quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

CUMPRE O TEU DESTINO


(RÔ Campos)

Sei que está chegando a hora
Em que vais atravessar a porta
Deixando para trás tudo o que jamais quiseste.

Nada levarás de mim
Nem meu coração, que deste às traças
Nem o meu amor, do qual zombaste tantas vezes
Nem a minha dor, que dor não mais existe.

Ficarão comigo o cheiro do quarto
Um misto de perfume, cerveja e cigarro...
O teu abandono, o teu descaso
O teu olhar oblíquo, e o teu sorriso falso.

Mas as lembranças ficarão também
Dos belos dias do começo
Quando tudo era ilusão
Eu cria que era feliz
Mas a tristeza batia à minha porta
E eu fingia que não a via querendo entrar.

E houve uma noite em que eu, desprevenida
Soube de tua boca o que seria um açoite
Que me cortou o peito e me deixou perdida
Num beco escuro, sem chance alguma de saída.

E muitas noites vieram depois daquela
E nunca mais eu fui a mesma.

Andei dias e noites a esmo
Caí, levantei, sorri sem ter porquê
chorei sem lágrima cair
Entrei em labirintos assustadores
Me vi diante de uma solidão crusciante
Que parecia não ter fim.

E eis que quando volto a me sentir mais segura
Tu vens e de novo eu penso que é para ficar
Mas retiro as vendas dos meus olhos, ainda a tempo
De ver que não és tu o meu lugar.

Agora tu me falas que está chegando a hora
Em que vais atravessar a porta
Talvez quem sabe provavelmente para nunca mais
Eu te digo, então, segue em frente
cumpre o teu destino, vai na paz
Vai procurar no futuro o que o passado não te deu
E o presente que deixas para trás.

Nenhum comentário: