sábado, 5 de janeiro de 2013

FRAGMENTOS DE MEU TEXTO "CONFISSÕES"


(RÔ Campos)

O que é feito de ti: pedaços, trapos, solidão, náufrago? O que é feito de mim, sem estar inteira, sem ti, sem roupa de gala, um amor, sem água para matar a sede, sem bóias, salva-vidas, perdida, querendo me encontrar?
Estive sobre águas rasas, profundas. Vi sumir qualquer resquício de vegetação. Perdi-me em alto mar. Fiquei dias incontáveis à deriva. Enfrentei procelas. E ela, essa dama traiçoeira - como infiel foste -, a me fustigar.
Sonhava com os teus olhos quando via estrelas no céu...E isso era tão raro. Julgava (quanta ilusão!) que ainda vivias a me seguir, a me proteger, no silêncio do breu que caiu sobre mim, no vácuo do abismo que nos separou.
Pensei voltar, mas quando dei por mim a distância era muito grande entre nós dois. Éramos dois mares. Dois continentes.
E agora o passado bate à minha porta. Eis que és tu de volta.
E, de repente, é como se o tempo não tivesse passado. Por um momento não tenho medo, porque o perigo nas minhas lembranças já vai longe. Mas nada se apaga na memória do tempo, do universo.
Ouço o sino repicar...São as mesmas badaladas de outrora. Escuto o vento batendo à porta com fúria, querendo entrar, e me lembro das tempestades que desabaram sobre mim, sem piedade. Eu venci!
Agora, confesso-te, a coragem me parece se perdeu na longa estrada, no mar das minhas ilusões. Cada luta é uma luta, um embate. Pode-se vencer. Pode-se ser vencido. Não há empate. É a derrota ou a glória.
Não me convoques a ingressar nas fileiras do teu quartel para uma nova guerra. Vivo uma nova era. As procelas ainda agora muito me dizem.

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