quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A PELEJA ENTRE A VAIDADE E A HUMILDADE



(RÔ Campos)

Paira sob os céus o silêncio dos inocentes contra o alvoroço dos cúmplices dos culpados. E há um olhar sobre o que se afasta das coisas do espírito, das artes, e se apega com todas as garras às coisas da matéria, da glória a qualquer custo.

Escancaram-se sonhos tão frágeis, tão frouxos, tão comezinhos, opacos. São sonhos sem magia - essa magia que embala verdadeiramente a vida -, que debulham-se diante da realidade fria, e, ainda assim, teima-se em sonhar um sonho sem vestir a fantasia que adorna e afaga o espírito. É a fogueira das vaidades. O ego brada retumbante, e a alma queda e cala. Só os espíritos sutis não se debatem nesse fogo nada brando.

Parafraseando o poeta, apenas as almas que não são pequenas sabem verdadeiramente o que vale a pena e não se distraem nessa peleja entre a vaidade e a humildade.

O CANTO DA VIDA



O CANTO DA VIDA
(RÔ Campos)

Meu canto vem na alvorada,
Com os pássaros flanando
E pousando e cantando
No pé de mamão, no pé de caju,
No pé de acerola, no pé da porta,
Na rosa, na rosa, na rosa,
Menina, tão linda, se abrindo,
Sorrindo, sorrindo, tão prosa.

Meu canto vem na alvorada
Com a borboleta tão livre,
Tão solta, tão bela,
Como uma virgem donzela
Debutando seu baile primeiro
Nos vãos das folhas das plantas
Na rosa, na rosa, na rosa,
Menina, tão linda, se abrindo,
Sorrindo, sorrindo, tão prosa.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O PÃO E O CIRCO, A PRAGA INOCULADA DA ROMA DECADENTE

(RÔ Campos)

Meio de saco cheio com tanto glamour, e a cidade...mendicante.
Querer passar para o Brasil que isso aqui é um verdadeiro Éden é até vexatório e constrangedor, diante do nosso deplorável IDH, que todos conhecem, porque um dado público. Uma noite, apenas uma noite na ribalta da vida, e o ano inteiro vivendo a vida real, sem palcos e sem luzes.

Ao mesmo tempo em que estou de saco cheio com o que já falei na postagem anterior, fico feliz por constatar, no Facebook, que há pelo menos um segmento importantíssimo na nossa cidade que também se colocou contra tudo isso que está aí, apostando no silêncio.

Parece até que combinaram, uma espécie de - digamos - boicote. Nenhuma foto compartilhada, nenhum comentário, nenhuma palavra, nenhum endeusamento em seus murais, demonstração de sensatez e pensamento crítico, além de repúdio veemente.

Há uma corrente de um segmento em nossa cidade que também apostou no silêncio. Está cansada de gritar para ouvidos moucos. Está cansada de nadar contra a furiosa correnteza do Amazonas.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O PÃO E O CIRCO


(RÔ Campos)

Tudo do mesmo.
Nada de novo:
O pão, o circo
Da Roma decadente.

Tudo do mesmo.
Nada muda no mundo:
A política imunda do pão e do circo
E o povo no circo contente.

Tudo do mesmo:
A praça, o povo, a ribalta,
A lona, o pão, o circo, o artista,
A família, a criança, sorridentes.

Tudo do mesmo.
Nada de novo:
O político, a praça, o povo, a praga inoculada
Da Roma antiga, decadente.

LOUCURA


(RÔ Campos)

Loucura é amar loucamente alguém
Que nunca chega, que nunca vem.
Loucura é amar loucamente alguém
Que se sabe, amor também não tem.
Loucura é amar loucamente alguém
Que não sabe ao menos querer bem.
Loucura é amar loucamente alguém
Cujo coração é oco, é de ninguém.
Loucura é dar-se tanto pra alguém
E esquecer-se de se amar, também.
Loucura é amar incondicionalmente
Enquanto o outro pisa o coração da gente.
Loucura, afinal, é amar, amar e amar
E em troca receber migalhas, ingratidão.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

ESQUECERAM DE MIM


(RÔ Campos)

Eu sei que hoje é noite de Natal, mas tenho que falar sobre isso, porque amanhã eu vou esquecer. Ontem, antes de ir ao ET BAR, passei numa franquia do Habib´s que acabou de inaugurar próximo de casa, no sinal da Av. Desembargador João Machado (antiga Estrada dos Franceses) com a entrada do Conjunto Campos Elíseos. Fui comprar uns bolinhos de bacalhau, quibes e pasteis de Belém, para levar a minha amiga Íria, a Loura, dona do ET, que adora tudo isso.

Num cantinho, na parte da frente, do Habib´s, observei uns brinquedos para as crianças, com os espaços simplesmente lotados. Gente chegando e gente saindo. Pensei: realmente, nossas crianças não dispõem (ao menos em toda essa área de Alvorada, Planalto, Redenção, Hileia, Nova Esperança, Belvedere, Lírio do Vale, Bairro da Paz) de praças, nem parques, nem coisa alguma para lazer. Nossas crianças não têm onde brincar. Nossas crianças não têm como descalçar os pés para pisar o chão, correr na grama, rolar no chão, brincar de balanço, de bola, ter um contato mais estreito com a natureza, se socializar.

Bem que o prefeito eleito (o meu prefeito, por sinal), poderia parar no Esqueceram de Mim II e voltar-se para essa questão tão importante (eu diria, crucial) para o desenvolvimento social, intelectual e psicológico de nossas crianças.

É ISSO MESMO! A VIDA É ASSIM MESMO!


(RÔ Campos)

Sozinha nesta noite de Natal, mas eu não estou solitária. Tantos os pensamentos, as lembranças doces que passeiam em minha mente! Reflexões, muitas! Dona Matilde Brilhante, após dias hospitalizada, resolveu partir neste 24 de dezembro. Fico imaginando seus filhos e netos, nesta noite tão linda em simbologia, na funerária, velando o corpo da matriarca querida.

Penso em tanta gente linda que veio e já se foi (a maioria, cedo demais).

De repente, lembro-me das palavras de um hippie que conheci em São Luis do Maranhão, em agosto passado. Estávamos sentados à mesa, na praia, eu escolhendo os badulaques para comprar. Comecei a indagar-lhe sobre várias coisas (quem gosta de escrever, como eu, adora conversar, descobrir, desbravar mundos). Ele me falando da tristeza de, há cerca de dois meses antes, a polícia municipal (uma espécie de "rapa" das antigas) haver levado, injustamente, sua mochila, todo seu material de trabalho e uma Bíblia, que havia ganho de presente da mãe, já falecida. De material mesmo, era a única coisa que restava, a velha Bíblia, presente da mãe. Quando eu dava ênfase a isso, demonstrando tristeza e minha solidariedade por essa perda tão significativa, querendo ajudá-lo a recuperar suas coisas, mas sem tempo para irmos à Delegacia (era uma sexta-feira e eu voltaria para Manaus na segunda próxima) ele dizia: É isso mesmo. A vida é assim mesmo, numa aceitação indescritível, própria de almas elevadas. Isso tornou-se um verdadeiro mantra para mim.

Quando as coisas acontecem, porque coisas realmente acontecem todo dia, toda hora; quando eu não posso evitá-las; quando elas fogem do meu controle, a única coisa que posso fazer é aceitá-las, resignando-me, porque nós não podemos tudo, inclusive ir contra a natureza das coisas.

sábado, 22 de dezembro de 2012

UM BRINDE Á LIBERDADE

Há alguns dias vinha pensando: Vou sentir muito a falta de Dom Luiz Soares Vieira (arcebispo de Manaus), uma das pessoas que são referências em minha vida. Sou simplesmente fascinada pelos artigos de Dom Luiz, publicados no jornal A Crítica, principalmente pela lucidez e equilíbrio do arcebispo na articulação dos assuntos. Sua maneira de olhar e compreender o mundo é simplesmente singular. Mas eis que, lendo a entrevista, em A Crítica de hoje(domingo), do futuro arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani, deu para perceber que ele também provavelmente é um iluminado, posto que um ser que coloca a liberdade acima de tudo.

