domingo, 26 de dezembro de 2021

ESTÁ FALTANDO MUITA GENTE AQUI


(RÔ Campos)


Está faltando muita gente aqui

Todo o mundo tenta se distrair

Mas essa dor tá doendo demais

Já não dá mais pra insistir nesse disfarce.


Há  dois anos tudo  era diferente 

Ninguém imaginava que tudo ia mudar

Já não temos tempo de cuidar

Nem  podemos mais dizer adeus. 


O que houve,  meu Deus,  o que aconteceu?

Por que tudo mudou assim tão repente?

Todo dia meus filhos me diziam

Hoje foi fulano quem partiu.


Agora não consigo nem chorar 

Pois meu coração parece que secou

Foram dias  tão cruéis

Que já não sabia mais o que era paz. 


Mas está faltando muita gente aqui

Muitas mesas  estão caladas , vazias

As festas já não são como eram antes

Acabou-se a fantasia. 


Parecia o fim do mundo

Era  gente sucumbindo na entrada dos hospitais,  pedindo socorro

Gente batendo nas portas, desesperada,

Mas as portas não se abriam.


Para "melhor ilustrar" essa tragédia

Pessoas morreram asfixiadas, sem oxigênio

Na capital do pulmão do mundo -  quanta ironia!!!!

Vítimas do crime e do descaso do estado brasileiro. 


Está faltando muita gente aqui

Partiram o pai,  a mãe, o filho e a filha,  o irmão e a irmã, o neto e a neta, o avô  e a avó. 

Partiram  também  o genro,  a nora,  o sogro,  a sogra, o padrasto e a madastra, o enteado e a enteada, o cunhado e a cunhada

E assim também o tio e a tia,  o primo e a prima,  o amigo e a amiga,  os parentes mais próximos e os distantes,  os parentes dos amigos e  das amigas

E ainda  o vizinho e a vizinha,  o conhecido e a conhecida,  ex-amores, o médico e a médica,  o enfermeiro e a enfermeira,  muita gente na chamada linha de frente. 

Muitos anônimos também  se foram,   enterrados  em imensas  valas.

Foram-se professores,  policiais,  trabalhadores em geral,  escritores,  poetas, músicos,  cantores e cantoras,  compositores e compositoras, atores e atrizes,  negacionistas,  crentes, cristãos,  ateus, padres.

Foram-se além de tudo pobres desgraçados.


Está faltando muita gente aqui

É porque muitos se vão  primeiro

Mas assim como o sol e a lua vão e voltam todos os dias

A vida, essa coisa rara, também segue em frente... 


E provado está, como disse Volia,

Que "a vida não é  apenas um passeio  no parque"

Cabe a cada um de nós seguir

Mesmo que no meio do caminho haja uma ou muitas pedras...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

SEDE DE VIVER


(RÔ Campos)

Seremos felizes?
Só o tempo  irá  dizer
Daquelas horas livres
Que, juntos,  a gente viver. 

Não quero  que sejas a minha  prisão
Liberdade antes que seja tarde
A vida não ancora em um porto solidão
Do meu  coração guardo comigo a chave. 

Queres me pôr em um altar sacrossanto
Mas não demora vais saber
Nunca fui nenhuma santa
Tenho muita sede de viver.

NÃO SE VISTA DE TRISTEZA


(RÔ Campos)


Dê  sempre tempo ao tempo

Deixe  o tempo passar

Só não deixe de viver plenamente. 


Viva a cada sol,  a cada lua

Com a alma despida,  nua

Não se vista de tristeza. 


Se o amor bater na tua porta

Deixe o amor entrar

Mas não se feche  se o amor sair

Tenho dito: quem ama também deixa ir embora.

O QUE VOU FAZER SEM TEU AMOR?

(RÔ Campos)


Você chegou devagar

E eu nem percebi

Quando dei por mim 

Você já estava aqui.


Você chegou devagar

Com seu jeito manso

Um olhar tão doce

Que me fez sonhar.


Você chegou devagar

E eu nem percebi

Sem saber por que nem quando

Eu me apaixonei.


