quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ROSA BLAYA

(Escrevi este poema na madrugada do dia 09 passado, após haver lido em A Crítica, matéria chocante sobre o atendimento deplorável prestado aos pacientes com transtornos mentais, no Ambulatório Rosa Blaya, do Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, em Manaus, que passam por situação vexatória e desumana, segundo a matéria, para conseguirem uma ficha destinada à consulta médica)



Venho aqui, Rosa Blaya,
Não para me distrair.
Venho aqui, em busca de socorro.
Esqueça que me chamam louco. Loucos são eles.
De repente, não mais que de repente,
Enlouqueço na loucura louca dessa louquice.

Não sei, Rosa Blaya,
Quem tu foste e de onde vieste, ou quem tu és,
Só sei que, apesar de quase nada saber deste mundo louco,
Só sei que... esse lugar não te merece o nome, Rosa que és,
Flor que perfuma a vida.

Não, Rosa Blaya, não te assustes.
Sei, acredito que sei, eu acho,
Às vezes esqueço, mas como não lembrar, agora?
Deves já ter sarado muitas feridas,
Um ser iluminado, sempre estendendo a mão amiga.
Bem serve o teu nome para fazer fluir o amor,
Fomentar a luz neste vão escuro.
Mas não é justo com a tua memória. Não deve ser.
E justo também não é com o nosso fado, pesado fardo.

Aqui, somos leão ferido.
Aqui, a certeza da loucura deste mundo nos diz sãos.
Aqui, essa lucidez nos escancara a verdade:
A indiferença é a grande chaga da humanidade.
Aqui, essa lucidez nos enlouquece um a um,
Quando buscamos o passaporte para a nossa viagem ao mundo da fantasia.

Só, Rosa Blaya, que somos muitos nessa fila,
Para ingressar no Balão Mágico, todavia.
Nunca há ingressos para todos.
Salva-se quem puder, quem chegar primeiro.
Salva-se quem perambular, pelas noites e madrugadas,
No frio corredor deste vão escuro,
Estendendo o corpo vencido pelo cansaço,
Sobre o chão cinzento deste quarto,
Dividindo espaço com os fantasmas do medo ao nosso lado.
Sim, Rosa Blaya, bem sabes, também temos medo, sentimos fome e frio.

Tudo isso, Rosa Blaya, com o olhar em direção alguma
À espera do ingresso para o Balão Mágico,
Onde o mundo fica bem mais divertido.
Aí, enfim, eu posso ser um pouco mais feliz, novamente.
Por isso, hoje, eu estou aqui, Rosa Blaya,
Pois também quero viajar nesse balão.
Superfantasticamente!

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