Transcrevo, a seguir, apenas um pequeno trecho da entrevista, que me emocionou sobremaneira. Tem muita gente por aí precisando saber disso. Até a Igreja Católica não vive mais na idade das trevas e não leva mais ninguém à fogueira. Portanto, acabe-se definitivamente com essa ideia ultrapassada de que quem não acredita em Deus é um insano, demônio, um ser do mal, isso e aquilo. Simplesmente é a liberdade de cada um de crer naquilo em que realmente acredita, de acordo com suas convicções. Isso não o fará menos homem, tanto que acredite, como diz Dom Sérgio, na dignidade humana, na verdade e na Justiça. Ninguém precisa passar recibo, nem reconhecer em cartório o que se passa no recôndito de sua alma, o que lhe diz unicamente respeito.

"É preciso respeito mútuo, que seja respeitada a opinião religiosa do outro. A liberdade religiosa é a convicção de que o outro tem direito de pensar diferente. Isso é fundamental. Quando uma religião não reconhece na outra o direito de pensar diferente, aí estamos no fundamentalismo religioso, no perigo da violência religiosa que temos assistido em várias partes do mundo. E a gente não deve pensar que a Síria, o Afeganistão são mais atrasados que nós. Nós podemos cair em um processo desse também. É muito importante que a sociedade brasileira reconheça a liberdade religiosa e que cada um reconheça o direito que o outro tem de pensar diferente. Esse respeito é defendido pelo Papa Bento XVI. Nós temos que estar unidos naquilo que nos une: primeiramente, todos acreditamos em Deus, ou mesmo aqueles que não creem em Deus, acreditam na dignidade humana, na honestidade, na verdade e na Justiça. Depois vem a colaboração e o diálogo entre essas religiões. E a partir daí o ecumenismo mesmo"

ELUCUBRAÇÕES


(RÔ Campos)

Era uma vontade de ir,
E uma vontade de também ficar.
Acabei não indo.
Acabei ficando.

O amor dizia, vai!
O coração dizia, vai!
O medo dizia, fica!
A razão fincou bandeira.

Hoje vivo a me perquirir:
E se eu tivesse ido?
E se o amor tivesse razão?
Teria o amor vencido?

DIAS SEM SOL



(RÔ Campos)

Sol, que nos dá a vida,
Devolva-me, onde estiver,
Vida, que partiu
Quando tu nascias a leste.

Sol, que nos dá a vida,
Depois que Vida partiu,
Te puseste a oeste,
E Vida nunca mais voltou...

Sol, que nos dá a vida,
O que faço, agora, desta vida,
Concebida nas primeiras horas,
Sem Vida, que partiu, foi-se embora?

Sol, que nos dá a vida,
Depois que Vida se foi e te puseste,
Nunca mais soube o que é vida:
Sem sol, sem norte, sem Vida.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SEGURA NA MÃO DE DEUS

(RÔ Campos)

Segura na mão de Deus... e vai. Seja lá quem for Deus para você. Você tem que acreditar em algo que seja mais forte que a sua própria força. Você tem que acreditar ao menos na força do tempo, esse Deus implacável, que tudo vence. Então, segura na mão de Deus e vai em frente, enfrente, persista, resista, insista, mantenha-se vivo, porque tudo pode onde há vida...É covardia se entregar. E depois, passa, tudo passa, e isso também vai passar, você vai ver.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TUDO O QUE A VIDA QUER DA GENTE É CORAGEM

