quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

TIA LÚCIA - PURA SABEDORIA

13 de dezembro é uma data dedicada à santa Luzia (ou santa Lúcia). Pois exatamente ontem achou de partir uma querida amiga chamada Lúcia. Setenta e dois anos muito bem vividos. Poderia ter vivido um pouquinho mais, não fossem os males provocados pelo vício do cigarro. Mas hoje, no velório, disse a um de seus filhos que ela viveu como quis. Sem fazer apologia ao fumo, mas era nas suas tragadas que ela procurava e encontrava momentos para relaxar da árdua batalha que enfrentou por quase toda a sua existência. Tia Lúcia, como carinhosamente todos nós a chamávamos (pois ela era realmente a tia de todos nós, a tia que qualquer um de nós gostaria de ter), era uma pessoa humilde, vinda do interior, e não sabia ler nem escrever. Trabalhamos juntas durante alguns anos no Centro da Indústria do Estado do Amazonas-CIEAM, no início dos anos 1980. Eu era secretária executiva da entidade, e ela, copeira. Formávamos um time maravilhoso: eu, tia Lúcia, seu Sabazinho (que faz anos partiu para o infinito), Eliene (filha do Sabazinho) e Gênesse (minha ex-cunhada), que levei para trabalhar no CIEAM e que até hoje está lá. Foram os melhores dias que passei na minha vida - disso não tenho qualquer dúvida. Em 1986, viajei com meus filhos, então crianças pequenas, para Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Tia Lúcia foi nossa companheira, nessa que foi sua única viagem (de avião) em vida, para fora do nosso estado. Única e inesquecível, tanto para ela como para mim. Tia Lúcia teve 9 (nove) filhos, que criou-os com galhardia, viúva e sozinha, sem saber ler, nem escrever, como já mencionei acima. Mas tia Lúcia tinha dentro dela algo muito maior que tudo isso: tia Lúcia tinha sabedoria, essa coisinha que não se adquire em bancos de escola. Sabedoria se adquire na universidade da vida, com o coração aberto para a vida. Tia Lúcia tinha raça e alegria. Não havia um dia sequer, mesmo cheia de tantas responsabilidades, que tia Lúcia não desse um sorriso, não gargalhasse, uma gargalhada rouca, já, àquele tempo, provocada pelo fumo. Tia Lúcia é uma lição de vida. Um testemunho de que tudo é possível, desde que se queira, desde que não se entregue, desde que se confie, desde que não se desista das batalhas diárias, para que possamos vencer a guerra. E se não a vencermos, que cheguemos, aonde quer que seja, e cheguemos com a certeza de haver combatido o bom combate. Só uma coisa me entristeceu: haver-me privado, durante tantos anos, da convivência mais próxima com essa santa mãe e amiga, que, certamente, muito mais me ensinaria, e afagaria meus cabelos com suas mãos de anjo, nas noites de tempestade, como nas noites de lua cheia.

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