sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

VERGONHA DE MIM


(RÔ Campos)

Finalmente a inspiração bateu. Acho que foi a garrafa de vinho que tomei durante a ceia na casa de minha mãe. Um vinho chileno, mas barato, é bem verdade; não chegou nem a R$ 20,00. O negócio estava entalado na minha garganta, e nada fluía. Agora, depois do vinho, desentalei...E chorei. Além do mais, antes de começar a escrever isto aqui, dei uma passeada pelo Face, e me deparei com várias postagens de amigos, com fotos de suas ceias fartas...E chorei de novo.

Antes de ontem, graças à minha irmã Renata Campos, que me colocou a par da situação, fui visitar uma família que vive em um rip-rap (nem sei se é assim que se escreve, mas acredito que vocês devem saber do que estou falando), entre a rua Tefé e o Igarapé do 40, no Japiim.

Essa família "vive" em um cubículo, algo em torno de vinte metros quadrados, divididos em dois compartimentos. No primeiro, encontramos uma geladeira queimada, uma máquina de lavar, um velho sofá, um fogão, uma tv, um varal com várias roupinhas de crianças secando e umas duas ou três redes enroladas e penduradas no armador, e ainda, no chão, um velho ventilador.

No compartimento de trás, um velho freezer, onde estão acondicionando os alimentos perecíveis, já que a geladeira está com defeito; para que não congelem (aqueles alimentos que não podem congelar), ligam e desligam o freezer. O restante não deu para eu visualizar, pois sequer coloquei os pés no primeiro compartimento, dada a minha angústia desde o primeiro momento.

Nesse cubículo, com um fedor insuportável, moram sete pessoas: a velha vó (que cuida das crianças e, para sobreviver, além de contar com o Bolsa Família, no total de R$ 212,00, lava roupa para fora), a mãe, que vive drogada,e provavelmente encontra-se grávida, e cinco crianças entre 1 e 12 anos, sendo dois meninos e três meninas. A menina mais nova, com cerca de 4 anos, desnutrida, contam-se as costelas. Perdeu o "leite do meu filho" porque a mãe não levou para pesar. A vó, de Parintins, me contou que veio parar aqui em Manaus há 5 anos, quando precisou trazer um filho para se tratar do coração, mas que veio a óbito, com cerca de 9 anos, vítima de infarte, ali mesmo (me apontando o lugar com o indicador). Depois, um outro filho, desgostoso por haver sido traído pela mulher, matou-se.

Continuando a conversa, a vó me falou que os outros seus filhos, que moram em Parintins, vivem revoltados com essa situação, e querem porque querem levá-la de volta, com o que ela não concorda. Disse-me que lá é tudo muito mais difícil, e que aqui ninguém passa fome; que quando não tem o que comer pede algum dinheiro emprestado e compra ovos ou salsicha; que não gosta de dar salsicha para as crianças, mas, muitas vezes, não tem outro jeito. No final, sentencia: não posso abandonar essas crianças.

Todos os dias é a velha vó que leva as crianças para a escola e vai buscá-las. Confidenciou-me que as crianças não podem parar de estudar, nem faltar, senão o Bolsa Família é suspenso.

Para morar naquele cubículo horroroso, com fedor insuportável, paga de aluguel R$ 270,00 por mês.

Antes de ir até lá, passei no supermercado com minha secretária, e fiz algumas compras. Eu ainda não sabia qual era a real situação, mas pensei: vou levar um monte de besteira, afinal de contas, é Natal, e criança lá quer saber de outra coisa, seja lá quem for a criança. E compramos bolo, biscoitos, panetone, chocolates, refrigerantes, sucos da Kapo, Itambezinho em caixa, uva passa, leite em pó, macarrão, queijo ralado etc. E foi uma festa!!!

Saí de lá com a certeza de que eu não estou com nada, não sei de nada, não sou ninguém. E que, se existe uma guerreira, é essa vó. Senti vergonha de mim.

Pensei: Freud estava certo (eu outrora, quando cheguei a fazer alguns módulos de Psicanálise, em pós-graduação, discordara veementemente disso). Os pobres, os miseravelmente pobres, não são analisáveis. Como realmente analisar alguém que luta para sobreviver? Como alguém que diuturnamente vive a se debater no fogo da miséria vai se perder nas teias de problemas existenciais, ou em razão de amores perdidos, ou, ainda, em sonhos desenfreados de consumo???

E, como disse meu filho Éric, o que esperar de tudo aquilo ali? Que horizonte existe para aquelas crianças? O que resta a elas, senão a prostituição, as drogas, o mundo do crime? E, assim como aquela família, quantas outras semelhantes existem aqui, no Brasil, no resto do mundo?

E, novamente, senti vergonha de mim. Senti vergonha dos meus problemas, dos meus desejos, das minhas aflições, dos meus anseios. Senti vergonha de me estressar com a conta de luz, que passa dos mil reais mensais, com a tv do meu quarto que queimou há 1 ano e que não pude ainda comprar outra, para assistir ao jornal e às novelas sossegada (o falatório é grande, idem a zoada, na saleta onde está a outra tv), com o velho split que já não refrigera o meu quarto como eu gostaria,com a justiça lenta, morosa, o processo que anda a passos de cágado, cuja execução não consigo finalizar para receber os créditos do meu cliente e, também, meus honorários, dos quais vivo exclusivamente, pois não tenho outra fonte de renda, com minhas dívidas que não consigo liquidar, com a viagem que planejo e não pude fazer até hoje, a casa desbotada que não pude ainda pintar. Senti vergonha da humanidade. Mas nós não passamos mesmo disso: somos humanos, demasiadamente humanos.

E tomei uma decisão: vou adotar aquela família. Vou tentar dar uma luz àquelas crianças e àquela velha avó, guerreira, mas certamente cansada. E crente, apesar de tudo.Vou reunir uns 10 amigos, para, juntos, adotarmos aquela família. Certamente será pouco para cada um. Mas a reunião de todos representará muito para aquela família. E com certeza estaremos abrindo horizontes para aquelas 5 crianças...E a 6ª já está a caminho.
E sei dizer mais uma coisa a todos vocês: nunca mais serei a mesma pessoa. Mudarei para melhor, é claro.

domingo, 22 de novembro de 2015

UM AMOR PRA SEMPRE


(RÔ CAMPOS)

Lembrando de ti,
De quando te vi
Naquela primeira vez...

Tosco,
Boquirroto,
Andrajo.

Mas no peito, um coração;
Nos olhos, muita luz;
Na boca, um sorriso.

Naquele dia eu me achei,
Quando nem procurava mais,
O outro pedaço da minha alma.

Foi então que decidi
Que eu ia te amar.
Um amor maior que tudo.
Mais forte que a força do vento.
Sem medo do passado,
Nem planos pro futuro.
Um amor presente.
Simplesmente.
Um amor pra sempre.
Pra sempre.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

FIM DE CASO


(RÔ Campos)

Ainda bem
Que foi tudo ilusão
Que tudo ficou pra trás
Que como toda ilusão
Acabou
Já não me iludo mais.

Ainda bem
Que o cigarro apagou
Que a luz acendeu
Foi o último trago
Já não te trago
No meu coração.

Ainda bem
Não valeu nada a pena
Já paguei minhas penas
Tou de volta pra vida
Quem sabe, na esquina
Aquele amor que deixei.

PRIMAVERA


(RÔ Campos)

Como te esquecer?
Deixar tudo pra trás?
Calar a tua voz,
Se com ela minh'alma se compraz?

Como apagar as lembranças,
Dos dias que vivemos juntos,
Das horas de alegria e de tristeza,
Do teu cheiro que ficou em mim ?

Ainda te vejo correndo por aí,
Feito um menino levado pelo vento,
Que muito cedo criou asas e fugiu
Do céu escuro à procura de outro céu.

Era Setembro quando te conheci.
A Primavera de nossas vidas.
Foi quando então descobri
Que os espinhos não machucam as flores.

SEM AMOR NÃO SEI VIVER


(RÔ Campos)

Coração
Para de sangrar assim.
Coração
Deixa de me machucar.
Coração
Para de bater assim.
Coração
Tem um pouquinho de dó de mim.

Coração
Sem amor sou triste assim.
Coração
Traz o meu amor pra mim.
Coração
Eu não quero mais chorar
Coração
Preciso voltar a sorrir.

Coração
Sem amor não sei viver.
Coração
Eu não sei viver assim.
Coração
Sem amor não sei viver
Coração
Traz o meu amor pra mim.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

PAU QUE NASCE TORTO MORRE TORTO


(RÔ Campos)

O direito é de quem tem
O direito que, doravante,
Não é de mais ninguém.

O direito dizem que é o que é certo,
Bem assim que nunca anda errado.
Direito é direito, não se discute.
Mas já aprendi o velho ditado:
Pau que nasce torto morre torto.

O direito só o tem quem assim prova,
Já me disse o seu doutor e o homem que vestia toga.
Mas quando eu pensei que tinha todas as provas,
Provei da mentira de quem me desmentia.

Tudo aquilo que é justo é direito.
Mas nem tudo o que é dito de direito é justo,
Na balança que ora pende à esquerda,
E ora à direita avança.

PEQUENINA


(RÔ Campos)

Ela andava tão triste,
A saúde meio abalada.
Já não saía pra vida,
Já não ligava pra nada.

De repente, recebeu um convite.
Era uma festa da pesada.
Ela chegou meio acanhada,
Pois não conhecia a moçada.

Foi então que pegou o ganzá,
Que parecia esquecido no canto da sala.
E a Pequenina, que andava tão triste,
Tocou, dançou, sorriu,
Mandou a tristeza ir embora.
Voltou a ser feliz...

NÓ E LAÇO

(R}O Campos)

O amor é laço e também é nó.
No amor eu me transformo,
Sem amor eu me desfaço.

Sonhos sempre serão sonhos,
Sonhos de crianças que ficam grandes.
Sonhos de gente grande como se fossem os pequenos
Grãos que semeados desabrocham.

Mas é sempre no amor que eu me encontro
E é no encontro do amor que eu me acho.

UM PEQUENO CONTO SOBRE COISAS NÃO TÃO PEQUENAS


(RÔ Campos)

De repente, visitas inesperadas. Uma viagem não planejada, o meio da noite fria e longa.
Ouço o barulho de carros, de motos emparelhadas, a sirene tocando.
Parece ambulância. Parece polícia.

Vejo no alto, desafiando a força dos ventos, os helicópteros bandeando de um lado para o outro. Aviões que vêm e vão, quebrando aqui embaixo o silêncio das manhãs.

E meus gritos no quintal chamando por meu pai :
- Corre! Corre! Vem ver, papai!

Depois, de novo o silêncio.

E mais uma vez, e outra vez. Um barulhinho no quintal, que, de pronto, distingo: ora um bem-te-vi, ora um sanhaçu, e também um pequenino beija - flor. Ora todos eles de uma vez só, voando de um lado para o outro, do muro alto do vizinho ao lado para os galhos do cansado cajueiro (sobre o qual até hoje se debate como foi nascer ali: teria sido a vovó quem o plantou, ou a dedicada empregada que não trabalha mais aqui? Ou - quem sabe? - os passarinhos que não se cansam de carregar no bico sementes que vão brotar noutros quintais? ), e do velho cajueiro para a cumeeira da edícula.

E, assim, os passarinhos iam e vinham. Ora também planando. E meus olhos não se cansavam de olhar, como se quisessem adivinhar como eles conseguiam ficar assim, parados, no vão do espaço, sem bater as asas.

De repente, fechou o tempo. Nuvens escuras começam a se desenhar no céu.

Pergunto à minha avó se ela vê, como eu, aqueles pássaros grandes, lá no alto.

- Parecem paraquedas, né, vovó? - indago.

E minha vó me diz que não.

- São urubus. Muitos urubus juntos.
Prenúncio de chuva - completa minha vó.

- E por que, vovó? - insisto eu.

Nesse momento, meu pai entra na conversa:

- Ou - quem sabe? - bichos mortos - diz ele. 

Mas minha vó rebate, dizendo que não.

- É chuva! Chuva de verão. Vem com muito vento, desarrumando tudo, quebrando os galhos das árvores, derrubando placas nas ruas, destruindo telhados. E, depois dos estragos, vai embora, na mesma velocidade com que veio.

Acordei. E me dei conta de que já se passaram muitos anos desde esses acontecimentos, que, hoje, vieram me visitar através dos sonhos.

E não me recordo de minha avó me haver dito o porquê de aqueles urubus gigantes voando em círculos no céu, entre as nuvens escuras, ser prenúncio de chuva. Nem o que significava "prenúncio".

Agora eu sei o que quer dizer a palavra prenúncio. Mas, confesso, ainda hoje não consegui descobrir - até porque minhas curiosidades de infância foram substituídas pelas coisas duras com que me deparei na adolescência e na vida adulta - a razão pela qual os urubus, quando o tempo fecha, como se estivessem em festa, voam em grande número entre as nuvens escuras e pesadas, prenunciando a chegada da chuva.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

NADA MAIS

(RÔ Campos)

Eu quis te amar, você não deixou
Eu quis te seguir, você me esnobou
Eu quis te encontrar, você se escondeu
Eu quis te ganhar, você me perdeu.