Faz algum tempo que não falo sobre isso. Hoje, tive audiência cedo, na Justiça do Trabalho, como parte do meu trabalho voluntário junto à Pastoral do Emigrante, na causa dos haitianos refugiados em Manaus. É impressionante o que vem acontecendo com esses trabalhadores que tenho assistido, que prestam serviço na construção civil. A empresa sumiu. No acordo que fez, em uma outra ação, não pagou. Não localizamos nada, nem dinheiro, nem bens. Eis que hoje resolvi fazer um trabalho de busca, descobrir alguma coisa, principalmente porque sinto-me envergonhada, ao constatar tamanha maldade perpetrada contra essas pessoas tão desamparadas, tão despossuídas. Na verdade, a ré era (ou é, ainda, isso estou a pesquisar) uma dessas empresas interpostas (as chamadas terceirizadas), atuando numa obra gigantesca na Av. Constelação, na Morada do Sol, ou seja, construindo edificações para a classe média alta. O reclamante (autor da ação), até hoje, sequer viu a cor do dinheiro de suas verbas rescisórias. Um jovem haitiano, distante milhas e milhas de seu país, em busca de uma nova pátria, com a mulher (também haitiana) e uma filha, com menos de dois aninhos, nascida no Brasil, sem receber seus direitos trabalhistas fundamentais.
Mas hoje, mais uma vez, tive lições que me deixaram emocionada. A fortaleza desse povo me faz sentir pequenina, e, ao mesmo tempo, me encoraja. Um deles (esse que a empresa não pagou o acordo), está há quase dois anos aqui em Manaus, sem ver a mulher e quatro filhos, e a mãe, que agoniza num leito de hospital. Daqui a pouco ele viaja para o Haiti, graças a uns trocadinhos que foi guardando, das parcelas do seguro desemprego, cuja última recebeu no mês passado, e uma colaboração nossa, que parcelamos o restante em um cartão de crédito. Ele acreditava que fosse receber seu dinheirinho para poder viajar mais tranquilo, o que, dolorosamente, não aconteceu. Deixei-o em um outro lugar (uma obra), para receber R$ 350,00, de um trabalho que havia prestado, informalmente, de uma semana. Esse, o dinheiro que, se tiver recebido, levará em sua viagem de quase 40 dias, porque se fosse voltar antes o valor do bilhete chegaria aos 4.000,00, e não haveria como comprá-lo. Pois bem, ele me contou que alguém da empresa lhe teria mandado um recado, propondo pagar o valor do acordo sem a multa de 50%. Então, ele me disse: "Dra., se a senhora quiser fazer esse acordo, a senhora é quem sabe, mas eu não quero não. Já cheguei até aqui, posso até passar fome, eu aguento, porque eu acho que um homem tem que ter palavra. Eu acredito que a Justiça vai fazer ele me pagar o que me deve". Na verdade, ele pensa longe. Afirma para mim que gosta daqui (de Manaus), que quer continuar aqui, que tem muita oferta de trabalho, que muitos outros amigos dele estão bem, que ele também vai ficar bem. Quando voltar do Haiti, vai procurar trabalho. Quando receber seu dinheiro, vai comprar as passagens de sua mulher e de seus quatro filhos (uma menina de oito, uma de 14, uma de 15 e um rapaz de 17 anos), para trazê-los pra cá. Fala-me que sua mulher é muito boa, que o ajuda muito, e que vai também trabalhar. Nos últimos dias ele estava quase desesperando, temendo nem mesmo encontrar a mãe com vida. O nome dele é de um sábio hebreu. Ele vai conseguir, eu sei. A fome, a miséria, as tragédias já sofridas, toda a história de sofrimento desse povo, tornou-os mais fortes. Ele continua depositando todas as suas esperanças no seu trabalho e no Deus em que acredita.

domingo, 9 de dezembro de 2012

ENFIM...O AMOR


(RÔ Campos)

O dia está a extinguir-se
O sol está a esvair-se
Logo vem outra luz surgindo
No breu da noite a lua parindo.

Enfim, entra a madrugada
Que depois deixa a porta aberta
Por onde a escuridão vaza, e entra o cio
Que, logo, logo, a manhã penetra.

Espera, que tudo passa
Um dia, tudo vai embora
Noutro, é alguém que chega
E vem o amor, que nunca falha.

OLHO NO LANCE

(RÔ Campos)

Não resisti. Liguei meu computador só para fazer esta postagem no Face e aproveitei para postá-la também aqui no blog.

