
Concebida nas primeiras horas,
Sem Vida, que partiu, foi-se embora?

Sol, que nos dá a vida,
Depois que Vida se foi e te puseste,
Nunca mais soube o que é vida:
Sem sol, sem norte, sem Vida.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SEGURA NA MÃO DE DEUS

(RÔ Campos)

Segura na mão de Deus... e vai. Seja lá quem for Deus para você. Você tem que acreditar em algo que seja mais forte que a sua própria força. Você tem que acreditar ao menos na força do tempo, esse Deus implacável, que tudo vence. Então, segura na mão de Deus e vai em frente, enfrente, persista, resista, insista, mantenha-se vivo, porque tudo pode onde há vida...É covardia se entregar. E depois, passa, tudo passa, e isso também vai passar, você vai ver.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TUDO O QUE A VIDA QUER DA GENTE É CORAGEM

Faz algum tempo que não falo sobre isso. Hoje, tive audiência cedo, na Justiça do Trabalho, como parte do meu trabalho voluntário junto à Pastoral do Emigrante, na causa dos haitianos refugiados em Manaus. É impressionante o que vem acontecendo com esses trabalhadores que tenho assistido, que prestam serviço na construção civil. A empresa sumiu. No acordo que fez, em uma outra ação, não pagou. Não localizamos nada, nem dinheiro, nem bens. Eis que hoje resolvi fazer um trabalho de busca, descobrir alguma coisa, principalmente porque sinto-me envergonhada, ao constatar tamanha maldade perpetrada contra essas pessoas tão desamparadas, tão despossuídas. Na verdade, a ré era (ou é, ainda, isso estou a pesquisar) uma dessas empresas interpostas (as chamadas terceirizadas), atuando numa obra gigantesca na Av. Constelação, na Morada do Sol, ou seja, construindo edificações para a classe média alta. O reclamante (autor da ação), até hoje, sequer viu a cor do dinheiro de suas verbas rescisórias. Um jovem haitiano, distante milhas e milhas de seu país, em busca de uma nova pátria, com a mulher (também haitiana) e uma filha, com menos de dois aninhos, nascida no Brasil, sem receber seus direitos trabalhistas fundamentais.
Mas hoje, mais uma vez, tive lições que me deixaram emocionada. A fortaleza desse povo me faz sentir pequenina, e, ao mesmo tempo, me encoraja. Um deles (esse que a empresa não pagou o acordo), está há quase dois anos aqui em Manaus, sem ver a mulher e quatro filhos, e a mãe, que agoniza num leito de hospital. Daqui a pouco ele viaja para o Haiti, graças a uns trocadinhos que foi guardando, das parcelas do seguro desemprego, cuja última recebeu no mês passado, e uma colaboração nossa, que parcelamos o restante em um cartão de crédito. Ele acreditava que fosse receber seu dinheirinho para poder viajar mais tranquilo, o que, dolorosamente, não aconteceu. Deixei-o em um outro lugar (uma obra), para receber R$ 350,00, de um trabalho que havia prestado, informalmente, de uma semana. Esse, o dinheiro que, se tiver recebido, levará em sua viagem de quase 40 dias, porque se fosse voltar antes o valor do bilhete chegaria aos 4.000,00, e não haveria como comprá-lo. Pois bem, ele me contou que alguém da empresa lhe teria mandado um recado, propondo pagar o valor do acordo sem a multa de 50%. Então, ele me disse: "Dra., se a senhora quiser fazer esse acordo, a senhora é quem sabe, mas eu não quero não. Já cheguei até aqui, posso até passar fome, eu aguento, porque eu acho que um homem tem que ter palavra. Eu acredito que a Justiça vai fazer ele me pagar o que me deve". Na verdade, ele pensa longe. Afirma para mim que gosta daqui (de Manaus), que quer continuar aqui, que tem muita oferta de trabalho, que muitos outros amigos dele estão bem, que ele também vai ficar bem. Quando voltar do Haiti, vai procurar trabalho. Quando receber seu dinheiro, vai comprar as passagens de sua mulher e de seus quatro filhos (uma menina de oito, uma de 14, uma de 15 e um rapaz de 17 anos), para trazê-los pra cá. Fala-me que sua mulher é muito boa, que o ajuda muito, e que vai também trabalhar. Nos últimos dias ele estava quase desesperando, temendo nem mesmo encontrar a mãe com vida. O nome dele é de um sábio hebreu. Ele vai conseguir, eu sei. A fome, a miséria, as tragédias já sofridas, toda a história de sofrimento desse povo, tornou-os mais fortes. Ele continua depositando todas as suas esperanças no seu trabalho e no Deus em que acredita.

domingo, 9 de dezembro de 2012

ENFIM...O AMOR


(RÔ Campos)

O dia está a extinguir-se
O sol está a esvair-se
Logo vem outra luz surgindo
No breu da noite a lua parindo.

Enfim, entra a madrugada
Que depois deixa a porta aberta
Por onde a escuridão vaza, e entra o cio
Que, logo, logo, a manhã penetra.

Espera, que tudo passa
Um dia, tudo vai embora
Noutro, é alguém que chega
E vem o amor, que nunca falha.

OLHO NO LANCE

(RÔ Campos)

Não resisti. Liguei meu computador só para fazer esta postagem no Face e aproveitei para postá-la também aqui no blog.

Estava lendo A Crítica de ontem, sábado, quando deparei-me com a matéria em torno da malsinada PEC DA IMPUNIDADE, como ficou conhecida essa proposta indecente que quer impedir o Ministério Público de realizar investigações criminais, reservando-as apenas às polícias, um retrocesso sem precedentes, principalmente no combate à corrupção, já que essa instituição (Ministério Público Federal) tem sido fervorosa combatente ao crime organizado, desmantelando quadrilhas que sangram os cofres públicos com prática tão abominável.

Pois bem, nessa matéria, A Crítica comenta que, entre os parlamentares amazonenses em Brasília, que foram contatados pelo jornal, apenas Carlos Souza se mostrou favorável à indecente PEC, "argumentando" que o papel do Ministério Público é apresentar denúncia junto à investigação, tendo o parlamentar em questão requerido, ainda, que somente a polícia tenha o poder de investigar os crimes.

Aí eu fiquei, aqui, a me perguntar: Se o Ministério Público tem feito tão bem a tarefa de casa, procurando, escarafunchando, investigando, desmantelando quadrilhas e assombrosos esquemas de corrupção, redundando, inclusive, na condenação dos meliantes, a quem interessa retirar do MP essa atribuição constitucionalmente garantida pelo legislador constituinte da Carta Democrática de outubro de 1988, e limitá-la exclusivamente à polícia, que, ao que se sabe, sequer consegue executar suas tarefas mais tradicionais a contento, por razões que não nos fogem ao conhecimento?

Precisamos acordar para tão importante questão, pois esse movimento em prol da impunidade no Brasil vem de encontro a nossos anseios, lutas e conquistas em busca de um país melhor para nós e nossos descendentes, quando precisamos fechar o maior número de portas possíveis a evitar facilidades para que corruptos inveterados, tais vampiros, continuem a sangrar os cofres públicos, desviando verbas que deveriam ser utilizadas na educação, na saúde, na moradia, dentre outras, de interesse vital, principalmente da camada mais pobre do povo brasileiro.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS OUTROS SÃO OS OUTROS

Sempre fiz assim, a minha caminhada. É aquele negócio: você vai seguindo a sua estrada, segurando um copo com as mãos, cheio d'água. Tudo o que você tem a fazer é manter os olhos no copo, olvidando os traseuntes à direita e à esquerda, impedindo, assim, que a água transborde. Pois, se você tirar os olhos do seu foco e prestar atenção nos outros...

Para mim, parafraseando a canção: os outros são os outros. Nada mais. E eu...sou eu, sou do mundo, não sou de ninguém".

RODRIGO: FOI-SE UM PEDAÇO DE NÓS. FICARAM OS LAÇOS QUE NÃO SE DESFAZEM JAMAIS



Triste. Já estava adormecendo e recebi um telefonema de minha amiga Íria, a Loura, dona do ET Bar, dando-me a notícia de que Rodrigo faleceu na quarta-feira passada. Rodrigo era um senhorzinho carioca, que há muitos anos morava em Manaus. Nunca se casou, não teve filhos e não tinha nenhum familiar por estas bandas. Rodrigo casou-se com a boêmia. Segundo Íria, era o mais autêntico boêmio destas paragens. Foi-se o último boêmio, na acepção literal da palavra. Adorava o sorriso e a alegria de Rodrigo. Adorava vê-lo tocar o tamborim com uma sutileza invejável. Adorava ouvi-lo cantar, muito embora o fizesse tão poucas vezes. Adorava quando, ao me ver chegar no ET Bar, Rodrigo abria seus braços, beijava-me, demonstrava felicidade por eu estar ali. Íria disse-me que o funeral de Rodrigo foi lindo. Muitos cantores entoaram seu canto para aquele cuja vida foi um verdadeiro encanto, embalada pela música e pelo prazer de viver. Infelizmente esqueceram de mim. Gostaria muitíssimo de ter dado meu último adeus a Rodrigo. Mas o seu sorriso e alegria contagiante, a batida sutil no tamborim e o seu canto sempre estarão nos quatro cantos do ET Bar, como a nos brindar, numa celebração à vida, que é bonita, é bonita e é bonita,

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CELEBRAÇÃO

(RÔ Campos)

BEM APROPRIADA PARA ESSE DEZEMBRO QUE ORA INICIA


Sonhei que estava compondo
Uma canção para cantar o mundo
E celebrar a VIDA.
Trocando as sílabas achei DAVI.
E então compreendi o sentido da vida:
Combate perene contra Golias.

Assim como o rei, no entanto,
Só quem combate o bom combate
Vence o monstro.
E o que é combater o bom combate?
É temer as tempestades, mas enfrentá-las.
Porque você as vence,
Ou então elas passam.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PACIÊNCIA, PERSISTÊNCIA, O JUIZ QUE É A PRÓPRIA CONSCIÊNCIA

Paciência é um exercício diário. Aprendi isso há anos, o que tornou-se um verdadeiro mantra para mim. Paciência aliada à persistência (jamais deixar de acreditar nos seus sonhos, nos seus ideais; seguir, mesmo que seja errando, mas nunca parar de tentar), o resultado não poderia ser outro: Vitória. Isso mesmo, Vitória com V maiúsculo.

Agora, um outro detalhe: desesperar...jamais. Tá com medo do quê? Sente vergonha por quê? Ah, tem pavor do julgamento alheio?! Preocupe-se não. Ninguém é isento de nada. Todo mundo erra nesta vida. Todo mundo quer ser juiz...réu, jamais.

Nunca me importei com o julgamento alheio. Quem sempre me guiou, nesta vida, foi e sempre será a minha própria consciência. Essa, quando me julga e me condena, o faz pra valer, sem qualquer chance de defesa, me reduz. O julgamento alheio nada me diz.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CICLO


(RÔ Campos)

Não tenho pressa.
Tudo me apraz.
Nada me fere.
O amor nasce,
Cresce.
O amor fenece.

A saudade vem.
O trem segue.
A dor passa.
O laço fica.
O nó se desfaz.

O sol nasce.
O sol se põe.
A lua vem.
A lua se vai.

Tempo de nascer.
Tempo de semear.
Tempo de colher.
Tempo de amar.
Tempo de viver.
Tempo de partir.

domingo, 25 de novembro de 2012

SÓ VOCÊ


(RÔ Campos)

Eu amo amar você, meu coração.
Eu sei o que muitos vão dizer,
Sobre mim, sobre você.
Mas eu nunca me importei com os outros.
O que me importa, mesmo, é amar
Amar, amar...amar você.