Você chegou devagar

E eu nem percebi

Que meu amor era teu

E que no amor eu me perdi.


Você chegou devagar

E eu  nem percebi

Nos planos que eu fiz

Nos traçados eu fui feliz.


Você chegou devagar

E eu acreditei

Que meu amor era teu

E teu amor era só meu.


Você chegou devagar

E eu nem percebi

Agora vem você e me diz

Que vai partir...


E eu pergunto a você

Meu amor

O que vou fazer, com esse amor

Que ainda é teu.


E eu pergunto a você

Meu amor

Como vou viver sem meu coração

Se ele eu te dei.


*Escrito em meados  de 2011 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

DO FUNDO DO NOSSO QUINTAL


(RÔ Campos)


Meu Deus! dai-me forças

Porque vontade eu tenho muita 

De morar no templo que é  o samba.


Quero orar ao pé do altar

Praticar a minha fé

A fé na vida

A fé no samba

E curar minhas feridas. 


Olho pro sambista com o dedo na viola 

E logo me ponho a sorrir.


O homem marcando o compasso no surdo

E meu coração saltitando, querendo falar, correr mundo. 


O tamborim no contratempo

Me fazendo lembrar que tudo é  possível,

Exceto correr contra o tempo. 


E tem  também o cavaco, tão pequeno

Soando alto, parece dizer

Que as rodas de samba são como oração.


Meu Deus! dai-me forças

Porque vontade eu tenho muita

De morar no  templo que é  o  samba.


Tem  também tantan, agogô, pandeiro e reco-reco

Repique pelas  mãos do Bira

Tem ainda o banjo  trazido  por Almir Guineto.

Agora estrelas que voltaram para  a sua constelação

Vejo tudo à noite quando ergo os olhos para o céu 

Do Fundo do nosso Quintal.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

DIÁLOGO COM OS ASTROS


(RÔ Campos)


Eu, na solidão do meu quarto,

Mas nunca estou  sozinha.

Tenho muitas companhias,

Sejam os dias quentes,

Sejam as noites frias. 


Há  dias em que as ruas  estão cheias, 

E eu, em meio a tanta gente, 

Sinto como se estivesse sozinha. 

Os homens vêm  e vão

Sobem calçadas,  mudam de lugar,

Baixam a cabeça,  olham para o céu

Mas não veem  os que estão ao léu.


Há noites em que as ruas estão vazias.

Eu saio por aí  a catar estrelas,

Procuro um banco  pra sentar em uma praça  qualquer,

Quero conversar com a lua.

Vejo muitas imagens ao redor dela:

Às  vezes são monstros, 

Outras  tantas vezes são bichos,  são anjos.


Aí  então eu me sinto aliviada. 

Sei que não estou sozinha neste mundo.

Um mundo infinito,  de infinitas possibilidades. 


Prossigo a catar estrelas para conversar com elas. 

Ao piscar,  elas me dizem que Deus  vive nos olhos de quem vê a beleza.

A beleza que está no amor entre os homens, 

E não naquilo  que os divide.


E as estrelas me dizem,  ainda:

Deixa disso. Ninguém  é  dono da verdade.

Nem nós, que brilhamos na escuridão. 

Há  dias em que as estrelas caem.

Mas até quando caem, dão seu espetáculo. 


E, ali,   vendo muitas estrelas brilhando no céu,  e algumas outras caindo,  um anjo parecia me sussurrar:

Embora candentes, estrelas cadentes são.

Porque tudo cai. Até a soberba.

Mas nem tudo o que cai é  só tristeza. 

As lágrimas que caem de teus olhos, antes,  já lavaram a tua alma. 


Não há solidão na solitude de um quarto vazio,

Tampouco em um céu  sem lua, sem sol,  sem estrelas. 

Apenas eles estão ofuscados pelas nuvens escuras,  passageiras.

E, assim como as nuvens que passam, tudo absolutamente  um dia há de passar...

terça-feira, 26 de outubro de 2021

BREVIDADE


(RÔ Campos)


A vida é tão breve

A vida é tão curta

Mas ainda são muitos

Os homens que surtam

Pobres diabos!

Terráqueos!

No mundo de Deus.


A vida é tão breve

A vida é tão curta

Num segundo, apenas

Tudo vira pó, poeira:

Dinheiro, orgulho, preconceito

Sem dó, nem ré, nem mi

Nem fá, nem sol, nem lá...

Nem si.


A vida é tão breve

A vida é tão curta

É Deus e  sua batuta

É Gaia quem toca

Quem o canto entoa

É o sol radiante que tilinta

É o vento que sibila

É a chuva que baila enquanto cai

São os leitos dos rios

São os mares, rasos, profundos

Onde as águas da chuva se deitam

São os pássaros que voam

Que o cantar ecoam

Orquestra da vida!

Pulsar fugaz!

O homem, obra da criação

Ou, quem sabe

Do Nada

Desatento...Desentoa

Desafina...

*escrito em outubro de 2013

POR QUE TINHA DE SER ASSIM?

(RÔ Campos)


Quase quatro anos···

É muito tempo·

Um tempo que não tive mais·

E nunca mais te vi·

A não ser perambulando

Pelas veias cansadas do meu coração·


Hoje de manhã lembrei de ti·

Não pude me conter

E chorei por nós·

Por que tinha de ser assim?

Tantos sonhos se perderem, 

E eu me perder de ti?


* lembrança do Face de  25 de outubro de 2015.

CADA UM DE NÓS É O QUE É

Quantas vezes deixamos de viver e passamos a sobreviver apenas com as  migalhas que nos oferecem, como se mendigos fôssemos!?  

Depois, muito tempo depois que os melhores dias de nossas vidas já se foram, é que vamos nos deparar com a triste realidade do quanto fomos ingênuos e  cegos, ou melhor, burros; isso mesmo, literalmente burros. 

Aí, então, aprendemos que cada pessoa é o seu próprio universo. Cada um tem o seu próprio sol, a sua própria lua. E não precisamos nem do sol, nem da lua do outro, porque temos os nossos, que nos aquece e ilumina. 

*escrito em 26.10.2013

QUEM QUER DÁ. QUEM QUER, FAZ

(RÔ Campos)

Pare de viver a vida do outro...e viva a sua. 

Pare de pegar no pé do outro...e cuide do seu próprio pé. 

Pare de insistir em  botar os seus sonhos na cabeça do outro...e deixe-o sonhar os seus próprios sonhos. 

Pare de esperar pelo o que você já viu que não vai chegar nunca. 

Pare de reclamar por que o outro não lhe dá o que você quer receber e nem faz aquilo que é de sua vontade.

Porque cobranças são para escritórios jurídicos. 

Na vida, quem quer, dá. Quem quer, faz. 

ESCOMBROS DA MEMÓRIA

(RÔ Campos)

Nada mais do que ele te faz causa-te tristeza ou dor? 

Nada do que ele te diz te ajuda a ser feliz ou faz reacender a luz da esperança? 

As promessas dele agora são vãs aos teus olhos que se tornaram incrédulos? 

Se me disseres sim, eu te direi: Então, hoje ele já não é mais nada. É ninguém.  

Andaste tão ligeiro e resoluta para o futuro, sem deixar nenhum sinal, nenhum pista, que ele se perdeu num passado remoto. 

O que antes era amor e morava no teu coração, hoje vive sob os escombros da memória. 

*escrito em 26.10.2013

AQUELES DIAS

(RÔ Campos)


... E ainda hoje eu me vejo sonhando os teus sonhos

(aqueles que plantaste nos jardins da fantasia); 

pintando os quadros que pintaste com as cores da Primavera (mesmo quando chovia e  o céu era coberto por nuvens pesadas); olhando teus olhos grande mar aberto,  céu azul, 

E, pela manhã, colhendo as conchas que o mar exausto deixava na areia, quando vinha para descansar, naquele movimento de vai e vem, 


Vai e vem

Vai e vem,


Até se deitar sobre mim e,  sedento,  beijar minha boca como se fosse um cais... 

