segunda-feira, 27 de junho de 2011

PENSEM NO POVO DO HAITI!!!

No mesmo dia em que ocorreu o terremoto no Haiti, escrevi um poema que recebeu o título "AI DE TI, HAITI", o qual já andei postando aqui no Facebook. Temos muita coisa a ver com o povo do Haiti, essa gente encantadora, de sorriso largo, a alegria contagiante, mesmo vivendo dias de tanta saudade e tristeza, ainda que com vasta história de exploração, escravidão, sofrimento, dor.


Fui ao sítio na quinta-feira passada, com alguns amigos, para passarmos o feriado religioso dedicado à celebração do corpo de Cristo, e fiquei sem ler os jornais de quarta e quinta-feira, o que o fiz na sexta, quando retornamos de nosso delicioso passeio. Li a ampla matéria publicada em A Crítica, a respeito das corajosas mulheres haitianas que bravamente saíram de seu amado país, deixando para trás, inclusive, filhos e família, para buscar um mundo melhor, com o grande sonho de um dia, não muito distante, reunir todos os seus em solo brasileiro, adotando este país como sua nova e querida pátria. Fiquei absolutamente emocionada quando li cada trecho da citada matéria, e não me contive: chorar era preciso, assim como navegar, para essas mulheres guerreiras, por mares desconhecidos, à procura de um horizonte, passou a ser uma questão de sobrevivência. Transformaram seus sonhos em uma bússola, que as troxesse para cá, para estas terras quentes e ensolaradas, de um país que aprenderam a amar graças aos nossos valentes soldados que há algum tempo se fizeram presentes naquelas terras do mar do Caribe, graças a Pelé, Romnário, Ronaldinhos etc.

A matéria, em resumo, narra a história de mais de 30 mulheres haitianas que fugiram da fome e da miséria do Haiti, após o terremoto de janeiro do ano passado, e que se encontram abrigadas em um imóvel na rua Monsenhor Coutinho, no Centro de Manaus, sob a coordenação, apoio e santa graça de religiosos da igreja católica. Um pouco mais de 10 mulheres já estão empregadas; outras, ainda aguardam a grande sorte. A dificuldade maior tem sido pelo fato de falarem apenas o francês e o crioulo, idiomas oficiais do país.

Li, também, que uma delas, casada e com 6 filhos, que ficaram com o pai, no Haiti, encontra-se grávida. Teria deixado o Haiti sem sabê-lo. Está grávida e... e... desempregada.

Sábado, decidi, sem pestanejar: vou até lá. Vou ajudar em tudo o que me parecer mais impossível. É, porque o possível fica fácil fazer.

Havia uns números de telefone na matéria, mas eu não sei onde larguei a página do jornal. Resolvi ir diretamente. Não sabia nem em que direção da Monsenhor Coutinho ficaba o abrigo, mas tinha certeza que seria muito, mas muito fácil saber.

Chegando no cruzamento da Monsenhor Coutinho com a rua Tapajós, perguntei a um rapaz, desses que tomam conta de carro na rua, se ele sabia onde estavam as haitianas, ao que me respondeu num átimo: ali embaixo, ao lado do hotel do Largo. Rumei pra lá, acompanhada pelo meu namorido. Estavam elas à frente do abrigo, na calçada, em uma roda. Havia dois haitianos. Ao saltar do carro, todos se voltaram e nos olharam. Não sei o que pensavam.

Perguntei: alguém de vocês fala português? Várias apontaram para uma moça, somente, que, para abreviar o rumo da prosa, depois de ouvir-me, passou-me o telefone da madre coordenadora, Irmã Sentina (celular 9336-6226). Anotem esse número. Pensem no povo do Haiti. Ajudem essas mulheres valentes, guerreiras.

Ao final, perguntei à nossa gentil e sorridente anfitriã há quanto tempo estava em Manaus, ao que me disse que havia 3 meses. Perguntei a ela como, em tão pouco tempo, ela falava e entendia tão bem o português. Faceira, com as mãos no queijo, respondeu-me: Inteligenté.

Nossa visita ao abrigo foi emocionante. Ver aquelas mulheres ali, com histórico de sofrimento pungente, os horrores vividos com o terremoto, que matou milhares de pessoas, todas , no entanto, sorridentes e alegres, nos disseram que, sim, há flores no brejo. É possível viver, sempre, enquanto houver sangue jorrando em nossas veias. Enquanto a noite se deitar. Enquanto o dia se levantar. Enquanto as manhãs se abrirem, como botões que arreebentam.


Estou planejando alguns eventos para arrecadarmos roupas, calçados e alimentos para entregarmos a essas lindas mulheres. Realizaremos, inclusive, um chá de fraldas (o famoso baby chá), para presentear a haitiana que aguarda o nascimento de seu 7º bebê, o qual ela faz questão que nasça no Brasil. Logo estarei avisando a todos os nossos amigos e amigas, que, convocados, nunca se esquivaram de participar desses eventos. Vamos fazer uma festa, com muita música, em prol de nossas irmãs haitianas.

E, não esqueçam, algumas ainda precisam de emprego. Contato com irmã Sentina: 9336-6226.

Obs: Há também muitos haitianos abrigados na igreja de São Geraldo, no bairro de mesmo nome. Eles também precisam de emprego, roupas, calçados, alimentos. VAMOS LÁ MINHA GENTE. VAMOS DOAR VIDA!!!!!!!!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

DECLARAÇÃO DE UMA MÃE DE 26 ANOS, QUE LANÇOU RECÉM-NASCIDO NAS ÁGUAS DO RIO (RÔ Campos)

(Compus esse poema quando acompanhei o caso de uma jovem mãe de 26 anos, em Minas Gerais, que tinha 3 filhos e havia jogado o quarto, recém-nascido, nas águas do rio, em 2008, há quase 3 anos. Não me recordo, mas parece-me que a criança sobreviveu. Tentando alcançar o que podia haver se passado em sua mente, em seu coração,e com base em suas declarações aos jornais e na reação da população, assimilei tudo na forma como passei para o papel. Hoje estou meio reflexiva e resolvi vasculhar o poema e compartilhá-lo. Ei-lo)



Por que me perguntam?

Eu não sei

Eu joguei meu bebê.

É só o que sei

O que me lembro.

Eu o pari.

Estava ali, sozinha,

As paredes pareciam desabar sobre mim.

Ouvia zumbidos.

Gritos! Muitos gritos!

E silêncio também.

Não havia ninguém em minha volta.

Só zombaria.

Nem Deus me fazia companhia.

Eram tantas as dores. Dissabores!

O que é felicidade?

Passado?

Eu não sei, nunca os vi

Futuro?

Não, não há dicionário nos escombros que me restaram

Sonhos?

Eu não dormia.

E sonhar acordada!? – como - se eu padecia?

Não me perguntem.

Todos só fazem perguntas.

Vidas vazias.

Nunca me perguntaram se eu comia

Se é certo?

Não sei, eu não sabia

O que é um erro?

Como sabê-lo, sem conhecer o certo.

E o que é o “certo, afinal?

Não, não sei o que é luz.

Todo o meu caminho foi escuridão

Amar?

E o que é o amor, então?

Tudo o que sei é sofreguidão...

Não havia pão nas manhãs que acordavam bêbadas.

Nem jantar nas noites escuras, drogadas.

Não tive vizinhos.

Nem jardins.

Muito menos primaveras

Infância?

Parece-me algo singelo.

Quem é ela?

Quem é ela?

Família?

Tudo é outono, modorrento.

E também inverno, sombrio.

Não há primavera, nem verão.

Nem sóis, nem flores nas janelas

Deus?

Nunca pude senti-Lo, sabê-Lo.

Meus olhos não O alcançaram.

Minhas mãos jamais O tocaram.

O inferno sempre foi meu companheiro.

Nesse fogo eu vivi.

Ora, prazer?

Quem é você? Quem é você?

De onde vim?

Não sei nem onde nasci.

Talvez venha do nada.

Vagando, pelas longas estradas

Pra onde vou?

Pra lugar nenhum.

Não sei quem sou.

Nunca mirei as estrelas.

Não conheci nenhum lar.

Meus pés são descalços.

Meus olhos vagueiam.

Minas pernas ziguezagueiam.

Minha face não conhece o beijo.

Minhas mãos, o afago

(Tudo é escárnio!).

