quinta-feira, 28 de maio de 2020

A MORTE LENTA DO DESEJO


(RÔ CAMPOS)

Saudade do que eu quis viver e me foi negado.
Agora, sinto esse desejo  se esvaindo,
Fugindo de mim sem que eu possa tomá-lo em meus braços.
Como  se fosse  o sólido  se liquidificando aos poucos,
Daí  a escorrer sobre as bordas da taça,
Indo abaixo,  molhando  o chão,
Tal como a  esperança evaporando, sendo levada pelos ventos, que também levam o cheiro das flores para muito longe,
Um lugar que eu não sei onde.

Às  vezes,  então, me assoma  um cheiro de enxofre.
Mas eu ainda guardo em minhas memórias o aroma das flores, 
Quando era primavera em minha vida,
E que o vento levou sem que eu nem percebesse.

E me bate forte a saudade do que eu quis viver e me foi negado.
Mas eu me dou conta  de que o desejo, 
Como as flores que não são  cuidadas,
A cada dia vai-se um pouco,
Em meio ao abandono da gente,
Murchando como murcham  as rosas deixadas sob o sol inclemente,
Sem proteção,  sem  água,  nem rega,
Tombando, morrendo,   sem sede de amar...

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