quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A VIDA NÃO PARA


(RÔ Campos)

Havia alguns anos que não a via. Na verdade, mais de dez anos. Encontrei-a, outro dia, nos corredores da Justiça do Trabalho. Reconheci-a imediatamente, mas, pensei, rapidamente: ela está bem mais bonita. E elegante, como sempre o foi. Agora, seus cabelos estão louros, e com um corte chanel. E também usa lentes de contato coloridas. No nosso breve encontro, falou-me sobre suas perdas, em tão pequeno espaço de tempo. Primeiro, perdeu o pai querido, num acidente de trânsito. Depois, o marido, ainda tão jovem, vitimado pelo câncer. Mais recentemente, sua mãezinha. Laura (o nome é fictício, por uma questão de respeito a sua privacidade) tem dois filhos, um rapaz e uma moça, já formados, e que ainda vivem com ela, uma bela senhora lá pela casa dos cinquenta. Disse-me que está tocando o negócio da família, e sua vida tem sido uma corrida frenética. Ainda assim, deu-me seu cartão, para acertarmos um encontro muito em breve, a fim de matarmos a saudade dos tempos de antanho. Depois, Laura deu as costas e sumiu no corredor. E eu fiquei olhando para ela, sumindo, sumindo, sumindo. Como é corajosa a minha amiga - danei-me a dizer para os meus botões. Tantas perdas, tantas saudades...e não se cansa de lutar. Certamente que minha amiga sabe que a vida não para. Que os dias e as noites são tão certos quanto a certeza da partida. Que os que partem, vão-se, sem sequer sabermos para onde. E nós, que ficamos, temos que continuar a caminhada, porque a vida não pertence aos fracos. A vida é um combate, e, sabidamente, só os fortes vencem. Até porque os fracos se entregam ao sabor de sua própria fraqueza.

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