domingo, 28 de outubro de 2012

O AMOR QUE DÁ FOME


(RÔ Campos)

Isso que você chama de amor não está lhe fazendo bem, não lhe corresponde, não é o abraço na hora precisa, não é o ouvido devido, não é o sorriso esperado, a força que soma, a fonte em que se banha, a água que mata a sede, o alimento que sacia a fome?
Isso que você chama de amor é quem lhe sujeita, quem lhe vira as costas, quem lhe bate a porta?
Isso que você cham
a de amor é quem lhe cobra, exige, usa, abusa, e nada faz para lhe ver em paz?
Isso que você chama de amor é com quem você não conta em hora alguma, não lhe faz companhia, não lhe dá alegria, faz-lhe chorar, não ter vontade de lutar, viver?
Ah, sinto muito lhe dizer, mas isso que você chama de amor, não é amor, é sofrer. Urge desiludir.
Isso é qualquer coisa, qualquer coisa de burrice, de cegueira espontânea, voluntária, de carência, de menosprezo por si mesmo. E quem se contenta com qualquer coisa sempre será ninguém, porque não consegue valorar nem a si mesmo. E viverá nadando e se debatendo nas águas dessa megera, que é a fria solidão de um coração vazio, qual um vaso sem flores.
Por isso, costumo dizer: prefiro o nada, a qualquer coisa.
É melhor caminhar no deserto, onde se pode, de repente, deparar-se com um oásis, do que seguir à margem de um rio cujas águas não lhe matam a sede.
É melhor morrer de fome de viver, do que de fome de um amor que não vivifica.

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