Eu não sabia o que fazer.

Meu mundo era faminto.

Minhas vestes, andrajos.

Enquanto isso, muitos se refestelavam.

Comiam.Bebiam.Gargalhavam.

E eu sentia muito frio.

E agora, vem você aí.

Zomba de mim.

Cobra-me o que não me deu.

Não sabe o que é padecer.

Escuridão, breu.

Eu sei!Eu sei!

Não, eu não sei nada.

Estou sozinha nessa longa estrada.

Nem o sol me faz companhia.

O céu é sempre cinza.

E tenho muito frio.

Não, não conheço o pecado.

Nunca alguém me fez um bem.

E também não sei o que é o “mal”.

Só conheço a fome.

E tenho muita sede.

O olhar esbugalhado dos três.

A tristeza.

Não havia mais chão para agasalhar o quarto.

Nem braços, nem abraços.

Assim, o lancei ao rio.

As águas seguiam seu curso.

E nelas não refletia o meu olhar vazio, descolorido.

Era noite.

Sempre foi noite!

Desde sempre!

Quando estive no útero

Longos meses!

Nadava em líquido gélido

Saía do nada e voltava pra lugar nenhum

Vim ao mundo, finalmente

Pelas mãos de ninguém

E a luz ofuscou meus olhos

E meus olhos não ouviram canção

Assim tem sido isso a que chamam vida

Então, não dei meu bebê à luz

Não havia luz

Dei-lho às águas

Há três neste mundo de escuridão

Eu sei, eu sei

Eles também não sabem o que é luz

Prisão?

Dizem que me levarão às masmorras

Mas que prisão outra haverá?

Desde o dia em que vim ao mundo sou prisão

Mentiroso, Rousseau!

Nunca fui livre!

Este mundo é um cárcere!

O tribunal me recepcionou na primeira manhã

À tarde, fui julgada

À noite, condenada.



15/10/2008 – 164 anos do nascimento de Nietzsche
(Acabei de escrever esse texto vendo as fotos de um amigo que postou no Facebook, alusivas a vários locais de Manaus, praças etc. Uma delas retrata aquele pedaço do Prosamim onde está a ponte dos ingleses e a linda arte com pintura feita na parede externa da Cadeia Pública Vidal Pessoa, cheia de muitas cores, vibrantes)


"Atrás dessa bela paisagem se esconde o cáos, a miséria humana. Atrás do verde (da floresta) amarelo (do ouro), vermelho (do sangue, da fraternidade) e branco (da paz), tudo é cinza. Atrás desse colorido todo, não há cor. Tudo é dor. Atrás de toda essa arte, de toda uma emoção expressada com a tinta, tudo o que se pinta é a desgraça humana. Abaixo desse céu azul que parece nos guardar a todos, há homens e homens que nalgum dia foram homens, e hoje não são homem algum. São arremedo de qualquer coisa. Pois o homem que perde a sua dignidade... é homem nenhum."

sábado, 18 de junho de 2011

OMB/AM VOLTA A ATACAR. ATÉ QUANDO?

