sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

SOBRE O ENVELHECIMENTO

(RÔ Campos)

Não me lembro de quem é a frase que li outro dia e que  diz mais ou menos assim: "quero gozar do direito de poder envelhecer". 

É, porque neste país envelhecer é como tornar-se um criminoso, algo, assim, digamos,  abjeto. E sempre tive pavor de que, quando chegasse a hora do meu crepúsculo, eu  não sabesse reconhecer isso, e não aprendesse a envelhecer com maturidade e dignidade, tornando-me uma velha idiota, cegada pelo domínio do romântico. 

Não, eu não creio mais  na  vida romanceada, mas continuo acreditando no romance que é a vida. E, assim, vou vivendo, com os passos no comprimento exato de minhas possibilidades, sem alargá-los nem diminuí-los, mas seguindo em frente. Os anos...eu os sinto com o peso implacável sobre o meu corpo que definha pouco a pouco...Mas a mente continua fervilhando, como nos bons tempos de outrora. Só não tenho mais ilusões. E, por isso, não me desiludo. Mentir para nós mesmos nunca será um bom remédio.

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