quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A GRANDE ALEGRIA, A MORTE, A VIDA - CANTO GERAL: PABLO NERUDA

A sombra que indaguei já não mais me pertence
Eu tenho a alegria duradoura do mastro
A herança dos bosques
O vento do caminho
E um dia decidido sob a luz terrestre

Quero que um jovem ache na dureza
Que construí, com lentidão e com metais
Como uma caixa, abrindo-a, cara-a-cara
A vida, minha alegria, nas alturas.

Renasci muitas vezes
Desde o fundo de estrelas derrotadas
Reconstruindo o fio das eternidades
Que povoei com as minhas mãos.
Não comprei uma parcela do céu
Que vendiam os sacerdotes
Nem aceitei trevas
Que o metafísico manufaturava para despreocupados poderosos.
Quero estar na morte com os pobres
Que não tiveram tempo de estudá-la
Enquanto os espancavam os que têm o céu dividido e arrumado.

Quando o amor gastou a sua matéria evidente
E a luta debulha os seus martelos
Em outras mãos de acrescentada força
Vem a morte para apagar os sinais que foram construindo tuas fronteiras.
Que os coveiros escarvem as matérias azíagas:
Que levantem os fragmentos sem luz da cinza, e falem no idioma do verme
Diante de mim só tenho sementes, desenvolvimentos radiantes e doçura.

(Na verdade, reuni fragmentos dos 3 poemas de Pablo Nerudä: A grande alegria, A morte, e A vida, de sua obra Canto Geral. Acreditei que ficaria bacana os 3 assuntos em um só. Quanto atrevimento!)

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