Eis que estava eu, hoje, no TOC TOC DELÍCIAS & CHOPP, como de hábito, saboreando minha heineken e outras coisas mais, e, no final da festa, quem chega? Quem? Adivinhem, se forem capazes? Fiscais da OMB, vestidos em suas camisas pretas. Um, eu identifiquei de pronto, envolvido no caso da cantora Márcia Siqueira, em março passado. Lembram? Seu nome, não sei, e nem me interessa saber, mas aquela cara eu sabia que conhecia - e bem. Chegaram de mansinho e foram até o proprietário, com quem eu compartilhava a mesma mesa. Abordaram-lhe sobre nota contratual e outras coisitas mais. O proprietário recebeu-lhes com a educação que lhe é peculiar, e disse-lhes que aguardassem até que os músicos encerrassem o seu trabalho, que já estava nos finalmente, ao que disseram-lhe que sim. Mas tal foi a minha surpresa quando, ao invés de assim procederem, subiram ao palco, enfileirados como a marcha dos sete anões, no filme da Branca de Neve, como se fossem os donos do mundo, e, lá em cima, com a casa ainda com clientes, abordaram os músicos, cheios de papeis e lanternas, onde permaneceram num conversê, cujo teor desconheço. Tempos depois, desceram do palco e foram até o proprietário, parabenizando-o pela casa, segundo eles, respeitar não sei bem lá o quê. Na verdade, os músicos, ou alguns deles, encontram-se em atraso com o pagamento de suas anuidades deste ano, e foram " gentilmente" convidados a regularizar a tal pendência, na segunda-feira, junto à OMB, para que, a partir de então, sejam, de igual modo, regularizadas e emitidas as famigeradas notas contratuais. Entre um blá-blá-blá e outro, " informaram" ao proprietário que a ação da OMB é legítima, pois o Sindicato teria perdido a ação que visava coibir essa arbitrariedade (é claro que eles não pronunciaram essa palavra, pois eles se acham os paladinos da classe dos músicos). A verdade é que a sede da OMB local é insaciável, e tudo eles podem até defender, menos os músicos, que tentam, de todos os modos, impedir de trabalhar e garantir o seu sustento. Eles insistem nessa perseguição imoral no sentido de impedir os músicos de exercerem o seu ofício. A quem pode interessar essa fiscalização odiosa, que procura cercear o direito constitucionalmente garantido de trabalho ao profissional da música, como a qualquer outro trabalhador, sem obrigatoriedade de filiação ou de licença prévia, ou, ainda, de pagar para poder trabalhar? Que país é esse, me pergunto, onde uma Constituição Democrática, promulgada sob a vontade solene do povo brasileiro, que varreu do seu território qualquer vestígio de autoritarismo, há mais de 20 longos anos, ainda mantém em seu seio sujeitos que insistem em censurar, e eles ainda conseguem encontrar eco? Urge que se dê um basta nessa anomalia! Que o Ministério Público do Trabalho exerça sua função nesse caso, constitucionalmente garantida, procurando permitir aos músicos que exerçam o seu ofício, com a dignidade que a Constituição Federal lhes assegura. Que o Poder Público, dentro de sua competência, diga não a esse disparate, garantindo o direito ao trabalho, sob pena desse direito fundamental do cidadão tornar-se letra morta na Constituição. Que esse povo que hoje ocupa a OMB vá usufruir também desse direito, trabalhando dignamente, ao invés de ganhar indevidamente salário à custa de perseguição de músicos e de aplicação de multas indecorosas. Até quando a classe artística terá que conviver com essa ignomínia? Libertas que seras tamem!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

VIDA

Olá! Boa noite! Eu me chamo VIDA. Trocando a última sílaba do meu nome, pela primeira, eis DAVI. DAVI foi um rei hebreu que venceu GOLIAS, um monstro inimaginável de ser derrotado. DAVI também era poeta e escreveu os SALMOS, verdadeiro livro d...e poemas que compõe a Bíblia. Pois assim mesmo sou eu: tenho que vencer um monstro a cada dia. Não é nada fácil, parece impossível, assim como o era, a princípio, para DAVI, não obstante ele fosse um rei, dotado de muitos poderes. Eu me considero bela e acredito seja uma obra-prima, um objeto de arte, quiçá de um artista maior, supremo. É claro que cada um me vê de um jeito. Depende do estado de espírito do observador. E, afinal de contas, eu não sou estática. É bem verdade que tenho uma essência. Mas nunca sou exatamente a mesma a cada dia, hora, minuto segundo que se passam. Eu sou eterna, mas sou única a cada vez em que me materializo, em que entro num corpo. Quando isso acontece, eu tenho necessidade e obrigação de VIVER. Afinal de contas, o quê estou fazendo aqui, se sentar-me em um banco na praça, cruzar os braços e ficar vendo o tempo passar por mim? Não, o artista que me concebeu decerto não espera tão pouco, ou quase nada, da sua criatura! E de que adianta tanta beleza, se eu não tiver força, perseverança, altivez e amor. Amor, muito amor, a única coisa que salva, o amor, em todas as suas formas, vivido em toda a sua plenitude. Por isso vim ao mundo e apaxonei-me por ele. E o mundo também se apaixonou por mim. Eu então namorei o mundo, esse macho rico, profundo, vasto. E com ele me casei. O mundo não vive sem mim. Eu não existo sem o mundo.