quarta-feira, 28 de abril de 2010

MENTIRA AMIGA

Não dormi de domingo para segunda-feira última. Deu no poema abaixo. Duvido que alguém consiga viver a vida sem mentir pra si mesmo. A realidade é insuportável.

MENTIRA AMIGA

Como é triste não mais me enganar
A realidade é uma fera
Desalenta, desencanta, dilacera
Já no tempo desapareceram aqueles dias
Doce quimera!

Fazia da vida uma imitação da arte
Ou seria a arte imitando a vida?
Qual das duas era mentira?
Não sei. Nem se havia uma verdade
Nada procurei, simplesmente vivi
E então me chamaram insana
Ora, pois, quem tem siso não acerta viver.

Até que já não mais era cedo
A tarde chegou sem que eu sentisse seus braços
E a noite se deitou em minha cama, mesmo na ausência de sono
Beijou minha face, e tinha odor de vinagre
Sem a fantasia, a vida se havia azedado
O siso escancarara as portas do coração do homem
E a ilusão pôs-se a caminhar léguas e léguas
E nunca mais tomou a estrada de volta
Não sei mais mentir pra mim...

Mas ainda vivo à espera do dia
Em que uma noite, ao deitar-me
Venham os sonhos de novo me visitar
E, ao acordar na manhã seguinte
Esqueça que um dia,
O siso
Quase me matou de tédio
Me roubando a ilusão,
O riso
Escancarando a verdade desta vida:
Um teatro, um circo
Onde todos vivem a encenar
E és somente tu, oh, mentira amiga!
Que fechas as portas à cruel realidade
E me deixas sonhar e viver.

Nenhum comentário: