quarta-feira, 17 de julho de 2013

A DOR DE UM PASSARINHO PRESO NUM BANHEIRO


(RÔ Campos)

Ontem à noite, eu assisti, durante alguns minutos, a agonia de um passarinho sentindo-se absolutamente preso no meu banheiro, de seis metros quadrados. Ele não conseguia encontrar a saída, o mesmo lugar por onde entrou. Eu fiquei ali, desesperada. Queria ajudá-lo, estendi a minha mão algumas vezes, mas ele, amedrontado, voava e se debatia muitas vezes contra a parede ou contra o teto, e ia ao chão. Ele, certamente acuado e com medo, começava a emitir uns sons, semelhantes ao choro - pensei. Quanta aflição! Por duas vezes, ele alcançou a janela do banheiro,modelo basculante, mas ficava de costa para a rua. E a saída estava ali, tão pertinho, mas o desespero era tamanho, que ele não conseguia enxergar. E eu ficava ali, quieta, com o coração condoído, torcendo para que ele encontrasse essa saída, o que só aconteceu depois de uns cinco minutos enlouquecedores. Refleti muito sobre tudo isso. Sobre a dor de um passarinho preso numa minúscula gaiola, querendo sair, voar, ganhar o mundo. Lembrei da canção Pássaro, Canto e Cativeiro, do nosso cantador Antônio Pereira, que tanto fala sobre a dor de um passarinho preso na gaiola, querendo voltar a ser livre, voar, voar. Depois, em meus devaneios, pensei: muitas vezes, encontramos portas abertas, e entramos. Às vezes, foram as piores decisões e incursões de nossas vidas. Como sentencia a música Esses Moços, célebre na voz de Nelson Gonçalves, muitas vezes saímos do céu, e vamos ao inferno à procura de luz. Lá dentro, vivemos dias de profunda angústia e dor, queremos sair, a porta está ali, escancarada, mas não vemos. Entramos com toda a força de nossas energias, com nossos sonhos nos estágios mais sublimes e elevados, e não encontramos essa mesma energia que nos dê forças para sair, quando descobrimos o segredo do outro, quando os sonhos,então,tornam-se uma terrível realidade. Muitas vezes, acredito, basta alguém para nos ajudar, uma mão estendida, uma palavra amiga, como eu queria fazer com aquele passarinho, para que ele saísse de seu desespero, de sua prisão, rumo à liberdade que havia ficado lá fora, embalada pelo vento e pelo frescor da noite. Ou, quem sabe,basta-nos ouvir a voz que grita dentro de nós, essa voz de um Deus que habita o interior de quem já O descobriu.

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