Eu quis tantas coisas, que já nem sei mais
Quis que longe fosse perto
Que sonhos fossem reais.

Eu quis ter asas pra voar
Ser uma espécie de paranormal
Quis te sentir mesmo sem você estar aqui
Fiz muitos planos, flutuei.

Eu quis até parar o tempo para mim
E para você fazer o tempo correr.
Eu quis te encontrar cara a cara
E te falar do imenso vazio que ficou aqui.

Eu quis  voltar o relógio do tempo
Eu quis tanto, tanto de você
Que até esqueci de mim...
E hoje, nem passado nem futuro
Apenas noite
Sem você aqui...

terça-feira, 14 de julho de 2015

DIVAGAÇÕES SOBRE A ORIGEM DA VIDA TERRENA

(RÔ Campos)

Os animais que voam, nasceram com asas. Há, Também, animais que, mesmo alados, mal conseguem um voo rasteiro, como as galinhas, por exemplo. O homem não tem asas, mas, para voar, usa a imaginação. Como isso nunca foi suficiente (ah, o homem, nada lhe basta!), veio um doido e inventou o avião. Mas o homem queria mais. E inventou o foguete espacial. Queria desvendar os mistérios do espaço sideral, desbravar os planetas, encontrar vida fora da Terra. Foi à Lua, depois a Marte... E nunca mais parou.
Assisti no Globo Repórter da última sexta - feira a uma matéria sobre uma nova missão a Marte, para a qual, inclusive, foi selecionada uma professora e advogada de Porto Velho/RO. Abordou- se na reportagem, também, sobre a possibilidade de não estarmos sós no universo, supondo - se a existência de vida inteligente em outras galáxias. Quem sabe - pensei - poderão dar início à tentativa de povoar Marte em um futuro não muito distante, inclusive buscando solucionar graves problemas que se avizinham. Daí, fiquei a conversar com os meus botões: Por acaso, o início da povoação da Terra poderia ter ocorrido dessa forma? Não teriam, seres de outros planetas, vindo até aqui pra bisbilhotar, e dado origem ao homem?
Como sentenciou Shakespeare, "há mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia... ".

COR DA PELE

O que é uma cor senão nada mais que uma cor? O que varia mesmo é como os olhos, janela da alma, veem as cores e as relaciona com o seu universo interior.
De que adianta o sol brilhar e ser dourado, se os olhos de quem vê não consegue captar o seu brilho e o enxerga cinza ou cor de sangue?
De que adianta a lua ser prata e quebrar a escuridão do céu, se os olhos que se voltam para o alto só veem escuridão?

FÊNIX

(RÔ Campos)

Andei dias e noites
Debaixo de sol e de chuva
Enfrentei tempestades
Caí e levantei.

Alguns dias foram total escuridão
Outros, fachos de luz no breu
Sorri, chorei, parti, voltei
Tentei não perder a ilusão.

Certa noite, senti minhas forças se esvaindo
Minha vida quase se perdendo
Cansado, pensei em desistir
Abandonar o palco.

Mas, naquela noite, tive um sonho
Era tarde e eu queimava na fogueira que armei
Com a lenha que juntei com minhas mãos
Dos desertos por onde muito caminhei.

E quando o vento da manhã soprou as cinzas
Descobri que ainda havia brasa
E feito Fênix das cinzas eu renasci.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

CENTO E VINTE PALAVRAS

(RÔ Campos )

Uma conta que não bate
Uma ferida que não sara
Um amor pra toda vida
Uma saudade que não para.

Por onde andas, não sei
O que fazes, também não
A única coisa que sei
É contar estrelas no céu.

Desde quando foste pra longe
Perdi a noção das coisas
Me perdi procurando um sinal
Nas curvas dessa longa estrada.

Foi num dia muito estranho
Uma dor que não acaba
Te arrancaram do meu peito
No meio de triste madrugada.

Não há dia sem lembrar
Segundo sem pensar em ti
Sinto até hoje teu cheiro
Sinto teu beijo me tocar.

Uma conta que não bate
Uma ferida que não sara
Um amor pra toda vida
Uma saudade que não para.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

SE TU FOSSES O MAR


(RÔ Campos)

Se tu fosses o mar
Eu baixaria as velas,
E deixaria meu barco me levar
Ao sabor das tuas ondas.

E, se por acaso eu  me perdesse,
Me jogaria nos teus braços,
Pra sentir o teu calor,
Indo muito além da superfície.

Se tu fosses o mar,
Eu mergulharia de olhos fechados
Até a tua profundidade,
E nesse  imenso mar de amor me afogaria.

ECLIPSE TOTAL


(RÔ Campos)

Eu não vou mentir.
Ontem senti um desejo
De calar a tua boca linda,
Segurar o teu sorriso com meus lábios,
Misturar nossas salivas.

Te confesso, eclipsei
Com o teu jeito, que nem sei dizer.
Fiquei ali te ouvindo...
E mais e mais crescia o desejo
De roubar um pouco do teu mel.

Como este mundo é engraçado.
Me disseste que já tinhas vindo aqui
Outras duas ou três vezes.
Oh, my God! Como é possível!
E eu nunca ter te visto?

Temos um encontro marcado
Trinta dias pela frente.
Oh, my God!! Tá tão longe!
Desde ontem estou nas nuvens,
Sonhando como sonham os anjos.

O INFERNO É ROCK IN ROLL... E É PRA LÁ QUE EU VOU

(RÔ Campos)

Mamãe, se eu partir
Antes de ti,
Por favor, mamãe,
Não peças o céu pra mim.

Ai, que horror, mamãe!
Fechar os olhos na terra
E abri - los lá no céu,
Só porque "Deus" te atendeu.
Tenha pena de mim.

Deparar-me com os ungidos,
Seguidores dos Bolsonaros,
Felicianos, Malafaias.
Mamãe, teu filho não merece esse castigo.

Mamãe, o céu já está vendido.
Eu quero mesmo é queimar
No fogo eterno do inferno.
Encontrar com Amy e Janis Joplin
Elvis e Michel Jackson

Gritar: Toca Raul!
"Guitá! Guitá! Guitá!
"Viva! Viva a sociedade alternativa"
Com aquela guitarra distorcida.

Imagine! Mamãe! Imagine!
Um mundo sem guerra,
Paz e amor.
E muito Rock in roll.
E muito Rock in roll.

QUEM AMA TAMBÉM DEIXA IR EMBORA


(RÔ Campos)

Não, meu amor,
Eu não vou chorar,
Nem vou te pedir
Para ficar aqui comigo

Já faz tanto tempo, eu bem sei,
Que a memória já vai longe,
De quando foi a última vez
Que o mesmo lençol nos cobriu.

Nada vou te cobrar, eu prometo.
E nada tenho para te pedir,
Se já não tens mais motivo algum
Para seguires junto a mim...

Eu sei, meu amor, eu bem sei,
Pressinto o crepúsculo lá fora.
Meu coração quer correr.
Já está chegando a hora

Mas saiba, meu amor,
Eu não vou chorar,
Nem vou te pedir pra ficar.
Quem ama também deixa ir embora...

segunda-feira, 15 de junho de 2015

CREPÚSCULO


(RÔ Campos)

Corre, vem pra rua
Já desponta a manhã
E o sol já corre solto
Se abrindo, sorrindo
Com seus dentes de ouro.

Corre, vem pra rua
Que o sol já vai embora
Como uma bola de fogo
Vai sumindo lentamente
Enquanto a noite se derrama.

Corre, vem pra rua
Que o sol já se pôs
Tingindo o céu de arrebóis.
Corre, que já vem surgindo a lua
Linda, pura, toda nua.

Corre, meu amor
Vem ver a vida
Não demora e o sol se põe
Corre, meu amor
Que a vida é curta
Não demora e a noite cai.

sábado, 13 de junho de 2015

NA PRIMEIRA VEZ


RÔ Campos)

Meus olhos saem te seguindo por aí,
Mesmo sem saber aonde ir.
Eu bem sei todo caminho tem um fim,
Mas, afinal, nem todo fim é o final.
Quem sabe lá no fim uma interseção,
Um outro caminho que me leve a ti.

Meus olhos saem te seguindo por aí,
Em meio a total escuridão.
Eu bem sei dos perigos desta vida,
Em cada porto, em cada esquina.
Mas meus olhos se enchem de luz
E o medo logo vai embora,
Só em lembrar que no meio dessa mata escura
Eu muito já andei e me perdi e me achei,
Desde o dia em que te vi pela primeira vez.


Créditos foto: Kydroges Roges

MAL DE AMAR


(RÔ Campos)

Não, não me venhas dizer
Sobre a dor de um amor,
Sobre o que é o sofrer.
Não, eu não quero te ouvir,
Eu não vou permitir
Uma tal invasão.

Tantas, já foram as vezes
Que eu por ti revirei e virei
Do avesso o meu coração.
Agora, mil desculpas, querido,
Não queiras dividir comigo
A dor desse amor que é só tua.

Vai, te pranteia com a lua,
Pois o meu coração já cansou
De amar, de sofrer, de querer
O que o outro não quer.

Vai, te pranteia com a lua,
Te casa com a rua,
Pra curar esse mal de amar,
De sofrer, de querer
O que o outro não quer.

TOM MAIOR




(RÔ Campos)
O teu sorriso
É quem me diz,
Sim,
Nesta vida
A gente pode
Ser feliz.

Tua pureza
É quem lapida
A força bruta
Que às vezes
Ergue os braços
Dentro de mim.

O teu caminho
É quem traz luz
À minha estrada,
Às vezes cheia,
Às vezes rasa.

A tua vida
É quem me deu
A nota,
O tom Maior
A harmonia,
Que vibra em mim.

ESPANTO

(RÔ Campos)

A vida às vezes me causa espanto. Por isso, de quando em vez me sinto assim, sei lá, e o universo parece desabar sobre mim.
Há muita coisa estranha. Há muita gente estranha. Mas... me resta o meu cantar. E também asas que me levam a voos altaneiros. E o que era estranho não me causa mais espanto. E o que era triste agora é alegre.
Créditos da foto: Kydroges Roges.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

TEU E MEU


(RÔ Campos)

Meu eterno namorado
Um amor traçado sem paixões
Quando nossos olhos se cruzaram
Meu coração casou com o teu.

Meu eterno namorado
Um sorriso encantador
Solto na boca de menino
Que na minha boca se jogou.

Ainda que eu viva a vagar... de bar em bar
Ainda que outras bocas perdidas eu beije
Teu coração de menino será em mim
E meu coração peregrino será só teu.

domingo, 7 de junho de 2015

NÃO ME DEIXES IR

(RÔ Campos)

Não me deixes ir
Pede-me pra ficar
Na verdade eu não quero partir
O mundo lá fora, sei lá.

Ainda ontem tentei te falar
Não sei por que não me queres ouvir
Quem sabe teu amor já morreu
Mas o meu não se cansa de amar.

Por isso hoje eu estou aqui
Mais uma vez quero te dizer
Esse adeus não sou eu que vou dar
Minhas mãos estão presas a ti.

Não me deixes ir
Pede-me pra ficar
Na verdade eu não quero partir
O mundo lá fora, sei lá.

TANTA COISA

(RÔ Campos)

Hoje acordei meio assim,
Tantas coisas fora do lugar.
A cama feita e vazia
E o coração querendo falar.

Não sei o que há que me queima,
Feito brasa a me consumir.
Tenho desejo de tudo,
De vida, de mim e de ti.

Há dias de sol e de chuva.
Outros, em que me açoita o luar.
A cama feita e vazia,
Tanta coisa fora do lugar...

AS VOLTAS DO SOL E DA LUA

(RÔ Campos)

Quantas idas e vindas do sol?
Perdi a conta das vezes em que o sol se pôs e a noite caiu,
Tingindo o céu de arrebol.

Quantas voltas a lua já deu?
Já nem me lembro mais
Das vezes em que me perdi
Olhando a lua e perguntei por ti.

Mas enquanto o sol voltar
E tiver a lua no céu pra perguntar por ti,
Meu coração sempre vai bater,
Esperando por essas voltas que a vida dá...

FOCO NA VIDA

(RÔ Campos)

- Por quê?
- Quando?
- Quantos?
- Onde?
- Quem?
- Qual?
- O quê?

