segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A CHAVE

(RÔ Campos)

‎Sábio é aquele que nunca tem certeza de nada, pois a própria natureza é inacabada. A propósito, bom lembrar Lavoisier, um cientista francês do século XVIII, considerado o pai da química moderna, autor da Teoria da Conservação das Massas: "na natureza, nada se cria, nada se perde; tudo se transforma."

A natureza e nós (como partes integrantes deste conjunto) estamos sempre em mutação, buscando a conformação. Por isso, tudo muda, o tempo todo.

A natureza não é estática, mas, sim, dinâmica. São forças sempre nos impulsionando para adiante, desde o momento em que somos concebidos, ou, quiçá, até antes, quando ainda somos incontáveis espermatozóides em verdadeira batalha pela vida.

Tudo o que fazemos e vivemos na terra caminha para o amanhã, o depois, nunca para o dantes. Por isso talvez envelheçamos, o que, a meu ver, não deixa de ser um verdadeiro galgar de degraus na escada da evolução. Vamos para a frente, sempre, pois o passado já é findo e o presente está aqui e agora, como uma dádiva. Se não envelhecêssemos, seríamos estáticos e, portanto, não evoluiríamos. Ficaríamos parados no tempo e no espaço.

Tudo em nós é expansão, dilatação, pois o corpo humano e as demais substâncias vivas existentes na natureza não comportam a redução, o aperto, a compressão, a diminuição.

Diante dessas minhas observações leigas, é claro (pois não sou, nem de longe, versada na Ciência), chego a pensar que, por isso, as células de nosso corpo se multiplicam tanto, e, infelizmente, muitas vezes, ocasionam o surguimento de malignidades, de tanto que elas buscam crescer, não encontrando limites para tudo isso. Resultado: um colapso total das engrenagens do veículo que é o nosso corpo.

Em minhas intermináveis elucubrações, pensei, várias vezes: adoecemos porque violentamos nosso corpo com variadas substâncias que o agridem, as quais entram em choque com as células que não param nunca com esse querer incessante de expandir-se. Elas simplesmente se defendem do ataque que lhe perpetram. Ao contrário, se alimentássemos nosso organismo sempre com substâncias inofensivas, restauradoras, , talvez acomodaríamos essa insanidade celular, alimentando-a, regenerando-a, conformando-a. Tanto assim o é que, em tratamentos para o câncer, por exemplo, a ciência tratou de bloquear os canais que alimentam o tumor e o deixam em contato com as células saudáveis, sugando-as, bombardeando-as e vencendo-as, diante de seu assombroso poder bélico.

Eu conheço os sinais de meu corpo, por isso não titubeio em fazer tal afirmação. É assim que acontece quando faço a ingestão de bebida alcoólica, quando fumo cigarros, quando consumo alimentos decididamente não recomendáveis para a saúde, quando faço uso de sal em excesso, de gorduras e frituras etc. Passo mal. A pressão arterial vai às alturas. Os ossos reclamam. O sono foge. Meu corpo grita.

É assim que acontece quando durmo mal, durmo pouco ou nem mesmo durmo. É assim que acontece quando deixo a raiva me dominar. É assim que acontece quando não dialogo muito bem com o estresse (que, bem administrado, é um verdadeiro aliado, pois, ao contrário, sempre será uma bala rumo ao peito de quem não sabe se desviar dela). Nessas ocasiões, "presenteio" meu corpo com verdadeiras dinamites. Nitroglicerina pura. Meu corpo é então ingênua e covardemente bombardeado por mim mesma (que deveria ter por ele verdadeira adoração, zelo e cuidado),e, por isso, agastado, queda.

É verdade que existe a tal da questão do peso do DNA, da genética, sobre determinadas doenças. Mas, continuo achando eu, no pico de minha ignorância (pois sou advogada, e não cientista, médica etc), que o que dita os dias do homem na terra é a vida que ele leva. Como disse-me uma pessoinha rude, mas sábia: o homem é aquilo que ele vive, o que ele come. Penso que podemos driblar os diabinhos que já vêm encostados em nosso DNA, com posturas sadias e um jeito manso de viver, a léguas de distância dos sete pecados capitais decretados sabiamente pela igreja católica, como se essa instituição fosse uma verdadeira Organização Mundial de Saúde.

Ao revés, no entanto, mesmo que sejamos privilegiados, e tenhamos nascido premiados, agraciados pela sorte de um corpo são e mente sã, sem defeitos de fábrica, se nos jogarmos na fogueira dos vícios, de uma vida desregrada, violando as normas do bem viver...sem perdão.

Comparo tudo isso, ou seja, o nosso corpo, com um cofre (é, um cofre onde se guardam, se juntam dinheiro e outras coisas mais). Você tem o código. Só você pode abrir esse cofre. Apenas você vai abri-lo e colocar lá dentro as coisas pelas quais você preza, seja lá o que for. Quem ama, zela. Mas, se você perde a chave e o código desse cofre, para abri-lo, você terá que violá-lo, açoitá-lo, agredi-lo. E nunca mais esse cofre será o mesmo. Moral da história: nós, unicamente nós, temos a chave do nosso corpo, da nossa vida, do nosso destino. Deixamos entrar nela quem e o que desejamos, o que permitimos. Podemos ser bons ou maus com a nossa vida. Decidimos se queremos viver saudavelmente ou se praticamos suicídio silencioso, dia a dia. Fixamos nossas próprias metas. Queremos ou não ser felizes. Eu mesma já decidi faz tempo. Quero ser feliz, sim. Quero amar e cuidar de mim e das pessoas que amo. E, apesar de ter uma visão absolutamente cristalina de tudo isso, ainda tenho sido estúpida o suficiente, por não cuidar bem da casa que agasalha meu espírito.

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