domingo, 12 de setembro de 2010

AMÉRICA LATINA

Menina moça, foi um navegador europeu,
Colombo, o portador de Cristo
Foi ele - a serviço dos reis católicos de Espanha
Que retirou o manto que te cobria
Desde então tua nudez foi exposta...

Depois que Cristóvão te descobriu, conta a História,
Em meio a contradições tantas,
Pisou em teu estirão verde um certo Vespúcio
Vindo também das bandas de lá, muito além do mar
Do outro lado do mundo, um mundo então já velho
Em cuja homenagem te deram nome:
América!

Logo tomaram tua gente, menina moça
Apossaram-se do teu centro, de tuas terras
Estabeleceram morada pela vez primeira em Santo Domingo
Foi esse nome santo que te puseram, em um pedaço de teu torrão.
Quantas civilizações milenares desapareceram:
Inca, asteca, maia...

América Latina, das terras Central e do Sul
Não tiveste a mesma sorte que aquela outra, a do Norte.
Ora, pois, ensolarada menina,
Nas bandas de lá se puseram holandeses, franceses, saxões
Todos em debandada, fugindo de perseguições políticas e religiosas,
Vindos do velho continente, o europeu
Em busca de novas terras para fazer morada.
Uma nova pátria!
O Norte floresceu - mas nem tanto as terras de Zapata,
(Essa menina latina, juntinho aos estados que se uniram)
Que até suas terras do Texas, Califórnia, Utah, Novo México e Arizona, perdeu
Sob o protesto de seus valentes soldados, que bradavam:
Green, Go Away!
Green, Go Away!

Ah, menina latina, triste fado o teu
Descoberta, nua,
Esse homem europeu pos-se em teu colo, apossou-se do teu solo e te consumiu
Meteram-se em contendas tantas, negociatas - as mais baratas
Disputaram em batalhas a tira que antes cobria teu seio, tua vergonha
Declararam-se teu dono, em terras que não eram de ninguém. Só tua!
Mercadores, covardes! Quanta carnificina!
O índio lutou, morreu
Tua terra inteira gemeu!

Tantos anos se passaram!
O velho continente está mais velho... Já não és tão moça...
Restaram as nódoas de tão humilhante exploração
Ainda hoje tuas mulheres são aliciadas, usadas, abusadas
Ainda hoje fazem de tuas terras um lenocínio
Ainda hoje...Ainda hoje... escutas os ecos do passado
Naquele tempo, quando era presente
E é no presente que se tecem os fios do porvir.

(RÔ CAMPOS, 12/09/2010)

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