Daqui por diante, é só você.
Você me segue, feliz, leve,
E eu também vou seguir você.
Meu amor...minha suave prece.

Sempre ouvi dizer,
Que ninguém jamais seria feliz,
Tendo amado apenas uma vez.
Nunca contei até três,
Tantas as vezes que já amei.

Cada amor, um recomeço,
Uma nova história.
Mas hoje, você bem sabe,
Dei-lhe a chave do meu coração,
E, não é segredo, só você mora dentro dele.
Tornou-se seu dono, seu posseiro.
Um amor tão bonito, verdadeiro.

A FINITUDE DA VIDA


(RÔ Campos)

Há alguns dias, dirigindo o meu carro, passei em frente às (três) casas da família Piola, na Av. Ayrão, e vi exibidas, na fachada de duas delas,placas de "Vende-se". Imediatamente remeti-me à minha infância. Meu tio Adinamar Habib Bentes, irmão de minha mãe por parte de pai (Genésio Bentes), o ator de teatro, radialista e palhaço Formiguinha, assim como os irmãos Piola (Antonio, Zequinha e Edson), era também jogador de futebol do Fast Clube, cuja sede ficava no Boulevard Amazonas (o prédio ainda existe até hoje. Em razão disso, meu tio vivia na casa dos Piola, e eu, junto com ele.Adorava estar no meio daquela família, comandada por seu Petrúcio e D. Estrela. Lembro-me bem dele sentado em uma velha cadeira, na calçada da casa, acho que, mesmo àquela época (que a temperatura ainda nem sonhava chegar aos quarenta graus), provavelmente para fugir do calor. Tudo era motivo de festa naquelas casas, coisas, assim, próprias de descendentes de italianos.

Há alguns anos, Zequinha,o caçula, ainda jovem, partiu, depois de muito enfrentar essa megera, a morte, que entra, apesar de não ser convidada, sem nem mesmo bater à porta. Depois, acho que foi D. Estrela que partiu, e, em seguida, seu Petrúcio. Mas, se eu estiver enganada sobre quem se foi primeiro, a verdade é que não importa a ordem de partida.

De repente, um bafo tocou meu rosto (estava com o ar-condicionado desligado e os vidros dianteiros baixados)me trazendo doces recordações dos bons tempos de minha infância junto àquela família linda e os carnavais infantis na sede do Fast Clube.

Ao ver aquelas placas de "Vende-se", naquelas casas, vieram-me à mente pensamentos não sombrios, mas descoloridos, sobre a finitude da vida. Na verdade, na verdade, tudo tem o seu tempo e prazo de validade,e, ainda que indeterminado, um dia expira.

Comparei a vida a uma roda, que, de tanto girar, desgasta-se; um dia, emperra, depois para totalmente.

A CRISE DOS TRINTA ANOS


(RÔ Campos)

Li, em A Crítica de ontem, domingo, uma matéria sobre a crise dos 30 anos. Que me perdoem a franqueza, mas acho que esse negócio de crise de idade é coisa de gente desocupada. Eu jamais passei por esse tipo de crise, porque sempre tive muita coisa pra fazer, sempre me dei muito pra vida, e essas preocupações nunca tiveram assento em minhas cadeiras. Tá preocupado porque o tempo tá passando, então quebra o teu relógio, espera o tempo passar e a morte chegar. Se não está, é porque a vida lhe consome. E todo aquele que vive com intensidade, que ama, que se doa, que se preocupa com o outro, que não se cala diante da intolerância e da frieza humana, não tem tempo para ficar encafifado com coisas tão pequenas. Essas pessoas (as de bem com a vida) vivem que nem sentem que o tempo passa. E quanto mais o tempo passa, mais ainda sentem-se ávidas por viver. É como falei certo dia a uma amiga: Tá com problemas, sentindo-se deprimida, sem vontade de viver, vá a um orfanato, visite o Abrigo Moacyr Alves, a Casa Vhida e tantas outras instituições que abrigam crianças desvalidas, especiais, acometidas de graves enfermidades ou em situação de risco social. Nunca mais você será o mesmo, sabendo-se que deverá mudar para melhor, isso se você for uma pessoa sensível às dores humanas. Trate de parar de reclamar é que é, e viva a vida, esse presente cujo doador sequer conhecemos, antes que venha o temível inimigo (esse futuro invencível e implacável) e ela se torne vencida.

sábado, 17 de novembro de 2012

AMOR PROFUNDO



(RÔ Campos)

Você na minha vida
Uma história tão linda
Quando era noite em mim
Andante, tão desprevenida.

Você, que apareceu
E me descobriu, de repente
Fazendo-me crer piamente:
Um novo amor, você e eu.

Você, que vê com os olhos da alma
Que me instiga e depois me acalma
Você, que invadiu meus campos, enquanto
Semeava na árvore da vida
A semente de um amor profundo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

CONTANDO AS HORAS


(RÔ Campos)

Espero todos os dias,
Mesmo que haja temporais,
Como se fosse a primavera.
Conto todas as estrelas,
Mirando o céu, o infinito,
E sinto como a vida é bela.

Há dias de inverno
Morando em outras estações.
Há outros dias, também,
Em que meu coração pulsa,
Como se fosse o relógio do tempo,
Contando as horas para ver meu bem.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

COMENTÁRIOS SOBRE A ARTE

(RÔ Campos)

Olha que eu tento, tento, tento...Mas não dá. Desisto desse negócio de estudar versificação, métrica, o diacho a quatro. Deixe-me ficar com meus versos livres, mas cheios de sonoridade e ritmo. Nunca consegui entender esse negócio de regras para poetar. Eu nem consigo observar isso. A mim me parece que seja a mesma coisa que o sujeito estar tentando montar um quebra-cabeças. Escrever poesia, para mim, não comporta esse negócio estudado, analisado, exceto a observância à língua madre, que, venhamos e convenhamos, para nós, pobres mortais, que nunca a estudamos especificamente, é muito complexa. O que eu gosto mesmo é de passar pro papel tudo aquilo que me vem à mente, que o coração derrama pelas minhas mãos,pelos meus dedos. A arte pela arte, no meu pensar, não deve obedecer a qualquer norma, porque a arte é a expressão do que há na alma de quem a manifesta. E, uma alma assim, não tem cancela, não tem prisão.

A AVIDEZ DAS PESSOAS NASCIDAS SOB O SIGNO DE ESCORPIÃO

Muita gente importante em minha vida é do signo de Escorpião, inclusive eu. Começa com minha mãe, passa pelo meu pai do coração, Jorge Aon (na eternidade desde 12 de maio de 2005) e muitos, muitos amigos mesmo. Às vezes, são várias pessoas no mesmo dia, como no dia 12 de novembro, que aniversaria minha mami e nossas amigas Marlene Melo e Maria da Conceição, amiga de infãncia, há muitos anos residindo na cidade maravilhosa. Hoje, que eu saiba, é o aniversário da Marly, mulher do Agripino, irmão do Marinho (pai do Pedro, filho da minha amiga querida Lucinha Cabral) e da mulher de um grande amigo meu, ele também Escorpião do dia 16 de novembro, mesma data do Arthur Neto (esse grande representante do Escorpianato, que renasce das cinzas, e os fatos estão aí para que eu não seja desmentida), e, salvo engano, de Amazonino Mendes, ambos formados em Direito, como eu. No meu dia (20), faz aniversário também uma ex-vizinha, a Neinha, mesma data do saudoso radialista Josué Cláudio de Sousa, aquele da Crõnica do Dia, que cresci ouvindo ao meio-dia na Rádio Difusora. Vou parar por aqui, porque, realmente, são muitos os amigos, parentes e conhecidos, que vou acabar esquecendo de mencionar alguém. E, no apagar das luzes, já com aquele ar de Escorpião Sargitarianizado, no dia 21 de novembro, fecha com chave de ouro o nosso querido cantor e compositor cearense, radicado em Belém do Pará, Eudes Fraga. Um vencedor!!!
Coração de Escorpiano é um coração apaixonado pela vida, pelas letras, pela música e pela gastronomia. Às vezes, exagera, e, por isso, acaba tendo alguns problemas com a saúde. Escorpião (assim como Câncer e Peixes) é um signo cujo elemento é a água. Como a água é um elemento químico essencial para a vida, por essa razão o sexo é entendido como vital para todas as pessoas nascidas sob esse signo. Mas não o sexo pura e simplesmente. Assim o é porque o sexo é a maneira de perpetuar-se a espécie. Talvez por isso, também, as pessoas nascidas sob o signo de Escorpião são tão ávidas, tão resistentes, e, como costuma-se dizer, sempre renascem das cinzas, sem que nem elas mesmas saibam de onde vem essa força, essa coragem, essa resistência às agruras da vida. A sensibilidade vive á flor da pele.
Eu tenho muito orgulho de ser do signo de Escorpião, e haver gerado, com outro Escorpiano, dois lindos filhos, ambos do signo de Áries, cujo elemento é o Fogo. Dois presentes que recebi nesta vida. Juntando a Astrologia, hereditariedade e convivência, formamos uma família bonita. E continuamos cultivando, coletivamente, os nossos sonhos.

domingo, 4 de novembro de 2012

O INFERNO VERDE

Há alguns anos escrevi aqui no Blog e no meu perfil no FACEBOOK, a respeito do que seria a temperatura em nossa cidade, muito em breve. À época, começavam a pipocar as edificações verticais aqui na nossa aldeia. Ontem, lendo os jornais atrasados, deparei-me com uma matéria sobre o assunto, onde uma pessoa ligada à questão asseverou que é normal, nessa época, as temperaturas atingidas (em torno de 36,2 a 36,7oC). O que tem sido anormal é a sensação térmica, causada pelo asfaltamento das ruas e pelas edificações, porque absorvem muito calor. Mas em nossa aldeia é assim mesmo. O trânsito tornou-se essa coisa caótica porque, além dos inúmeros veículos que são colocados na rua, saindo das concessionárias, todos os meses (resultado dessa política desastrosa do Governo Federal), sem nenhuma contrapartida na construção de novas vias, a Prefeitura, há anos, vem autorizando a construção ou o funcionamento de faculdades particulares em locais onde não deveria, assim como shopping centers, supermercados etc. Como se não bastasse tudo isso, debatemo-nos com a criatividade exacerbada dos engenheiros de trânsito ou coisa que o valha. São tantas as incoerências que prefiro ficar por aqui. Estupidez, melhor seria dizer. O complexo viário Gilberto Mestrinho foi dinheirama jogada fora. Quanto aos espigões, não adiantou de nada a gritaria de tanta gente. Os prédios foram erguidos, continuam sendo erguidos e continuarão por muitos anos. E nós vamos ter que enfrentar a praga dessa sensação térmica que nos tira o ânimo para a vida. E agora, a sanha desse povo está invadindo Iranduba, do outro lado do rio, do outro lado da ponte do bilhão.

DEBALDE


(RÔ Campos)

Na despedida, dei-lhe um forte abraço.
Senti seu coração, assustado, pular.
Veio um desejo enorme de lhe dar um beijo,
Mas o medo de contar o meu segredo
Fez minha boca se calar.

À saída, no portão,
O aceno. O último adeus, nesta noite.
O relógio parecia conspirar contra nós.
As horas voavam. Você se afligia.
Precisava ir, mas o coração queria ficar.

