sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

SOBRE O ENVELHECIMENTO

(RÔ Campos)

Não me lembro de quem é a frase que li outro dia e que  diz mais ou menos assim: "quero gozar do direito de poder envelhecer". 

É, porque neste país envelhecer é como tornar-se um criminoso, algo, assim, digamos,  abjeto. E sempre tive pavor de que, quando chegasse a hora do meu crepúsculo, eu  não sabesse reconhecer isso, e não aprendesse a envelhecer com maturidade e dignidade, tornando-me uma velha idiota, cegada pelo domínio do romântico. 

Não, eu não creio mais  na  vida romanceada, mas continuo acreditando no romance que é a vida. E, assim, vou vivendo, com os passos no comprimento exato de minhas possibilidades, sem alargá-los nem diminuí-los, mas seguindo em frente. Os anos...eu os sinto com o peso implacável sobre o meu corpo que definha pouco a pouco...Mas a mente continua fervilhando, como nos bons tempos de outrora. Só não tenho mais ilusões. E, por isso, não me desiludo. Mentir para nós mesmos nunca será um bom remédio.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O TEU MENINO NÃO VAI VOLTAR

 

(RÔ Campos)


Há muita gente que não tem ninguém a lhe esperar.

Há muita gente que não tem nem para onde voltar. 


Mas há sempre uma mãe esperando por um filho. 

Há sempre um filho esperando por um pai. 

Há sempre alguém esperando por um outro alguém, 

Mas esse alguém não vai voltar. 


Nesta noite, ainda cedo,  

Eu ouvi os estampidos  dos tiros,

E logo soube  de um corpo matado,   morrido.

Disseram parecia um garoto. 

Desses que há  muito já não sabem

Nem mesmo o que é sonhar, 

Muito menos o que é viver. 


Não sei o que ele fez, 

Ou o que deixou de fazer,

Pra morrer tão triste assim.

Só sei que,  nesta noite, 

Deve haver uma mãe esperando

Pelo filho que não vai voltar. 


Chora, mãezinha, chora!

O amanhã não vai chegar. 

Chora, mãezinha, chora!

Pois teu menino não vai voltar. 


@rocampospoesia

#ALCAMA 

(*)13.11.2023

sábado, 23 de setembro de 2023

PENSAMENTOS

 (RÔ Campos)

Aqui estou a divagar,  bem devagarinho, porque não tenho mais tempo algum para a pressa. Eis que a pressa  nos turva a visão,  embaça a mente, cansa as pernas,  acelera o coração.

Os pensamentos  viajam.  Andam pela madrugada,  sentam-se à mesa de bares, conversam  entre si,  riem, choram,  arrependem-se, voltam ao passado distante,  e ao recente,  também.  Querem até adivinhar o futuro. 

Aí, eles batem à  minha porta, entram  como  chegam as tempestades,   trazendo notícias do tempo. É  como se um filme em câmera lenta passasse  diante  de meus olhos. 

Fico a lembrar de uma frase que cunhei há muitos anos,   quando as horas invadiam a madrugada, e eu, aqui,  sozinha,  trancada  no meu quarto,  tentava encontrar uma saída para o silêncio ensurdecedor  que teimava ao meu ouvido:

"O tempo e a distância são deletérios  do amor; o silêncio,  a porta do cemitério e o coveiro".

(*) 24.09.2021

ESSES SERES PERNÓSTICOS

(RÔ Campos)

Algumas coisas parecem normais· Mas nada é verdadeiramente normal num mundo de faz-de-conta·  Tu fazes de conta que me amas· E eu faço de conta que acredito·  Mas na hora "h", é cada qual por si· É o instinto de sobrevivência que grita na caverna do terror· O mundo pegando fogo e a maioria procurando escapar· Poucos são os que ficam para apagar o fogo· O homem ainda vive de teimoso que é· A carne não vale nada diante de um ambiente inóspito, repleto de bactérias, fungos e vírus· Mas vamos teimando e brigando contra tudo e contra todos· Porém, apesar de toda essa cruel realidade, há quem creia que o mundo esteja sob os seus pés, como se fosse um deus, esse ser sobrenatural que veio do nada e do nada teria criado o mundo· 

(*) 23.09.2014

CITAÇÕES/PEQUENOS TEXTOS

Quando a luz entra pela janela, a escuridão vai embora. Mas, ao sair, a escuridão não leva com ela as lições que nos deixou. 

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Até ontem ele estava nos sonhos que eu ainda sonhava...Depois da morte dos sonhos, minha mente tornou-se um cemitério. 

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Às vezes, nem nós mesmos conhecemos o louco que há dentro de nós e atrás do outro. Portanto, nunca confie, nem sob juramento. É que às vezes a loucura abre a porta e vai dar uma volta. 

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Os humanos temos tendências suicidas. É impressionante a  burrice  e a estupidez com as quais, dia a dia, lentamente nos matamos um pouco.

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Às vezes um segundo, um minuto, uma hora, um dia, é como se fosse uma eternidade. Outras vezes, tanto tempo se passa e não acrescenta absolutamente nada. 

Moral da história: o que pesa, o que vale é a intensidade.

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Dizem que o pobre do dinheiro é o próprio capeta, sempre o culpado de todas as mazelas da humanidade. Mas o dinheiro - lá vou eu com minhas elucubrações!!! - não tem cérebro nem pernas nem pés nem braços nem mãos nem boca nem olhos nem ouvido nem tato. O dinheiro não tem sentidos, mas faz sentido. O dinheiro não passa de um mero papel ou de um valor x. O que lasca é a cobiça, o mau uso do dinheiro, o egoísmo. O egoísmo, sim, é a maior praga da humanidade. 

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Há uma  porta no túnel do tempo, que separa o meu passado do presente, mas nunca fecha. Vez em quando bate uma rajada de vento e a porta escancara. O passado quer invadir o presente, que, às vezes, se defende, outras vezes, se entrega. 

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Não, meu amigo, não é menos um dia. Porque a vida não é como a água usada, que escorre  pelo ralo da pia·

Ainda que a saudade seja doída,e os dias pareçam punhais, ontem é a véspera do porvir. E cada dia é um dia a mais·

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Está provado: nem sempre quem perde é o mais fraco· E nem sempre quem ganha é (aparentemente) o mais forte·

Nem sempre se ganha o jogo no tempo regular, mas, sim, depois que este se esvai·E muitas vezes contamos com a ajuda da sorte, do relógio, de terceiros, de milagres·

Nada é estático, definitivo· A vida é mesmo uma caixinha de surpresa·

Quem quer vencer tem de focar no que pretende alcançar, canalizar as energias para essa tarefa· O resto o tempo é que vai dizer·

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Antes das flores surgirem, assim, exuberantes, na Primavera, a terra onde hoje elas vicejam sofreu com um Inverno medonho· Mas foi esse mesmo duro Inverno que permitiu a chegada dessa linda Primavera· 

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A VIDA É COMO UMA PINACOTECA


(RÔ Campos)

Cada um pinta o seu quadro à sua maneira. E são muitos os quadros. E são muitas as linguagens que eles exprimem. E são muitas as telas e as tintas e as texturas. E diferentes são as molduras. E muitos a mim não me dizem nada, mas o dizem a outros. E muitos são valorosos, enquanto outros valem quase nada, ou nada. E alguns outros são superestimados. Alguns só recebem o valor devido postumamente. E assim por diante...


23.09.2013

PRECISAMOS DE ESPERANCA

(RÔ Campos)

Estava muito calor e eu me debatia na cama. Levantei-me para ir ao banheiro e, da janela, vi o dia lindo lá fora. Sol radiante, as folhas dançando, tudo como se fosse um dia de verão ou, como costumo dizer, um dia de Nordeste. 

É o primeiro dia de um novo ano que se inicia. De 2013, tudo agora já é passado e ficou pra trás. Apenas as lições devem permanecer sempre fresquinhas em nossas memórias. 

Ligo o computador e começo a ler as postagens de  meus amigos feitas no Facebook. Leio no Face de uma amiga lá das terras de Cabral transcrição da fala do Papa da Paz, Papa do Amor, Papa dos Descalços e Descamisados sobre a necessidade de globalizarmos a fraternidade, em vez da globalização da indiferença. Eu acrescento que também devemos  globalizar a Paz, em substituição à globalização da violência. A partir daí, faço uma imersão ao meu mundo interior e uma palavrinha me vem à mente


ESPERANÇA! 


É tudo de que precisamos para seguir adiante. ESPERANÇA é a força que nos move para além. ESPERANÇA é o que nos liga ao futuro. É a ponte entre o agora e o amanhã.


ESPERANÇA!


Para todos nós, ESPERANÇA de um mundo melhor, mais justo, menos indiferente, menos alienado, menos alienígena, menos embrutecido, mais apaixonado.

ACERCA DA DUALIDADE


(RÔ Campos)


Todos nós sabemos que tudo no mundo é dualidade· Então, não é verdade que o mal não existe, que é apenas a ausência do Bem· Assim, também, não é verdade que a escuridão é a ausência de luz· Decerto, portanto, que há o céu e o inferno· Este, está transbordando até o tucupi nas cuias do mundo· Vivo me debatendo no fogo do inferno tentando encontrar um caminho que me leve ao céu, mas, confesso, está muito difícil · Para todos os lados que olho, sob todos os ângulos, o inferno me parece latente, e vive a queimar a vaidade nas fogueiras· Mas, partindo do prisma da dualidade, eu sei que o céu existe, e que um dia eu hei de o encontrar· Vez em quando eu me deparo com ele· Que vasto céu é esse que existe no coração dos pequeninos, no sorriso do menino, nas mãos que abençoam, na boca do homem que apregoa a paz?! Aparentemente, nunca vemos um vencedor nesse duelo· O mal jamais se entrega· Para o mal, o Bem é um fraco· Mas o Bem é como o Amor,  forte por si mesmo· E os fortes tudo vencem· Porque a verdadeira fortaleza não se ergue em castelos, não constrói grades nem muros· A verdadeira fortaleza prescinde de sentinelas outras· É a fé inabalável· É saber-se tão pequeno, e jamais abrir trincheiras·


03.09.2014

A NATUREZA DAS COISAS


(RÔ Campos)


O dia amanheceu nublado, algumas gotículas aqui, outras acolá. Olho para o pé de carambola em frente à minha janela, cheio de flores, algumas se abrindo, incontáveis frutos de cerca de um centímetro. Paro, fixo os olhos numa frutinha, e penso: que coisa mais linda! É assim mesmo a natureza de todas as coisas: primeiro a semente, depois o plantio, a germinação, o nascimento, e a coisa vai crescendo, crescendo, tudo a seu tempo.  E há beleza em tudo. E há muitos que não a veem. E há muitos que não a sabem. E há muitos que têm tanto e é como se nada tivessem. E há muitos que nada têm e tanto têm para dar. A natureza é isso mesmo:  linda e inacabada; uma busca constante por sua conformação. Por isso as intempéries, os cataclismos, os vulcões, os terremotos, os acidentes, os desatinos: somos todos inacabados em busca da conformação. Daí  a Teoria da Evolução. Daí que só os que se adaptam concorrem pela vida. Daí que os que se entregam...


*23.09.2020

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

PEGADAS


(RÔ Campos)


Aonde me levará essa estrada,  eu não sei.

Eu só sei que em todo o seu trajeto, até aqui,

Vi flores e também espinhos.

Senti o vento quente,  queimando  a minha face,

Nas horas em que o sol resplandecia.

Mas quando a tarde caía, 

A brisa suave, tocando o meu rosto,

Lembrava-me que a vida é mesmo assim, 

Como dizia o poeta:  ",ora esquenta, ora esfria,

E o que a vida quer da gente  mesmo é coragem."


E sigo em frente, apreciando as duas margens, 

E deixando as minhas pegadas por onde piso, 

Para que,  se eu quiser voltar um dia, 

Não me esqueça do caminho,

Ainda que seja noite,

Madrasta, mãe de todo açoite.


@rocampospoesia

#alcama

PLANTOU SAUDADE


(RÔ Campos)


Vi tantas perguntas no teu olhar.

Mas era um olhar abundante, forte. 

Não havia angústia

Nem tristeza.

Dúvidas,  talvez.

Mas a certeza da saudade era flagrante.

Daquela coisa doída.

Doida.

Avassaladora.

Da ausência da presença do afago, do beijo,  do abraço. 


Quantas lembranças desfilaram por tua mente!


Foram dias tão ligeiros, 

Que as  noites frias se tornaram corriqueiras.

E o que fatalmente poderia ser semente  a semear a dor e o medo,  

Posto que tão cedo te acossou, 

Plantou saudade.


@rocampospoesia

#rocampossobretodasascoisas.blogspot.com

#alcama

sábado, 9 de setembro de 2023

E TUDO SE FOI DE REPENTE


(RÔ Campos)


A vida transcorria  calmamente, 

No decorrer de cada dia,

No pedacinho de chão, 

Pras bandas do norte do Rio Grande do Sul.


Mas, certo dia - 

Era final de inverno -,

Em meio a uma frente fria, 

Toda aquela calmaria se transformou em inferno. 

O vento soprou mais forte,

A água do rio transbordou,

Trazendo a lama, o frio e o terror.

Tudo foi-se embora de repente:

Casas, móveis,   vidas, 

E os sonhos daquelas gentes...

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

FRAGMENTOS DO TEXTO CONFISSÕES - NEM FREUD. NEM PLATÃO

 

(RÔ Campos)


Nessa madrugada sonhei com você .  

Tudo  me pareceu muito real. Como se já tivéssemos convivido em um outro tempo, em outras eras. Éramos muito íntimos, cúmplices,  brincalhões. 


Foram horinhas  tão lindas!!!


Sorrisos,  troca de carinho,  aconchego, e também coisas que gostamos muito de fazer...Essas coisinhas que dizem muito de nós,  escorpianos,  sedentos,  carnais, amantes,   viscerais.


Até agora sinto como se tudo tivesse deveras acontecido no mundo real. 


Procurei explicação nas obras sobre os  SONHOS, de Freud.  Mas não sei onde  Freud se escondeu. Escafedeu-se nas prateleiras da biblioteca. Parti para Platão.  Só Platão na causa - pensei. Mas Platão não me permitiria desplatonizar essa intrigante história concebida  nas ideias. Corri no tempo.  A internet! Salvadora da pátria.  Criadora de laços.  Desfazedora de nós. A internet,  esta, que nos aproximou assim,  do nada. 


Acredite! 


O mundo lá fora,  e a gente lá dentro do quarto do hotel,  como se fossem cenas de O ÚLTIMO TANGO EM PARIS.  


Você sorria  tanto!


Não havia medo de nada. 

A entrega foi total,  como,  aliás, eu sonhei várias vezes acordada em meio  à  angústia da quarentena, com aquilo que seria o nosso primeiro encontro pós-pandemia.


Hoje queria te falar sobre tudo isso.

Você não me deu nenhuma chance.

Parece estar zangado comigo...Mas nada me diz.  Calou-se. Fechou-se em copas.

Terá  sido pelo GRITOS DO SILÊNCIO?

Ah! Tome tento! Interprete!

São palavras de mulher que não podem ser jogadas ao vento...

Versos que falam de embriaguez, mas não da cachaça

Versos que falam de ressaca, mas não de bebida: são confissões  nas entrelinhas.


Peraí! Ou você quis dar um basta no jogo?


Assim não vale: desistir antes de entrar em campo? 


Responda-me, se interessar possa, e se porventura sobrar-te tempo para essas coisas bobas  da vida. 


Ainda assim,  meu caro amante,  que vive  no mundo das minhas ideias,  eu te confesso:  nos  meus sonhos és real. E, nesses sonhos, não me importo que,  para você e seu mundo, eu seja ninguém...

sábado, 2 de setembro de 2023

A VIDA DO TEMPO É REFÉM


(RÔ Campos)


O tempo passou

E quem diz que não viu

Não sabe o que diz

A vida  é  um triz. 


A vida do tempo é  refém!

A vida do tempo é refém!


O tempo passou

E  a vida se foi

Não volta  jamais

A vida do tempo é  refém!


A vida do tempo é  refém!


Agora eu nem sei

O que vou fazer

A dor  da saudade

Dói mais que o frio. 


A vida do tempo é refém!

A vida do tempo é refém!


O tempo passou

Só não viu quem não quis

A vida é feita de escolhas

A vida do tempo é refém!


A vida do tempo é refém!


O tempo que nunca para 

O tempo

Q tudo leva

O tempo

Que tudo aclara

O tempo

Que tudo sara.


A vida do tempo é  refém!

A vida do tempo é refém!


(*) Escrevi isso ano passado, eu acho. Acabei de ver,  lembrança que o Face me trouxe,  mas já esqueci a data 🤣 Hoje,  troquei tudo. Essa mania de quem escreve. Quando a gente vê,  tempos depois, sempre quer mudar alguma coisa.

Quis deixar uma letrinha  pronta para ser musicada. Um sambinha. Com esse refrão tão verdadeiro,  tão drasticamente real: SOMOS TODOS REFÉNS DO TEMPO, COMO TAMBÉM DE NOSSAS ESCOLHAS.

ESSA É  A LEI DA VIDA.


@rocampospoesia

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

OS ABISMOS QUE EU CAVEI

(RÔ Campos)


Eu sei o que é  o amor e a dor.

Por isso não me venham por favor contar histórias que eu conheço bem.


Eu sei bem  esses caminhos das rosas e da sua beleza.

Mas sei  também que  o mundo não  é  um jardim da delicadeza.


Já  acreditei em tanta coisa,  que hoje  não  ouso mais crer.

Mas  trago comigo, como um mantra, a certeza de que  "o mundo é  um moinho"

 e que "o tempo vence toda a ilusão".


Se  nesta vida alguém me fez algum mal, esse alguém decerto fui eu.

E hoje sei que de cada amor que vivi só  herdei o cinismo.

E só  muito tempo depois  me dei conta de que os abismos em que eu caí,

Eu os cavei  todos com  os meus próprios pés. 


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SALVE CARTOLA!


O mundo é  um moinho é  uma das mais belas músicas  do cancioneiro brasileiro.

A letra retrata   uma realidade   profunda, incontestável  e avassaladora. 

Ninguém  cava os nossos abismos. Nós  os cavamos com os nossos próprios  pés. E mãos. Claro. Indubitável. E, depois da queda nesses abismos que nós  mesmos cavamos, damo-nos conta de que todas as nossas ilusões  sempre são  reduzidas  a pó. A ilusão se desfaz diante do primeiro embate com a realidade.


(*) 31.08.22

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

LUA

 

(RÔ Campos)


Lua!


Ah! Se tu soubesses,

Como tua beleza

Enebria o peito  

Enche o céu de graça,

No clarão da noite,

Pura sinergia!


Eu sozinha,  aqui,

Na janela do meu quarto, 

Te espreitando,

E a madrugada,

Envolta em silêncio,

Voluptuosa,

Vem se anunciando:

Vai atravessar a noite,

Se perder no dia.


Lua!


Os meus olhos ficam

 Tão extasiados,

E meu coração,

Coitado! 

De tão tonto,

Tão embriagado,

Com tanta beleza,

Se põe a  correr,

Destrambelhado, 

Sem nem sentir medo

De parar de vez,

Porque  sabe,


Lua!


Que hoje é hoje

O amanhã,  talvez.

sábado, 26 de agosto de 2023

VIDA!!!

 

(RÔ Campos)


Pode a vida pregar todas as peças·

Te trazer e te levar·

E a vida te levou daqui·


Vida.


Mas eu, esperta, antes que a vida te levasse,

Tratei de te prender no meu coração, 

E guardei a chave·

E a vida te levou sem que ao menos me avisasse·

Mas a chave do meu coração,  esta, só eu sei onde guardei. Ninguém mais sabe.


(*) 26.08.2014

NOS CAMINHOS DESSE RIO...

(RÔ Campos)


Nos caminhos desse rio,

Muita história pra contar,

Tantos sonhos,  

 Desvarios,

Tantas luas,

Tantos sóis,

Muito sangue derramado.


Nos caminhos desse rio,

Ribeirinho,   rio abaixo, rio acima

Em busca do pão de cada dia.


Salve a mãe natureza!


Nos caminhos desse rio,

Dois destinos,

Duas margens,

Passaredos,

Passarinhos,

O mesmo leito,

A mesma gente. 


Nos caminhos desse rio...

Segue o canoeiro, descendo, aprumando a canoa, 

Subindo, na volta, remando,

Numa jornada  penosa, 

Junto com sua Maria e o menino José.

O sol inclemente batendo na sua tez ou na sua costa.

João, Maria e José

E os caminhos desse rio...

SE O TEU MUNDO CAIR MAIS UMA VEZ, EU ESTAREI AQUI

(RÔ Campos)


Um dia,

Quando te sentires novamente só

(E esse dia há de chegar), 

Podes vir me procurar,

No mesmo lugar onde me encontraste naquela primeira vez.

Quanto o mundo desabou sobre a tua cabeça,

E não havia ninguém para te livrar da tristeza dos teus descaminhos.

Te estendi a mão, e um facho de luz iluminou a tua escuridão.

Um sopro de vida te fez levantar e seguir...

 

Mesmo que eu esteja cansada

De minhas intermináveis batalhas,

Te receberei com um sorriso. 

Eu te darei meu ombro,

Te cederei  meu precioso  tempo,

E te ouvirei atentamente, horas a fio,

Dizeres mais uma vez  sobre o teu penar...

quinta-feira, 20 de julho de 2023

MARINA


(RÔ Campos)


Marina menina

Marina mulher

Tu tens  a graça e a pureza

Da flor de açucena

Marina

Nasci pra te amar. 


Marina

Tu tens a boca mais linda

Que minha boca tocou.

Teu corpo é  uma obra prima 

És  a coisa  mais bela 

Feita pelo criador. 


Marina

Valeu a pena a espera

Os dias não foram em vão

Marina te  amo mais que tudo

Te quero pra sempre

Só minha e de mais ninguém.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

O AMOR TEM DESSAS COISAS

 

(RÔ Campos)


Ouvi dizer que você

 Anda dizendo por aí

Que eu fui a real culpada

Da nossa separação. 


Pode falar o que quiser

Eu não vou te impedir

Nem tampouco calar

Só não pode mentir. 


Nosso amor foi intenso demais

Tivemos nossas rusgas, eu sei

O amor tem dessas coisas.


Mas a decisão foi de nós dois

Não deixamos nada pra depois

Cada um  seguiu a sua própria estrada.


Agora não venha manchar o meu nome

Dizer por aí inverdades

Não deixe a maldade corroer

O pouco que restou de nós. 


Nosso amor foi intenso demais

Tivemos nossas rusgas, eu sei

O amor tem dessas coisas.

SAI PRA LÁ


(RÔ Campos)


Não,  eu não vou deixar

Nem você nem ninguém me derrubar.

Sai pra lá.


A minha estrutura  tem a base forte

Isso não é questão de sorte

Sempre foi trabalho duro, sol a pino

Os meus sonhos de menino

Não é  você que vai melar.

Sai pra lá. 


Não vou ser saco de pancada

De quem não está com nada

Vá baixar noutra freguesia

Aqui você não  se cria, não. 

Sai pra lá.

NADA PASSA EM VÃO

 

(RÔ Campos)


Dias há que não sei um quê.

A roda da vida Gira Mundo.

Uma total ambivalência:

A luta do bem contra o mal.


Pecadores já nascemos,

Mesmo sem pecado cometer.

São culpados  Adão e Eva.

Nada fizemos por essa pena merecer.


Diz a bíblia, livro dos homens:

É  o pecado original.

Não adianta fugir da espada.

Todos passam pelo crivo do juízo final.


Há dias em que me lembro do amor que partiu.

Do outro amor que eu deixei e nunca mais vi.

Lembro também do amor que nunca me quis.

E do grande amor que sem porquê o perdi.


Tudo passa, até a vida.

E nada passa em vão,

No vão da porta,

No desvão  da desilusão.

VOA, JOÃO!

 

(RÔ Campos)


Voa!

Voa João!

Vai ao encontro de outras estrelas

Vai ocupar o teu lugar na tua constelação. 


Voa!

Voa João!

O teu vôo  mais alto

Vai olhar do espaço celeste

Tudo o que na terra 

plantaste.


Voa!

Voa João!

O teu vôo mais solitário 

O derradeiro

Te ajeitas  por aí

O céu é  todo teu. 


Voa

Voa, João

Aqui embaixo ficamos nós 

Por enquanto,  sem saber até quando

Voa o vôo  dos imortais.

SOB OS AUSPÍCIOS DA SAUDADE

 

(RÔ Campos)


É  noite alta de verão.

Aqui dentro o vazio.

Lá fora a lua cheia - quanta ironia!

E eu  sem saber o que fazer com os pedacos do meu coração. 

Nem como sarar as feridas causadas por uma tal desilusão.


Lá fora,  o barulho dos carros.

Aqui dentro,  o silêncio que soa como um murmúrio. 


Tantas coisas vividas!

Quantos amores já idos!

E um pouco de tudo isso para reviver, 

Sob os auspícios da saudade...

sexta-feira, 30 de junho de 2023

ESSA SAUDADE!


(RÔ Campos)


Ai!Essa saudade

Que hoje vem me visitar

Chega traiçoeira

Nem pede para entrar

Me pega assim

Nessa noite tão medonha

Chega chegando

Querendo se abancar.


Olho pro céu

Tão  cheio de estrelas

E a lua branca rasgando a escuridão

Me lembro do amor que um dia se foi

E eu sem saber o que fazer muito chorei.


Ai! Essa saudade

Que hoje vem me visitar

Me faz refém de uma dor peculiar

Estrela e lua

Tudo me lembra o meu amor

E hoje meus dias eu os vivo a penar.


O amor se foi

Quando ainda era primavera

Meu coração um jardim cheio de flores

Não demorou o inverno se apossou

E o que era jardim deserto se tornou.

sábado, 24 de junho de 2023

CULPA DO TEMPO

(RÔ Campos)


Eu te vi hoje. 

Os olhos mirando o vazio,

O semblante franzido.

Fiquei a imaginar a  tua alma...


Estás  só  e triste.

Teus dias, agora,  são de lembranças da pessoa amada,

Que te mandou embora depois de uma vida inteira juntos. 

Tudo se foi num instante. 


O tempo nos rouba tudo. 

Ou  quase tudo.

Até o amor que um dia foi grande.

Às  vezes nos dá sabedoria... 

Mas quem quer saber de sabedoria  quando os dias anoitecem?

sábado, 17 de junho de 2023

CUIDA DE MIM


(RÔ Campos)


Cuida de mim

Hoje eu te necessito

Como uma criança precisa

Do colo da mãe a lhe acalentar.


Cuida de mim

Já não tenho mais a mesma força de outrora

Os passos hoje são sôfregos

Agora  ando bem devagar.


Cuida de mim

Preciso muito de você aqui

Pra quando o medo chegar

Possam tuas mãos me  afagar.


Cuida de mim

És o meu sustentáculo 

Meu refúgio

Minha fonte inesgotável de amor. 


Cuida de mim

Não me deixes só

Ontem fui tua mãe,  teu pai

Hoje sou eu que espero por ti. 


Cuida de mim

Meu filho,  minha filha

Arruma um tempo

Amanhã pode não haver mais tempo...


terça-feira, 30 de maio de 2023

O BEM DO MAL

 

(RÔ Campos)


Ah! meu amor,

Ex- amor,

Sei lá!

Não, não pude concordar

Em apagar a minha estrela,

Pra que a tua pudesse brilhar. 


Não,  meu amor,

Meu ex- amor,

Sei lá!

Do mal que me causaste, 

Adveio  o bem.

O amor que me negaste

Encontrei em outro alguém.

IN(ABALÁVEL)

 

(RÔCampos)


Trago no rosto as marcas  do tempo

E na alma todo o silêncio,

Que às  vezes ruge,

Outras tantas vezes acalma. 


E, no meu olhar

Os sinais da íris fatigada me delatam:

Tenho andado muito cansada.

Mas a fé na vida ainda  é  o que me mantém inabalável. 


E o tempo!? Ah!

"O tempo andou mexendo com a gente".


Mas não,  eu não esqueço 

"A felicidade é  uma arma quente,  queeeeente"


E aquilo que tanto desejamos,  

Pelo o que tanto lutamos,

Quando alcançamos,

Muitas vezes é isso mesmo a causa de nossos infortúnios...


domingo, 28 de maio de 2023

EU SOUBE

 

(RÔ Campos)


Eu soube do que tu vives passando por aí

Dos teus dias sofridos

Da tua dor e agonia.


Eu soube que tens andado de cabeça baixa

O olhar tristonho

Olhando para o chão. 


Eu soube que tua ilusão teve fim

E que tua espera acabou

O amor que procuraste toda a vida

Até hoje não chegou

Eu soube, tua maldade te condenou.


Agora,  então,  posso dizer te perdôo 

Porque a vida que escolheste

Tratou de te castigar. 


Quanto a mim,  

A vida continua me levando

Como uma doce canção de ninar. 



PELO AMOR DE DEUS!

 

(RÔ Campos)


Se ainda existe amor

Eu te peço por favor

Vamos parar de vez

Com essa desunião.


Pra que brigar assim

Você cobrando de mim

Sem ter nenhuma razão?

Falso moralismo não cai bem

Na nossa situação.


Sei que nos magoamos

Você me ofendeu

Eu não deixei por menos

Fomos às vias de fato.


Mas agora, já deu

Acabei te desafiando

E você, me desprezando

O ódio nos corroeu.


Eu te imploro

Pelo amor de Deus

Vamos procurar uma saída

Chega dessa vida de cão.


Por isso, eu te peço

Por favor, me perdoa

Por isso, eu te perdôo

Ainda que perdão não me peças.

A SOLIDÃO QUE MATA

 A SOLIDÃO QUE MATA

(RÔ Campos)


A solidão,  o abandono,  a indiferença das pessoas que amamos, com as quais contamos, nem que seja para recostarmos  nossa cabeça,  aquelas que esperamos  dias e noites a fio e nunca aparecem, tudo  isso junto e  misturado mata muito mais do que a própria doença de que se foi acometido(a).

Mas a vida é  assim: absolutamente nada passa despercebido  sob o céu que nos protege.  A lei da ação e  reação é  implacável. 



ABORTO

 

(RÔ Campos)


Um dia desses

Cansada de tudo 

Resolvi virar a mesa

Peguei a tesoura

Cortei o cabelo

Joguei fora a tristeza. 


Abri as  minhas gavetas

Vi muita coisa bolorenta

Havia cheiro de mofo

Como esse mundo anda louco!

Gente como a  gente vagando noite a dentro

Buscando para a alma conforto.


Lembrei de um amor antigo

Quando sente saudades,  aparece

Depois se cansa,  e vai embora

Não sem antes pisar  com os pés da intolerância

Desse amor todo torto

Eu já fiz uma espécie de aborto.

sábado, 27 de maio de 2023

NADA FICOU COMO ANTES

 

(RÔ Campos)


Os dias seguem velozes

As horas passam  voando 

Tudo vai indo embora

Os sonhos, os planos,  a memória.


Mas mora em mim  tanta coisa

E uma saudade  tão grande

Foi de repente  avalanche

Nada ficou como antes.


Tento sorrir pras estrelas

Quero espantar a tristeza

Limpar os destroços da guerra

Que meu coração golpeou.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

APRENDI

 

(RÔ Campos)


Aprendi a viver só

A solitude faz muito bem

Aprendi que viver só

É  melhor que esperar por alguém.


O amor é  uma armadilha 

É  como estar preso em uma ilha

Sem ninguém pra socorrer.


Aprendi que amar só é  bom

Para quem ama por amar

Sem nada esperar em troca

Pois o amor só sabe dar

E receber é  uma incógnita. 


Muita gente vive assim

Sonhando à espera de alguém

Não sabem que o mundo é  um moinho

A triturar amores mesquinhos.

domingo, 21 de maio de 2023

A LUZ E A ESCURIDÃO

 

(RÔ Campos)


Quem tem muita luz encandeia  aqueles que vivem na escuridão. 

Mas quem vive na escuridão não embaça os que são feitos de luz. 

Quem ama não teme o ódio alheio. 

Mas quem odeia queima no fogo da inveja.

Quem é  da paz vive a plenitude da vida. 

E quem é  da guerra passa pela vida sem viver.


(*)19.05.18


quinta-feira, 18 de maio de 2023

VOLTA, AMOR!

 

(RÔ Campos)


Meu amor,

O que mais queres de mim?

Já fiz de tudo o que podia fazer

Pra me redimir.


Meu amor

Eu sei, fui eu que errei

Me deixando levar

Pelas coisas mundanas.


Mas, sabes bem

Eu já me arrependi

Te pedi mil perdões

E  não queres me perdoar.


Deixa essa ferida fechar, cicatrizar

Pois quando o amor adoece

O coração agoniza e padece.


Esquece, meu amor

Que um dia te fiz sofrer, chorar

O que ficou no passado

Hoje está morto e enterrado.


Agora eu te imploro volta amor

Vamos viver o presente

Esse amor tão bonito

Que o destino nos presenteou.


(*) 12.05.2017


AS PALAVRAS DITAS PELO SILÊNCIO

 

(RÔ Campos)


"Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca venham a dizer." 


Foi justamente isso que disse John Powell. 


E, assim, muito mais do que tentar decifrar a fala das pessoas, eu viajo nesse mundo das palavras que nunca foram ditas. Muitas vezes os olhos...Os olhos dizem muito. Mas há também olhares oblíquos, como Machado desenhou os de Capitu, por exemplo. Então...Vou continuar como uma apanhadora de sonhos, colhedora de palavras não ditas, buscando ruídos no silêncio da boca, tentando compreender os  que se calam,  os que se recolhem para dentro de si mesmos,  muitas vezes na vã tentativa de se defender  do mundo exterior...


 (*)16.05.2014

quinta-feira, 27 de abril de 2023

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"

 

(RÔ Campos)


Eu, como uma montanha de braços abertos, querendo abraçar o vento que toca a minha pele. Tu és o vento. Sei que estás por aqui, geograficamente bem perto de mim, mas, confesso-te,  é como se estivesses muito longe. Ainda assim, frequentemente me lembro de ti, quando passo em frente à tua antiga casa - aquela onde foste feliz por um tempo, e depois já não mais sabias o que era a felicidade. 

Hoje minhas mãos misturaram-se a adubos que eu,  delicadamente, coloquei nos vasos de minhas plantas...

E, mais um vez, lembrei de ti, de quando foste meu jardineiro e regavas meu coração. 

E senti o cheiro das uvas, de vinho e do licor de uísque que sempre degustávamos nas poucas e eternas horas em que o silêncio se calava. 

E lembrei daquele dia em que me convidaste a ir ao teu jardim: noite e céu cheio de estrelas, vinho, delicadeza e cumplicidade, teus olhos nos meus olhos, tuas mãos na minha vida, minha vida nas tuas mãos.


(*) 27.04.2013

quarta-feira, 19 de abril de 2023

OUTRAS DIVAGAÇÕES

À nossa frente duas portas, uma larga e a outra estreita, muito estreita. Temos que seguir caminho. Alguém duvida que a porta escolhida será a mais larga? Isso é bíblico. Ainda que, para mim, a Bíblia seja uma coletânea de textos literários e poemas (Os Salmos de David, por exemplo, são belíssimos exemplos). 

E eu creio na literatura e na poesia. 

Há sempre um pedaço da alma, um pouco da vida do literato, do poeta  e de suas experiências, de seu olhar, de sua dor e das dores da humanidade nas obras que cria.

*19.04.2012

sábado, 8 de abril de 2023

COMO SERÁ?

 

(RÔ Campos)


Como será

O que não foi

Se já não foi

Não pode ser

Não há caber

Em nenhum tempo

O que passou

O de agora

O futuro  que não sei?


Como será

Um suposto amanhã

Sem pressuposto algum

Se a flor o botão não abrir

Depois que a chuva passar

Se o sol não sair?


