domingo, 30 de setembro de 2012

FRESTA


(RÔ Campos)

Aqui, dentro do meu quarto
Sozinha... e uma multidão comigo
Faz frio, mas o cobertor me aquece
Não sei se é quente lá fora.

Penso em amores que se foram
Sem que eu quisesse que se fossem.
Penso em amores que nunca partiram
Mas que partiram meu coração.

Penso em amores que fugiram
E hoje, coitados, vivem no limo.
Penso em amores tão lindos, tão raros
E que ficaram para sempre...
(Doce ilusão!)

De repente, ouço uns ruídos
Como se os sinos dobrassem ao longe
A me lembrar de um amor batendo à porta
Que eu já deixei entreaberta...Mas não quis entrar, ainda.

Atenta, fiz na porta fechada uma fresta
Para o amor, temeroso, ver a luz
Mesmo que estreita
E entrar, ao deixar passar o medo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

TRISTE SINA TEM UM POETA DE LATRINA

Ah, quantas voltas essa vida realmente dá. Imaginar que a prefeiturável Vanessa, vinda do sul do país, foi construindo lenta e vagarosamente uma história política em nossa cidade...Eu, em várias ocasiões, votei nela para vereadora, e até mesmo para deputada federal. Admirava-a por ser uma educadora, por sua postura despojada, simples. Só nunca fui com a cara do marido dela, com aquele jeitão de comunista, que acabou se vendendo para o poder. E eis que, com uma carreira política sólida, muito facilmente poderia chegar à prefeitura de Manaus. Mas, destrambelhou-se, aliou-se ao poder podre e corrupto, começou a fazer um discurso homofóbico para agradar a gregos e troianos ditos evangélicos, até que um ovo talvez inventado abriu a casca e a podridão tomou conta. Dizia meu pai do coração: triste sina tem um poeta de latrina. Pois é.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

LAMENTO


(RÔ Campos)

O meu amor tá dormindo
Canto cantiga pra ele
Vejo estrelas no céu
Da janela dos olhos dele.

O meu amor é tão lindo
Que criatura mais bela
Tem o cheiro da flor
Se abrindo na primavera.

O meu amor é tão puro
Traz a beleza dos anjos
O quadro que Deus pintou
Nas paredes do meu quarto.

Mas o que faço, agora
Sem tê-lo, aqui, comigo
Niná-lo, não posso mais
Quem será o seu abrigo?

Rogo ao Senhor que o proteja
Nesses caminhos tão turvos
Não permita , Deus, que ele sofra
Será o meu maior lamento.

(Acabei de compor. Letra e música. Dedicada a uma criança linda e de muita luz, que se apossou de nossos corações)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

INVICTO


(RÔ Campos)

Abra os olhos
Olhe para o céu
Cuida que o inferno
Às vezes é teu vizinho.

Corre para os campos
Planta tuas flores
Saberás os teus espinhos.

Semeia e colherás
Tua mesa será farta
Os frutos de teus quintais.

Corre, que o tempo é curto
Agora, já é ontem
O amanhã também se vai.

Ama, acima de tudo
Porque, sem amor, tu não és nada
Serás vencido ao invés de vencedor.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

DEUS


(RÔ Campos)

Dizer boa noite que o dia vai chegar
Eu vou com Deus, acordar, amanhã
Quando o Sol entrar na minha casa
Onde mora Deus dentro de mim.

Eu nunca vou ficar, se tiver de partir
Eu nunca vou partir, se aqui tiver de ficar
Mas aonde quer que eu vá
Sempre haverá Deus dentro de mim.

Há muitos jardins em minha casa
Cedo acordo pra cuidar e durmo tarde
Alguns dias vem o Sol e brilha
Noutros, a chuva pra regar.

Há Rosas, Orquídeas amarelas, Margaridas
Cactos...também; verdinhos, cheios de espinhos
Com sede, sobranceiros, se mantêm
Vivos! Vivos! Assim são os meus jardins.

Dizer boa noite que a noite já se vai
Esperar o dia, quando o Sol bater na minha porta
Despertando Deus, que vive em mim
Porque Deus é o Eu que me governa.

domingo, 2 de setembro de 2012

SETEMBRO


(RÔ Campos)

Aonde me levará essa estrada? Aonde?
Sei que não tenho muito tempo, do longo tempo que já vivi, para o que ainda me resta. A saúde se abala, a mente grita, porque continua jovem no sentido de avidez da vida, mas o corpo não te deixa mais viver plenamente. O esqueleto padece com as ações do tempo, muitas vezes provocado pela tua falta de zelo.
E me pergunto o quê fazer, como exercitar a arte de esperar, a paciência, que é um exercício diário, quando não se sabe se vai acontecer, se o amor vai entrar, se vai valer a pena esperar (mas uma luz me acende a alma ao lembrar-me que o poeta afirmou que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"). Como conciliar a ansiedade, o querer logo, o querer tanto, a satisfação dos clamores do corpo, a chama que se acende, a vontade do afeto, com a sabedoria de aguardar o dia, trazido pelo tempo, que tudo apraza, quando já estamos no limiar da fronteira da vida plena para a vida em pedacinhos? Comecei esse setembro com a sensibilidade aflorada, como se em minha alma fosse inverno e a primavera querendo entrar antes da hora, uma primavera a desabrochar, exibindo toda a sua beleza e frescor, como se o amanhã fosse o hoje, para que ela demore a se ir de novo, receosa de que o tempo não lhe permita mais voltar.