Ah, não se perca nas perguntas.
Foque na vida.
Arregace as mangas.
Vá à luta.
A vida é curta.

sábado, 30 de maio de 2015

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"

(RÔ Campos)

Há pouco eu te vi, ainda que através de fotografia. Olhos e rosto encovados, e cor de sangue na epiderme macerada.
E havia também um quê de incredulidade no teu olhar perdido, a fitar o horizonte impalpável. Os cabelos desgrenhados e também desbotados, como os sonhos que agora sentes desperdiçados.
Dizem que a fotografia rouba a alma da gente. Mas, nesse caso, senti que tua tristeza foi quem roubou o colorido da lente. Senão... os olhos que te clicaram - teriam eles sido cruéis? Ou, por acaso, terias tu mesma te fotografado? Ou foste tu cruel com teus próprios sonhos?
Quantas vezes suportaste o peso de um fardo que não era teu?
Quantas vezes choraste as dores que não eram tuas?
Quantas vezes creste que aquele amor que nunca foi teu seria teu um dia?
E, agora, a mim me parece, começas a carregar, sozinha, o peso da tua solidão, antes também dividida entre a solidão de dois corpos , que nunca foram um.
Que perguntas te fazes, agora?
Que respostas esperas ouvir do tempo e do vento que sopra lá fora?
Eu te confesso, neste instante também fugaz, como fugazes foram os teus dias pretéritos, que nunca concebi o amor como um assassino feroz, feito uma erva daninha que se espalma destruindo os campos e os pastos.
E, no final, o que vejo é uma pastora solitária, sem a sua ovelha preferida, aquela a quem escolheu doar-se por toda a vida, e que agora sumiu no mundo para se deliciar em um novo pasto.

ESSA SAUDADE


(RÔ Campos)

Cadê você?
Saudade é o teu nome.
Quero esquecer, mas não posso.
Essa saudade que não passa.
Te vejo em cada esquina.
Te sinto em todos os perfumes.
Te ouço em cada música.
Te encontro nos outros.
Desde o dia em que te foste.
Desde quando tudo se tornou noite.

CONVERSANDO COM OS MEUS BOTÔES


(RÔ Campos)

Como somos vulneráveis!
Em um instante o vento sopra e muda totalmente o rumo de nossas vidas.
Há os loucos que se atrevem a mudar o curso dos rios. E há até quem pense e aja como se um Deus fosse.
Mas nunca nos é dado mudar a direção do vento...

QUALQUER DIA DESSES



(RÔ Campos)

Qualquer dia desses
Vou enganar o medo
E criar coragem.
Qualquer dia desses
Esqueço que fui covarde.

Qualquer dia desses
Vou voltar atrás
E te procurar.
E nunca mais deixar
Ninguém mais te ferir.

Qualquer dia desses
Quero te ver
Frente a frente.
Quero te olhar
Cara a cara.

Qualquer dia desses
Quero voltar ao começo
E poder viver, então,
A minha, a tua,
A nossa história.

Qualquer dia desses

quarta-feira, 20 de maio de 2015

ATOS LITÚRGICOS DO CORAÇÃO

(RÔ Campos)

Coração, acalma o passo,
Acerta de uma vez por todas...
Esse compasso.
Pra que tanta pressa pra errar?

Presta bem atenção, coração -

Eu te peço.

Nas mil e uma notas que a vida solta.
Pega com carinho algumas notas soltas
Daí, quem sabe, nasce a tua canção.

O amor tem dessas coisas...

Mas, se precisares de mais tempo, coração,
Acalma o passo.
Acerta de uma vez por todas
Esse compasso.

A vida é mesmo uma canção.

Ouve o silêncio do som
Ou o som do silêncio.
Jamais esqueça os intervalos.

E, acima de tudo, coração,
Ouve o que tu tocas.
Descansa nas tuas pausas.
Navega nas tuas ondas.

Que não te faça desandar o toque desafinado
Do tambor ao lado.
Há muitos corações descompensados...

Que o teu pulsar seja o teu cantar, o teu contentamento.
Como se o corpo que te guarda fosse a tua Igreja,
E tu o sino a tocar convocando os fiéis para a santa missa.












segunda-feira, 11 de maio de 2015

PASSOU


(RÔ Campos)

Sempre fui assim,
Dada às loucas paixões.
Vejo logo promessas em um beijo,
Me ponho a construir castelos na areia.

Mas, se queres mesmo saber,
Sobre aquela minha ilusão,
Eu te digo, sem medo de errar,
Passou
Já rearrumei meu coração.


PULSAR


(RÔ Campos)

Chuva, forte chuva
Cai sobre o telhado,
Embaçando as vidraças.
Me acordo, confusa.
Corro até a janela.
Nada vejo lá fora.

(Os pássaros devem estar se guardando em algum lugar seguro - logo penso).

Não recordo que dia é hoje.
A cabeça gira a mil.
Como estarão aqueles que eu tanto amo e nunca mais vi nem ouvi falar?

Sinto frio.

Agarro o lençol de cetim e com ele me abraço.
Desligo o ar-condicionado.
A chuva continua forte.
O coração pulsa.
O relógio na parede acusa a hora.

Lembro-me de um lindo sonho que sonhei na noite passada.
O frio se vai.
A saudade entra...
Tudo que é vivo, fica.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"

Se aquilo foi um sonho, não quero acordar. Se foi verdade, então quero continuar sonhando.
Tanto tempo se passou... Tempo esse em que, nós dois, tão perto um do outro, e tão longe, chegamos até a chorar nossas mágoas, um no ombro do outro.
Em meio aos altos e baixos da sua vida, sempre pensei em uma chance, uma possibilidade de haver um encontro entre nossas almas. Mas você nunca me via.
Da primeira vez, quando comecei a sonhar, você estava livre, mas logo se aprisionou na cadeia de um amor turbulento. E você continuava sem me ver.
Agora, novamente livre e não mais enredado nas trapaças do amor, de repente, como se tivesse despertado de um sono profundo que nos separava, você me toca e eu respondo. Você me beija e eu te beijo.
E eu te confesso: se foi um sonho, não quero acordar. Se foi verdade, então quero continuar sonhando.

CONFISSÃO


(RÔ Campos)

Ah, chegaste tão devagarinho.
Foste entrando de mansinho.
Quando dei por mim, já havias entrado.

Mas riste tanto quando te contei,
Que fiquei meio assim, desajeitada.
Peguei a chave sobre a mesa,
Liguei o carro e sumi, envergonhada.

Não devia ter confessado.
Seria melhor ter guardado o meu segredo.
Mas agora que te confessei,
Já nem sei o que será de nós,
Da próxima vez. No próximo trago.
Quem sabe, um adeus...

Eu devia ter tido mais cuidado. Agora eu sei.
Muito aprendi sobre corações dilacerados.
Mas acabei me descuidando , caindo
Em uma espécie de emboscada, que eu mesma engendrei.
É que esperei tanto por aquele instante,
Que tropecei em meus próprios pés...E te assustei.

Mas, já que agora fui descoberta em flagrante
Confissão, a rainha das provas,
Eu te prometo. Vou guardar sob sigilo,
Esse mais novo segredo:
Meu coração ainda é teu.

terça-feira, 7 de abril de 2015

SE NÃO FOSSE...


(RÔ Campos)

Ai de nós, se não fosse a coragem!
Ai de nós, se não fosse o medo!
Ai de quem nunca tenha crido!
Ai de quem nunca tenha amado!

Ai de quem nunca tenha sofrido!
Ai de quem nunca tenha chorado!
Ai de quem nunca tenha partido!
(Oh, pobre coração inteiro!!!)
Ai de quem nunca tenha chegado!

Ai de nós, se não fosse a dúvida!
Ai de nós, se não fosse o mistério!
Ai de quem seja só certeza!
Ai de todos os justiceiros!!!

OS CACOS DO MEU CORAÇÃO


(RÔ Campos)

Muitas foram minhas penas,
Em um passado que já vai longe.
Mas os monstros não conseguiram me destruir.
Ficaram as feridas, é claro,
Caíram alguns galhos,
Mas as raízes da árvore da vida, essas, não conseguiram arrancar.

Para ti, então, mesmo sem saber,
Eu guardei tudo o que havia sobrado dos cacos do meu coração.
Justamente o melhor que havia em mim.

E depois, era Primavera quando te encontrei.
E eu te dei tudo aquilo que havia guardado para ti.
E depois que tu te foste, levando tudo o que eu havia te dado,
Aqui fiquei sem ti, sem ninguém, e sem nenhum caco para juntar.

LEMBRANÇAS


(RÔ Campos)

Ainda sinto o teu cheiro,
Teus pelos roçando a minha pele.

Ainda ouço os teus apelos
Enquanto tuas mãos tentavam descobrir a minha geografia.

Ainda te sinto cá, dentro de mim,
Como a raiz que lentamente penetra o solo árido, até alcançar a profundidade.

E ainda escuto teus gemidos em forma de ecos,
Quando, ao escalares a montanha, atingias o cume.

quarta-feira, 25 de março de 2015

MEU ERRO


(RÔ Campos)

Se era pra machucar,
Melhor teria sido deixar
Como estava antes.

Por um instante, me entreguei,
Cheguei a sonhar,
Fiz planos pra depois,
Fui até feliz, talvez.
Por um instante, apenas um instante,
Como se todo instante fosse eterno.

E eu ainda andava sonhando,
Vivendo nas nuvens,
Quando me feriste com um golpe baixo,
E meus olhos, tristes,
Viram que não eras a pessoa que eu sonhava...

sábado, 14 de março de 2015

LIBERDADE! LIBERDADE! ANTES QUE SEJA TARDE...

Vamos parar de uma vez por todas
Com esse papo aranha,
Mimimi, nhem,nhem, nhem,
De que compras em Miami,
Panelaço, baixelaço,
São coisas de quem chora de barriga cheia,
Coxinha, classe média, rico, capitalista, pequeno burguês.

Já não tem importância
Se a governanta cair,
Quem é que vem?
Quem é que vem?
Depois do Fora Collor, fora FHC e Lula,
Ela é a bola da vez.
Pior do que está,
Não há de ficar, eu sei.

Não temos razão alguma,
Pra ter medo do que for,
Temer o Temer, Cunha, Calheiros.
Pior do que eles,
É nada fazer, temer,
Por medo impingido,
De ameaças de um sapo barbudo,
De exércitos clandestinos,
Terroristas, assassinos,
Do terçado, do facão,
Da foice e do martelo.

Podem vir,
Não temos medo.
Só tememos o que há de vir,
Se cruzarmos os braços,
Nos entregarmos, coisas essas dos covardes.
Esses caras são malucos, doidos varridos,
Moluscos.
Mas nós somos a mistura de tudo:
De todas as cores,
De todas as raças,
Branco, preto, índio,
Gentes do mundo inteiro.
Irmãos, brasileiros.

Liberdade, antes que seja tarde.
Liberdade! Liberdade!
Nos campos e nas cidades.
Antes que nos cortem as asas,
Que matem nossos sonhos
E enterrem nosso futuro
Na lama em que chafurdam,
Nos poços de petróleo.

Liberdade! Liberdade!
Antes que Acauã cante o seu canto.
Antes que a esperança morra,
Antes que o medo vença,
Antes que seja tarde.
Liberdade! Liberdade!

VIDA QUE SEGUE

(RÔ Campos)

Foi muito bom
O nosso amor,
Bom, enquanto durou.
Foi verdade, eu sei,
O amor, você e eu.

Porém... tudo na vida tem um fim.
E agora, vida que segue,
Eu sem você,
Você sem mim.

O fim dessa estrada,
Não há de ser tão ruim, assim,
Pois a vida nos mostrou
Que tudo vale a pena,
Até a dor do amor que se acabou.

Valeu, o amor, valeu.
Porém... tudo na vida tem um fim.
E agora, vida que segue,
Eu sem você,
Você sem mim.

segunda-feira, 9 de março de 2015

TEU CORPO


(RÔ Campos)

Dedilhando as cordas do meu violão,
Preso em meus braços largos,
Colado ao meu peito,
Mergulho no universo do teu corpo,
Procurando esse ser,
Mulher.

E me afogo e morro e volto a viver,
A cada novo acorde,
Com minhas mãos te tocando
E tuas cordas vibrando
Em gozo profundo,
A cada suspiro que me arrebata
E leve me leva e me traz de volta.

segunda-feira, 2 de março de 2015

O CHEIRO DA MINHA CIDADE

O CHEIRO DA MINHA CIDADE
(RÔ Campos)

Eita que cheiro danado
Que invade os nossos quintais
É cheiro de chuva molhando
É cheiro de sol ardendo.

Tem cheiro por toda a casa
Os cheiros de nossa infância
O milho verde cozendo
Banana e canela no forno assando.

As ruas têm cheiro de tudo
De tucupi fervendo, de tacacá
Do tambaqui assando
E também de pimenta murupi.

E num misto de presente e passado
Tem cheiro de carne assando
Tem até cheiro da Bahia
De dendê e de acarajé.

É cheiro de asfalto quente molhado
De gás vazando e mato queimado
De carros envenenados
E até cheiro de saudade...

domingo, 1 de março de 2015

HUMANÓIDES


(RÔ Campos)

Eu vou contar para vocês uma pequena faceta da vida,
Que caminha pela Via Láctea, nossa galáxia,
Achada, perdida, voltando a se buscar.
A vida que vem e que vai,
Que entra e que sai.

Muita coisa o homem já sabe,
Mas ainda hoje não se descobriu,
Nem nunca se há de saber,
De onde viemos nem para onde vamos,
Muito menos o que fazemos aqui,
Neste paraíso perdido ou vale de lágrimas.

