sábado, 30 de março de 2013

A VELHICE E OS PASSOS DO TEMPO


(RÔ Campos)

Estava ali, sentada, numa das dezenas de cadeiras do CAIMI da Colônia Oliveira Machado, o Centro de Assistência Integral à Melhor Idade Dr. Paulo Lima. Meus olhos batem nas fotos do Dr. Paulo Lima nas paredes. Quero lembrar-me de quem era o Dr. Paulo Lima. Algo me diz que eu o conheci. Sinto-o ao olhar sua face, seu sorriso, um jeito manso de ser...mas a minha memória embotada pelo tempo não me permite prosseguir viagem e chegar a um porto seguro. Reparo nas cadeiras, estão todas ocupadas. A maioria, velhos desacompanhados. Uns olham para o teto, ou para a tela estampando os números das senhas, e têm o olhar tranquilo. Outros conversam entre si, calmamente...e até sorriem. Noto uns dois ou três depauperados adentrando o imenso salão, certamente vitimados por AVC. Observo-os envoltos em seus pensamentos, viajando no tempo enquanto o tempo se vai, ora veloz, ora lentamente, e deduzo: eles não tem mais pressa alguma. Já percorreram uma longa estrada, já sonharam muito, realizaram alguns desses sonhos e outros foram desfeitos, já viveram mais de dois terços do tempo que têm para viver, não precisam mais correr. Para quê? Ao contrário de quando somos crianças e jovens, que desejamos e pedimos sempre que o tempo voe, acredito que eles prefeririam que o tempo andasse mais lentamente. É assim que a coisa se processa, certamente. Já estou nessa antessala e pressinto-o. Às vezes, ainda tenho alguma pressa, justamente porque sei que meu tempo é curto, e não quero deixar de fazer algumas coisas que sei que ainda devo fazê-las, que quero fazê-las. Todavia, estando nessa antessala, posso sentir que ter pressa não faz mais sentido. Depois de uma noite segue-se a manhã, e depois a noite de novo, e outro dia, mais outro dia. Nesse estágio da vida, concluímos que a única pressa que podemos ter é a urgência de viver cada dia, como ele se nos apresenta, contando com a sorte de termos uma velhice assistida, porque, como já disse alguém por aí, "a velhice, por si só, é uma tormenta, pior ainda se desamparada". As minhas andanças e situações vivenciadas nos últimos tempos têm me escancarado muito essa realidade. Uma mãe é para dez filhos. Dez filhos não são para uma mãe.

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