terça-feira, 1 de outubro de 2013

A ESCALADA DA VIOLÊNCIA E A PERDA DA DELICADEZA


(RÔ Campos)

Ontem à noite eu senti medo. Estava em frente à minha casa, por volta das sete da noite, conversando com minha irmã Rosana, que estava de saída, quando vimos uma moto subindo a rua; tratamos de entrar imediatamente, e só voltamos quando tivemos certeza de que a moto havia desaparecido. Continuamos a conversa, quando percebemos dois rapazes magros, um deles sem camisa, descendo a rua. Corremos para dentro, eu, agoniada, sem conseguir fazer funcionar o controle remoto do portão. Meu coração ficou na boca, com medo de que, acaso fossem bandidos, entrassem na minha garagem antes que o portão baixasse totalmente.

Não são raros os dias em que temos vivido amedrontados, assustados com tanta violência em nossa cidade, tanto faz dentro de casa ou no meio do mundo. Volta e meia são os amigos ou desconhecidos brutalmente assassinados, como no último final de semana, a querida Michelle Freire, e, ontem, a família Xavier, em pleno recesso de seu lar.

Temos medo de abrir o portão para atender a um pedinte à procura de comida, de roupa ou de qualquer outra ajuda. Já não abrimos mais a nossa porta para qualquer um, temos receio até de socorrer alguém que, muitas vezes, precisa realmente de ajuda, porque ninguém traz identificação em sua face. O mais lamentável de tudo isso, além das perdas irreparáveis, dos sonhos cerceados, das vidas adulteradas e abreviadas, é que por força dessas circunstâncias, nós, sem querermos, estamos pouco a pouco perdendo a delicadeza.

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