domingo, 20 de março de 2011

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES

(Escrevi este texto há mais de uma semana, no Facebook, e não conseguia transportá-lo para o blog. Finalmente consigo agora. Repasso. Sei que, ao escrevê-lo, apenas exemplifiquei nomes de artistas pioneiros de nossa música, dentre tantos outros, mas há um, em especial, que não citei, e só agora me dei conta, numa prova inconteste de que minha memória anda me traindo. Ele não poderia faltar, inclusive por ser um dos maiores compositores deste país, reconhecido por seus pares daqui e dalhures, o meu queridíssimo Zeca Torres, o Torrinho, compositor, em parceria com o poeta Aldísio Filgueiras, daquela que veio a ser considerada o hino extraoficial de Manaus, Porto de Lenha. Se toca, Rafael, pra esse dinossauro).

"Adormeci e logo despertei. Os acontecimentos de ontem me deixaram eletrizada. Não tive saída. Vim ao computador para escrever este artigo, que fervilhava em minha mente. Quem tem o dom de escrever conhece bem esses ímpetos, que precisam ser satisfeitos a todo custo.

Passados os momentos de euforia, de bate e rebate, reflito. Ao final, concluo: necessito dizer algo ao não muito jovem (falando-se de idade cronológica) Rafael Medeiros, esse rapaz que, até agora, não temos ainda conhecimento de como infiltrou-se na Ordem dos Músicos do Brasil, seção Amazonas. Ele, um estranho no ninho, um anônimo, que nas redes sociais incita o tumulto e a desordem, que usa de meios os mais comezinhos para denegrir a imagem de artistas que ajudaram a construir a história da música amazonense, pioneiros como Antonio Pereira, Célio Cruz, Cileno, Candinho & Inês, Márcia Siqueira, Paulinho Kokay, Lucinha Cabral, Renatinho, Lucilene Castro, dentre tantos outros, chamando-os de dinossauros, velhos e lançando toda a sorte de impropérios.

Saiba, Rafael Medeiros, que esses ilustres dinossauros pavimentaram toda essa estrada em que você, agora, ensaia engatinhar, com muita pressa para galgar o topo dessa montanha íngreme. São vidas inteiras dedicadas à música, com biografias que muito nos orgulham, conquistadas em noites indormidas e dias de muito, mas muito sacrifício. E, ainda agora, mesmo dinossauros, como você os trata, muitos deles, senão a maioria, não alcançaram o retorno almejado, seja financeiramente, seja o reconhecimento do público ou coisa que o valha, porque (você é muito imaturo para entender), fazer música e viver de música neste país é um exercício hercúleo, desgastante e sofrível. Na Amazônia, onde alguns outros declaram nem saber se há civilização, como garotos coloridos que mal abandonaram as fraldas, pior ainda. Muitos estúpidos há que, até hoje, consideram a profissão de músico coisa de vagabundo. Sensibilidade é algo divino, e os brutos não entendem o que é sublime.

Eu te aconselharia, se me fosse dado fazê-lo, a debruçar-se sobre a história desses dinossauros, e, quem sabe, como um daqueles filmes de Steven Spillberg (Jurassic Park, acho que é por aí), você pudesse transformar-se em um dinossaurozinho, herdando o DNA desses monstros que merecem respeito. É, Rafael, respeite quem soube chegar onde eles chegaram. Não foi de graça. Nada vem de graça. Nem o pão, nem a cachaça (como diz Zeca Baleiro em uma de suas músicas, cujo nome ora não recordo, até porque a velhice acaba nos roubando tanto de nossa memória...).

É, Rafael, velhice é assim mesmo. Ela não perdoa. Mas o envelhecimento é um processo natural do ser humano. Um dia, todos nós, os velhos, já fomos jovens, e só envelhecemos porque estamos vivos, você está me entendendo? Ninguém, nesse caso, escapa, até você, se tiver a sorte de chegar até aqui. Agora, velhacaria, é outra coisa. Velhacaria é uma nódoa no espírito.

Por fim, Rafael, mais uma vez eu te aconselharia, se me fosse dado fazê-lo, a mirar-se no exemplo desses dinossauros, pois muitos frutos colherias, para ti e toda a tua geração. Não se passa um apagador em marcas indeléveis, como as pegadas que esses monstros foram deixando pelo caminho em que andaram. Vá devagar com o andor, que o santo é de barro, reza o dito popular. Não insista em destruir os alicerces de nossa história musical, pois, caso contrário, não terás, nenhum dia, onde assentar a tua própria história, que ora buscas através de caminhos tão sinuosos.

No mais, Rafael, é continuar a tua estrada, caminhando e cantando e seguindo a lição..."

Um comentário:

valaacola disse...

O mesmo cara que ofende a classe experiente da música amazonense já encheu a boca para falar que a banda dele faz uma versão da porto de lenhas. Chamou o cara de genio, o melhor compositor e até saudoso( o cara já morreu?). E isso foi dito numa rádio ao vivo. Eu fiz a versão da musica acreditando que o Torrinho havia autorizado, e até hj não sei se é verdade se autorizou.

No comeco da banda as nossas referencias seriam os artistas amazonenses. Banda de rock com boi bumba, rock regional, etc. E hj vejo um ex amigo se perder na loucura. Se ficasse de boca fechada nada disso estaria acontecendo. O que posso resumir: não é flor que se cheire.