terça-feira, 22 de novembro de 2016

MESMO QUE SEJA TARDE


(RÔ Campos)

Não chores não, amor, agora,
Já é passada a hora
Da tristeza no teu coração morar.

Deixa-me ser teu palhaço,
Um bobo na tua corte,
E te fazer chorar de tanto rir.

Eu sei, é tudo tão difícil
Quando as primeiras horas
Desde logo vêm nos desafortunar.

Ainda me lembro bem de ti,
Pequenina e frágil correndo nos quintais,
No meio das manhãs girando feito os girassóis...

Já fizeste tantas travessias,
Atravessaste tantos temporais,
Lutas venceste tal David contra Golias.

Espera mais um pouco, é o que te peço.
Eu te prometo, hei de realizar
Os nossos sonhos, os mais loucos.
Mesmo que sejam poucos
Os tempos que nos restem 
De luz a réstia desfrutar...

Espera que a noite vai embora.
Há de chegar a sua hora,
E de despontar no tempo a tua aurora.

Deita e dorme o sono dos famintos.
Fecha a porta dos teus olhos lindos,
Que a paz vem te acalantar.

Sonha! Sonha muito!
Vais pensar que os sonhos são reais,
E serás princesa em teu castelo interior. Te libertarás.

E quando na manhã seguinte despertares de teus sonhos,
Não quererás deles te apartar jamais.
Libertas quae sera tamen!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

UM NOVO TEMPO


(RÔ Campos)

Hoje é um novo começo.
Não releva o que ficou pra trás.
O passado guarda o que o tempo leva,
Envolvido no éter que tudo grava.

Agora, rabisco um novo rumo,
Com as mesmas tintas
E as mesmas mãos calejadas.
Mas, a dos primeiros desenhos...
Essa, há muito ficou pra trás.

Trago encimado no peito o desejo
Da vida viver, sem temer,
As verdades que nunca escondi.

Agora, faço das coisas silêncio,
Porque assim a vida me ensinou:
As verdades... quase ninguém sabe ouvir.
As mentiras...a essas lhe dão tal valor.

VIDA NA MINHA VIDA

(RÔ Campos)

Ele vivia em uma casa que não tinha portas nem janelas· Todas as suas posses era uma grande e pesada mochila que carregava nas costas franzinas · E, como companheira, uma estrela solitária que se punha a mirar, dizendo, feito criança: "olha, essa é a minha estrela!" · E carregava também no coração uma inquebrantável fé em Deus.

Na mochila, levava o armário do quarto, uma bolsa contendo as ferramentas e a matéria prima de seu trabalho com a arte· Além de uma pequena caixa onde guardava todos os seus sonhos·

Faz mais de quatro anos que não vejo nem ouço falar nesse pequeno grande homem, que parecia ter a face esculpida e as mãos lapidadas por outro grande artista· Mas sempre me lembro dele nas noites em que Léia - era assim que ele chamava a Lua - surge absoluta e exuberante· E quando, perambulando pelas noites vadias, vejo na imensidão do céu a estrela solitária, que sempre foi dele···E minha·

DIOGO: SOBRE O DIA E A NOITE, O SOL, A LUA E AS ESTRELAS

(RÔ Campos)

Acorda! Olha pela janela!Vem ver! É de manhã! O sol já chegou! É hora de levantar!!!
Olha só, o céu tá ficando escuuuuro! Por quê? Cadê o sol? Pra onde ele foi?
Já é noite! Olha a lua! Ela tá tão bonita! Onde a lua mora? Eu quero ir lá na lua! Mas por que a lua vive tão longe? Posso colocar uma escada pra eu tocar a lua?
Olha aquela estrela bem perto da lua! Por que ela fica ali? Como é grande essa estrela! Por que tem estrelas grandes e pequenas?
Vem! Vem pro quintal pra ver como o céu tá tão bonito!

(Todas essas frases são ditas por ele, Diogo, meu neto amado, muitas vezes pela manhã, quando vai me acordar, ou quando a noite vem chegando e ainda quando vamos ao quintal, nas noites de lua cheia ou lua nova ( quando ele compara a lua a uma bola ou círculo), ou mesmo nas noites de lua crescente ou minguante (quando ele a compara a uma banana)

CONVERSANDO COM A LUA

(RÔ Campos)

Conta pra mim, lua, o que dizem os olhos dele quando, parados, ficam a te mirar?
Vês, por acaso, lágrimas neles, assim como ficam os meus?

Todas as vezes em que apareces avassaladora, penso nele, que sempre te dizia dele·
Ele que, nas noites frias, só tinha tu por testemunha e companhia...