E me tomar pelos braços e passo  a passo me fazer tua Ilha,  teu porto  seguro. 


E ainda hoje eu me vejo pensando nas madrugadas que atravessavam a escuridão até vislumbrar os primeiros raios de luz


Trinta dias,  trinta noites... 


Quando as horas teciam os nossos destinos:

Tu voltando para casa  após  longa viagem por outros continentes, e eu  aqui,  tua Ilha,

Sem o teu mar a me cercar

Sem o teu céu a me cobrir.


*escrito em 26 de outubro de 2015

domingo, 24 de outubro de 2021

AMIGO DE BAR


(RÔ Campos)


Temos vários tipos de amigos,

Mas aqui,  agora,  quero falar um pouco do amigo de bar. 


Amigo de bar é  aquele que,  de repente, surge do nada.

Muitas vezes pensamos  até que já conhecemos a praga. 

Um gole aqui,  outro acolá 

Te abraça,  te beija,  faz festa, te faz  até sonhar. 


Amigo de bar é  pra sempre.

Ninguém visita um ao outro,

Ninguém sabe da vida de cada um.

Mas o "pra sempre" não passa  da mesa  de bar. 


Amigo de bar topa qualquer parada,

Principalmente quando o assunto é  uma gelada.


Amigo de bar nem se toca  se entrar  contigo em alguma fria,

E vai contigo em qualquer quebrada. 


Amigo de bar  te dá  carona,

E nunca reclama de nada.

Nem mesmo quando esqueces  o caminho, a entrada da rua, 

Fazendo com que ele,  já tonto,  dê  muitas voltas,

Ou quando,  ao saíres do carro,  cais na calçada embriagado,

(Não sem antes deixares tua marca registrada no banco do carona ou no assoalho do carro). 


Amigo de bar nunca te cobra nada. 

E até paga a conta sozinho,  quando é abonado,

E tu não passas de um pobre pés-rapados,

Ou se já és acostumado na velha artimanha   de se fazer de leso e no "se colar, colou" para saíres  ileso, sem meter a mão no bolso, geralmente  furado.


Amigo de bar nunca  te enche o saco.

Se é  pobre,   dá  um jeito e logo fica rico, mesmo que fique pendurado.

Se é  rico,  adora  mostrar a carteira cheia, e não se faz de rogado.


Amigo de bar, seja rico ou seja pobre,

Só quer saber de esquecer as agruras da vida, 

As rasteiras que lhe deram, 

Os chifres que lhe puseram,

Ouvir Garçom, de Reginaldo Rossi.


Se o Flamengo ganhou ou perdeu, 

O amigo de bar vai estar lá. 

Se o Flamengo ganhou,  usa a camisa do time,  grita, canta o hino,  

Pega o microfone do cantor, 

E diz que é  Flamengo  até morrer. 

Se o Flamengo perdeu, não dá  um pio.

Fica lá pelos cantos, sozinho,    faz de conta que nem ao jogo assistiu.

Mas se você  for  bulir  com ele,  ah! meu amigo,  aí  você se fodeu. 

Logo ele te manda ir pra puta que te pariu!


Se o Vasco caiu, coitado, o amigo de bar só aparece na segunda. 


Sem trocadilhos,  por favor. 


Mas...Se o Vasco ganhou,  pode contar que o amigo de bar vai estar lá,  todo prosa, querendo cantar de galo,  mesmo sendo peixe. 


E, finalmente,  não vou nem falar de política. Vixe Maria!

A gente se engalfinha  todo na internet de janeiro a janeiro, 

Chama  um ao outro de tolo, corno, esquerdista, esquerdopata, petralha, comunista, gado, bolsominion, minion,  bozolóide, massa de manobra,  genocida,  burro, tapado...

Mas, na mesa de bar, adeus penimba, adeus bate-boca.


Amigo de bar só quer encher o quengo de cachaça,

Esquecer  de política,  de economia,  de inflação, e que viver tá um osso só. 