Como será

Eu sem  ninguém

Ninguém em mim

Espaços

Vazios

Alguém procurando ocupar

Se eu não sei mais deixar?


Onde será

Que posso ver

Procurar

O que não vi

O que  passou por mim

Como passam as borboletas

E eu nem percebi?


Tudo é fugaz!


E o tempo, veloz 

  Escorre pelos dedos, agora tortos

E se vai pra  nunca mais.


Ninguém toma às mãos o tempo!


Ninguém!


E esse futuro

Que não alcanço

Não sei,  não sei

Quem sabe?

Se vem,  vem como

Nas asas do mal ou do bem?


Cadê meu céu?

Cadê meu mel?

Esse gosto amargo que ficou na boca que não beijou

Os ruídos insistentes no ouvido

Do passado querendo entrar

Os olhos de não ver

Coração de não amar

Não quer mais brincar

Não quer mais sofrer.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

QUANDO ATRAVESSARES A PORTA

 

(RÔ Campos)


Vai, se tu queres ir·

Vai, se essa é a tua vontade·

Só não esqueças durante  a tua viagem

Que, se um dia, quem sabe, 

Sentires saudade e vontade de voltar,

Eu não estarei mais aqui· 


Porque, quando atravessares aquela porta,

E puseres os pés na estrada,

Tu aqui nada mais serás senão poeira e folha morta·


E aquela mulher que um dia foi tua companheira,

De tão tardio o sol batendo na soleira,

Também partiu, pois já não era mais a mesma·


quarta-feira, 5 de abril de 2023

ESTRAGOS

 

(RÔ Campos)


Ontem à  noite

Eu saí  por aí

Bar em bar

À  procura do amor

Que até hoje não sei

Porque razão me deixou

Sem nada me dizer. 


Procurei

Em cada rosto que vi

O sorriso, o olhar

Nas canções que ouvi

Me lembrei do amor

Que juntos juramos

Nunca um dia acabar. 


Quando dei por mim

Foi que vi o estrago

Das dezenas de trago

De cerveja e cigarro

Pra esquecer o amor

Que até hoje não sei

Porque razão me deixou

Sem nada me dizer. 






PEGA LEVE

 

(RÔ Campos)


Pega leve.

Vai devagar.

O poeta já disse:

"O mundo é  um moinho,

Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos".


Pega leve.

Larga essa espada.

Te livra dessa lança.

Alivia essa mão pesada.


Pega leve. 

Contempla o teu jardim. 

Cuida  do teu corpo, 

A tua morada.


Pega leve. 

Esquece quem mágoa te causou.

Sorri pra vida.

Espalha bons fluidos. 

Num instante e  tudo já é  ido...



ACALMA O TEU CORAÇÃO

 

(RÔ Campos)


Cadê a tua fé?

Aonde foi parar a tua brandura?

Para que tanta fúria?


Acalma o teu coração!


Ontem à noite vi ódio em teus olhos.

Tua boca cuspia sangue. 


Como te deixaste vencer pela ira?

Isso não faz bem ao teu espírito,

Aflige a tua alma. 


Acalma o teu coração!


Afasta de ti tudo o que te inflige dor e tristeza,

O que te faz perder o sentido da vida.

Tudo aquilo que te rouba a serenidade,

Que te turva a visão.


Acalma o teu  coração!

domingo, 2 de abril de 2023

OUTONOS


(RÔ Campos)


Em mim há algumas estações já se fez noite.

E, de repente, surges em meio à  nebulosidade do tempo. 

Tudo há operado em mim pela força dos anos  consumidos minuciosamente. 

Eles também me consumiram:

Já não há mais frescor, ainda que seja manhã. 

No pomar,  tudo há amadurecido. 

As folhas, amareladas, caem aos poucos,  como sempre ocorre quando chega o outono.

Assim também se dá nos outonos  de nossas vidas.

Não se vê mais viço.

Somos como tecidos que,  com o tempo,  se esgarçam.

A luz,  a luz ainda tento alcançar ao longe,  ao menos uma fresta,

Pelos olhos cansados  de abrir e fechar,  de sorrir e chorar,  anos a fio.

E, então,  me apareces  assim,  tão de repente,

Quando eu pensava que já havia sonhado todos os meus sonhos e vivido todos os meus pesadelos.

E meus olhos cansados veem teus olhos, no meio dessa escuridão que,  sabidamente, chega para todos que não ficam no meio da estrada. 

Há um quê  em ti que me desperta.

Há um quê  em ti que me diz coisas, que me sussurra, que me intriga e mexe comigo. 

São  como cinzas  adormecidas que, com o teu sopro, fazem surgir uma centelha.

Mas eu,  em meio às minhas elucubrações, penso ligeiro: esse sopro é  fruto exclusivo de minha imaginação. 

Estás no meio da estrada,  e eu já caminho para  o fim.  Não pretendes de modo algum,  penso eu,  acelerar essa viagem para me alcançar.

Não faz sentido. Não tem porque.

Mas eu,  por incrível que pareça,  teimo em sonhar. 

Sonho quando te vejo,  ainda que em uma foto,  uma postagem. 

Miro teus olhos.  Eles me dizem muito de ti. 

E insistem em me enganar,  iludir. 

Teimam  em fingir que,  sim,  eu posso crer,  há uma chance de viver.

Mas eis que,  num súbito,  acordo. 

Não consigo ver nada. Nem o teu sorriso.   Tá tudo escuro.

É  outono em minha vida. 

Não demora, chega o inverno.

Frio. Solidão. Fome. 

Mas em ti, em ti tudo é  primavera.  Depois, verão.

Calor. Dois. Saciedade.

sexta-feira, 31 de março de 2023

CORAÇÃO INSENSATO

 

(RÔ Campos)


O que mais dói em mim

É nunca ter sentido

Que doía muito em ti

Essa dor que agora sinto.


Uma dor que alucina

Que me invade, me anula

Castiga, denuncia

Uma dor que se acumula.


O que mais dói em mim

É ter me cegado à luz do dia

Fechando os olhos para ti

Supondo que eras feliz, porque rias.


O que  mais dói em mim

É o silêncio que hoje me apavora:

Não saber o que é feito de ti

Nem o que são tuas memórias.