COMENTÁRIOS A RESPEITO DA FORÇA


(RÔ Campos)

Bater, todo mundo bate, todo mundo quer, enche-se de força.
É como aquela coisa de jogar pedra no telhado alheio. Todo mundo joga, todo mundo quer. Agora, quando a pedra se volta contra o seu próprio telhado, a então "vítima" grita, esperneia.

Fiz uma postagem no Facebook sobre quem venceria nessa luta entre o rochedo e o mar. Alguns poucos amigos foram unânimes: o mar. Eu estava a conversar com os meus botões, para poder comentar a respeito das colocações, quando me deparei com essa frase, atribuída a um certo Le Lézard, que diz absolutamente tudo que penso:

"A verdadeira força não é a do mar enfurecido que tudo arrebenta, mas a do rochedo, imóvel, que a tudo resiste."

Pois é.

QUEM NÃO DÁ ASSISTÊNCIA ABRE CONCORRÊNCIA


(RÔ Campos)

A vida do Zé
Era esnobar a mulher·
Ciumenta e vaidosa,
é bem verdade,
Mas tudo o que a Rita queria
Era com ele se casar,
Juntar as escovas de dente,
E ir morar num condomínio de luxo.
Porque, justiça se faça,
Rita, além de fina e bonita,
Tinha dinheiro pra gastar·

Mas o Zé, todo atrapalhado,
Nunca conseguiu se decidir
Entre perder a liberdade, saindo do conjugado,
E ir morar num palacete com madame a lhe cobrar·

Rita chegou a lhe dar o ultimato,
Uma, duas, três vezes,
Até perder a conta.
E um dia, sem perceber, se cansou de dividir
O Zé que queria só pra si.

Meio que, assim, na surdina,
Rita se apaixonou por um amigo em comum.
Boa pinta, bem afeiçoado,
Com fama de conquistador,
Com ele logo se casou·
O Zé, pobre coitado,
Andou sofrendo um bocado,
E demorou pra deglutir o velho ditado,
Acerca do homem que não dá bola pra mulher·

O Zé, então, inconformado
Por ter perdido a mulher,
Passou a perambular pelas ruas, repetindo  o refrão, sem parar:

Oh, Zé, quem não dá assistência abre concorrência·
E quem não tem competência não se estabelece!

Oh, Zé, quem não dá assistência abre concorrência.
E quem não tem competência, não se estabelece!

Oh, Zé!

COMO AS ARARAS


(RÔ Campos)

Quando nós nos descobrimos sabíamos que vez em quando eu seria tu e tu também serias eu. E que, muitas vezes, num futuro próximo, seríamos um só, como uma partícula integrada: respiraríamos o mesmo ar, sorveríamos o néctar dos mesmos beijos, seríamos uma pele sobre a outra pele, o suor se misturando nos poros enquanto nossas bocas enlouqueciam, seguiríamos lado a lado, para sempre, como as araras...

O tempo foi passando, e nosso amor crescendo. Já não éramos mais dois - três é o que passamos a ser. E, cheios de ideais e de vontade de viver, botamos as pernas no mundo...e tudo vencemos com as nossas forças integradas. Sempre fomos fiéis um ao outro, assim, também, como as araras...

Depois de muitos quilômetros percorridos na estrada da vida, de tantas batalhas, de alegrias e tristezas, de termos alcançado a riqueza - essa em geral perseguida pelos homens -, materializando o que vivia no mundo de nossas ideias...descobri que amar também pode ser sofrer. E que, se amar é sofrer, não há vida sem dor.

E, por derradeiro, agora vim a saber o quanto dói a dor do amor. Mas a dor da saudade do amor que se acabou dói muito mais...
E que a dor da solidão do amor que se foi, e me deixou, também fere como punhal...E viver na solidão é morrer de amor.

Assim como as araras...

CAUTELA E CALDO DE GALINHA


(RÔ Campos)

Vai em frente, parente,
Corre, como quem foge da cruz,
Corre que atrás vem gente
Querendo te derrubar.

Tem muito cuidado, parente,
Porque na frente
Também sempre tem gente
Querendo te rasteirar.

Fica de olhos bem abertos, parente,
Com quem começa a se achegar:
Porque a inveja é erva daninha
Que não demora vem te devorar.

CORAÇÃO CABEÇA, CABEÇA CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Coração em fogo
Mente em brasa
Centelha! Centelha!
É o amor qual lamparina
Um fogo abrasador.

Coração cabeça, cabeça coração.

Viver é  uma paixão!

Meu coração morando em ti
Tu morando no meu coração
O cheiro de saudade na cabeça
Da chuva molhando a gente
Dos pés perdendo o chão.

Coração cabeça, cabeça coração.

Viver é uma paixão!

Coração em fogo
Mente em brasa
Centelha! Centelha!
É  o amor qual lamparina 
Um fogo abrasador.

Coração cabeça,  cabeça Coração.

Viver é  uma paixão!

Meu coração morando em ti
Tu morando no meu coração
O cheiro de saudade na cabeça
Da chuva molhando a gente
Dos pés perdendo o chão. 

ECOS DO PASSADO

(RÔ Campos)

Assim meu coração não Aguenta!!!
Hoje, quase manhã, dei uma carona a um amigo que mora na Boa Sorte, rua no bairro da Matinha onde eu nasci e me criei, até os 15 anos. Deixei-o cerca de uns 200 metros após o início da rua e fui descendo devagar, olhando casa por casa, quando deparei-me com meu amigo de infância, Raimundo Bezerra Barbosa, pai do Ramõn, amigo de meus filhos do Colégio Preciosíssimo Sangue. Ele arrumava os produtos em sua pequena taberna, quando eu gritei: Raimundinhooooooo!!! A festa foi grande.

Nós morávamos em uma casa quase em frente à dele, e, por conta disso, comecei a fazer-lhe algumas perguntas. Ele, então, me apontou um senhorzinho que estava sentado em um banco, em frente à taberna, dizendo-me que ele era a pessoa que havia comprado nossa casa. Conversa vai e vem, o generoso senhor me perguntou se eu queria ir ver a casa, e eu não pensei duas vezes para aceitar o convite. Não tenho como descrever a emoção que senti, e não deu para segurar as lágrimas. Havia 41 anos que eu não botava os pés ali, desde quando nos mudamos, eu com 15 anos. A cada passo que eu dava o coração apertava. Tudo continuava exatamente do jeito como havíamos deixado, à exceção da cerâmica dos quartos dos meus velhos e do primeiro quarto, que, por sinal, era onde eu dormia, e do estado de deterioração da velha casa. Fomos até o quintal e fiz uma viagem ao passado, à minha infância querida. Passou um filme na minha cabeça: aquele quintal tem muitas doces histórias pra contar de nossas vidas!! Enfim, terminou a minha visita tão inesperada, que me deixou em transe e êxtase ao mesmo tempo.E, ao sair, passando pela minúscula sala de estar, foi como se ouvisse os Beatles na vitrola, e eu, mais minha amiga Grace (Maria Célia Penafort Pacheco), por volta dos 10 anos, dançando seus hits. Aquela casa está impregnada de nós...

Tomando a rua, vejo o velho Nonato, morador da casa que fica ao lado esquerdo, com os cotovelos debruçados sobre o muro. Eu o reconheci de pronto, apesar de não o ver desde que nos mudamos. Cheguei perto dele e disse-lhe: Nonato, eu duvido você dizer quem sou eu. Ele, porém, sem pestanejar, e com convicção, respondeu, soletrando enfaticamente: "N.O.K.A" (Noca, com "cê", era meu apelido de infância). E de novo a emoção bateu mais forte que o meu coração. Depois de conversarmos um pouco, ali, frente a frente, como se o tempo não tivesse passado, mas, da noite para o dia a neve tivesse desabado sobre nossas cabeças, fui embora com mil promessas de fazer novas visitas. Mas, quando me dirigia para o carro, observei que o portão da garagem da casa que fica à direita da nossa, estava entreaberta, denunciando que sua dona já acordara. Cheguei mais perto e vi uma senhorinha de cabelos cor de prata, sentada em uma cadeira. Era Ruth D'Urso, mãe de Itaúna, Iraúna, Índio, Ianaíra e... (esqueci o nome da outra filha). Outro espanto. A velha Ruth D'Urso, é, hoje, a imagem de sua Nona, de quem eu, quando criança, ouvi muitas histórias...Lágrimas também rolaram olhos abaixo quando ela perguntou sobre minha irmã Rosalba Campos, lembrando-se, na sequència, da amada e saudosa amiga Tereza Guerreiro, de quem ela me disse jamais esquecer.

Aí, percebi que a manhã avançava e resolvi partir, trazendo comigo os ecos do passado...

DESPROFUNDIDADE


(RÔ Campos)

Quando me dei a ti
Mergulhei tão fundo,
E tudo o que era profundo
Tornou-se superfície.

Era o sol refletindo na água,
Como um espelho cristalino.
Tua aura refletiu na minh'alma,
E vi a beleza da pérola
Que no fundo do teu mar se escondia.

Mas vi também cores sem vida.
De repente, nem vermelho, nem violeta.
Tardes com muito sol,
Inclemente, queimando teu rosto.
Vi a cor da solidão que amargou a tua vida.

