domingo, 2 de setembro de 2012

SETEMBRO


(RÔ Campos)

Aonde me levará essa estrada? Aonde?
Sei que não tenho muito tempo, do longo tempo que já vivi, para o que ainda me resta. A saúde se abala, a mente grita, porque continua jovem no sentido de avidez da vida, mas o corpo não te deixa mais viver plenamente. O esqueleto padece com as ações do tempo, muitas vezes provocado pela tua falta de zelo.
E me pergunto o quê fazer, como exercitar a arte de esperar, a paciência, que é um exercício diário, quando não se sabe se vai acontecer, se o amor vai entrar, se vai valer a pena esperar (mas uma luz me acende a alma ao lembrar-me que o poeta afirmou que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"). Como conciliar a ansiedade, o querer logo, o querer tanto, a satisfação dos clamores do corpo, a chama que se acende, a vontade do afeto, com a sabedoria de aguardar o dia, trazido pelo tempo, que tudo apraza, quando já estamos no limiar da fronteira da vida plena para a vida em pedacinhos? Comecei esse setembro com a sensibilidade aflorada, como se em minha alma fosse inverno e a primavera querendo entrar antes da hora, uma primavera a desabrochar, exibindo toda a sua beleza e frescor, como se o amanhã fosse o hoje, para que ela demore a se ir de novo, receosa de que o tempo não lhe permita mais voltar.

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