domingo, 26 de dezembro de 2010

ESSA TAL LIBERDADE

Extraio do meu Novo Dicionário AURÉLIO da Língua Portuguesa (edição de mil novecentos e lá vai depois), que liberdade seria uma faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação. Um poder de agir no seio de uma sociedade organizada, segundo a própria determinação, dentro dos limites impostos por normas definidas. À luz da filosofia, liberdade é "caráter ou condição de um ser que não está impedido de expressar, ou que efetivamente expressa, algum aspecto de sua essência ou natureza."
Nas minhas andanças por este mundo, no exercício de minha profissão de advogada, e até mesmo no dia a dia, muito ouço as pessoas arvorando-se livres. Eu mesma não abro mão do estado de liberdade em que hoje me encontro, procurando sempre transformar, em meu próprio benefício, as consequências - sejam quais forem elas - das decisões que tomo. Isso é liberdade: ser livre para fazer as escolhas, dentro dos limites das leis, e, reconhecendo as consequências das decisões tomadas, assumi-las inteiramente, não pondo, na hipótese de resultados não benéficos, a culpa em Deus, em terceiros ou no acaso.
Que liberdade é essa, em que o usuário de álcool pode causar danos à sua saúde, contraindo doenças como cirrose, hepatite, câncer etc, e depois, enfermo,culpa a Deus pelo seu infortúnio? Que faz uso do álcool para magoar, agredir, agir inescrupulosamente, e depois colocar a culpa na bebida, eximindo-se de qualquer responsabilidade?
Que liberdade é essa, em que o usuário de droga que adora curtir um barato, também pode causar danos graves à sua saúde física, mental, financeira, e, enfermo, culpa a Deus, a família, os problemas, o mundo inteiro?
Que liberdade é essa, quando fazemos um monte de besteira, tomamos decisões várias precipitadamente, agimos sob impulso, e depois não assumimos os resultados maléficos, mas invocamos sempre a nosso favor os bons resultados?
Que liberdade é essa, em que trai-se o outro, abandona-se o cônjuge, os pais, renegam-se filhos, nega-se comida, abrigo, amor e solidariedade ao outro, o mundo transforma-se num cáos, e a culpa é de Deus?
Diz parte de uma música que já ouvi que "liberdade tá dentro da cabeça". Na verdade, liberdade implica em responsabilidade, e, efetivamente, responsabilidade está dentro da cabeça.
Não é livre, absolutamente, quem age e não se responsabiliza pelo resultado negativo de sua atitude. Há que se ter coragem para viver!
Não é livre quem ludibria, engana, se omite, simula, é usurário, foge dos enfrentamentos da vida. Viver é travar batalhas constantes. E Golias não faltam.
Não é livre quem passa os dias e as noites sob efeito de drogas, porque as drogas o dominam. Como pode ser responsável quem não tem sequer a consciência de si mesmo?
Não é livre o egoísta, porque a avareza o possui.
Não é livre quem não ama verdadeiramente, porque a ausência de amor implica em um coração árido. E o amor é semente que só brota em coração fértil. Como pode ser responsável quem não ama?
Não é livre quem não compreender que não importa de onde tenhamos vindo, para onde vamos. O que importa é que estamos aqui neste mundo, por alguma razão que, pelo menos até hoje, desconhecemos. O que importa, então, é viver, segundo por segundo, pois o segundo seguinte é um enigma. Não importa acumular bens materiais nem dinheiro, pois, se formos para algum lugar, nada levaremos conosco. O que importa é termos uma vida plena, acima de tudo com tolerância e respeito às diferenças, fazendo bom uso e partilha do que recebemos, porque nada se recebe por acaso, nada vem de graça.
O resto... o resto é ser feliz, sonhar e sonhar, deixar o coração pulsar, acreditar na vida, ter paciência.

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