Sem trocadilhos,  por favor. 


Não se engane: amigo de bar não é  ninguém da aristocracia.

Bar é  reduto  de intelectuais,  artistas,  músicos, poetas,  filósofos de botequim, putas, gays, pretos,  maconheiros,   vagabundos, mulheres de grelo duro e pelos no sovaco, mães solteiras,  professores,  desesperados, sonhadores. 


Verdadeiro exercício da DEMOCRACIA!!!


domingo, 17 de outubro de 2021

FRAGMENTOS DO TEXTO "CONFISSÕES"


(RÔ Campos)


Ele ainda era um principiante, estava dando os primeiros passos nos degraus da escada da vida.  Ela já havia dado muitas voltas ao redor do sol. Mas,  juntos,  pareciam crianças, cheias de lindos sonhos. Ele queria aprender a tocar violão; ela,  percussão. Nada absolutamente os perturbava. 

A diversão  era garantida,  a parceria,  caprichosa.  O bar, onde se conheceram,  era o templo sagrado. O final da noite, sempre fechado com chave de ouro:  a descida da ladeira da Paraíba,  nos rumos de Adrianópolis,  ela ao volante,  na velocidade da urgência juvenil,  ao som dos Tribalistas:

"E a gente canta, a gente dança, a gente não se cansa de ser criança, a gente brinca na nossa velha infância".  Uma infância que só existia na imaginação daqueles dois perdidos na noite,  que se encontraram, se acharam e se perderam de novo.

As conversas , longas e  intermináveis. Assim também os beijos.  Ambos  trocavam palavras acerca de seus sonhos, nunca falavam de problemas e outras coisas do gênero.  Ele queria conhecer o mar.  Nunca havia estado num avião,  muito menos visto o mar, exceto nos sonhos. Era algo recorrente. Logo seguiram a concretizar esse sonho. Viajaram para o nordeste. Dormiram  por três dias no mesmo quarto,  na mesma cama,  fizeram carinho,  se abraçavam, trocaram beijos,   mas tudo não passou disso, o que já era muita coisa. O amor não precisa de muito para se alimentar. Foi durante esses dias em que ele conheceu o mar,  que também fez a ela suas  confissões: (tinha uma jovem mulher  e  uma filhinha),  a relação não estava nada boa. Ela,  como se psicóloga matrimonial fosse,  disse-lhe muitas palavras cheias de positividade. "O amor tem feito coisas que até mesmo Deus duvida. Já curou desenganados, já  fechou muita ferida".  

Depois que voltaram da viagem,  nunca mais se viram.  Desde então,  ele não mais apareceu naquele lugar eleito o templo sagrado de ambos. Ela continuou sua vida...

Anos mais tarde se reencontraram na internet,  mas até hoje não se viram pessoalmente.  Ele,   já com outra companheira. 

Hoje,  passados tantos anos,  cada um segue o destino que escolheu. 

Ele,  então àquela  época prisioneiro, hoje vive  preso  ao amor de outra. Ela,  sonhadora  contumaz,  uma  apaixonada pela vida, protagonista de vários amores,  continua sendo de todo  mundo,  mas não é  de ninguém, e todo mundo lhe quer bem.  Detalhe: também não desaprendeu  a namorar e nem a beijar de língua, embora tantas voltas lindas  ao redor do sol...

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A VIDA NÃO PERDOA A QUEM DORME


RÔ Campos)

Engraçada, essa  vida. As pessoas passam pela nossa  vida, a gente passa pela vida das pessoas...

Às  vezes,  a gente  vê aquela pessoa,  mas essa pessoa não nos vê.

Ou, então,  a pessoa nos vê,  e a gente nem percebe. 

Em quaisquer dessas duas situações,  muito provavelmente no momento em que um vê, e o outro  não percebe,  é  porque o outro está com o coração  ocupado, ou já tem um inquilino na mira.

O tempo passa,  e, muitas vezes,  anos mais tarde,   sem quê  nem mais,  o destino nos coloca novamente no mesmo caminho,  na mesma  estrada,  na mesma calçada...

Quem não viu, no passado,  e agora vê,  ao tomar conhecimento desse cochilo,  fica a indagar-se a si: - Como essa pessoa passou por mim e eu não vi?...E não se perdoa.

Às  vezes,  dá  tempo de consertar.  Outras,  infelizmente,  vale lembrar um verdadeiro axioma: "a vida não perdoa a quem dorme". 

E, finalmente,  quem  viu,  agora,  depois,  muito tempo depois,  está com o coração ocupado,  ou cansou-se  de esperar. 

Aí,  minha gente,  como  eu já disse aqui,  outro dia,  a vida é  um triz.

DIVAGAÇÕES NA MADRUGADA


RÔ Campos)

Aqui estou a divagar,  bem devagarinho, porque não tenho mais tempo algum para a pressa.

Eis que a pressa  nos turva a visão,  embaça a mente, cansa as pernas,  acelera o coração.

Os pensamentos  viajam.  Andam pela madrugada,  sentam-se à mesa de bar, conversam  entre si,  riem, choram,  arrependem-se, voltam ao passado distante,  e ao recente,  também.  Querem até adivinhar o futuro. 

Aí, eles batem à  minha porta, entram  como  chegam as tempestades,   trazendo notícias do tempo. É  como se um filme em câmera lenta passasse  diante  de meus olhos. 

Fico a lembrar de uma frase que cunhei há muitos anos,   quando as horas invadiam a madrugada, e eu, aqui,  sozinha,  trancada  no meu quarto,  tentava encontrar uma saída para o silêncio ensurdecedor  que teimava ao meu ouvido:

"O tempo e a distância são deletérios  do amor; o silêncio,  a porta do cemitério e o coveiro".

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

SOZINHA


(RÔ Campos)


Noite alta e eu aqui lembrando

De todos os nossos sonhos

E agora,  eu aqui sozinha

Só me restam  as doces  recordações.


Quanto tempo já se passou

Desde o dia em que nos encontramos

Naquela noite de lua cheia

O céu salpicado de estrelas

E a gente  se amando no chão. 


O destino nos separou

Já não sei o que  é  feito de nós 

Tu te aconchegas  em outros braços 

E eu aqui sozinha vivendo nessa desilusão.

domingo, 12 de setembro de 2021

DEIXA - VAI PASSAR


(RÔ Campos)


Deixa...

Deixa o amor falar baixinho ao teu ouvido

Deixa...

Deixa  o amor dizer tudo o que tem

Deixa o amor contar histórias

Deixa o amor dizer, meu bem.


Deixa...

Deixa o amor brincar de faz de conta 

Deixa. Deixa.  É  chegada a primavera

Deixa o amor florir.

 

Deixa. Deixa. 

Deixa  o amor entrar 

Onde o amor está, o  ódio não tem guarida. 


Deixa.  Deixa. 

Deixa o amor falar

Deixa o amor sorrir

Dê um fim a essa tristeza. 


Deixa...

Deixa o amor ficar

Não se deixe enganar

Tudo,  tudo  passa um dia

E essa dor doída  também  há  de passar...

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A VIDA É UM TRIZ


(RÔ Campos)

O tempo passou
E quem diz que não
Não sabe o que diz
A vida  é  um triz. 

O tempo passou
Num piscar de olhos
Quando acordei
Havia só medo. 

Agora eu nem sei
O que vou fazer
Faz tanto frio
A dor da saudade. 

O tempo passou
E  a vida levou num minuto
O tempo que foi nunca  volta
A vida do tempo é  refém. 

O tempo passou
Agora já é  tudo  ido 
O tempo passou
E levou tudo embora.

Agora é  o tempo
De juntar os cacos
Do coração des-pe-da-ça-do
E seguir  em frente com o tempo.

O tempo que nunca para
O tempo que tudo leva
O tempo que tudo aclara
O tempo que tudo sara.