O que mais dói em mim

É esse medo que me devora:

Que vivas a esperar por mim

E eu, covarde, não sei ir embora.


(*) 31.03.2013


quinta-feira, 30 de março de 2023

A VELHICE E OS PASSOS DO TEMPO

 

(RÔ Campos)


Estava ali, sentada, numa das dezenas de cadeiras do CAIMI da Colônia Oliveira Machado, o Centro de Assistência Integral à Melhor Idade Dr. Paulo Lima. Meus olhos batem nas fotos do Dr. Paulo Lima nas paredes. Quero lembrar-me de quem era o Dr. Paulo Lima. Algo me diz que eu o conheci. Sinto-o ao olhar sua face, seu sorriso, um jeito manso de ser...mas a minha memória embotada pelo tempo não me permite prosseguir viagem e chegar a um porto seguro. Reparo nas cadeiras, estão todas ocupadas. A maioria, velhos desacompanhados. Uns olham para o teto, ou para a tela estampando os números das senhas, e têm o olhar tranquilo. Outros conversam entre si, calmamente...e até sorriem. Noto uns dois ou três depauperados adentrando o imenso salão, certamente vitimados por AVC. Observo-os envoltos em seus pensamentos, viajando no tempo enquanto o tempo se vai, ora veloz, ora lentamente, e deduzo: eles não têm mais pressa alguma. Já percorreram uma longa estrada, já sonharam muito, realizaram alguns desses sonhos e outros foram desfeitos,  já viveram mais de dois terços do tempo que têm para viver, não precisam mais correr. Para quê?  Ao contrário de quando somos crianças e jovens, que desejamos e pedimos sempre que o tempo voe,  acredito que eles prefeririam que o tempo passasse mais lentamente. É assim que a coisa se processa, certamente. Já estou nessa antessala e pressinto-o. Às vezes, ainda tenho alguma pressa, justamente porque sei que meu tempo é curto, e não quero deixar de fazer algumas coisas que  sei que ainda devo fazê-las, que quero fazê-las. Todavia, estando nessa antessala, posso sentir que ter pressa não faz mais sentido. Depois de uma noite segue-se a manhã, e depois a noite de novo, e outro dia, mais outro dia. Nesse estágio da vida, concluímos que a única pressa que podemos ter é a urgência de viver cada dia, como ele se nos apresenta, contando com a sorte de termos uma velhice assistida, porque, como já disse alguém por aí, "a velhice, por si só, é uma tormenta, pior ainda se desamparada". As minhas andanças e situações vivenciadas nos últimos tempos têm me escancarado muito essa realidade. Uma mãe é para dez filhos. Dez filhos não são para uma mãe.

(*) 30.03.2013


domingo, 19 de março de 2023

SOBRE TODAS AS COISAS

 SOBRE TODAS AS COISAS

(RÔ Campos)

SOBRE TODAS AS COISAS

(RÔ Campos)


É  sobre amar

É  sobre naufragar

É  sobre enganar 

É  sobre lutar

É  sobre perdoar 

É  sobre esquecer

É  sobre entender

É  sobre sofrer

É  sobre viver

É  sobre morrer

É  sobre fingir

É  sobre desiludir

É  sobre rir

É  sobre decidir

É  sobre partir

É  sobre supor

É  sobre dispor

É  sobre o rancor

É  sobre bolor 

É  sobre a dor

É  sobre nada

É  sobretudo sobre nascer,  crescer,  viver, cuidar,  chorar,  amar,  sofrer, partir...

domingo, 12 de março de 2023

QUERÊNCIAS


(RÔCampos)


Enquanto uns  curam com a força do amor, outros adoecem pela falta dele.

Enquanto uns entram para a vida, querendo,  outros saem dela,  sem querer. 

Enquanto isso eu vou vivendo, 

Sugando tudo o que a vida tem para me dar,

E amando.

Porque  sem amor a vida não faz sentido.

Não há presente nem futuro. 

Não tem porque.



quinta-feira, 2 de março de 2023

QUERENDO ENTENDER

 

(RÔ Campos)


Sabe?

Foram tantas coisas,

Muitas coisas que vivi

Desde o dia em que você sumiu na escuridão.


Sabe?

Muitas vezes me perguntei

Onde foi que eu errei.

Mas o futuro irá dizer

Qual de nós dois foi quem feriu e magoou.


Sabe?  

Eu não sei dizer

Das noites em que fiquei pensando em nós dois,

Olhando para o céu procurando uma resposta,

Querendo entender como se pode amar alguém,

Querer tanto bem,

Sendo ao mesmo tempo tão cruel. 


Sabe?

Tanto tempo se passou

Desde quando nos descobrimos. 

Sempre fomos bons amigos,

Mas, como amantes,  sempre fomos dois errantes.


Sabe?

Como você não sabe?

Foram muitas as suas juras de amor eterno.

Ah! Tudo bem.  Agora eu sei.

Como todo "conservador", és  um covarde.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

ABENÇOADAS SEJAM AS AMIZADES VERDADEIRAS

 

(RÔ Campos)


Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que não racham nem se quebram como copos de vidro que caem das mãos·

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que não se enchem de orgulho.

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que nunca guardam rancor.

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que não se deixam levar por picuinhas.

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que jamais desperdiçam umas horinhas, assim, de companheirismo.

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que socorrem antes que um amigo clame por ajuda.

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que ouvem a dor do outro sem que seja necessário ver lágrimas. 

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, que não são interesseiras.

Abençoadas sejam as amizades verdadeiras, porque elas são eternas.

Nada as separam, nem as maculam, nem as arreliam. 

Nem as distâncias geográficas. 

Nem o fel da hipocrisia. 

Nem a intriga de gente vil.

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

INGRATIDÃO

 

(RÔ Campos)


A ingratidão é  uma fera

Que corrói e dilacera.

A ingratidão é  a mãe de todas as mazelas

Que consomem o coração de quem por outros zela.

A ingratidão é  uma lança comprida,

Cravada no peito do benfeitor, por quem tem memória curta.

A ingratidão é qualquer coisa, Qualquer nada, Qualquer lixo,

Todo o lixo,

O lixo do ingrato.


#rocampossobretodasascoisas

#rocampospoesia