Eu quedei-me, aqui, a refletir:
Eu e tu, nós dois, covardes,
Deixando passar, debalde,
Esse amor tão grande, tão vívido,
Enquanto há chama e ainda arde

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A VIDA NÃO PARA


(RÔ Campos)

Havia alguns anos que não a via. Na verdade, mais de dez anos. Encontrei-a, outro dia, nos corredores da Justiça do Trabalho. Reconheci-a imediatamente, mas, pensei, rapidamente: ela está bem mais bonita. E elegante, como sempre o foi. Agora, seus cabelos estão louros, e com um corte chanel. E também usa lentes de contato coloridas. No nosso breve encontro, falou-me sobre suas perdas, em tão pequeno espaço de tempo. Primeiro, perdeu o pai querido, num acidente de trânsito. Depois, o marido, ainda tão jovem, vitimado pelo câncer. Mais recentemente, sua mãezinha. Laura (o nome é fictício, por uma questão de respeito a sua privacidade) tem dois filhos, um rapaz e uma moça, já formados, e que ainda vivem com ela, uma bela senhora lá pela casa dos cinquenta. Disse-me que está tocando o negócio da família, e sua vida tem sido uma corrida frenética. Ainda assim, deu-me seu cartão, para acertarmos um encontro muito em breve, a fim de matarmos a saudade dos tempos de antanho. Depois, Laura deu as costas e sumiu no corredor. E eu fiquei olhando para ela, sumindo, sumindo, sumindo. Como é corajosa a minha amiga - danei-me a dizer para os meus botões. Tantas perdas, tantas saudades...e não se cansa de lutar. Certamente que minha amiga sabe que a vida não para. Que os dias e as noites são tão certos quanto a certeza da partida. Que os que partem, vão-se, sem sequer sabermos para onde. E nós, que ficamos, temos que continuar a caminhada, porque a vida não pertence aos fracos. A vida é um combate, e, sabidamente, só os fortes vencem. Até porque os fracos se entregam ao sabor de sua própria fraqueza.

domingo, 28 de outubro de 2012

COMENTÁRIOS A RESPEITO DE CASAMENTO

(RÔ Campos)

Quem disse que casamento foi feito pra durar? Casamentos, na realidade, são sociedades, só que, nesses casos, conjugais. Não diferem muito das sociedades empresariais e outras tantas. Regem-se por contrato que possuem muitas, muitas cláusulas, que devem ser rigorosamente observadas por ambos. Como tudo na vida, têm prazo de validade. Muitos, inicialmente aparentando prazo de vigência indeterminado, acabam vencendo prematuramente. Raríssimos são os longevos. Eternos? Alguns são a porta do inferno. (RÔ Campos).

COMENTÁRIOS A RESPEITO DA VIDA

(RÔ Campos)

O que você faz quando está pilotando um barco e ele encalha ou sofre uma pane? Decerto que você não ficaria ali, parado, esperando a solução cair do céu, ou que alguém aparecesse milagrosamente para ajudá-lo. Vai colocar a mão na massa, tentar resolver o problema, procurar a solução para poder seguir em frente. Assim também ocorre com a vida. Os problemas existem para serem resolvidos, superados, ultrapassados. Fugir deles nunca o levará a lugar algum.

O AMOR QUE DÁ FOME


(RÔ Campos)

Isso que você chama de amor não está lhe fazendo bem, não lhe corresponde, não é o abraço na hora precisa, não é o ouvido devido, não é o sorriso esperado, a força que soma, a fonte em que se banha, a água que mata a sede, o alimento que sacia a fome?
Isso que você chama de amor é quem lhe sujeita, quem lhe vira as costas, quem lhe bate a porta?
Isso que você cham
a de amor é quem lhe cobra, exige, usa, abusa, e nada faz para lhe ver em paz?
Isso que você chama de amor é com quem você não conta em hora alguma, não lhe faz companhia, não lhe dá alegria, faz-lhe chorar, não ter vontade de lutar, viver?
Ah, sinto muito lhe dizer, mas isso que você chama de amor, não é amor, é sofrer. Urge desiludir.
Isso é qualquer coisa, qualquer coisa de burrice, de cegueira espontânea, voluntária, de carência, de menosprezo por si mesmo. E quem se contenta com qualquer coisa sempre será ninguém, porque não consegue valorar nem a si mesmo. E viverá nadando e se debatendo nas águas dessa megera, que é a fria solidão de um coração vazio, qual um vaso sem flores.
Por isso, costumo dizer: prefiro o nada, a qualquer coisa.
É melhor caminhar no deserto, onde se pode, de repente, deparar-se com um oásis, do que seguir à margem de um rio cujas águas não lhe matam a sede.
É melhor morrer de fome de viver, do que de fome de um amor que não vivifica.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

ESTADO INERTE. POPULAÇÃO INERME, QUE, AINDA ASSIM, FAZ "JUSTIÇA" COM AS PRÓPRIAS MÃOS, COMO NA IDADE DAS TREVAS. É ESSA A CIDADE QUE VAI SER SUBSEDE DE UMA COPA DO MUNDO.


(RÔ Campos)

Dificilmente leio o jornal no dia de sua edição. Ontem, coloquei a leitura em ordem. Em um desses, deparei-me com a matéria sobre um suposto assaltante que foi linchado até a morte por transeuntes que se encontravam nas adjacências, no centro de nossa cidade.
Triste história de vida, a dele. Um homem de bem, traído, abandonado, vencido por essa droga de droga. O Brasil inteirinho está cheio dessas histórias chocantes. Pode acontecer com qualquer um de nós, humanos, demasiadamente humanos.
Que mundo insano é este? Quem as pessoas pensam que são, que condenam sem um julgamento e fazem "justiça" movidos pela ira, com as mãos que se tornam tão imundas quanto?
Não se nivelam ao bandido, ao reverso, sobrepõem-se. Enchem seus corações de mácula. Tornam-se monstros, ao invés de paladinos da liberdade. Afiguram-se verdadeiros senhores das trevas.
Manaus, de cidade sorriso, transformou-se em um sombrio vale de lágrimas. Todos os dias, invariavelmente, os jornais noticiam assassinatos os mais diversos, geralmente envolvendo jovens pobres, desvalidos, cooptados pelo tráfico.
É o Estado inerte. É o povo inerme, que, ainda assim, mata.

BÁLSAMO

(RÔ Campos)

Tem alguma coisa gritando em meio a esse silêncio. Abro as portas, escancaro janelas. E me vem o passado e insiste em entrar por entre as frestas. Alcança-me direto o peito. Rasga-me a alma. Os olhos marejam. Preciso de um lenitivo, um bálsamo.
Quanta sorte tem todo aquele que a alma canta, que a alma dança, que a alma ri, que a alma chora! Quanta sorte tem quem muito ama! Quem muitas vezes morre!Quem outras tantas dorme e levanta-se a cada novo amanhecer.

INSÂNIA


(RÔ Campos)

O meu caminho, eu o traço todo dia.
Nunca nado no raso, vou fundo.
Algumas vezes titubeio. Mas jamais arrio.
Não uso arreio. Nem me visto em pele de cordeiro.
Não sou santa, nem profana.
Prostituta, talvez, do meu próprio dinheiro.
Respeito os loucos de todos os gêneros.
São eles normais. E nós, os loucos verdadeiros.
Perdidos! Perdidos!
À espera de um milagre que nos salve,
Dessa insânia incurável, incontida,
De amores traiçoeiros.

sábado, 13 de outubro de 2012

A ROSA PURA

Hoje é aniversário de nossa irmã primogênita, a madre superiora. Não sei exatamente quantos anos ela está completando, talvez 62, algo assim. Ela não vai ler isso aqui, porque não tem tempo nem saco pra Facebook, muito embora seja uma pessoa antenada. Só sei dizer que minha irmã Babyzinha foi, na nossa infância, uma espécie de segunda mãe. E ela tem um significado muito especial em minha vida. Além de ser uma pessoa adorável, justa, leal, amantíssima, voluntariosa, abnegada, é a responsável pelos caminhos iniciais que comecei a trilhar na literatura. Foi minha irmã Rosalba que, após a fase das leituras de Branca de Neve e os Sete Anõs, Alice no País das Maravilhas, Chapeuzinho Vermelho etc., iniciou-me na leitura de bons livros, por volta dos 13 anos. Foi ela que me levou para o primeiro emprego, aos 14 aninhos, na extinta BRASILJUTA, na então longínqua Estrada do Paredão, no bairro da Colônia Oliveira Machado (e nós morávamos no bairro da Matinha). De lá, eu estava pronta para enfrentar o mundo, às vésperas de completar 18 anos. E foi o que fiz. Foi com ela que conheci e aprendi a gostar da boa música, de teatro, a gostar de viajar, estudar, estudar e estudar, e do trabalho voluntário, que iniciei junto à APAE, fundada na década de 1970 pela saudosa e voluntariosa D. Tereza Guerreiro. Rosalba, que até hoje trabalha com o glorioso Dr. Mario Guerreiro (e já se foram mais de 40 anos) sempre foi uma mulher refinada, culta, humanista e simples. É uma dessas pessoas iluminadas, escolhidas, e, como toda Rosa, rara, alva, rainha das flores, no dia em que partir para o Jardim do Éden, deixará o seu perfume delicado e doce impregnado nas lembranças de todos que tiverem o privilégio de conhecê-la e com ela conviver na intimidade.
Rosalba é a conjugação perfeita do verbo amar, cantado e decantado por Francisco de Assis, o despojado, o iluminado.

SUBLIMAÇÃO

Essa chuvinha fina, o quarto esfriando, as horas passando, a tarde chegando, os pensamentos voando longe, no tempo e no espaço. Bate uma vontade no meu peito. Ouço trovões, e, de repente, acordo dos meus sonhos, das doces lembranças. Não tem jeito. A saudade lentamente se aconchega. Daí que emerge a sublimação. Daí que nascem os versos que componho com a pena da saudade e das recordações. Daí que ecoam todos os rítmos, todas as canções, do mais profundo esconderijo de minha alma, onde nem eu mesma ouso penetrar, pois a alma humana é imperscrutável. Daí que a percussão é a minha voz e o meu grito, esvaziando com as minhas mãos essa dor persistente, renitente, que teima em machucar meu coração. Daí que essa dor se vai e depois quer voltar. Daí que eu descubro uma espécie de cura ao, inconscientemente, sublimar-me.

A VIDA É FEITA DE CHEIROS E DE SENTIMENTOS

(RÔ Campos)

Ela vinha descendo a ladeira, dirigindo seu carro. O dia estava amanhecendo, a lua linda, um pequeno risco inclinado cortando a (quase) escuridão do céu. O homem estava parado, à margem da rua, esperando sabe-se lá o quê. Os olhares se cruzaram. Ele balbuciou algo. Ela seguiu em frente. Teve vontade de voltar. Viver uma louca aventura. Mas faltou-lhe coragem. Não foi isso que lhe ensinaram, que a história milenar lhe impôs. É tudo mentira, leviandade, essa coisa que propalam aos quatros cantos, que mulher não deseja, que o que a atrai é a inteligência masculina. Deseja, sim. É tudo igual. Homem, mulher. Somos todos animais. Mas cobriram o desejo da mulher com o véu, como se não houvesse pureza no desejo, como se o desejo da mulher fosse uma vergonha, antinatural. Mas o desejo do homem, não, esse é natural. Que coisa mais absurda, obtusa. É tapar o sol com a peneira. Colocar venda nos olhos, que na realidade enxergam por meio do olfato, dos sentidos, porque a vida é feita de cheiros e de sentimentos. E o corpo pulsa...E sempre haverá uma fresta. Não se enganem, jamais. Quantos homens curtirão minhas palavras? Quantas mulheres, também? Não, é melhor não. Continuemos com o véu. Mesmo desejando, concretizando ou não nossos desejos...vãos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

GRANDEZA


(RÔ Campos)

Eu quis te fazer feliz
Você não quis...e partiu
Ferindo meu coração.