Há muitos monstros espalhados em vários cantos,
E também no riso e no pranto.
Monstros com a face de anjo,
Monstros vestidos de Deus.

Ah, estes homens tão tristes,
Tão ricos, tão pobres!
Homens de toda a sorte, plebeus e nobres,
Brincando de Deus e o diabo.

Terá Deus criado o diabo e o homem,
Ou foi o homem que inventou Deus e o pecado?

E nesse combate sem trégua,
Na luta entre o Bem e o mal,
Vejo-nos pelo reflexo do espelho,
Deixando-nos levar pelos monstros
De mil e uma faces,
Que habitam os abismos profundos,
Que às vezes se abrem dentro de nós

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

PARA ONDE?


(RÔ Campos)

Era noite...e, ainda assim, eu sonhava.
O vento frio desgrenhava os meus cabelos,
E as águas contidas nas calçadas molhavam meus pés.
O movimento dos cabelos me impedia a visão,
E as águas empoçadas me provocavam arrepios.
Eu seguia em frente, sem nem saber para onde.
E me lembrava de Drummond e seu José:
E, então, me perguntava: Para onde?

Não havia estrelas no céu.
E também não havia lua nem luz alguma.
Era noite...e, ainda assim, eu sonhava.

Era noite, ainda, quando eu acordei.
E me vi, atordoada, me perguntando: para onde?
E até agora continuo sem saber...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ESSA ESTRADA


(RÔ Campos)

Eu conheço bem essa estrada.
Tantas vezes já passei por ela.
Muitos foram os dias de felicidade,
E a tristeza eu deixava no meio do caminho.

Ainda me recordo de uma certa noite,
Quando voltávamos de um passeio em família,
E paramos o velho carro no breu da estrada:
Corpos atirados ao chão, olhos pro céu, um planetário,
Ficamos a procurar as constelações...

Mas, algum tempo depois, quem diria,
O destino tomou de assalto o amor que nos unia,
E todo e qualquer laço se desfez .
Nunca mais pusemos os pés nessa estrada.
E hoje, cada um de nós segue sozinho...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

LIBERDADE E CONSCIÊNCIA


(RÔ Campos)

Sinto muito...
Eu não queria que tudo terminasse assim.
Com você até - quem sabe? -
Remoendo ódio contra mim.

Posso até estar errada,
Mas o que me importa não é o que você e os outros vão pensar de mim.
E sim o que me diz a voz da minha consciência,
Que sempre foi o meu juiz.

Se, neste caso, fizeste um pacto com o silêncio,
Minha consciência, ao contrário,
Que nunca se fez omissa,
Também não se calou.

Somos todos homens livres.
E minha liberdade, se é minha,
Como, aliás, assim decretou Mandela,
Não cabe a ninguém mais declará-la,
E a mim, apenas a mim,
O exclusivo e pleno exercício dela.-

domingo, 15 de fevereiro de 2015

RELUZIR


(RÔ Campos)

Hoje eu acordei com uma vontade danada de saber
Aonde anda você, meu amor···
Deve ter sido porque a lua ontem estava tão linda;
Parecia um risco no céu,
Minguante, crescente, eu não sei bem ao certo·
Só sei que me deu uma saudade tão grande···
E essa vontade de te abraçar e te beijar,
Como na primeira vez em que nos vimos···

O tempo tem varrido muitas coisas,
Mas ele nunca se tornou meu algoz ou se fez bandido·
E jamais tentou roubar as jóias preciosas que delicadamente guardo na caixinha do meu coração·
E você é uma delas, meu amor:
Um diamante lapidado pela força bruta,
Mas que, no céu da minha vida e no meu infinito particular,
Reluz muito mais que mil estrelas···
O amor é uma sementinha preciosa, que faz brotar muitas rosas· Todas elas têm espinhos, eu sei· Mas o amor faz o perfume e a singularidade das rosas vencerem a dor provocada pelos espinhos, cicatrizando as feridas· (RÔ Campos)

HIPERTENSÃO


(RÔ Campos)

Perdoa, coração,
Se, às vezes, eu ando à toa,
Te machuco, te magoo,
Cuido tão mal de ti·

Sabe, coração,
É que, às vezes, de repente,
Me bate uma grande aflição;
Quero ganhar o mundo,
Despistar a solidão·

Aí, coração,
Numa ânsia incontida,
Saio à procura de dopamina,
Me enveneno e, por tabela,
Te faço tanto mal·

Perdoa, coração,
Por te estreitar as artérias,
Por te deixar tão bravo e cansado,
Com as batidas desesperadas,
E eu, aqui, com medo de te perder···

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

DESEJO DE AMAR


(RÔ Campos/Lívia Mendes)

Muito tarde pra dormir.
Muito cedo pra acordar.
Muitos sonhos pra sonhar.
E esse desejo enorme de amar
Que nunca passa,
Que nunca morre.

A madrugada ainda dorme.
Ouço o sibilo do vento,
O motor da fábrica em movimento,
O cão latindo lá longe. 
E penso:
É muito tarde pra dormir
E muito cedo pra acordar.
E esse desejo enorme de amar,
Que nunca passa,
Que nunca morre

MERGULHO


(RÔ Campos)

Me leva pra dentro de mim.
Me faz voltar pra mim.
Saber quem eu fui, quem eu sou,
O que posso ainda ser.

Me fala voz do coração.
Me ensina a lição secular:
A fúria não salva os covardes;
A coragem é a luz do viver.

Me mostra o que não pude ver.
Me faz sentir o invisível.
Esquecer o tempo perdido.
Traçar um novo começo.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

DOIS DE JANEIRO DE 2015


(RÔ Campos)

Hoje resolvi revirar os meus guardados,
Revolver o meu passado,
Reabrir as caixas que lacrei·

Reli as cartas que escrevi, e nunca enviei·
Todas falavam de sonhos e amores desfeitos,
De saudades que fizeram doer o peito·

Chorei ao reler as cartas que recebi,
Os cartões desejando Boas Festas, Feliz Aniversário·
E havia também outros que acompanhavam as flores que me eram enviadas·
Muitas foram as confissões de amor eterno,
E também as promessas jamais cumpridas·

Encontrei até velhas roupas rasgadas,
Fotografias às dezenas, como registro dos momentos de alegria e felicidade·

Vi em algumas cartas marcas das lágrimas furtadas dos meus olhos,
Que tantas vezes se fecharam para não sucumbir·

E nessa viagem ao túnel do tempo,
Encontrei corações delicadamente tecidos com fios de cobre,
O meu nome ao lado do nome dele·

