sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

MESTIÇA

Sou Amazônia.
Sou cheiro.Sou canto.
Sou flor. Sou encanto.
Sou sabor.

Sou Ponta Negra
Sou Teatro Amazonas
Sou tucumã, tucunaré
Sou farinha do uarini
Sou tacacá, pirarucu
Sou pimenta murupi.

Sou tapioca, pé-de-moleque
Pupunha, tambaqui
Sou luar em meio à mata
Por do sol. Um belo horizonte
Sou cabocla, de pele morena,
E também branquicela
Sou índia de negros cabelos.

Sou estrela candente
Nas noites de céu brilhante
Sou o meu senhor
Condor! Condor!
Sou natura, natureza
Ah, quanta beleza!
Sou aluá, quando o mês é junho
E também sou Boi-bumbá.

Sou Amazonas, do mundo
Debruço-me sobre o meu rio
Onde Solimões e Negro se abraçam
Espetáculo das Águas:
Não se misturam, nem se separam,
Depois, cada qual segue o seu curso.
Pororoca! Pororoca!
Como é doce amar!
Oh! Caymmi, Jorge Amado,
Como é doce morrer no mar.

Agora, sou banzo
Saudades!
Cadê minha fogueira?
Onde está meu arraial?
As brincadeiras, balões e bandeiras?
(Sumiram. Não os vejo no quintal)

Meu “Luz de Guerra”?
Meu “Corre-Campo”?
Meu “Teimosinho”?
As Pastorinhas, do Mestre Maranhão?
A “Tribo dos Andirás”?
O “Cacetinho”?
Rê-rê-rê? Carmen Doida?

(Encantaram-se! - poetiza Rosa)

Cadê nossas praças?
Ponte da Bolívia?
Cachoeira do Tarumã?
Cachoeira das Almas?
(Muita calma! Muita calma!)

Cadê Moranguinho, Boate dos Ingleses, Ideal,
Rio Negro, Fast Clube, São Raimundo,
Sulamérica, Libermorro, Nacional,
Marialvo, Pedro Hamilton, Sula, Beto e Téo,
Zezé, Pretinho e Pepeta?
(Passaram! Tudo passa!)
(Saudade – é o amor que fica!)

Cadê Guarany, Polytheama, Odeón, Éden,
Confeitaria Avenida, Almanara, Pinguim,
Chapéu de Palha, Acapulco, Palhoça, Cabana dos Barés?
As batidas de limão, coco, maracujá,
Nas “Brincadeiras” em casas de amigos?
(Tudo... tudo se perdeu!?)

Hevea braziliensi
Roubaram-te na maior sem-vergonheza
Homens do além-mar
Barões da Borracha
Roubaram dos seringueiros a delicadeza
Num tempo de mocidade
E tudo se perdeu...
Perdemos nossa identidade
Covardes! Covardes!
Foram-se. Escafederam-se.

Nenhum sinal de sarda
Nem olhos azuis
Ou sobrenome britânico
Nada ficou!
Nada ficou no lugar.
Aqui e acolá um prédio:
Reservatório do Mocó, Alfândega
O Palácio da Justiça
(Que “assegurava” seus “direitos”)
Escombros de um Cabaré chamado Chinelo
(Ah, quanta lascívia!)
O clube de tênis bosqueado, privado
A ponte de ferro, ou ponte da Cachoeirinha
(para as orgias do outro lado do rio)
Alguns palacetes onde se refestelavam
Metros de esgoto
E o Rodo (Roadway)
Porto de lenha! Porto de lenha!
Tu nunca chegarás a Liverpool,
Londres, Escócia.
Quo vadis? Quo vadis?
Aonde vais, homem?

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