O tempo passou
Só não viu quem não quis
A vida é  um sopro 
A vida é um triz.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

ACERCA DAS ESTRELAS E DAS ROSAS

 

(RÔ Campos)

As estrelas parecem todas iguais. São todas estrelas. Mas um dia haverá em que alguém perceberá que há uma estrela diferente das demais! Isso também ocorre com as rosas. Todas são belas. Todas são cheirosas. Mas sempre haverá um rosa especial para alguém. Diferente. A mais bonita. A mais airosa. (RÔ Campos)

DIVAGAÇÕES


(RÔ Campos)

Eu não sei da tua dor· Mas, às vezes,  é como se eu sentisse os respingos da chuva que te molha, nas palavras que choras· São como lágrimas derramadas na noite que invade o silêncio sepulcral dos olhos atônitos, procurando, entre tantas estrelas, quem sabe apenas uma, que nem brilhe tanto, mas que possa te dizer  do teu infinito tão particular, essa linha imaginária que ninguém ousa decifrar, porque as profundidades são inalcançáveis·  A alma humana, em sua natureza impenetrável, é como a lua envolta em seus mistérios· Podemos até tentar possuí-la, mas já foi dito que quem se possui acaba por perder-se· 

quarta-feira, 26 de maio de 2021

PELA MÃO DO CRIADOR

 PELA MÃO DO CRIADOR

(RÔ Campos)

A mão  do Criador

Pintou esse quadro no céu

Desenhou o sol e a lua

Pôs bilhões de estrelas a brilhar. 


Não satisfeito com sua obra

Pintou o céu de grená 

Acrescentou o azul,  laranja,  vermelho,  amarelo, dourado,  e o branco da paz. 


Como era de se esperar 

Pintou as nuvens de cinza, também 

E  não esqueceu dos pingos da chuva do céu caindo

Para cá embaixo nos abençoar. 


A mão do Criador não se cansou de pintar

E no quadro pintou  os rios e os mares,  os campos e os vales

As florestas,  essas também pintou

Assim como as montanhas e os charcos.


Ao finalizar sua obra

A mão do Criador ainda pintou cá embaixo os animais e as flores

Um mundo cheio de cores 

E pincelou o céu também de escuro

Para que a lua iluminasse os desertos  de cada homem.


A mão do Criador,  no entanto, 

Não pintou as dores dos humanos

Porque os havia criado à  sua semelhança.

Estes se encarregaram de fazê-lo

E borraram  esse incrível quadro com as guerras,  a peste, a morte e a fome.

domingo, 16 de maio de 2021

SOBRE AS VIAGENS PARA DENTRO DE SI MESMO

 "Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca venham a dizer." Foi justamente isso que disse John Powell. E, assim, muito mais do que tentar decifrar a fala das pessoas, eu viajo nesse mundo das palavras que nunca foram ditas. Muitas vezes os olhos...os olhos dizem muito. Mas há também olhares oblíquos, como Machado desenhou os de Capitu, por exemplo.

Então...vou continuar como uma apanhadora de sonhos, colhedora de palavras não ditas, buscando ruídos no silêncio da boca, tentando compreender os  que se calam,  os que se recolhem para dentro de si mesmos,  muitas vezes na vã tentativa de se defender  do mundo exterior.


segunda-feira, 3 de maio de 2021

GATA DE RUA

(RÔ Campos)


Gata de rua

Escala muro

Pula muro

Corre mundo

Sem cansar. 


Gata de rua

Ligeira

Precisa

Não tem medo do escuro

Nem do clarão do luar.


Gata de rua

Garra afiada

Olhos de lince 

Nunca se perde

E sabe como voltar. 


Gata de rua 

Geralmente vive  sozinha

É  chegada a um carinho 

Mas se alguém lhe pisa o rabo

Sabe, como ninguém, arranhar.

SINA

 

(RÔ Campos)


O destino não tem sido bom contigo.

Eu sei.

Noto em teu sorriso amarelo, forçado,  

No olhar perdido e semblante triste.

Vejo também em teus cabelos brancos,  desgrenhados.


Tens o coração partido,

Pelos filhos que deixaste para trás a serviço de teus planos.