Quando dei por mim, já era noite·
Devolvi tudo para as caixas onde estavam guardadas essas lembranças,
E lacrei-as novamente com as fitas que eram os laços,
Que envolviam os buquês das rosas vermelhas,
Que o homem que jurava que me amava, me mandava·

NEM OURO, NEM PRATA


(RÔ Campos)

Quanto vale um homem,
Quando cala?
Quando calam um homem,
Quanto vale?
Quanto vale um homem que não fala?
Quanto vale um homem que faliu?
Quanto vale um homem quando falha?
Quanto vale um homem sem o falo?
Quanto vale a vida de um homem?
Às vezes, um punhado de ouro,
Outras vezes, algumas patacas ;
Às vezes, nem ouro, nem prata·

SOBRE A SOLIDÃO E O DESESPERO

(RÔ Campos)

Estava aqui a conversar com os meus botões· Acredito que todos nós, em algum momento da vida, já nos sentimos extremamente sós· E quando falo em solidão, não me refiro à ausência de pessoas, mas, sim, àquele momento em que, mesmo rodeados de gente, a sensação que temos é que estamos abandonados à nossa própria sorte, sem ver uma luz sequer, sem sabermos o que vai ser feito de nossa vida· E ninguém, absolutamente ninguém poderá nos ajudar· Nesse momento - eu acredito - não adianta se desesperar, porque o desespero nunca foi aliado de ninguém· O melhor a fazer é esperar e deixar que as coisas aconteçam, porque elas acontecerão, seja de que forma for·

VIDA

(RÔ Campos)

Ele vivia em uma casa que não tinha portas nem janelas· Todas as suas posses era uma grande e pesada mochila que carregava nas costas franzinas · E como companheira uma estrela solitária, que se punha a mirar, dizendo, feito criança: "olha, essa é a minha estrela!" · E carregava, também, uma inquebrantável fé em Deus no coração·
Na mochila, levava o armário do quarto, uma bolsa contendo as ferramentas e a matéria prima de seu trabalho com a arte· Além de uma pequena caixa, onde guardava todos os seus sonhos· Quando as pessoas lhe perguntavam o que ele carregava naquela mochila, ele sempre respondia: "a minha vida".
Faz mais de quatro anos que não vejo nem ouço falar nesse pequeno grande homem, que parecia ter a face esculpida e as mãos lapidadas por outro grande artista· Mas sempre me lembro dele nas noites em que Léia - era assim que ele chamava a Lua - surge absoluta e exuberante· E quando, perambulando pelas noites vadias, vejo na imensidão do céu a estrela solitária, que sempre foi dele···e minha·

DIOGO: SOBRE O DIA E A NOITE, O SOL, A LUA E AS ESTRELAS

(RÔ Campos)

Acorda! Olha pela janela!Vem ver! É de manhã! O sol já chegou! É hora de levantar!
Olha só, o céu tá ficando escuuuuro! Por quê? Cadê o sol? Pra onde ele foi?
Já é noite! Olha a lua! Ela tá tão bonita! Onde a lua mora? Eu quero ir lá na lua! Mas por que a lua vive tão alto? Posso colocar uma escada para eu tocar a lua?
Olha aquela estrela bem perto da lua! Por que ela fica ali? Como é grande essa estrela! Por que tem estrelas grandes e pequenas?
Vem! Vem pro quintal, pra ver como o céu tá tão bonito!

(Todas essas frases são ditas pelo meu neto Diogo, muitas vezes pela manhã, quando vai me acordar, à noite, quando se avizinha, ou quando vamos ao quintal, nas noites de lua cheia ou lua nova (ele compara a lua a uma bola, ou círculo), ou mesmo nas noites de lua crescente ou minguante (quando ele a compara a uma banana),

SOBRE A GRATIDÃO

(RÔ Campos)

Nunca espere nada de ninguém· Nem gratidão· Acostuma-te à falibilidade humana· Se alguém te for grato, registra nos haveres da tua contabilidade· Ao contrário, lançar a débito nunca vale a pena·

AMO-TE


(RÔ Campos)

Amo-te·
Amo-te tanto que esqueci até de mim,
E vivo a contar os dias e as noites, esperando que tu regresses·
Amo-te, e é esse amor que me alimenta e me faz sonhar e crer que o sol vai voltar·
Amo-te·
Amo-te tanto, e o meu amor tem a estatura de um gigante e a certeza da eternidade·
Amo-te, e foi o teu amor que me ensinou
Que o amor tem razões que a Razão sempre me negou·

A PARTE QUE ME COMPETE


(RÔ Campos)

Vai dar tudo certo
Ainda que tudo pareça tão escuro
Que o céu se afigure tão longe
E o inferno pareça tão perto·

Vai dar tudo certo
Ainda que pareça tão tarde
Que os ventos soprem ao contrário
Tentando driblar minha sorte·

Vai dar tudo certo
Quando o trem do destino passar
Terei feito a minha parte
E tomarei o assento rumo à felicidade·

·

domingo, 11 de janeiro de 2015

OLHOS VENDADOS


(RÔ Campos)

Quando o sol bater no teu peito,
E, meio sem jeito, abrires a porta,
E deixares o sol entrar -
Trazendo a luz que te mostre aos olhos
Que tão rasas são as alegrias,
E tão falsos os amores e amigos
Que povoam as tuas folias -
Quem sabe, assim, então,
Esgotes os teus estoques de ilusão,
E voltes pra vida, desiludida,
Pra cuidar do que é teu.
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

NAVEGAR


(RÔ Campos)

Pus-me a navegar por muitos rios da vida.
Nas descidas, sempre levada pela correnteza,
Vivia cheia de certezas:
A vida era algo muito fácil de ser vivido.

Nas voltas, subindo os rios,
Sempre navegando contra a correnteza,
Comecei a sentir a dureza que também é viver,
Mas hoje tenho a certeza de que não posso parar.

Navegar é tomar uma atitude em prol da vida.
Seja descendo ou subindo os rios.
Seja nas tempestades ou na calmaria.
Não temos outras escolhas.

O SILÊNCIO DA SOLIDÃO X OS ECOS DO PASSADO


(RÔ Campos)

Ai, solidão, não me apavora!
Faz algum tempo não te sinto.
Vivo tão cheia de tudo, e isso parece bom,
Mas é só em ti que eu me acho.

Ai, solidão, por que foste embora,
E me deixaste assim, tão perdida,
No meio de tanta gente que ri,
Enquanto minh´alma, triste, chora?

Ai, solidão, eu te preciso.
Vem cá, senta ao meu lado.
Quero ouvir o que me diz o teu silêncio,
E confrontar a tua voz com os ecos do passado.