domingo, 4 de setembro de 2011

FECANI?



Não vejo mais nenhum sentido nesse negócio de FECANI. Se é que algum dia alguém realmente pretendeu dar sentido a ele. FECANI, para quem não sabe, significa Festival da Canção de Itacoatiara, que, neste ano, se minha memória não estiver a me enganar, está em sua 27a. edição. Que me relevem meus amigos músicos (e os nem tanto), mas esse FECANI já deu o que tinha que dar. Hoje, de festival, não tem mais nada, pelo menos do ponto de vista da natureza de tais festivais, como aqueles gloriosos da década de 1960, do século passado, onde inúmeros artistas foram revelados para o Brasil, como Chico Buarque de Holanda, Edu Lobo, Jair Rodrigues, entre tantos e tantos. O FECANI, como pode constatar qualquer um que se debruçar sobre o desenrolar do evento, desde sua criação até os dias de hoje, no aspecto competitivo, resume-se, na atualidade, praticamente, às mesmas figuras carimbadas daqui e dalhures, que, passados alguns dias do seu término, caem no esquecimento da memória coletiva, mesmo aqueles que conseguem abocanhar alguns prêmios. Apenas a memória dos artistas que participam do evento guardam registros, dizendo-me a mim, cá, os meus botões, que o FECANI, com algumas companhias pelo Brasil do sul, sudeste e nordeste, nesse particular, acabou por criar a figura do músico profissional de festivais, que participa desse tipo de evento com o objetivo único de ganhar alguns milhares de reais, até porque os trabalhos, mesmo aqueles vencedores, caem, como já mencionei, num vazio intransponível.

Por outro lado, as apresentações não competitivas não trazem qualquer identidade com a natureza dos festivais, e, na maioria das vezes, têm sido de um mau gosto de corar marciano, que até meus dedos se negam a digitar nomes, como exemplo desse verdadeiro acinte à canção brasileira. Não, não vou me furtar de citar pelo menos um fato. Estive eu em 2006 em Itacoatiara, para assistir ao festival, que teve o sopro de inteligência de convidar Oswaldo Montenegro naquele ano bendito, mas, tal foi minha indignação quando surgiu no palco um grupo de pagode do Rio de Janeiro (cujo nome não recordo - ainda bem!), com o vocalista mostrando seu físico musculoso, com os botões da camisa abertos, como se estivesse num desfile de moda para seres não pensantes. E, se novamente não me falha a memória, foi nesse ano que apresentaram-se Calcinha Preta e KLB. Pra acabar!

Tudo isso, diga-se de passagem, financiado com dinheiro público. Milhares e milhares de reais que poderiam muito bem ser aplicados, de verdade, no próprio segmento da música, mas com fins sócio-educativos, pois música é educação, música é arte, e o maior patrimônio de um povo é a sua arte.

Já passou a hora do Brasil virar a mesa e resgatar a sua música, uma das mais ricas deste planeta. Tudo o que tem sido criado de mais belo na incomparável música brasileira, está atrás de uma cortina de fumaça, que o povo não consegue ultrapassar, ou a música não consegue alcançar o povo. A mídia, concessão pública, se fechou para a cultura e escancarou as portas para o lixo. E, quando teço comentários sobre essa questão, não o faço apenas com foco no aspecto sócio-educativo, como, também, econômico e do mercado de trabalho. Há uma incomensurável produção musical no Brasil que jamais chega às prateleiras das lojas. Há uma incomensurável produção musical no Brasil que não tem mais locais onde tocar, onde realizar shows. E grande parte dos artistas brasileiros sobrevivem de sua arte, aos trancos e barrancos, a despeito do descaso do governo brasileiro com essa parcela gigantesca da economia, que tem capacidade de gerar milhões de reais, porque tudo o que sabem fazer é arte. Ou, então, vão-se para o exterior, especialmente Japão, Europa e Estados Unidos, onde são reconhecidos e vivem com dignidade. Enquanto nós, pobres mortais, vamos seguindo praticamente proibidos de gozar do que há de melhor na música brasileira. Brasil: um país tão rico e tão pobre!

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