Hoje, quero me fazer feliz
Sarar minhas feridas.
Mas essa chaga vou levar comigo
Pois só sei ser feliz contigo
Que não sei por onde anda
Se és feliz, ou não
Enquanto sou tão triste...

Tenho um coração mui grande
Mas só tu cabes dentro dele
És também tão grande
Que meu coração ficou pequeno

terça-feira, 2 de outubro de 2012

E A VIDA CONTINUA


(RÔ Campos)

Sonhos são sonhados
Sonhos são perdidos
Sonhos são realizados
Sonhos são destruídos
Sonhos são dilacerados
Sonhos são morridos
Sonhos são renovados.

E assim, a vida continua...
Dormindo, acordando
Vivendo, morrendo
Renascendo.

Novos sonhos a serem sonhados
Novos amores a serem vividos
Novos sonhos a serem enterrados
Novos amores surgindo.

E assim, a vida continua...

SOBRE O DEBATE POLÍTICO DE ONTEM

Ainda aqui a conversar com os meus botões sobre o debate político de ontem à noite. Não houve vencidos nem vencedores. As urnas é que haverão de dizer, com uma coisa sendo certa - segundo as pesquisas, e pelo que vejo, ouço e sinto por aí afora: Arthur Neto está no segundo turno. Não me interessa mais assistir a qualquer debate, pois será sempre o mesmo do mesmo. Já conhecemos tudo sobre os candidatos. Impressionante a capacidade da prefeiturável Vanessa simular. Sim, porque, na verdade, ela não é dissimulada, porque dissimular é encobrir, disfarçar, mas ela, na realidade, simula, que não é a mesma coisa. Simular significa fazer parecer real, o que não é, aparentar. E o pior de tudo isso é que simula mal, de forma escancaradamente contraditória, tornando-se rizível. Onde já se viu uma comunista declarar-se religiosa, crente em Deus, no sobrenatural? E que perguntazinha de jardim de infância, a que fez a Arthur Neto, indagando sobre qual o número da lei que criou a Zona Franca de Manaus!!! Sinceramente, decepcionada, ao lembrar que, no passado, várias vezes votei nessa senhora. Quanta diferença faz assistirmos a um debate desses!!! A máscara cai. O sujeito se perde. Ela está totalmente à deriva. No geral, no geral, muito fraco esse debate. Senti a falta do Sabino. Ele, sim, dissimula...e com maestria. Acho que ele andou fazendo alguns cursos por aí, preparando-se para a campanha e para os debates. Impressionante as saídas e os achados dele, que pegava as frases dos adversários no ar e transformava em pérolas a seu favor. Isso, é claro, naquela base do "quem não te conhece que te compre". O tal do Jerônimo, não disse mesmo a que veio. Ainda está naquela de "você conhece algum político que tem filho que estude em escola pública?". Afff!! Serafim é sacante. Um bê-a-bá de dar nos nervos. Já foi!!!! Arthur ficou devendo, mas é o melhor para Manaus, na minha singela opinião.

O BEM E O MAL

Ontem, encontrei um amigo nos corredores da Justiça do Trabalho. Fez-me pensar em algumas pessoas que se entregam ao vício do álcool e das drogas, a uma vida extremamente mundana, cujos estragos são devastadores. É preciso muita força de vontade, muita coragem para romper com tudo isso. Alguns conseguem assim permanecer pro resto de suas vidas; outros, acabam sucumbindo mesmo após bons anos de sobriedade e lucidez. De qualquer forma, o combate não é nada fácil. Eu mesma vi pessoas lindas se destruírem, desabando todos os seus sonhos sobre suas cabeças. Meu amigo está feliz, com um semblante tranquilo, os olhos cheios de brilho, e em paz com ele mesmo. Espero que continue firme em seus propósitos, nessa eterna luta entre o Bem e o Mal

RESSUSCITA-ME

(Compus esse poema há alguns anos, num momento delicado e ao mesmo tempo lindo, quando você própria corta a carne com a navalha, e compreende que é a única responsável por suas decisões. E então, você procura forças para suportar o resultado aparentemente negativo naquele momento. Mas o tempo há de lhe mostrar que tudo tem um propósito maior, que é sempre subir um degrauzinho na escada da evoluçã
o espiritual. O meu Deus interior nunca me abandona)

RESSUSCITA-ME
(RÔ Campos)

Ressuscita-me!
Quero acordar e viver ainda o que me resta
Enquanto a chama ardente queima.

Ressuscita-me!
Quero ver o dia nascer e o Sol se por,
As estrelas brilhando no céu.

Ressuscita-me!
Sei que ainda é cedo.
Não, não deixe que fique tarde.

Ressuscita-me!
Ainda tenho tanto que viver.
Eu sei, és Tu quem sabe,
Mas meu peito ainda pulsa forte.
Tenho muita sede de viver.

Ressuscita-me!
Sei que tens esse poder,
Sei que és Supremo.
Faça-me ver onde paira a escuridão.
Faça-me aceitar o que não posso mudar.
Faça-me suportar a dor de minha decisão.
Só o teu amor me faz feliz.

Ressuscita-me!
Sei que errei tantas vezes,
Mas é tão difícil Te seguir:
Humana, sou demasiadamente humana.

A Teus pés, agora, imploro:
Ressuscita-me!
Só o Teu amor perdoa.
Só o Teu perdão me faz viver.

Ressuscita-me!
Dá-me de volta a vida,
Essa pérola que a alguns porcos entreguei.

domingo, 30 de setembro de 2012

FRESTA


(RÔ Campos)

Aqui, dentro do meu quarto
Sozinha... e uma multidão comigo
Faz frio, mas o cobertor me aquece
Não sei se é quente lá fora.

Penso em amores que se foram
Sem que eu quisesse que se fossem.
Penso em amores que nunca partiram
Mas que partiram meu coração.

Penso em amores que fugiram
E hoje, coitados, vivem no limo.
Penso em amores tão lindos, tão raros
E que ficaram para sempre...
(Doce ilusão!)

De repente, ouço uns ruídos
Como se os sinos dobrassem ao longe
A me lembrar de um amor batendo à porta
Que eu já deixei entreaberta...Mas não quis entrar, ainda.

Atenta, fiz na porta fechada uma fresta
Para o amor, temeroso, ver a luz
Mesmo que estreita
E entrar, ao deixar passar o medo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

TRISTE SINA TEM UM POETA DE LATRINA

Ah, quantas voltas essa vida realmente dá. Imaginar que a prefeiturável Vanessa, vinda do sul do país, foi construindo lenta e vagarosamente uma história política em nossa cidade...Eu, em várias ocasiões, votei nela para vereadora, e até mesmo para deputada federal. Admirava-a por ser uma educadora, por sua postura despojada, simples. Só nunca fui com a cara do marido dela, com aquele jeitão de comunista, que acabou se vendendo para o poder. E eis que, com uma carreira política sólida, muito facilmente poderia chegar à prefeitura de Manaus. Mas, destrambelhou-se, aliou-se ao poder podre e corrupto, começou a fazer um discurso homofóbico para agradar a gregos e troianos ditos evangélicos, até que um ovo talvez inventado abriu a casca e a podridão tomou conta. Dizia meu pai do coração: triste sina tem um poeta de latrina. Pois é.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

LAMENTO


(RÔ Campos)

O meu amor tá dormindo
Canto cantiga pra ele
Vejo estrelas no céu
Da janela dos olhos dele.

O meu amor é tão lindo
Que criatura mais bela
Tem o cheiro da flor
Se abrindo na primavera.

O meu amor é tão puro
Traz a beleza dos anjos
O quadro que Deus pintou
Nas paredes do meu quarto.

Mas o que faço, agora
Sem tê-lo, aqui, comigo
Niná-lo, não posso mais
Quem será o seu abrigo?

Rogo ao Senhor que o proteja
Nesses caminhos tão turvos
Não permita , Deus, que ele sofra
Será o meu maior lamento.

(Acabei de compor. Letra e música. Dedicada a uma criança linda e de muita luz, que se apossou de nossos corações)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

INVICTO


(RÔ Campos)

Abra os olhos
Olhe para o céu
Cuida que o inferno
Às vezes é teu vizinho.

Corre para os campos
Planta tuas flores
Saberás os teus espinhos.

Semeia e colherás
Tua mesa será farta
Os frutos de teus quintais.

Corre, que o tempo é curto
Agora, já é ontem
O amanhã também se vai.

Ama, acima de tudo
Porque, sem amor, tu não és nada
Serás vencido ao invés de vencedor.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

DEUS


(RÔ Campos)

Dizer boa noite que o dia vai chegar
Eu vou com Deus, acordar, amanhã
Quando o Sol entrar na minha casa
Onde mora Deus dentro de mim.

Eu nunca vou ficar, se tiver de partir
Eu nunca vou partir, se aqui tiver de ficar
Mas aonde quer que eu vá
Sempre haverá Deus dentro de mim.

Há muitos jardins em minha casa
Cedo acordo pra cuidar e durmo tarde
Alguns dias vem o Sol e brilha
Noutros, a chuva pra regar.

Há Rosas, Orquídeas amarelas, Margaridas
Cactos...também; verdinhos, cheios de espinhos
Com sede, sobranceiros, se mantêm
Vivos! Vivos! Assim são os meus jardins.

Dizer boa noite que a noite já se vai
Esperar o dia, quando o Sol bater na minha porta
Despertando Deus, que vive em mim
Porque Deus é o Eu que me governa.

domingo, 2 de setembro de 2012

SETEMBRO


(RÔ Campos)

Aonde me levará essa estrada? Aonde?
Sei que não tenho muito tempo, do longo tempo que já vivi, para o que ainda me resta. A saúde se abala, a mente grita, porque continua jovem no sentido de avidez da vida, mas o corpo não te deixa mais viver plenamente. O esqueleto padece com as ações do tempo, muitas vezes provocado pela tua falta de zelo.
E me pergunto o quê fazer, como exercitar a arte de esperar, a paciência, que é um exercício diário, quando não se sabe se vai acontecer, se o amor vai entrar, se vai valer a pena esperar (mas uma luz me acende a alma ao lembrar-me que o poeta afirmou que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"). Como conciliar a ansiedade, o querer logo, o querer tanto, a satisfação dos clamores do corpo, a chama que se acende, a vontade do afeto, com a sabedoria de aguardar o dia, trazido pelo tempo, que tudo apraza, quando já estamos no limiar da fronteira da vida plena para a vida em pedacinhos? Comecei esse setembro com a sensibilidade aflorada, como se em minha alma fosse inverno e a primavera querendo entrar antes da hora, uma primavera a desabrochar, exibindo toda a sua beleza e frescor, como se o amanhã fosse o hoje, para que ela demore a se ir de novo, receosa de que o tempo não lhe permita mais voltar.

sábado, 25 de agosto de 2012

ESCROQUE


(RÔ Campos)

A gente quase esquece
Da vida, do amor
Quando a pessoa que a gente sonha
Que a gente quer, enfim, aparece.

A gente se entrega
Deposita todos os sonhos em suas mãos
Acredita que está amando a pessoa certa
Tudo diz que sim. Nada nega.

A gente não quer mais saber do mundo
Não há nada mais lá fora
Dia e noite, cedo, tarde
Todas as horas se doando.

A gente, então, descobre
Que esse amor era mentira
Não passava de uma farsa
E o manto da dor desce e te cobre.
C

AMORES IMAGINÁRIOS


(RÔ CAMPOS)

Da janela do meu quarto
Vejo o mar, tão perto
Os pensamentos voam
Vão tão longe.

Aonde me levariam essas águas
Lá, do outro lado do mundo?
Quantas tempestades atravessaria?
Quantos seriam os meus dias de bonança?

Vejo os navios, ancorados, quem sabe marujos
Em solidão, à noite, contando as estrelas
Na imensidão do mar de águas turvas
Neste solo, visto do alto, emaranhado.

Aonde tu me levas, agora, pensamento
Senão a outros mares desconhecidos
Nunca dantes descobertos, vividos
De amores imaginários.

(escrito em 24.08.12, na janela da pousada Tambaú, à Av. Litorânea, praia do Caolho, de frente para o mar, na Ilha do Amor, São Luis do Maranhão, cujo Estado recebe esse nome em razão dos emaranhados que se vê em seu solo)

MOINHOS DE VENTO


(RÔ CAMPOS)

O mundo me ensinou
A flor que é a vida
Para muitos rosa desvalida.

O mundo me ensinou
Que a lágrima que caiu
Secou, sumiu.

O mundo me ensinou
Quem ontem me enganou
Hoje chora, sozinho, e eu sorrio.

O mundo me ensinou
Que não fui eu a vencida
E quem pensa que ganhou, perdeu.


domingo, 29 de julho de 2012

POBRE CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Estava me acostumando
A viver na solidão
Em meio à multidão de rostos.

Mas tudo muda, de repente
É um rebuliço, uma avalanche
Independe da vontade da gente.

Pobre coração!
Quer sofrer, quer chorar...
Por amor.

Pobre de mim
Que só sei viver assim
Com um amor só meu.

Samba de roda, a arte pura, o jeito de cada um.

domingo, 15 de julho de 2012

COMO PASSA O VENTO (RÔ Campos)



Você deixou passar, amor
Você deixou passar.

Estava tão ocupado
Que nem me viu chegar
E não percebeu
Que era a hora do amor
Ao mar se lançar, e amar.

Você deixou passar, amor
Você deixou passar

Te esperei tanto tempo
Quase desisti, mas...
Você chegou, de repente
Numa noite de domingo
Reavivou meus sonhos
Me fez acreditar
Numa nova forma de amar
Um amor tão bonito, infinito
Mas você sumiu, amor
Só me deixando o silêncio.

Você deixou passar, amor
Você deixou passar

Sabe aquele ditado:
A fila anda?
A minha fila andou, amor
A minha fila andou.

Um novo amor chegou
A jato, de boeing, sei lá
Foi tudo tão de repente
E você passou, amor
Como passa o vento.

A HORA E A VEZ. É como a Roda de Samsara.

SOBRE O SHOW "CORDA TOCA PIAZZOLLA)

(texto redigido em 12/07/2012 e publicado no meu mural no Facebook, ora publicado nesse Blog com alguns retoques) · Depois de dar uma passeada pelo Face, conferir minhas notificações, publicações etc., decido que está na hora de escrever sobre o show de ontem, do Grupo Corda, no Teatro Amazonas. A emoção foi tão grande que ainda não havia encontrado inspiração, palavras para falar sobre o que vi ontem no Teatro Amazonas. O show do Grupo lança o CD "CORDA TOCA PIAZZOLLA", que contém 9 músicas, todas de autoria desse incrível músico argentino, Astor Piazzolla, que voltou para sua Constelação há vinte anos. A abertura do evento contou com a execução da música As Quatro Estações, e eu só consegui assistir às duas primeiras, se não me falha a memória VERÃO e OUTONO. Fiquei atrás das cortinas, do lado direito do palco, pois a partir de 10 minutos do início do evento eu teria que ir à bilheteria, para fechamento do borderô e prestação de contas. Puxei um pouco a cortina para poder ver os músicos no palco, e fiquei praticamente de frente para Nicolay, no violino. Eu já andei mundo, vi muitas coisas lindas, mas, confesso...ontem foi demais. Como diria Daniel Taubkin, meu amigo no Facebook, foi de marejar os olhos, os quais, realmente, marejaram de tanta emoção. Resumi nisso, se é que seja possível resumir algo tão grandioso: O violino vibrava docemente, emocionadamente, alegremente...e também chorava; o violoncelo gemia; o baixo acústico orava; a bateria seguia o compasso, sutil, entre o lamento e o riso; o piano saltitava; a plateia, meio vazia de corpos, mas tão cheia de energia e emoção, parecia murmurar silenciosamente, tomada de paixão. E eu sentia que as almas dançavam...talvez Piazzolla, ou minhas outras almas, e tantas almas que já passaram por aquele teatro majestoso, singular, plural. E eu chorei. Chorei não pelos que podem ir a um templo desses, e não vão. Chorei pelos que gostariam de ir e não têm oportunidade, porque a arte, desde que o mundo é mundo, muitas vezes expressada por artistas despossuídos, não é feita para eles. A arte é para deleite das elites.

PACIÊNCIA

Meu amigo Álvaro José publicou, em seu mural no FACEBOOK, a seguinte frase: PACIÊNCIA É O INTERVALO ENTRE A SEMENTE E A FLOR". Simplesmente amei. Adoro trazer pra mim as coisas e ou pessoas que gosto, por isso a estou publicando aqui no meu Blog e tecendo comentários a respeito, o mesmo que já postei no meu mural no Face. Costumo dizer que paciência é um exercício diário. É difícil. Nós, seres humanos, temos uma natureza impaciente, ao contrário de outros elementos que também formam a natureza, e quase nada fazemos para conter essa impaciência. A maturidade funciona como uma luz para isso. Mas nem todo mundo consegue. Eu, com a maturidade, aprendi até a não ter paciência com o que não preciso mesmo ter, que é esperar, por exemplo, que de um certo mato saia coelho, ou que o príncipe encantado monte no seu bendito cavalo e venha me buscar. Enquanto isso, também não vou engolindo sapos. Viver a vida é o meu ofício. E, pra isso, tenho pressa, muita pressa, não dá para ficar esperando pelo que não vem.

O HOMEM (RÔ Campos)

Homens são tantos...poucos os machos. Às vezes me acho em alguns deles. Outras vezes, me perco. Homens são homens. Machos são homens. Mas nem todo homem é macho. Homem, pra ser homem, tem de ser macho. Macho não tem medo de amar, nunca foge do amor, não se arma para ir à guerra. Macho entra na guerra para à guerra por fim. Macho é educado, fino, abre a porta pra mulher entrar, puxa a cadeira pra mulher sentar, manda-lhe flores, recados pelo celular. Macho que é macho segura a mão da mulher, protege-a, por mais forte que seja a mulher. Mulher é mulher. Forte como o cinzel, frágil como uma flor. Mulher alguma jamais foi feliz vivendo sem laços, abraços, sorrisos, beijos, do homem de verdade, amado, um macho. Homens são tantos...poucos os machos. Um macho que também sabe a tristeza da mulher quando triste está, mas inda assim tem sempre um sorriso pra lhe dar. Um macho que se emociona, que chora, e não tem vergonha de chorar. Porque, disse o poeta, o homem também chora, também deseja colo, palavras amenas. Um macho que sabe a fraqueza dos fortes, porque não há fortaleza sem quedas. Porque não se ergue um muro sem a argamassa e o tijolo. Um completa o outro e erige-se o edifício, a morada.

QUANTO TEMPO! (RÔ Campos)

Cadê você? Eu nunca mais o vi. Temos corrido demais, e não há mais tempo para as coisas do coração. Andamos de mãos dadas com a velocidade. Corremos em busca de tudo, e nos deparamos sempre com o vazio, com o nada. Deixamos tudo para trás. Já nem sabemos fazer um afago. Ah, quanto tempo, quanto tempo! O cheiro da omelete. O café quentinho depois do almoço. As cadeiras na calçada. Os risos, as piadas. Os inesquecíveis brigadeiros. O churrasco, o papo com os amigos, uma loira gelada. Os passeios pela estrada. As sessões de Cinema em Casa. Quanto tempo! Quanto tempo! Cerro os olhos ... e já é dia. Toco as cortinas ... e já é hoje. Mas já passou. Amanhã ... o amanhã chegou. Ainda não li aquele romance de Guimarães Rosa, que ganhei de presente no último verão e esqueci no criado-mudo. Já saiu de cartaz o filme que estourou bilheterias : “O Último Romântico”. O Teatro Casa das Artes ruiu. Minha banda preferida veio ao Brasil. Não soube, não vi. Ainda não conheci minha sobrinha-neta. Tantas pessoas lindas encantaram-se. (Guimarães Rosa disse que as pessoas não morrem; elas se encantam). Fernando Pessoa? “Morrer é não ser mais visto”. Quanta coisa vivi. E quanta coisa deixei passar. Conheci Don Juans, homens bem intencionados e mandriões. Mentirosos, cafajestes, finórios, ingênuos. Soube de padres, bispos, políticos e outras espécies tais. Colei grau e me pós-graduei em zoologia. Aprendi um pouco sobre e com os animais. Quando criança, cri. Cresci crendo, Descri. Hoje creio muito mais. (Deus está além dessa divindade perversa, diabólica, punidora, arquitetada pelo homem). Minha crença em Deus caminha com o Darwinismo. Acredito que a natureza é uma Deusa. Grandes são os seus segredos. Profundos os seus mistérios. Nunca mais abracei meus filhos, beijei seus rostos. Nunca mais eles me elogiaram. As portas trancadas nos separam. Receio o futuro.. Tenho medo da frieza , do desprezo, do deboche. Ontem fui tudo, e hoje não sou mais nada. A velhice é inevitável para quem não morreu . E, então, perdemos a força. O olhar é cansado. As tempestades pesam como chumbo. Ventania! Quanto tempo! Quanto tempo! Minha mãe cosendo nossos vestidos pro Natal. As deliciosas rabanadas. O bolo simples. O brinquedo escondido debaixo da cama. A bênção na hora de deitar. Mama me desejando “boa sorte”. Saudades! Saudades! De correr no imenso quintal. De jogar bola de gude. E de tantas outras brincadeiras de criança... De pisar a terra. Dançar no bumbá Luz de Guerra. Quanto tempo! Quanto tempo! Nunca mais sentei num banco de praça. Nem levei as crianças ao Circo. Não sei quem é meu vizinho. Onde inauguraram o novo parque. Se é que há um novo parque. Quanto tempo! Quanto tempo! O ontem está tão perto e tão longe. Ando aceleradamente em busca do amanhã. Não existe mais tempo pra vida. Curtir · · há 3 minutos ·

terça-feira, 3 de julho de 2012

LUNA

(RÔ Campos)

Quisera ser como tu
Sair nua, na noite
Sem vergonha, sem pudor.

Quisera ser como tu
Me cobrir, me recolher
E não ter vergonha de voltar.

Quisera ser como tu
E, em mim, cada noite Ser como um amanhecer.
Quisera ser como tu
Alumiar, ter luz própria
E não temer a escuridão.

Quisera ser como tu
Sedutora, instigante, pura, nua
Sem me prostituir.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

CODIGO DA VIDA

(RÔ Campos)

É preciso ser feliz
Jogar fora, na lixeira
Essa droga de infelicidade
Quase um lixo nuclear
Uma bomba atômica
Capaz de nos explodir
Minar o coração.
Matar.

Não adianta viver, assim
Sem qualquer sentido
Sem saber pra onde ir
Mas, vamos convir
Que não tem valor algum
Uma vida assim, qual um robô
Ou um programa de computador.

É preciso amar a vida
Pois só quem ama, vive
E aquele que só é desamor
Nada sabe a respeito da vida
Nem acerca do amor
Porque só tem valor a vida
Uma vida feita de amor.

ALUMIAÇÃO

(RÔ Campos)

Lá se vai mais uma tarde
E o Rei Sol junto com ela
É o dia que se extingue, deita
E a noite que se avizinha.

O sol com ele leva a luz do dia
Mas a noite faz surguir a lua
Que vem lá detrás dos montes
Alumiando nossos corações.

E lá no céu tão grande, infindo
Surgem as Constelações
Com suas estrelas vibrantes, candentes
Fazendo arder o coração da gente.

Noite baixa, noite alta
No meu céu tudo é clarão
Não há a escuridão dos outros...céus
Cheio de estrelas em sua imensidão.

Ouço o sussurro da noite
Miro as estrelas dançando
Penso em tantas vidas que nunca viram
O Sol se pondo, a lua surgindo.

IGARAPÉS, CANOAS, BILHAS, PÚCAROS...RECORDAÇÕES

Sexta-feira passada deixei um casal amigo no bairro da Glória, e fiz o percurso de volta passando pela velha ponte de São Raimundo, e muitas recordações me invadiram a mente. Primeiro, porque meu saudoso pai trabalhou, como operário, em sua construção. Segundo, porque o igarapé de São Raimundo, que corre sob dita ponte, compõe com beleza indizível toda a minha infância, até meus quinze anos, quando nos mudamos da rua Boa Sorte, a qual finaliza exatamente no igarapé. Não me lembro de, na minha infância, tê-lo visto tão cheio como agora, quase pegando a ponte. Nossa casa ficava entre 200 a 300 metros de distância do igarapé, onde íamos nos banhar e passear de canoa, quando a água faltava em nossas torneiras (o que era corriqueiro), além de encher as latas dágua e carregá-las sobre nossas cabecinhas. Era a água para cozinhar e beber, que ia para a bilha, substituída mais adiante pelo púcaro ou pote, depois pelo filtro à vela. Hoje, lamentavelmente, se aquela água servir para aguar as plantas, é muito. Nosso igarapé, outrora de águas cristalinas, está totalmente poluído. O tão cantado e decantado PROSAMIM, serviu pra tudo, menos para saneamento dos nossos igarapés, que, ao contrário, foram aprisionados em canos. O fim da picada acontecerá se eles fizerem sob a velha ponte o mesmo crime que cometeram no igarapé de Manaus e sob a outra ponte da Sete de Setembro: lançar aterro, matando o igarapé de São Raimundo para construírem aqueles blocos de apartamentos, que já foram, inclusive, veementemente condenados por quem entende do assunto, vez que não guardam qualquer relação com as peculiaridades de nossa região. Se fizerem isso com o igarapé de São Raimundo, será mais uma relíquia de minha infância que se irá pelo esgoto, como o zoológico da Matriz, os balneários do Parque Dez, da Ponte da Bolívia e do Tarumã pequeno, a praça que ficava na confluência da Constantino Nery com o Boulevard Amazonas, onde costumávamos ir à tardinha, o balneário do Grupo Daou, lá pelas bandas do Japiim (acredito que seja por ali onde está construído o Studio 5, que, a propósito, pertence ao grupo Daou), onde fazíamos piqueniques memoráveis (meu tio Djalma Campos, irmão de meu pai, trabalhou durante muitos anos no grupo, gerenciando, inclusive, a Lisbonense. Alguém aí lembra dela???), o Cine Guarany, a Divina Providência (na Ramos Ferreira com Tapajós, hoje uma das unidades da Uninorte, que loteou e descaracterizou criminosamente o centro de Manaus), o cine Popular (o famoso Cine Puga), na rua Silva Ramos, atualmente mais uma unidade da Casa do Eletricista etc.etc.etc.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

NADA

(RÔ Campos)

Agora
Penso eu
Na vida
Na morte
Nas asas partidas
Numa viagem precoce.

Procuro um sentido
Onde não há sentido
Algum
No vazio
De um coração
Tão cheio.

Agora
Eu choro
Pelo que não vivi
Nem soube.

Hoje
Atravessou-me o peito
Um tiro
Traiçoeiro.
Deparei-me com ela: Uma cilada
Na estrada
Da vida
Correndo
Sangrando
Descalça.
Calcei as sandálias
Da humildade
Do pescador.
Descobri: Valho menos
Quê um nada

terça-feira, 19 de junho de 2012

QUANTO ABUSO E FALTA DE RESPEITO!

Estou simplesmente pasma com as cenas que acabei de ver no estacionamento da Caixa Econômica Federal, no Belvedere (e até fotografei, mas, analfabeta digital, não sei passar as fotos para cá. Mais tarde vou pedir ajuda a meus filhos para mostrar a vocês o porquê de minha indignação). Enquanto minha secretária estava dentro da CEF para resolver alguns assuntos particulares, fiquei dentro do meu carro, na rua, esperando uma vaga no estacionamento, o que o fiz em seguida. Percebi que havia duas vagas reservadas para cadeirantes, e uma para idoso, conforme determina o Estatuto do Idoso. Na primeira, destinada aos cadeirantes, antes de chegarmos já havia um carrão estacionado, do qual tirei a foto, com placa e tudo, e também da pessoa que o dirigia, quando retornava do banco e entrava no veículo, de pés no chão (eu diria, lindo e maravilhoso, se não fosse a sua falta de educação e respeito ao próximo, e o acinte de sua atitude). Na segunda vaga, saiu um carro e entrou outro, de onde desembarcaram várias pessoas, andando com as próprias pernas, às gargalhadas, como se fossem todos cegos e não vissem a enorme placa estampando uma cadeira de rodas, inclusive no chão. Infelizmente não consegui tirar as fotos desses parasitas, quando deixavam o veículo, muito menos quando retornaram, pois, nesse caso, eu já havia me retirado do local. Na vaga destinada ao idoso, estacionou um veículo, cujo motorista de idoso nada tinha, mas sim uma cara de perreché. Atrás dele, estacionou um outro carrão, de onde saiu um homem vistoso, com cara de bonitão, com cerca de 40 anos. Nesse interregno, chegou um idoso, que, felizmente, encontrou uma vaga ao lado daquela destinada aos velhinhos, e, quando saiu do carro, o imbecil que havia estacionado em sua vaga retorna ao veículo e começa a fazer malabarismos para sair, em razão do outro imbecil que estacionou atrás dele impedir-lhe de fazê-lo normalmente. Por fim, na entrada da primeira vaga destinada aos cadeirantes (já liberada pelo bonitão do carro verde), para um motociclista e deixa a moto ali estacionada, quando havia um local, ao lado, onde poderia muito bem estacioná-la. Enfim, num espaço de tempo em torno de 30 minutos deparei-me com tudo isso e fiquei a conversar com os meus botões, dizendo-lhes que esse povo está muito longe da civilização. Sim, porque ser civilizado é, acima de tudo, respeitar o outro.

domingo, 10 de junho de 2012

Acabei de compor. Dedicado a Luzinete, a Babá de meu ex-marido Eugênio, e de seus irmãos, e mãe de Cícero. Iá, Iá era minha ex-sogra, que faleceu há alguns dias, em Garanhuns. Babá vivia com Iá, Iá há mais de 50 anos. Eram unha e carne. Dona Iá, Iá tinha mais de 80 anos, e Babá está perto disso, uma negra tipicamente africana, sem estudos, mas de uma sabedoria encantadora. Fiquei aqui a imaginar como Babá está passando esses dias tão tristes. Uma sempre prometia a outra que, quem partisse primeiro, voltaria para levar a outra. Essas coisas do coração do Nordeste. Ambas nasceram em terras de Garanhuns. Babá, no Molungu, uma comunidade de maioria negra, ou distrito, ou coisa parecida, em Garanhuns, que eu e meus filhos tivemos o prazer de conhecer e viver alguns belíssimos dias. Inesquecível!!!!!

ME LEVA, IÁ, IÁ

Iá, Iá
Doce Iá, Iá
Chegou o dia
E, agora,
Como seguir
Os passos da vida
Ser malabarista
Sem você aqui,
Junto de mim?

Iá, Iá
Doce Iá, Iá
Você jurou pra mim
Tantas vezes
Que não iria
Partir
E me deixar aqui
Assim
Sem saber o que fazer
De mim.

Iá, Iá
Doce Iá, Iá
Tá tudo escuro
E é tão triste
Pois a nuvem em que partiste
Não voltou pra me buscar.
Me leva, Iá, Iá, me leva
Ouça-me, sou eu, Babá
Nada aqui faz mais sentido
Me leva pro teu lado
Pra junto de Deus
Pra modo a gente pedir
Pelos filhos que aqui ficaram
Os filhos que são teus
Também filhos meus
Teus e meus
Iá, Iá.

DÓI DEMAIS


(RÔ Campos)

Eu queria ao menos
Que viesses um dia, um dia apenas
Que fizesse valer todas as penas
Que foi viver sem ti.

Queria ouvir falares
Sobre todas as tuas penas
Para que as minhas penas
Me parecessem pequenas.

Queria te ouvir, coração partido
A me pedir perdão
Por teres jogado na rua, na lama
Tanto amor, tanta paixão.

Queria ouvir teu coração, batendo
Junto ao meu coração, quase louco
Me dizendo como dói demais essa dor
De só se compreender o amor
Quando ele já partiu, morreu.
Hoje, João Gilberto completa 81 anos. Uma vida de polêmicas, de amores e de queixumes. Mas, acima de tudo, uma história de amor com a música. Isso, ninguém lhe pode roubar: a memória de João Gilberto espalhou-se pelos quatro cantos do mundo, e, junto a ela, a refinada música brasileira, que, ao contrário da telomania, não mata, e, sim, torna a vida mais colorida, mais rica, mais charmosa, uma flor que desabrocha. ">

NÃO SEI

(RÔ Campos)

Você se foi
Você se foi
E eu nem sei pra onde
Não me disse nada, nada, nada
E me deixou assim, tão vazia, calada
Náufraga, perdida, abandonada
Longa travessia, sozinha
Noites sem lua, sem estrelas
Procelas! Procelas!

Você se foi
Você se foi
E até hoje eu não sei
Onde é que você se recolheu
Nem o que fez dos sonhos que apanhou
Nos tempos de colheita
(Quando o nosso amor floresceu)
E guardou com tal zelo
Nas cestas de vime, forradas de seda.

Você se foi
Você se foi
E agora, meus olhos, insones
Tão tristes Tão tontos
Escancaram as janelas desbotadas
De minha alma sofrida
Que há muito não sabe, desconhece
O que acalma, o que é guarida.

sábado, 9 de junho de 2012

AUSÊNCIA

(RÔ Campos)

Saudade não tem idade
Quando chega, não é mentira
É a doce lembrança que vem à tona.
Saudade... É como a alma se agitando
De repente.

Saudade, ambígua
Para uns, ferina
Para outros, bálsamo.

Saudade, é o que sinto agora
Do que vivi, outrora
E hoje mora em minhas memórias.

Saudade de alguém
Que partiu num dezembro
E nunca mais se viu janeiro.

A COR DA VIDA

(RÔ Campos)

A cor da vida é o que me acorda
O cheiro da flor e o perfume das rosas
A luz da lua ao luar e o brilho das estrelas
Os raios do Sol... fotossíntese
A cor da vida
A síntese da matéria...orgânica
Clorofila, o verde.

Os prantos da Lua cravejam minha face
Não, não há só uma Lua
Muitas são as Luas em cada ser
(Quanto pecado!)
Pois a Lua que derrama seu pranto em mim
Não é a mesma Lua de Pequim.
A minha Lua é sempre nua
Livre, liberta, libertina
Não segue nenhuma regra
Não reza.
É a própria oração.
A lua de Pequim é tristeza
Sofreguidão.

NOVE DE JUNHO

(RÔ Campos)

Onde foi que você se escondeu? Te procurei todos esses anos. Vasculhei todas as redes. Tornei-me detetive. Pensei em todas as chances, hipóteses. Pensei em ti, em mim. Lembrei dos momentos que deixamos de viver, quando ainda éramos tão jovens. Mas já ali eu bem sabia que não haveria o amanhã para nós dois. Então, muitos anos se passaram, quando naquele nove de junho surgiste do nada...E assim também sumiste na estrada da vida, em que parecia andavas em linha reta. Quedar-te em minhas curvas, pensaste uma atitude insana, perigosa. Não valeria a pena, uma noite, apenas uma noite, e, quem sabe, toda uma vida de culpa e arrependimentos. Mas, inda assim, me fizeste tantas juras!: Que teus olhos não se esconderiam mais dos olhos meus. Que tua boca não se fecharia mais aos meus ouvidos. Que o silêncio - esses ruídos do Cosmos - seria banido de tuas intenções e atos. Foram todas juras mentirosas. Ou, se eram verdadeiras, a mantira as corrompeu. É, às vezes a verdade se esconde e a mentira bate pernas, ganha o mundo, ganha asas, alça vôo. Desapareceste desde aquela noite. Não me deixaste uma pista, uma oportunidade de nada. Um telefone. Uma palavra qualquer. Hoje, não sei mais da tua vida, nem dos teus amores e louvores, nem de tuas guerras, das batalhas que perdeste nem das quais saiste vitorioso. Hoje, só sei do teu sorriso na hora da partida. Desde aquele momento, não sei nem quem foi aquele que ficou atrás da porta que se fechou atrás da mim. E, afinal, também não sei dizer se aquele com quem eu estivera instantes antes, era o mesmo homem que conheci e amei na tenra juventude. Talvez não. Tudo muda. Ninguém é sempre a mesma coisa. Apenas a essência...essa permanece. Onde foi que você se escondeu? Preciso saber. Antes que seja tarde. Antes que eu também esqueça de ti lembrar. Por enquanto, ainda recordo aquela última vez. Era nove de junho. Estavas triste, e eu, amargurada. Tuas tristezas...o tempo as deve ter levado. Minhas amarguras...delas eu me libertei.

NATUREZA

(RÔ Campos)

Quão vasta és tu, minha mãe, quão farta, quão pura!
Quão pequeno é o homem, quão carente, quão impuro!
És tu quem me sacia a sede, a fome.
Sou eu que te esbulho.
Toda vida provem de ti.
Eu te sugo até a morte; tua fartura não me basta.
E, tenho dito: és rica, abundante, generosa, casta.
Ferida, jamais perdoas, torna-te madrasta.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

ASCENSÃO E QUEDA DO IMPÉRIO DOS LINS

Acabei de ler matéria em A Crítica de ontem (5), sobre a cassação do (deputado federal) Átila Lins. O que mais me chamou a atenção foi saber que o dito-cujo, no sexto mandato, foi eleito com 131.429 votos, sendo que 113.681 foiram no interior do Estado e apenas 17.748 em Manaus. A mesma matéria cita que seu irmão Belão (que, na minha opinião, de belo não tem nada - como um certo cantor de pagode que andou envolvido até o pescoço com o tráfico de drogas), deputado estadual, também responde a um processo com pedido de cassação com o mesmo teor do que cassou seu irmão Átila (homônimo do célebre rei Huno, também conhecido como Praga de Deus ou o Flagelo de Deus, figura lendária da história da Europa, considerado principalmente na Europa Ocidental como paradigma da crueldade e da rapina), e que o relator do processo do Belão é o juiz Marco Antonio Pinto, que votou pela cassação de Átila. Leio, ainda, que Belão foi eleito com 46.374 votos no interior, e apenas 5.718 votos em Manaus. O que concluo: o feudo dos Lins, alvo de altíssima rejeição na capital dos trópicos, e que se mantém à custa do nosso caboco, que sobrevive a duras penas em meio ao desespero das enchentes e vazantes e sob a omissão e descaso do poder público, começa a ruir. Sinais dos tempos. Quando já então que num passado não muito distante poderíamos sequer sonhar com a queda do império dos Lins???? São os ventos da democracia, essa jovem menina libertária...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

SOBRE A CASTRAÇÃO DE PEDÓFILOS

Acabo de ler matéria em A Crítica, de hoje, sobre a castração de pedófilo costumeiro na Coreia. Leio, também, que o Senado brasileiro adiou a votação da inclusão da pena de castração química para abusadores sexuais de crianças. Mais adiante, constato que a American Civil Liberties Union é contra a administração de qualquer droga, incluindo fármacos, para criminosos sexuais. Alegaram, em 1977, que obrigar a química foi uma "punição cruel e incomum", e, assim, constitucionalmente proibida pela Oitava Emenda à Constituição dos EUA. E eu, então, fiquei aqui a conversar com os meus poucos botões: Crueldade mesmo é o que essas bestas fazem com as nossas crianças, o que, aliás, tornou-se comum. Muitas vezes a exploram sexualmente e matam-na, em seguida. Quando as deixam viver, levam marcas profundas até o fim da vida. Antes eles, do que as nossas criancinhas. Para mim, é uma questão de escolha: ou poupam-se os inomináveis pedófilos e sacrificam-se as crianças, ou protegem-se as crianças e penaliza-se quem efetivamente deve ser penalizado. E, não tem outra - só uma pena radical, cortando o mal pela raiz, literalmente falando. Não há meio termo, nem desculpa de "direitos humanos". Não pode haver direitos humanos para bandidos e seus crimes hediondos, e, do outro lado, criancinhas indefesas e adulteradas, sem ter direito à dignidade e à vida.

A COR DÁ

(RÔ Campos)

Há dias, sinceramente, que eu acordo, me levanto, e não sei pra onde ir. Há dias que me indago, e não me respondo. Há dias que procuro nem eu mesma sei o quê, e nada encontro. Há dias que não durmo. Há dias que não sonho. Há dias em que nada faz sentido. Há dias que duvido de tudo. Há dias que tenho vontade de chutar o pau da barraca, me mandar nem eu mesma sei pra que lugar. Há dias que nada me satisfaz. Há dias em que sinto um vazio...um vazio de tudo. Há dias em que, se pudesse, mandava o trabalho pro espaço, mas eu não posso. Há dias em que a minha vontade é ficar deitada numa rede, vendo o tempo passar. Há dias que não tenho coragem de fazer qualquer coisa. Tudo é um nada. Há dias que parece que o tempo parou. Hum horror! Há dias que não sei o que é tolerância, paciência, a espera...a esperança. Ainda bem que, em todos esses dias, eu acordo dessa letargia, mesmo que seja a ferro e fogo. Tenho fé na vida. É a cor da vida que me acorda.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

CORAÇÃO EM CHAMAS

Tenho um hábito de, sempre que acontece um fato, uma tragédia ou uma alegria, colocar-me no lugar da pessoa afetada e escrever uma poesia. Por isso acabei de escrever esta abaixo, com o coração bem apertadinho. Ontem à noite, um frio assassino matou Orestes, quando chegava em sua casa, no conjunto Petros, por volta de 22:00h. Eu morei alguns anos no Petros (1984 a 1987), e muitos parentes e amigos meus até hoje residem lá, inclusive a vó paterna de meus filhos, o pai, tios e primos deles, minha irmã Rosalba (a mãe da Fernanda Furtado) com seu marido Puff, os pais de Adriana Vasco (a namorida do meu filho Bruno) etc.etc.etc.. A mãe de Orestes (D. Anália) mora há mais de 30 anos na casa que fica quase em frente àquela em que eu morei, na rua Benjamin Benchimol. Meu filho Éric me disse, hoje à noite, que ela está muito velhinha. Eu pensei em sua dor, porque não existe dor maior no mundo do que a de uma mãe que perde seu filho, ainda mais de uma maneira tão covarde. E eu também pensei na dor do filho do Orestes, que perdeu seu pai querido, amantíssimo, e com o coração em chamas escrevi essa poesia. Eu te perdôo E eu não te perdôo. Eu te amo E eu também te odeio. Não sabes o que é um pai; Talvez não o tenhas. Então eu te perdôo Por teres tirado a vida do meu. Mas eu também não te perdôo (Esse é um direito meu!) Pois, mesmo não sabendo o que é um pai, Covardemente me roubaste o meu. Eu te amo, porque o ódio é uma vileza. Mas hoje eu te odeio, Pelo sangue derradeiro de meu pai A se derramar sob tuas mãos imundas

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A BURRICE DOS CRISTÃOS EVANGÉLICOS

