segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O MEU LUGAR


(RÔ Campos)


Oh! Meu Deus! Meu pai!

Não  sei mais o que fazer

Se fico em casa com essa tristeza me sinto segura

Mas minha felicidade mora no lado de lá. 


Aqui dentro vejo o dia amanhecer, a noite chegar,

Ouço  os pássaros cantando,  vejo o sol se pondo,  a lua  chegando

Meu coração  acelera, quer bater pernas,   ganhar o mundo, 

Mas o medo fala mais alto e logo vem me acovardar.


Eis-me aqui  nesse duelo medonho

Entre a alegria e a  cruel melancolia

A sede e a vontade de beber:

Se ficar dizem que posso escapar 

Se sair o  maldito corona pode me pegar.  


Por isso eu te peço, meu Deus! me proteja

Me deixa ir aonde chora o cavaquinho, ronca a cuíca,  retumba o surdo, toca o pandeiro, cantam os poetas e as poetisas, as cabrochas sacodem as cadeiras, chacoalha  o meu ganzá... 

É  lá que a tristeza vai embora e  sou feliz.  É  lá o meu lugar.

domingo, 20 de setembro de 2020

ENCANTADO

 (RÔ  Campos)

Hoje vi teu sorriso aquele mesmo

Que numa noite feliz se abria 

E quando se fechava tocava meus lábios por inteiro. 

Estava estampado em postagens no Facebook 

De amigos parceiros saudosos. 

Te foste assim tão  ligeiro menino

Para habitar constelações  outras

E no nosso céu as estrelas se recolheram. 

Para driblar a saudade deveras fustigante  

Resolveram  brincar  de fazer de conta

Mas quando se deram conta

Todos contavam  a mesma dor. 

Te foste assim tão ligeiro poeta

Que poesias tantas deixaste aos pedaços que agora são rastros nas trilhas traçadas  nas noites insones a vagar 

E no coração de quem tanto te ama tão cheio de ti um vazio profundo.

Muitos ainda  se fazem perguntas

Como baratas tontas  que se põem  a voar.

Por onde andas a poetar agora  ninguém sabe 

Alguns se lançam em elucubrações tantas querendo te encontrar. 

Mas deixaste tudo de ti nas tantas poesias que compunhas

Essas canções que nos falam da terra,  do ar,  do fogo, do amor, da  beleza,  do ser e existir. 

Te foste assim tão ligeiro menino

Com o grito preso na garganta da gente 

O jantar posto na mesa, a cama arrumada, a vela acesa.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

OS VERMES PASSAM


(RÔ Campos)


A esperança nasce de onde não se sabe, 

A esperança vem de onde não se tem.

Porque há que se reunir forças onde  só resta o cansaço,

Escolher entre seguir ou ficar,

A Vitória ou o fracasso. 


A verdade um dia  haverá  de emergir dos pântanos em  que chafurdam as escórias,  as bestas,  os monstros sebosos.


A História haverá de contar, ainda que em versão dupla face, 

Quem perdeu,  quem ganhou.

Mas,  acima de tudo, nos resta a nós,  o povo,   um consolo,  uma convicção: tomando por empréstimo o que declamou  o poeta: nós,  passarinho,  eles passarão...

Como passam  os vermes que, antes, se proliferam  nos intestinos da sociedade,  e seguem para o esgoto da História...