Estava lendo A Crítica de ontem, sábado, quando deparei-me com a matéria em torno da malsinada PEC DA IMPUNIDADE, como ficou conhecida essa proposta indecente que quer impedir o Ministério Público de realizar investigações criminais, reservando-as apenas às polícias, um retrocesso sem precedentes, principalmente no combate à corrupção, já que essa instituição (Ministério Público Federal) tem sido fervorosa combatente ao crime organizado, desmantelando quadrilhas que sangram os cofres públicos com prática tão abominável.

Pois bem, nessa matéria, A Crítica comenta que, entre os parlamentares amazonenses em Brasília, que foram contatados pelo jornal, apenas Carlos Souza se mostrou favorável à indecente PEC, "argumentando" que o papel do Ministério Público é apresentar denúncia junto à investigação, tendo o parlamentar em questão requerido, ainda, que somente a polícia tenha o poder de investigar os crimes.

Aí eu fiquei, aqui, a me perguntar: Se o Ministério Público tem feito tão bem a tarefa de casa, procurando, escarafunchando, investigando, desmantelando quadrilhas e assombrosos esquemas de corrupção, redundando, inclusive, na condenação dos meliantes, a quem interessa retirar do MP essa atribuição constitucionalmente garantida pelo legislador constituinte da Carta Democrática de outubro de 1988, e limitá-la exclusivamente à polícia, que, ao que se sabe, sequer consegue executar suas tarefas mais tradicionais a contento, por razões que não nos fogem ao conhecimento?

Precisamos acordar para tão importante questão, pois esse movimento em prol da impunidade no Brasil vem de encontro a nossos anseios, lutas e conquistas em busca de um país melhor para nós e nossos descendentes, quando precisamos fechar o maior número de portas possíveis a evitar facilidades para que corruptos inveterados, tais vampiros, continuem a sangrar os cofres públicos, desviando verbas que deveriam ser utilizadas na educação, na saúde, na moradia, dentre outras, de interesse vital, principalmente da camada mais pobre do povo brasileiro.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS OUTROS SÃO OS OUTROS

Sempre fiz assim, a minha caminhada. É aquele negócio: você vai seguindo a sua estrada, segurando um copo com as mãos, cheio d'água. Tudo o que você tem a fazer é manter os olhos no copo, olvidando os traseuntes à direita e à esquerda, impedindo, assim, que a água transborde. Pois, se você tirar os olhos do seu foco e prestar atenção nos outros...

Para mim, parafraseando a canção: os outros são os outros. Nada mais. E eu...sou eu, sou do mundo, não sou de ninguém".

RODRIGO: FOI-SE UM PEDAÇO DE NÓS. FICARAM OS LAÇOS QUE NÃO SE DESFAZEM JAMAIS



Triste. Já estava adormecendo e recebi um telefonema de minha amiga Íria, a Loura, dona do ET Bar, dando-me a notícia de que Rodrigo faleceu na quarta-feira passada. Rodrigo era um senhorzinho carioca, que há muitos anos morava em Manaus. Nunca se casou, não teve filhos e não tinha nenhum familiar por estas bandas. Rodrigo casou-se com a boêmia. Segundo Íria, era o mais autêntico boêmio destas paragens. Foi-se o último boêmio, na acepção literal da palavra. Adorava o sorriso e a alegria de Rodrigo. Adorava vê-lo tocar o tamborim com uma sutileza invejável. Adorava ouvi-lo cantar, muito embora o fizesse tão poucas vezes. Adorava quando, ao me ver chegar no ET Bar, Rodrigo abria seus braços, beijava-me, demonstrava felicidade por eu estar ali. Íria disse-me que o funeral de Rodrigo foi lindo. Muitos cantores entoaram seu canto para aquele cuja vida foi um verdadeiro encanto, embalada pela música e pelo prazer de viver. Infelizmente esqueceram de mim. Gostaria muitíssimo de ter dado meu último adeus a Rodrigo. Mas o seu sorriso e alegria contagiante, a batida sutil no tamborim e o seu canto sempre estarão nos quatro cantos do ET Bar, como a nos brindar, numa celebração à vida, que é bonita, é bonita e é bonita,