quinta-feira, 15 de julho de 2010

A ARTE DE AMAR

Ah, meu amor
As horas e a natureza eram mortas quando tu bateste à porta
Ela então se abriu deixando entrar uma doce fragrância de vida
Envolta em uma fina luz que alumia, que é sempre bem-vinda.

Ressuscitadas, ao deitar-se a noite, as horas seguiram
Desesperadas, atrás da luz, da luz do dia.
E o tempo tornou-se pouco para nós, enamorados
Que nem percebíamos que a manhã surgia, ousada
Refletindo nossos rostos, marcados
Pelos beijos que nos dávamos, enternecidos
Pela agonia da saudade que a manhã traria,
Vestida em trajes de branco, em fino tecido de voal.

Essa saudade... hóspede querida!
Que deitaria conosco, o dia todo, sobre nossos leitos, separados
Acalentando nossos sonhos sempre mais viventes
E (quase) matando a dor de uma ausência tão presente:
No teu cheiro que me invade as narinas, inundando os meus sentidos
Nas lembranças da tua voz confessando, a sussurrar "eu te amo"
No beijo que quero te dar. Mas me contento em beijar o vento.

Viva a vida! Viva a vida! São vivas as horas.
Essa é a maior glória
Dentre tantas as vitórias da arte de viver
A felicidade de uma vida plena, em raros momentos
Perpetuados na saudade de um bem-querer mais que querido
Amado nas procelas ou na serenidade do mar.

Vou te esperar a cada partida, quando alçares as velas
Vou te amar a cada ausência tua, a cada chegada.
Ancorado em meu cais, só nadarás no meu mar, porto seguro.
Pois tua visão não alcançará mares nenhures
E só terás olhos para o meu mar, esse mar que é teu
Seremos náufragos. Haverá uma ilha. Nos salvaremos.
(A força do amor é a mais forte de todas as forças.
Vence tempestades. Transpõe montanhas. Escuta a voz do vento).
E viveremos esse amor, tão cantado
Esse amor que a voz do vento anunciou
Entre terras distantes, divididas pela mata e pelo mar
Um amor que o vento trouxe
Soprando as cinzas de um outro amor, já findo
Vencido pelo cansaço do cansado desejo de amar.
(É como se fosse muito tarde...)
Coisas essas da vida. E do tempo. E também da memória.
Que esquece de lembrar que amar é uma arte.

(Qualquer obra nunca estará acabada, mesmo após finalizada. A procura do artista jamais se esgota. Ele sempre entende que falta alguma coisa. Essa é a essência da natureza, que também não está acabada.E o homem faz parte desse conjunto. Tudo é um eterno findar e recomeçar.Moral da história? Vamos pintar o amor, vez em quando. Vamos cantar o amor, vez em quando. Vamos iluminar o amor, vez em quando. Vamos florir o amor, vez em quando). Vamos alimentar o amor, sempre.

RÔ Campos, 15/07/2010

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