RÔ Campos, 13.06.2010
Chegou silenciosamente, bateu à porta que se abriu,
E entrou.
Eu era sozinha.
Recordo-me bem daquele dia – o amor, quem diria!
Tomou café da manhã na saleta contígua à cozinha.
No almoço, fez uma refeição lauta. Ainda tinha fome e sentou-se à mesa para o jantar.
Consumimo-nos em um amor desmedido, louco.
No meio da madrugada, foi-se, deixando os estragos no corredor.
Eu não vi, não percebi. Fugiu enquanto eu dormia.
Fechou a porta e as paredes do meu quarto guardavam o silêncio frio, coberto de vergonha.
Soube na manhã seguinte, alguém o viu.
Tomou o rumo da estrada, sumiu na névoa da manhã.
Só se ouvia o gemido do vento...
Os passarinhos, cabisbaixos, rodopiavam.
Calaram-se!
Muito tempo se passou, dele não mais soube, o amor,
Tinha tanta fome...E logo se fartou.
Houve depois um outro tempo.
Era estiagem...
Alguém bateu novamente à minha porta, que já não era a mesma.
Quase não ouvi.
O vento cuidou de se acercar de mim.
Eu também ouvia os passos do tempo.
Aquele silêncio de outrora,
(Ah, e o amor, que havia jogado tudo fora!),
Não mais se cobriu, se assombrou,
Soltou as rédeas, me avisou.
E foi-se o amor, tomou o rumo da estrada, sumiu na névoa da manhã.
Houve de novo um outro tempo. Refeita, tomei o caminho das flores.
Queria respirar o hálito da manhã,
Assistir ao espetáculo do Sol, que despontava nas primeiras horas.
Visitei o campo santo .
Deparei-me com um túmulo cinzento e o epitáfio com os dizeres:
“Aqui Jaz o Amor”.
Provavelmente nascido em 5.000 antes de Cristo.
Data de falecimento desconhecida.
Causa da morte: inanição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário