domingo, 15 de janeiro de 2012

LABIRINTOS

(RÔ Campos)

Há uma pergunta que não quer calar.
Está em todos os cantos, presa na garganta,
Solta, à deriva no ar.

Há uma pergunta que te quero perguntar
Para ouvir tu dizeres o que já sei,
O que meu coração não se deixa enganar.
Mas meus olhos, os olhos meus, vendados,
Cegos, me calam.

Há uma pergunta que te quero perguntar.
Sei todas as letras e orações, a frase final.
Eis que, na hora fatal, emudeço,
Esqueço tudo nos teus olhos,
No calor de teus beijos,
Quando me deitas nos teus braços
E me viras do avesso.

Há uma pergunta que não te quero fazer
Para que o vento não me açoite:
O dia seja dia,
A noite seja noite.

Quero abrir a porta desse quarto,
Descobrir o que ele esconde, guarda.
Podem ser apenas lembranças, retratos;
Podem ser também cupins, ratos,
Resquícios de um quadro do passado.

Há uma nascente pululando em meu ventre
Quer brotar, sair, descer as montanhas,
Abrir caminhos, quer ser um rio comprido,
Seguir, seguir, seguir
Sem deixar nada no passado,
Para não ter que voltar um dia...

Há um quê em ti que se esconde,
Que só deixou escapar uma fresta.
Não sei por que te fechas;
Não sei por que tu somes.

Há um quê em ti que intriga:
Ontem, eras tão livre;
Hoje, quase sem rosto.
Ontem, eras uma voz;
Hoje, te calas.
Ontem, eras real
Hoje, palavras.

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