(Quanto egoísmo!)

Hoje a vida te cobra pelo ato insano,

E então te dás  conta de que na estrada da vida não há retorno.

Apenas recomeço, do ponto em que te encontras,

Levando contigo a mala das tuas culpas.

DEUS TE GUARDE!

 

(RÔ Campos)


Menino,  que loucura é  essa?

O que foi que te deu  na cabeça

Largando da vida tão de repente 

Se agarrando  depressa com a morte?


Diz pra mim que não sabe o que aconteceu

Quem sabe talvez depois de uns tragos perdeu a cabeça e a loucura bateu. 


Ainda me lembro não faz tanto tempo

Que eu  te vi por aí  vivendo ao leu

Estavas perdido nos labirintos do teu coração já cansado

Tentando achar uma saída pra desilusão. 


Porém te afirmo  com todas as letras

Já passou da hora,  esfria  a cabeça

Não te entregas pra morte que a vida é  beleza

Não faz sentido nenhum desistir

Deixa  ir embora  essa sofreguidão.


Você fala que não vale a pena viver

Que bobagem tamanha presta atenção no que vou  te dizer:

Na  estrada da vida já temos certeza que nada é  pra sempre e pra cada  dor um novo amor haverá de nascer.

Mas  se com tuas próprias mãos abrevias a tua passagem,   do outro lado sabe-se lá o que hás  de encontrar.

E aí,  meu amigo, Deus te guarde!

Será tarde demais não dá  mais pra voltar.

domingo, 18 de abril de 2021

INFINITO AMOR

Bem te vi,  Beija flor

Meu jardim floreou

Um botão se abriu

Uma Rosa nasceu

Meu amor,  nosso amor

Nosso amor floresceu. 


Bem te vi,  Beija flor

Me levou pra cantar 

O amor pra você

Pra você,  meu amor. 


Seja lá onde for

Seja lá como for

Ser feliz com você

É  o que quero

É  o que vou.


Não há sombras nem dor

Nem abismo ou fronteiras

Nosso céu,  meu amor

É  cravejado de estrelas.

E POR FALAR EM SAUDADE


Hoje ela chegou cedo

Nem bateu à  porta

Entrou ligeiro no quarto, na cozinha 

Sem dar um pio, sem dizer nada. 


Ah! Essa saudade danada

Das coisas simples

Das coisas nossas

Do abraço amigo

Do sorriso franco.


Abro  a janela

Vejo o sol lá fora

Querendo sair

E a saudade,  aqui dentro

Querendo ficar...


Texto aleatorio sobre Divagações

 É  muito bom viver uma vida tranquila, navegar em águas calmas,   mas o que vale mesmo é  a luta, tudo é  muito mais saboroso. Desde sempre,  fui dada às  batalhas da vida.  Nunca consegui nada que não fosse duramente conquistado.

Não faz nenhum sentido viver em um suposto mar de rosas se em contrapartida se perde a naturalidade. É  duro nadar contra  a correnteza, requer muita força bruta,  é  uma batalha árdua  contra a natureza das coisas.  E mais duro  ainda  é  deixar de agir naturalmente,  ter que  calcular cada passo, cada centímetro. Todos nós temos uma essência.  E essa essência necessariamente deve  ser respeitada,  sob pena de perdermos o equilíbrio,  tendo como causa a desarmonia entre o espírito e a matéria.  

Minha essência é  muito sensível,  sutil.  E só se mantém  (praticamente)  intacta se permanecer diuturnamente na luta, sem medo do escuro,   se correr mundo,  pegar na enxada,  enfrentar  sol a pino,  enchacar-se com a água da chuva,  varar a madrugada,  dormir e acordar a hora que quiser,  sair para onde for,  voltar quando melhor me aprouver,  de preferência quando puder ver o sol nascer...Tudo isso sem,  no entanto,  perder a ternura jamais. 

Agir calculadamente me deprime. Fingir que está tudo bem me sufoca.


Divagações de RÔ  Campos neste domingo chuvoso de abril.