quinta-feira, 15 de julho de 2010

O CONCERTO DO ADEUS

As lágrimas foram inevitáveis. Emoção igual pouco senti na vida. Paulo Moura encantou-se. E até nas últimas horas de sua passagem por este mundo de meu Deus fez da sua e de nossas vidas o mais puro encantamento. Desfilou na avenida nas derradeiras horas de sua existência, com aquela que creio ser a apoteose de Deus na avenida da vida: a música. O próprio Paulo Moura tratou de embalar as horas finais de sua vida com o seu próprio sopro, como a celebrar uma vida marcada pela genialidade e beleza. Absolutamente indescritível. Assisti, ontem, quarta feira, ao vídeo na TV Cultura. Paulo Moura, o mago do saxofone e do clarinete, havia algum tempo estava doente. Faleceu no hospital, no último sábado. Poucas horas antes de sua partida, reuniu, no próprio hospital, a família e amigos músicos. Seus olhos já não tinham a luminosidade da vida e pareciam vagar pelo infinito, mas Paulo Moura tocou seu clarinete com a mesma maestria de sempre. Ao final, exibiu um sorriso como quem dizia: pobres de vocês, que vão ficar sem mim, enquanto eu, parto feliz para ocupar o meu lugar na eternidade. Depois, beijou o clarinete e o entregou à esposa (acho eu), que, de igual forma, também beijou o instrumento, demonstrando uma serenidade invejável. Quanta dignidade frente à morte que já o arrebatava. Que vida linda. Nem consigo encontrar as palavras que procuro para dizer sobre a cena mais pungente que já assisti em toda a minha vida. Paulo Moura despedindo-se da vida, que é um sopro, com seu próprio sopro no clarinete, executando Doce de Coco, de Jacó do Bandolim.

Nenhum comentário: