terça-feira, 1 de outubro de 2013

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"


RÔ Campos

"Vivíamos aqueles idos tempos, e eu jurava que te sabia. Ninguém tirava de minha cabeça que eu conhecia a tua cor predileta, o prato preferido, o que te fazia feliz, e tudo o que poderia causar-te mágoa. Eu supunha saber até os sonhos que ainda não havias sonhado. E, assim, os anos se foram...Eu continuei jurando que te sabia. Sempre estavas aqui, quando mais te necessitava, mesmo quando não te chamava. Cheguei a pensar que também me amavas, com a mesma força, a mesma medida e a mesma intensidade. Confesso-te que me enganei. Não, nem tu mesma sabias que a nossa aliança não era de verdade, não naqueles dias. O elo foi quebrado, e eu fiquei durante muito tempo tentando colar os cacos dos meus cristais, consertar os meus navios, com uma tristeza profunda no meu coração, exatamente porque o elo havia se partido, escancarando a fraqueza de todos nós. É bem verdade que não eras aos meus olhos, por exemplo, uma rocha, mas uma jóia preciosa, isto, sim. Uma jóia que, então, perdera o seu valor. Depois que consertei os meus navios, nossos destinos tomaram rumos diversos. Naveguei por outros mares, descobri novos amigos, novos mundos, vivi coisas inusitadas, e vez em quando lembrava de ti, que sempre estivera ao meu lado me vigiando com os olhos de Moscou, e me lembrando de coisas com as quais não me importava. Nessas minhas andanças, compreendi tuas razões. Descobri que nós, as mulheres, somos mesmo assim quando estamos amando (aliás, faz algum tempo que o amor não mora mais em mim...). Brigamos com o mundo, tornamo-nos cegas, trocamos tudo num segundo, mesmo que seja bom, pelo gostinho amargo de um "amor" que maltrata. E insistimos. Acreditamos que vamos conseguir vencer, mudar o outro, quando, na realidade, tudo o que precisamos é mudar o rumo do navio que transporta o nosso destino, alçar velas, dobrar à direita ou à esquerda, buscar um atalho, vencer a tempestade, ou, então, deixar que o vento nos leve para longe, seguir em frente, sem voltar os olhos para trás, porque o passado é um baú cheio de ossos e restos de cabelo.
Acho que foi na Primavera que nos reencontramos. Tu já estavas refeita e vivias um novo amor, que também era velho.Ainda o vives até hoje...e parece eterno.
Eu...faz algum tempo vivo livre, sem amar. O mar é calmo e o céu azul e cheio de estrelas. É muito estranho para mim, que tanto já amei, - amores esses que aprisionam - viver num mundo livre, coração solto, sem amar ninguém. É uma espécie de cumprimento de dura pena em liberdade. E tenho rogado a Deus que me condene a voltar a crer que amores são possíveis".

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