(Helder Bentes) (Estou publicando aqui no meu blog este maravilhoso texto escrito pelo meu amigo Helder Bentes, lá das terras do Pará, onde nasceu minha mãe querida. Absolutamente impecável, razão pela qual fiz questão de publicá-lo aqui no blog, para que meus amigos possam também deliciar-se com sua leitura). Se o diabo existe, como signo do mal que sabota o bem, esta criatura decaída chama-se burrice, preconceito religioso, discriminação, intolerância, radicalismo, fundamentalismo, bestialidade, idiotice e imbecilidade de pessoas que se dizem cristãs, mas não se deixam conduzir pelo Espírito Santo de Deus, ou pensam e acreditam pretensamente que o Espírito que lhes fora conquistado na Cruz de Cristo é um deus ou um ídolo que se subordina a todos os julgamentos pré-concebidos nas tradições deste mundo, da vida social, política ou econômica. Cada vez mais eu consigo perceber a notoriedade do joio que cresce no meio do trigo, a carência de operários para a messe, talentos sendo enterrados por omissão ou covardia deslavada, em nome de uma obediência passiva e totalmente irresponsável; Deus sendo reduzido pelos próprios cristãos a versões de um deus conveniente e conivente com as mazelas e precariedades humanas. Quando é que os cristãos, que vivem não se multiplicando, mas se dividindo em igrejas, congregações e denominações, cada uma se proclamando “vontade do Senhor”... Quando é que esses cristãos vão entender que a vontade divina é que haja um só rebanho e um só pastor? Quando os que aceitam Jesus vão aceitar também as categorias marginalizadas de seu tempo, exatamente como Jesus fazia? Será que não entendem que a proposta de Jesus é acabar com a marginalização? Será que não entendem que uma sociedade dividida em marginal ou periférico e central, não importa qual seja o critério, é um modo de organização social que não tem nada a ver com o que Jesus pregou, exemplificou, praticou e defendeu até a morte? Quando as portas de uma igreja evangélica ou cristã estarão verdadeiramente abertas, sem pré-julgamentos, para gays, lésbicas, bissexuais, prostitutas, garotos de programa, travestis, transgêneros, ladrões, assassinos, pervertidos sexuais, criminosos, viciados em droga, álcool, jogatina, sexo; adúlteros, traídos e traidores, praticantes de aborto, mães solteiras; pais, filhos e outros parentes que se abandonam mutuamente; deficientes, pessoas inúteis para o serviço pastoral ou para a contribuição do dízimo, pessoas que pensam e que têm coragem e argumentos inteligentes, inteligíveis e tangíveis que poderão estimular o debate e as mudanças subjacentes a uma verdadeira conversão? Esse papo de que Deus ama o pecador, mas abomina o pecado é óbvio, mas ineficiente sobre o espírito de um pecador que peca justamente porque não se sabe, nem se sente amado. Sim, se não houvesse pecado justo, do ponto de vista humano, Deus não se teria feito homem, para nos salvar. É um dos muitos preconceitos cristãos achar que o pecado não tem lógica. Há uma lógica racional no pecado, mas os missionários evangélicos estão preocupados apenas em combater as práticas devocionais católicas ou de religiões pagãs, no que eles mesmos chamam de batalhas de nível estratégico. E se esquecem da batalha que deveriam travar contra a indústria da música gospel, que gera idolatria, que por sua vez também não consiste somente em adorar imagens de santos. Esquecem-se da indústria do dízimo e da indulgência. Aliás, não foi a venda de indulgências que motivou a reforma protestante? Pois é. Na Igreja Católica não se vendem indulgências há muitos séculos. Desse pecado os católicos parecem haver se redimido, mas vai numa Quadrangular da vida, numa Universal do Reino de Deus, numa Mundial do Poder de Deus, Assembleia de Deus, Deus é Amor, Batista Não Sei Das Quantas, Missionária Não Sei O Quê... Enfim, vai numa dessas denominações que criticam as devoções católicas como idólatras, mas vivem inventando correntes e práticas devocionais de milagre tão fácil e rápido que nem presta, enganando a boa fé de pessoas humildes, explorando suas necessidades e limitações. Sem falar na indústria da “evangelização” pela TV e outros meios de comunicação. Já viram quantos canais existem, seja na TV aberta ou por assinatura, com este pretexto? Sabem quanto custa manter um canal desses no ar? O Evangelho de Jesus virou mercadoria de autoajuda. Sua mensagem foi reduzida, pelos próprios cristãos, a um discurso que se repete (e é aplaudido) em circuito fechado, como num clube de “gente salva” que “se acha” melhor que todos os outros que “não conhecem a verdade”. Pra mim não existe estratégia de evangelização mais idiota! Se é que o substantivo “estratégia” cabe a este fenômeno banal de bestialidade que o Jesus que se nos revela no Evangelho rejeitaria logo de cara. Parece que se esqueceram do que significa ser nova criatura em Cristo! Ou nunca souberam! Aquele que está em Cristo já morreu para o mundo, mas sua carne permanece viva, e este corpo pode lhe acarretar a morte, sua e de outros que ainda estão dependendo de seu testemunho para crer em Jesus também. Padre Zezinho – que é um padre, viu? “Evangélicos”! – afirma que há quem não acredite em Jesus porque os seguidores dele falam sobre ele, mas não fazem como ele. Eu acredito que o número de pessoas verdadeiramente em processo de conversão diminui à medida que aumentam os preconceitos cristãos contra ateus, agnósticos, adeptos de outras religiões e pessoas marginalizadas nesta sociedade que justifica seus preconceitos com base em “valores” judaico-cristãos. Acreditam na Bíblia como Palavra de Deus, mas não sabem sequer lidar com a palavra do homem, quanto mais com a de Deus. Acham que a palavra atribuída a Deus não deve ser interrogada, questionada, perguntada, criticada e tem de ser “lida” (leia-se soletrada, entendida em termos referenciais, literalmente ao pé-da-letra) e depois aceita. Simples assim! É um festival de “eu concordo, eu creio, oh glória, aleluia, amém” que faria nojo até a Jesus, que fora bastante enfático: “Nem todo aquele que me chama Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus”. Gente, Jesus debatia a palavra com fariseus e doutores da lei! Foi ele mesmo quem disse que veio para levar a lei e os profetas à perfeição. Como algo pode atingir a perfeição descontextualizado dos fatores reguladores de seu significado ou adequado àquilo que um determinado grupo quer que seja verdade? A Igreja, que não é nem Católica e muito menos protestante, a Igreja de Jesus, aquela edificada sobre a pedra alicerçada em Cristo, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão, precisa urgentemente adotar, como estratégia de evangelização do século XXI, a pastoral interrogante de Jesus, aquela que educa o cristão para o pensamento, porque mais pergunta que responde. Não estamos mais na Idade Média e muito menos em tempo de fazer alianças com partidos políticos ou religiosos. O Deus em quem acreditamos foi assassinado justamente porque se recusou a fazer essas parcerias. Morramos com ele, se preciso for, e com ele, por ele e nele ressuscitaremos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

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(RÔ Campos)

E ela, então, ficou a indagar ao nada: O quê vou fazer, amanhã, quando acordar,
Se eu sei que ele não vai voltar?
Eu, ouvindo os pensamentos dela,
Fiquei a falar ao vento: Diga a ela que, se ele não volta,
Mesmo assim, a vida há de continuar.
Ficar, não faz sentido.
Viver, é o que importa.
Abrir a porta, pra vida entrar.

sábado, 14 de abril de 2012

VELHO ARMANDO, SEU BOTECO E EU

Até agora eu nada falei sobre a partida do velho Armando de guerra. Depois desse artigo do Bessa, então, é que me calo. Mas, confesso-lhes, quando eu estiver desvivendo, as muitas histórias que vivi naquele boteco, com certeza, passarão pelos meus olhos. As quatro últimas (com Armando, óbvio, ainda vivo), então, nem se fala. Foi lá que conheci Marcelo, o hippie, sob o olhar assustado do velho Armando e de D. Lourdes, quando nos viram aos beijos (dois meses após termos nos conhecido, no dia 29 de setembro de 2010, aniversário do Marcelo). Eu e meu mano Antonio Pereira estávamos lá no Tacacá na Bossa e, ao término, rumamos pro boteco para tomarmos umas geladas e batermos um papo. Pereira já conhecia Marcelo há algum tempo. Ele juntou-se a nós, ficamos cara a cara...e eu me apaixonei por aquela criatura franzina e linda, e por sua história que carregava numa mochila. As garotas atendentes do ET BAR (outro que, com certeza, estará presente no momento da minha desvivência, até porque, dentre outras coisas lindas que vivi ali, foi lá que começou a nossa história, quando o dia 20 de novembro de 2010, sábado, começava a nascer, exatamente o dia em que também nasci há 53 anos) o chamavam de VIDA, porque, ao perguntarem a ele o que carregava naquela mochila entupetada, respondia: a minha vida. É por obra de Marcelo que tenho uma recordação material de Armando, além do bar, é claro: um jaleco branco que o nosso amado velho deu para Marcelo, não me perguntem por que. Quem sabe...para eu ficar de recordação!!!!!

‎("O Armando da BICA", por José Ribamar Bessa Freire
http://rogeliocasado.blogspot.com.br/2012/04/o-armando-da-bica-por-jose-ribamar.html
De: Rogelio Casado)

terça-feira, 3 de abril de 2012

CRIANÇA DE 12 ANOS, ESTUPRADA. STJ DIZ: PROSTITUTA.

Quem vai cuidar de nossas crianças?
E os criminosos - o que será feito deles?
Continuarão soltos, impunes, loucos, insanos?
Ou encarcerados, festejando, debochando de nossa cara?

Tanto faz! Tanto faz!
O que faz, então, a diferença?:
- Ora, pois - essa infeliz crença da justiça
Da infância prostituída.

Não são suas - essas crianças
Violadas, de vidas extraviadas, perdidas
As suas estão em suas casas, fortalezas
Bem vividas, bem criadas, protegidas.

Juízes! Juízes!
Assinem em cima, embaixo
Avalizem esse holocausto
E aguardai a sentença final, que será lavrada com o sangue em seu quintal.

terça-feira, 27 de março de 2012

LUCAS...E ERA SÓ UMA CRIANÇA!

(RÔ Campos)

Para onde foi a pureza de Lucas? Para onde? Vidas extraviadas, impiedosamente, covardemente, impunemente, como se fossem vermes nojentos...e são só crianças. Crianças vítimas de pais desestruturados, bêbados, drogados, que, por sua vez, são vítimas de seus pais, e aí o mundo vai girando, girando, girando, sem que a miséria tenha fim, sem que essa condição de miserabilidade extrema receba uma luz. Mundo estúpido. Gente estúpida, indiferente, fria, vazia. Escravos do dinheiro, da hipocrisia, da luxúria, da ganância desmedida, crueis avaros.

Meus filhos, aos doze anos, eram meus anjos, minhas crianças, que contavam com meu colo, com meus cuidados, com minha vigília, com os meus olhos. Lucas, aos doze anos, não teve olhos sobre ele, não teve amor, não soube o que era cuidado. Enveredou por caminhos oblíquos...não sabia o que era reto. Uma criança desamparada, machucada, adulterada...caindo nas teias do tráfico. E era só uma criança.

E onde estava o Estado, que afirma os direitos das crianças nas letras, nas palavras, na dita Carta Magna...e nega esses direitos, na realidade? E era só uma criança, que quedou nos braços armados do crime...e acabou, aos doze anos...degolada. Foi isso que disseram os jornais. E lá se vai o corpinho de Lucas, carregado pelos policiais. Agora, já não há mais tempo. Lucas, que não teve tempo pra sonhar, já não acordará. E era só uma criança. Doze anos, como doze - dizem os livros - eram os discípulos de Jesus, o Cristo. Doze homens. O que mudou no mundo de lá pra cá? Mudou? E agora, Lucas, quem te ninará?

segunda-feira, 19 de março de 2012

CANTIGA PELA VIDA

(RÔ Campos)

Voa passarinho,
Bate tuas asas.
Canta um canto ao voar,
Canta a vida, sabiá.

Sabia, sabiá,
Sabia, sei,
Que um dia eu serei dele,
E ele meu será também.

Soube, naquele dia,
Meu sabiá, era tarde
Quando te ouvi cantar,
Na janela do meu quarto.

Logo depois, partiste, alegre,
E eu, aqui, fiquei triste.
Mas chegou o ben-ti-vi,
E se pôs a cantar - e eu sorri.
Verdadeiramente, a música é um ser vivo, pulsante, uma Entidade corpórea, uma energia que orbita em torno de tudo que vibra, que vive.


sábado, 17 de março de 2012

POEIRA

(RÔ Campos) Quem pensas tu que és Se não és nada. (Não vales mais que um espirro!). Que pensas? Que pensas? Se o ar que aspiras te é dado. Quem pensas tu que és Se o sol que te dá vida não é vendido; Se a água que te sacia tem uma nascente, E não foste tu que a fizeste. Quem pensas tu que és Se quando aqui puseste os pés estava tudo pronto; Se o dinheiro que escondes é o teu engodo. Quem pensas tu que és Se aqui chegaste de onde; Se vem a fúria do vento e tudo arrebenta; Se a natureza inclemente te reduz. Quem pensas tu que és Se, sozinho, não és nada; Se os abutres na estrada Pinicarão tuas vísceras? Quem pensas tu que és Se amanhã a luz pode te faltar, A visão pode te trair, E a vida, emudecida, pode partir?