sábado, 30 de maio de 2015

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"

(RÔ Campos)

Há pouco eu te vi, ainda que através de fotografia. Olhos e rosto encovados, e cor de sangue na epiderme macerada.
E havia também um quê de incredulidade no teu olhar perdido, a fitar o horizonte impalpável. Os cabelos desgrenhados e também desbotados, como os sonhos que agora sentes desperdiçados.
Dizem que a fotografia rouba a alma da gente. Mas, nesse caso, senti que tua tristeza foi quem roubou o colorido da lente. Senão... os olhos que te clicaram - teriam eles sido cruéis? Ou, por acaso, terias tu mesma te fotografado? Ou foste tu cruel com teus próprios sonhos?
Quantas vezes suportaste o peso de um fardo que não era teu?
Quantas vezes choraste as dores que não eram tuas?
Quantas vezes creste que aquele amor que nunca foi teu seria teu um dia?
E, agora, a mim me parece, começas a carregar, sozinha, o peso da tua solidão, antes também dividida entre a solidão de dois corpos , que nunca foram um.
Que perguntas te fazes, agora?
Que respostas esperas ouvir do tempo e do vento que sopra lá fora?
Eu te confesso, neste instante também fugaz, como fugazes foram os teus dias pretéritos, que nunca concebi o amor como um assassino feroz, feito uma erva daninha que se espalma destruindo os campos e os pastos.
E, no final, o que vejo é uma pastora solitária, sem a sua ovelha preferida, aquela a quem escolheu doar-se por toda a vida, e que agora sumiu no mundo para se deliciar em um novo pasto.

ESSA SAUDADE


(RÔ Campos)

Cadê você?
Saudade é o teu nome.
Quero esquecer, mas não posso.
Essa saudade que não passa.
Te vejo em cada esquina.
Te sinto em todos os perfumes.
Te ouço em cada música.
Te encontro nos outros.
Desde o dia em que te foste.
Desde quando tudo se tornou noite.

CONVERSANDO COM OS MEUS BOTÔES


(RÔ Campos)

Como somos vulneráveis!
Em um instante o vento sopra e muda totalmente o rumo de nossas vidas.
Há os loucos que se atrevem a mudar o curso dos rios. E há até quem pense e aja como se um Deus fosse.
Mas nunca nos é dado mudar a direção do vento...

QUALQUER DIA DESSES



(RÔ Campos)

Qualquer dia desses
Vou enganar o medo
E criar coragem.
Qualquer dia desses
Esqueço que fui covarde.

Qualquer dia desses
Vou voltar atrás
E te procurar.
E nunca mais deixar
Ninguém mais te ferir.

Qualquer dia desses
Quero te ver
Frente a frente.
Quero te olhar
Cara a cara.

Qualquer dia desses
Quero voltar ao começo
E poder viver, então,
A minha, a tua,
A nossa história.

Qualquer dia desses

quarta-feira, 20 de maio de 2015

ATOS LITÚRGICOS DO CORAÇÃO

(RÔ Campos)

Coração, acalma o passo,
Acerta de uma vez por todas...
Esse compasso.
Pra que tanta pressa pra errar?

Presta bem atenção, coração -

Eu te peço.

Nas mil e uma notas que a vida solta.
Pega com carinho algumas notas soltas
Daí, quem sabe, nasce a tua canção.

O amor tem dessas coisas...

Mas, se precisares de mais tempo, coração,
Acalma o passo.
Acerta de uma vez por todas
Esse compasso.

A vida é mesmo uma canção.

Ouve o silêncio do som
Ou o som do silêncio.
Jamais esqueça os intervalos.

E, acima de tudo, coração,
Ouve o que tu tocas.
Descansa nas tuas pausas.
Navega nas tuas ondas.

Que não te faça desandar o toque desafinado
Do tambor ao lado.
Há muitos corações descompensados...

Que o teu pulsar seja o teu cantar, o teu contentamento.
Como se o corpo que te guarda fosse a tua Igreja,
E tu o sino a tocar convocando os fiéis para a santa missa.












segunda-feira, 11 de maio de 2015

PASSOU


(RÔ Campos)

Sempre fui assim,
Dada às loucas paixões.
Vejo logo promessas em um beijo,
Me ponho a construir castelos na areia.

Mas, se queres mesmo saber,
Sobre aquela minha ilusão,
Eu te digo, sem medo de errar,
Passou
Já rearrumei meu coração.


PULSAR


(RÔ Campos)

Chuva, forte chuva
Cai sobre o telhado,
Embaçando as vidraças.
Me acordo, confusa.
Corro até a janela.
Nada vejo lá fora.

(Os pássaros devem estar se guardando em algum lugar seguro - logo penso).

Não recordo que dia é hoje.
A cabeça gira a mil.
Como estarão aqueles que eu tanto amo e nunca mais vi nem ouvi falar?

Sinto frio.

Agarro o lençol de cetim e com ele me abraço.
Desligo o ar-condicionado.
A chuva continua forte.
O coração pulsa.
O relógio na parede acusa a hora.

Lembro-me de um lindo sonho que sonhei na noite passada.
O frio se vai.
A saudade entra...
Tudo que é vivo, fica.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"

Se aquilo foi um sonho, não quero acordar. Se foi verdade, então quero continuar sonhando.
Tanto tempo se passou... Tempo esse em que, nós dois, tão perto um do outro, e tão longe, chegamos até a chorar nossas mágoas, um no ombro do outro.
Em meio aos altos e baixos da sua vida, sempre pensei em uma chance, uma possibilidade de haver um encontro entre nossas almas. Mas você nunca me via.
Da primeira vez, quando comecei a sonhar, você estava livre, mas logo se aprisionou na cadeia de um amor turbulento. E você continuava sem me ver.
Agora, novamente livre e não mais enredado nas trapaças do amor, de repente, como se tivesse despertado de um sono profundo que nos separava, você me toca e eu respondo. Você me beija e eu te beijo.
E eu te confesso: se foi um sonho, não quero acordar. Se foi verdade, então quero continuar sonhando.

CONFISSÃO


(RÔ Campos)

Ah, chegaste tão devagarinho.
Foste entrando de mansinho.
Quando dei por mim, já havias entrado.

Mas riste tanto quando te contei,
Que fiquei meio assim, desajeitada.
Peguei a chave sobre a mesa,
Liguei o carro e sumi, envergonhada.

Não devia ter confessado.
Seria melhor ter guardado o meu segredo.
Mas agora que te confessei,
Já nem sei o que será de nós,
Da próxima vez. No próximo trago.
Quem sabe, um adeus...

Eu devia ter tido mais cuidado. Agora eu sei.
Muito aprendi sobre corações dilacerados.
Mas acabei me descuidando , caindo
Em uma espécie de emboscada, que eu mesma engendrei.
É que esperei tanto por aquele instante,
Que tropecei em meus próprios pés...E te assustei.

Mas, já que agora fui descoberta em flagrante
Confissão, a rainha das provas,
Eu te prometo. Vou guardar sob sigilo,
Esse mais novo segredo:
Meu coração ainda é teu.