E tudo o que habitava as profundezas,
Ao mergulhar minh'alma, tão fundo,
Quase se afogando,
Tornou-se superfície.
E um tesouro emergiu da escuridão
Do fundo do mar da tua solidão,
Onde quase naufragou meu coração navegante.

sábado, 2 de janeiro de 2016

MINHA AMIGA É DILMAIS. EU SOU DILMENOS.


(RÔ Campos)

Acho que perdi uma amiga.
Uma amizade muito antiga.
Daquelas que a gente traz no coração.

Eu andava muito apressada.
E nem cheguei a perceber
Que ela não estava mais aqui.
Ontem foi que me dei conta.

Digitei o nome dela noFacebook.
Muitas outras apareceram.
Mas minha amiga querida
Não estava mais entre os amigos.

Conversei com os meus botões,
Para entender o que se passava.
E meus botões então disseram :
És anti - petista convicta.
E ela... militante do pt.

ESSA TAL FELICIDADE...


(RÔ Campos)

Eu vivia a procurar pela felicidade.
Achava que a vida era triste,
Pois nenhum amor verdadeiro eu encontrava.

Andei muitas léguas.
Atravessei mares turbulentos.
Às vezes quase naufraguei.

Um dia, quando pensei que havia encontrado
O amor da minha vida,
Percebi que era tudo mentira,
Pois o amor não era de verdade.

Quando desisti de procurar essa tal felicidade,
Nos braços e beijos de alguém,
Descobri que na verdade a felicidade
Não depende dos beijos e abraços de ninguém.

QUERO-QUERO

Este ano
Eu não quero
Saber de lero-lero
Vou botar
Meu bloco na rua
E fazer
Um quero-quero.

Este ano
Eu quero

Muita Saúde
E dinheiro no bolso
Pois com dinheiro
Eu compro tudo
Menos um amor verdadeiro

Mas a gente vive muito bem
Sem o ópio do amor alheio

O ANDARILHO


(RÔ Campos)

Setecentas e vinte horas. Amor sublime amor, gerado no seio da inocência, em meio às coincidências desta vida. Será?

Havia mais de três mil dias do primeiro voo que o libertaria do ninho que na verdade nunca o acolheu, dando Início a uma outra jornada pelos caminhos e descaminhos de novas estradas, tão antigas quanto a dor que o consumia.

Todo o vazio do passado aparentemente tinha ficado para trás. Até os rabiscos na parede da memória pareciam haver desaparecido. Era isso que eu imaginava que havia ocorrido.

Depois desse primeiro voo, tanto caminhou que esqueceu-se de que era dotado de asas. E, assim, com o tempo, desaprendeu a arte de voar...

Iniciou seu périplo pelas águas dos rios da Amazônia. Veio parar em Manaus, passando antes pela Guiana Francesa. Aqui, juntou-se a outros andantes. Havia dias em que dormia nas ruas; outros - quando conseguia algum dinheiro com suas mãos de artesão - pernoitava em alguma pensão no centro da cidade, quando aproveitava para banhar-se e dormir o sono dos justos. E ele me relatou que, apesar de tudo, ainda sonhava.

Eu o conheci em uma certa noite, que, coincidentemente, era dia de seu aniversário. Meu amigo Antônio já o conhecia há algum tempo. Ele juntou-se a nós na mesa de um bar tradicional no centro de Manaus.
Essa parte da história eu já contei em um outro texto, e não vou mais me aprofundar.

Isso foi no mês de setembro, dia 29 ou 30, eu já nem sei mais o certo. Na verdade, esse detalhe de somenos importância ficou nebuloso em minha memória.

Passaram-se os dias e eu não o tirava da cabeça. Queira mergulhar nesse mar desconhecido e intrigante, sem usar qualquer equipamento; não me importava com o risco de me afogar.

Pouco mais de um mês depois, novamente nos encontramos, casualmente, também em um desses bares da vida. Era madrugada. Mesa de bar tanto guarda alegrias quanto tristezas; tanto reúne lágrimas quanto gargalhadas. Era 20 de novembro, dia de meu aniversário e do meu renascimento, porque bem antes eu já havia morrido um pouco. Desde então se passaram as setecentas e vinte horas de meu mergulho. Tomei alguns sustos enquanto mergulhava; às vezes me parecia faltar oxigênio, mas eu não me afoguei. Ao reverso, eu o retirei do fundo do mar.

Depois de salvo, os céus lhe enviaram novas asas. Novamente alado, ele partiu, alçou voo... Eu fiquei de ir depois. Ao chegar em seu antigo ninho, ainda era o mesmo ninho, e novamente se perdeu. De novo teve suas asas partidas. Eu também não parti mais rumo ao encontro dele. Tive medo de mergulhar mais uma vez. Talvez já fosse tarde - pensei.