sexta-feira, 10 de maio de 2019

QUEM AMA TAMBÉM DESISTE

(RÔ Campos)

Amanhã é tarde,
Muito tarde,
Tarde demais
Pra se dizer o que não se disse,
O que ficou preso na garganta:
Sobre o frio que ainda toca o estômago,
E o coração que dispara enquanto conto as horas para olhar teus olhos, tocar tua pele, ver teu sorriso, ouvir sobre teus planos e sonhos, rir contigo das peripécias da gata de rua...
Hoje
Ainda era cedo,
Não muito cedo.
Mas havia tempo.
Não quisemos dizer nada,
Nem eu do amor que ainda existe,
Mas que não mais insiste.
Do amor que agora é triste.
Do amor que ora desiste, pois sabe que é chegada a hora,
E quem ama também deixa ir embora...
Quem ama também desiste.
Porque desistir não é nenhuma vergonha, nenhum fracasso.
Desistir é uma espécie de valentia, coragem.
Desistir é sair da linha de combate, depois de no peito ferido, coração estilhaçado, ainda que o amor pulse,
E juntar-se às fileiras dos que, vencidos, se rendem, ajoelhando-se, erguendo os dois braços.
Desistir é deixar seguir em frente quem não mais te segue, quem decidiu partir porque no peito o amor não mais existe.
Desistir é procurar caminhos outros que nos levem adiante, ainda que seja a andar no deserto,
Pois mesmo um amor que no deserto ande
Pode quiçá um dia encontrar um oásis.

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