domingo, 29 de setembro de 2019

ADEUS


(RÔ Campos)

Desculpa se não te pude perdoar.
Foram tantas as vezes que atendi aos teus clamores,
Mas mesmo assim tu nunca te deste conta,
Que a cada dia que me ferias ,
Morrias um pouco mais dentro de mim.

E agora, no esvair das horas, não deu mais, chegou o fim.
Botei tudo na balança,
Pesei os pós e os contras,
A verdade emergiu, escancarou,
O cansaço me venceu.

Sei, agora eu sei, tu também sabes,
Sou uma estrela gigante, e, por isso,
Me quiseste sempre à sombra,
Apenas um reflexo no chão.
Não cabemos nós na mesma constelação.

Teu orgulho e vaidade, de tão grandes,
Te trancaram em teu pequeno mundo,
Onde somente tu possas reinar absoluto.

E agora é chegada a hora derradeira:
Arrumei as minhas malas,
Já comprei o meu bilhete de partida.
Vou tomar o primeiro trem da manhã,
Quando a aurora romper a escuridão medonha.

Sim, meu amor, eu vou embora.
Decerto que muita coisa tua levarei comigo na bagagem.
Algumas lançarei pela janela;
Outras, ficarão guardadas na memória.
Um dia, que não vai longe, serás apenas meras lembranças.
Ou - quem sabe? - nada.

sábado, 28 de setembro de 2019

TÃO BOM

(RÔ Campos)

Foi tão bom te ver de novo
Descobrir alguns de teus segredos
Dividir o mesmo edredom
Respirar o mesmo ar
Jogar fora os meus medos.

Foi tão bom sentir teu cheiro
Ganhar o teu abraço
Teu carinho, teu afeto
Um novo abrigo, um teto.

Eu andava muito triste
Sozinha, mesmo rodeada de gente
E de repente você apareceu
Numa noite sem luar e sem estrelas.

E ontem à noite chovia muito
E a forte chuva que caía
Levava toda a minha tristeza embora.

Foi tão bom te ouvir dizer
Das coisas simples da vida
Saber que o menos muitas vezes é mais
E que só abrindo a embalagem se conhece o conteúdo.

Foi tão bom te ver de novo
E me fazer crer mais uma vez
Que melhor do que receber
É querer dar e ter a quem
Mas quando essas duas coisas se juntam
O sucesso é certo, a felicidade também.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

UM DIA DE DOMINGO

(RÔ Campos)


Havia sido um dia extraordinário: encontro com amigos queridos,
amenidades, conversa jogada fora, sabores vindos da cozinha, tilintar de taças de vinho: merlot, tempranilla, malbec. Uma viagem à França, Espanha e Argentina.

Depois, à noite, a deusa música:
uma volta pelo nosso Brasil de encantos mil.

Quando a madrugada chegou, quedei-me sobre a cama, o corpo cansado e suado, mas em êxtase.
O frio do quarto me cobriu.

O sono já me havia arrebatado quando fui despertada pelo deslizar macio dos dedos dele,que desciam e subiam meu corpo como se veludos fossem.

Quis resistir, mas não pude: quando ele me tocava, com indescritível delicadeza, as estrelas se achegavam, o céu inteiro estava em festa.

Então, me entreguei por completo,
embarcando nessa viagem mágica, como se um sonho inenarrável fosse, sem lembrar que amanhã a realidade muito cedo bateria à minha porta.

sábado, 21 de setembro de 2019

DOIS MUNDOS


(RÔ Campos)

Entre mim e ti
Há muitos rios que passaram
Caudalosa e mansamente
E também em meio a tempestades.

Entre mim e ti
Há dias de calor e dias de frio,
Há noites de luar e noites escuras,
Há sofreguidão e alegria.

Entre mim e ti
Há um mundo de sonhos,
Onde construí muitos palácios
E vi ruir outros tantos castelos de areia.

Entre mim e ti
Há dias de luta,
Há dias de glória,
E há dias de vencer ou morrer.

Entre mim e ti
Há interregnos,
Há interrogações
E há também silêncios e respostas.

Entre mim e ti
Há dias que se foram para nunca mais,
Há dias que ficaram para sempre
E há dias também que olho para trás
E te vejo chegando, meu anjo, anunciando a Boa Nova, trazendo em teu sorriso a Pomba da Paz!

terça-feira, 17 de setembro de 2019

VENTANIA

(RÔ Campos)

De repente, o vento soprou,
Quebrando o silêncio.
De repente, não mais que de repente,
O vento tomou exagerada força,
Escancarando as janelas do passado.
De repente, o que era ontem agora é visivelmente presente.

Ouvir tua voz embargada, delicadamente compassada,
Falando acerca dos nossos encontros e desencontros,
Dos nossos medos e desejos abandonados no meio do caminho,
Fez -me o coração acelerar.
Num átimo, lembrei-me do último poema que escrevi para ti - BRINCAR DE VIVER!
Da última estrofe...
"Por que entraste de novo na minha vida?
Por que saíste em seguida?
Por que desististe de voltar, se era o teu desejo?
Por que não voltas, mesmo mentindo?
Pra gente brincar de amar
Pra gente brincar de viver".

Agora, vens e me dizes que queres me ver ontem,
Que não podemos mais deixar que o tempo faça isso com a gente,
Quando, em verdade, fomos nós dois que viramos as costas para o tempo,
E deixamos que ele passasse,
Como passa o vento, levando os dias e as noites...