segunda-feira, 20 de maio de 2019

A MORTE LENTA DO DESEJO


(RÔ CAMPOS)

Saudade do que eu quis viver e me foi negado.
Agora, sinto esse desejo se esvaindo,
Fugindo de mim sem que eu possa tomá-lo em meus braços.
Como se fosse o sólido se liquidificando aos poucos,
Daí a escorrer sobre as bordas da taça,
Indo abaixo, molhando o chão,
Tal como a esperança evaporando, sendo levada pelos ventos, que também levam o cheiro das flores para muito longe,
Um lugar que eu não sei onde.

Às vezes, então, me assoma um odor de enxofre.
Mas eu ainda guardo em minhas memórias o aroma das flores,
Quando era primavera em minha vida,
E que o vento levou sem que eu nem percebesse.

E me bate forte a saudade do que eu quis viver e me foi negado.
Mas eu me dou conta de que o desejo,
Como as flores que não são cuidadas,
A cada dia vai-se um pouco,
Em meio ao abandono da gente,
Murchando como murcham as rosas deixadas sob o sol inclemente,
Sem proteção, sem água, nem rega,
Tombando, morrendo, sem sede de amar...

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